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quinta-feira, fevereiro 06, 2014

"A melhor saída para os usuários de crack é a morte". Marcelo Ferreira Caixeta. Medicina

“A MELHOR SAÍDA PARA OS USÁRIOS DE CRACK É A MORTE” ( resultados de uma tese de mestrado )
Marcelo Ferreira Caixeta

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Quando eu comecei na psiquiatria, em 1981, os doentes mentais quase não usavam drogas. Hoje em dia, quase todo hiperativo, bipolar, ansioso, depressivo, psicótico, cérebrolesionado, etc, é pego pelas drogas na rua, sobretudo quando ficam sem diagnóstico e tratamento médico-psiquiátrico ( que é a regra no Brasil, onde psiquiatras, por iniciativa governamental, têm sido “substituídos” por “profissionais não-médicos de saúde mental” ). Agora mesmo, em nosso hospital de psiquiatria juvenil, só para citar um exemplo paradigmático, estamos com um garoto de 14 anos, infectado pelo HIV pego na prostituição para sustentar o vício, cuja mãe , desde os 3 anos o leva em postos de saúde do Governo para tratar da hiperatividade. Nunca viu um psiquiatra, só psicólogos, que, de vez em quando lhe propunham uma “terapia” ( terapia aliás, que, por causa da doença, ele nunca segue ). Grande parte dos profissionais diziam para a mãe que “ele não tem nada”, “é falta de amor e diálogo”. Sem diagnóstico e tratamento, eles vão para as ruas, onde são “engarranchados” pelas drogas. Aí, em cima da doença psiquiátrica, acresce-se o vício, as lesões cerebrais causadas pelas drogas, o abandono da família, estudo, trabalho, igreja, etc. Começam a dar um trabalho absurdo. São internados em “casas de recuperação”, onde continuam ser ver um psiquiatra. Enquanto estão lá, quando não fogem, ficam quietos. Mas basta sairem para recomeçar o périplo infernal pelas ruas. Começam a prostituir-se e roubar, bater, matar, serem assassinados, morrerem de overdose. Alguns poucos ainda sobrevivem e “continuam dando trabalho para a família”. Neste ponto, aí vão ver um psiquiatra, mas já não há mais nada a fazer. No hospital juvenil onde trabalho estamos fazendo uma tese de mestrado sobre a percentagem de famílias que ainda querem lutar, de fato e não só no blábláblá, pelos seus entes consanguíneos : é de aproximadamente 20 %, ou seja, baixíssima. Estas 80% de famílias que “não estão nem aí para os seus drogados” ( repito, constatado cientificamente ) geralmente já estão cansadas deles, muitas “querem mais é que morram mesmo”. É claro que se você perguntar para as famílias, elas irão dizer : “é claro que a gente quer que ele saia da droga, fazemos de tudo para isto, blábláblá”. É isto que eles dizem, mas a verdade é oposto. Na prática hospitalar diária ( os acompanhamos cientificamente por um mês ou mais ) eles mostram que “não estão nem aí pra bagaça”. Já são também famílias doentes, justamente por causa da doença psiquiátrica que tem agregação genética e as destroi ( alcoolismo, drogas, delinquência, desocupação laboral, agressividade, depressão da mãe, abandono pelo pai, pobreza em decorrência disto tudo, etc ). Para estas famílias e seus pacientes não adianta fazer nada. Nós mesmos, em nosso hospital filantrópico, tentamos fazer de tudo por eles, damos remédios de graça, mesmo remédios caros, fazemos exames, consultas de graça, damos vale-transporte, arranjamos empregos, inserção e apoio religioso, até pagamos para eles ( com dinheiro do nosso bolso ) quando eles trabalham. Mesmo a gente “pagando” para eles se tratarem, mesmo a gente implorando para eles não pararem com os tratamentos, as famílias param, ou, na maioria das vezes, nem continuam depois da alta, não vão uma única vez ao hospital depois da alta. Para estes 80%, sem apoio de família, sem trabalho, igreja, vínculos sociais, etc, podemos dizer do alto de uma cátedra feita de suor, sangue e lágrimas : não há tratamento que resolva. É só sair da internação para caírem de novo nas ruas. O tratamento médico deles é complexíssimo pois, além da doença de base que é de dificílimo tratamento ( hiperatividade, bipolaridade, depressão, ansiedade, psicose etc ), há a lesão cerebral causada pela droga, há o vício da droga, há a completa desinserção social-laboral-escolar-religiosa-familiar. Vou ser sincero para vocês, a gente, da equipe hospitalar, fica até com raiva destas famílias. A gente pensa : “nós aqui, tão preocupados com eles, fazendo de tudo para tirá-los das ruas, drogas, etc, e as famílias não estão nem aí”. “Se eles morrerem, esta família, além de não sentir nada, ou seja, sentir até menos do que a gente, vai achar é bom”. Nem o paciente também se importa, a maioria nestas condições já transformou-se em um “animal”. Então você desanima, pois se nem a família e nem o paciente querem nada com nada, como é que você vai querer ? Nenhum deles está se importando se o paciente morrer, nós da equipe médica nos importamos muito mais que eles mesmos. Este tipo de paciente vai virar um zumbi nas ruas, vai virar um vagabundo, vai roubar, vai matar, estuprar, assaltar, vai morrer. Para a cadeia eles não vão, o “coitadismo” dos Governos de esquerda não quer prendê-los ( “não podemos tirar sua liberdade”) . E se forem para as cadeias, ou ficam pouco tempo ou saem de lá piores, pois, sem trabalho, nosso sistema carcerário não recupera ninguém ( só aqueles que têm a sorte de ter algum apoio religioso ou laboral , feito pela sociedade civil - não pelo Governo - dentro da cadeia ). Quando se fala em “prendê-los” ( já que não há mais hospitais psiquiátricos para eles, o Governo acabou com todos, além do quê eles também de lá fogem ) os esquerdistas dos “direitos humanos” acham ruim, dizem que isto não irá melhorá-los. O problema, nesta altura do campeonato é que nada irá melhorá-los, como já mostrei acima. A prisão, então, não seria para o bem deles e sim para o bem da sociedade, que está sendo morta, roubada, completamente perturbada, e está perdendo até seu direito de liberdade e de ir e vir. Esta sociedade tem o direito de viver, não pode curvar-se aos zumbis ou à politicagem esquerdista-coitadista que quer deixar os “monstros soltos nas ruas”, assaltando, matando, estuprando, vivendo como animais, etc. É por isto que se cria na sociedade este esquema “esquizofrênico” : nos jornais os “direitos humanos”, e nas ruas, a lei da bala, a “lei do cão” : pipoco na cabeça. A sociedade, esta que se diz “preocupada com os direitos humanos dos coitadinhos” ( isto inclusive dá muito voto e muito cabide-de-emprego-público ) é a mesma que diz : “não tem jeito mesmo, tem é de matar, se a gente não os matar são eles quem nos vão matar”. Eles se matam muito entre si, os traficantes a quem devem os matam às carradas. Mesmo assim irão sobrar alguns para esta “sociedade sadia” matar. Esta é nossa triste realidade. Alguém tem alguma ideia ( nova ) para mudá-la ?
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Marcelo Caixeta, médico psiquiatra , escreve às terças, sextas, domingos, seção de “opinião pública”, Diário da Manhã, dm.com.br.

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