sexta-feira, agosto 28, 2015

Youssef, Fernando Baiano, as narrativas concertadas de bandidos e a delação premiada

Youssef, Fernando Baiano, as narrativas concertadas de bandidos e a delação premiada
Reinaldo Azevedo

Pois é, pois é…

Jornalistas, no geral, se dão bem com as convicções — quase sempre à esquerda — e mal com as leis. Mas os advogados não costumam comer bola. A que me refiro? Explico.

Tudo indica, e o Estadão assegura que sim, que o delator a que Alberto Youssef se referiu em acareação na CPI seja mesmo Fernando Baiano. Para lembrar: o doleiro afirmou que ele próprio não fez repasse nenhum a Antonio Palocci em 2010, conforme assegura Paulo Roberto Costa, e que essa questão seria em breve esclarecida por outra pessoa, que já entabulara a delação premiada.

Estranhezas:
1: como é que Youssef sabe quem vai e quem não vai fazer delação?;
2: como é que Youssef conhece o conteúdo de delação sigilosa?;
3: delações sigilosas são de conhecimento, primeiro, do Ministério Púbico e, depois da Justiça. Youssef, que se saiba, já é condenado em algumas ações e réu em outras.

A imprensa achou tudo normal. Mas não o advogado do doleiro, Antonio Figueiredo Basto, que não é besta. Ao contrário: é um profissional competente — especialmente no gênero “delação premiada”. Ele sentiu o cheiro de pólvora. Basto se disse surpreso com a afirmação de seu cliente e tentou arranjar uma explicação para ela:
“Eles [Baiano e Youssef] estavam na mesma carceragem da Polícia Federal. Eles podem ter conversado sobre isso. Acho que foi um ato de desabafo de Youssef na CPI para falar que a culpa não é dele.”

Venham cá: vocês acham que Baiano, que ainda não havia decidido fazer delação, iria se entregar a confidências justamente com Youssef, o delator que abriu a fila? Baiano trouxa nasceu morto.

A propósito: Basto, hoje, é advogado de Youssef e de Júlio Camargo, ex-cliente de Beatriz Catta Preta — aquela que decidiu sumir da advocacia e da imprensa. Uma coisa é óbvia, né? Os dois certamente estão empenhadíssimos em falar a verdade!!! A única coisa que não vai acontecer é um falar uma “verdade” que conteste a “verdade” do outro.

Então ficamos assim: ambos vão falar a “verdade” que interessa a seus respectivos pescoços. E o roteirista que compatibiliza a verossimilhança das personagens é Basto.

A Lava-Jato, sem dúvida, é um capítulo da desratização do Brasil. Mas precisa ser vista com olhos críticos, objetivos e técnicos. É evidente que a delação premiada é um estatuto que está a pedir regulamentação.

Eu continuo a achar o fim da picada que um bandido anuncie numa CPI que outro bandido vai se encarregar de esclarecer determinadas dúvidas, quando o depoimento deste segundo ainda está sob sigilo.

Mais um pouco, os advogados de delatores premiados marcam uma convenção num hotel para amarrar as pontas do roteiro, eliminando as contradições.

Por Reinaldo Azevedo

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