CONSTELAÇÃO
Chantal Castelli
Para Carlos Drummond de Andrade
Tento recompor
as paredes de louça,
a porta da rua apodrecendo,
os tijolos aparentes
no muro onde dois registros
— água e luz —
saltavam, dois olhos
de vidro opaco.
Contemplo-os agora
na janela da memória
— ou serão também espelho,
reflexo de mim mesmo?
A tarde parecia eterna
nos pés do menino junto à horta,
na caixa d'água que era berço e túmulo,
na coleção de cacos e suas flores mínimas,
resumo de conversas na cozinha,
tinidos, subentendidos...
Tento recompor
a memória prévia,
o tempo duplo,
a casa em chiaroscuro,
no papel que
(mesmo querendo)
não posso rasgar.
sábado, novembro 17, 2018
CONSTELAÇÃO. Chantal Castelli. Poesia.
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