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quarta-feira, outubro 31, 2018

VENTANIA. Charles Fonseca. Poesia.

VENTANIA
Charles Fonseca

Tudo o que sei aprendi
ao relento ventania
no leito, em agonia
ou no peito escondi

Alegrias ou tristezas
muitas as sabedorias
escondidas e eu ria
disfarces nas asperezas

Calei sabendo demais
disse sim quando era não
a exílios e em roldão
voltei agora e em paz

Sou o que pensei, não fui,
estou em bela caminhada
ao meu lado tenho amada
ao futuro, o triste rui.

terça-feira, outubro 30, 2018

Quem divulga foto com a mão no queixo não quer mostrar a lindas voltas do colar de Vênus.

A verdade liberta

AZULEJOS. Charles Fonseca. Poesia.

AZULEJOS
Charles Fonseca

Estes tons azulados
nos azulejos de outrora
remontam tanta história
de fatos postos ao lado

Que tão saudoso me tornam
vezes tristes outra rindo
do que se foi e eu vou indo
em frente e a sonhar voltam

É o eterno retorno
qual ninho voltam as aves,
auroras da vida ares
a olhar futuro gozo.

segunda-feira, outubro 29, 2018

O LUAR. Charles Fonseca. Poesia.

O LUAR
Charles Fonseca

Não me apague da memória
ainda há muito a viver
saudade, até mais ver,
ainda é cedo nossa história

Nosso caminho é trilha
alvorada ao fim do dia
cai a noite inda alumia
o luar 'té o sol raiar.

domingo, outubro 28, 2018

VIDA QUE SEGUE. Charles Fonseca. Poesia.

VIDA QUE SEGUE
Charles Fonseca

Amada, vida que segue
Para nós dois eu auguro
Onde nos for o futuro
Roga por nós, reze.

Por aqueloutros distantes
pelos que estão desertos
pelos longínquos perto
pra estes saudades, instantes.

PREPOSIÇÕES. Charles Fonseca. Poesia.

PREPOSIÇÕES
Charles Fonseca

Que saudade dos amados
como vê-la todo dia
quando cessa a agonia
onde quando como. Fados.

PODRES. Charles Fonseca. Poesia.

PODRES
Charles Fonseca

A gente morre na 13
gente, viva o 17,
ressuscita a bola 7
por nosso país reze.

Agora num 3 por 4
o ladrão tá na gaiola
falta toda a curriola
na jaula deste teatro

É qual circo de horrores
a petralhada em dejeto
pra nosso Brasil dar certo
pro esgoto fogem os podres.

sábado, outubro 27, 2018

MUAR. Charles Fonseca. Poesia.

MUAR
Charles Fonseca

Gramado pastou um burro
como se porta num pasto
passo a passo disfarço
fez de si fogo monturo
de porta em porta onde vulto
porteira vulgo cancela
a zurrar diz, onde ela?
a cismar sou burro estulto.

sexta-feira, outubro 26, 2018

FILOSOFIA. Charles Fonseca. Poesia.

FILOSOFIA
Charles Fonseca

Pisa agora este chão
amanhã o terás por teto
antes foi duro decerto
depois serás um torrão

Este teu corpo onde flui
a seiva entre mil portas
retida é em comportas
baixa ao pó tudo rui

Resta de ti transcendente
tua alma em eterna vida
criado e estás de partida
morre em ti o imanente.

FAMÍLIA ESTENDIDA. Charles Fonseca. Poesia.

FAMÍLIA ESTENDIDA
Charles Fonseca

Estou cercado de afeto
há amor onde respiro
saudades não, eu suspiro
por mais comigo decerto

Nesta família estendida
dos Marinato Monteiro
Silva Fonseca eu no meio
só alegria na vida

É como o céu na terra
ai quem dera ser pra sempre
estar entre esta gente
saudades levo, quem dera!



DA DOR. Ana Cecília de Sousa Bastos. Poesia.

DA DOR
Ana Cecília de Sousa Bastos

A dor é algo como se não fosse.
Derrapagem à beira do abismo
(aquele como se não estivesse).
Holofote sobre escura porção de sombras.
Eco à revelia do próprio eu
re-ver-be-ra-ção
por sobre o dia.
Fissura aberta minando,
ora esquecida ora sempre,
em alguma parte do corpo
como se fosse o todo.

Dasdô?
Na infância era uma prima
e seus olhos encovados.

Eloqua Explique - Le verbe faire

quinta-feira, outubro 25, 2018

Lugar de vice é no anexo do Palácio do Planalto.

TREZE. Reynaldo Damazio. Poesia.

TREZE
Reynaldo Damazio

As lâminas da língua
talham balelas na pele-página

o corte agudo, exato, não
deixa cicatriz, mas tatuagens

que se movem ao revés
nas rugas da linguagem

o corpo escravo da fala
se verga, esgástulo, desapruma

e o verbo esgrima com a
víscera, infecundo de

tempo, espaço, gesto:
frase ou mera mímica?

anêmica a palavra míngua
à revelia do sentido

sem norte, ensimesmada,
arremedo de tatibitate,

ora engodo, ora miasma,
lance de dados viciados

rouca ou farpa a voz
perde o fio da meada

e adentra a selva obscura,
coisa mental no branco imenso

língua e voz, confrontadas,
se renegam. Ennui.

O RELÓGIO. Charles Fonseca. Poesia.

O RELÓGIO
Charles Fonseca

Vês o relógio doirado
que te deixo por lembrança
desde os tempos tu criança?
a ti foi predestinado.

Nele contei as horas
desde a aurora da vida
à adolescência sentida
nos primórdios inda agora

Registra segundos minutos
saudades de ti, tua irmã,
dos netos e eu no afã
no meu tempo diminuto

Não mais parede relógio
tampouco daqueles de bolso
menos ainda com esforço
deixo pra ti analógico

Neste mundo digital
serve decoração
é dado de coração
adeus, encerro afinal.



Falar até o domingo o nome do Bolsonaro

quarta-feira, outubro 24, 2018

AS PRISÕES MENTAIS, Fernando Gabeira. Política.

AS PRISÕES MENTAIS
Fernando Gabeira

Lula está preso, meu caro. Repito a frase de Cid Gomes que ecoou na rede, suprimindo a palavra babaca. Não por correção política. A palavra iguala a estupidez à vagina. Apenas para lembrar, com humildade, como certos sentimentos estão arraigados em nossa cultura e emergem de nosso subconsciente.

A líder da direita francesa, Marine Le Pen, afirmou que algumas frases de Bolsonaro são inaceitáveis na França. Mas não o foram no Brasil.

Humildade aqui significa reconhecer que mudanças culturais levam tempo para se consumar. Não são como uma ponte destruída pela chuva que se reergue rapidamente. Nem mesmo uma nova capital que pôde ser construída no Planalto. Às vezes, atravessam gerações.

Lula está preso. É natural que o PT não aceite isso. Mas a forma de recusar foi chocar-se diretamente com a Justiça, tentar dobrá-la com manifestações, apoio externo e uma inesgotável guerra de recursos legais.

Compreendo que isso era visto como uma forma de acumulação de forças. Mas, na verdade, também acumulou rejeição.

Quando Haddad foi lançado, cresceu rapidamente exibindo a máscara de Lula. No segundo turno, a máscara envelheceu como o célebre retrato de Dorian Gray.

Mas o período que se abre agora será de tanto trabalho, que talvez não tenhamos mais tempo para nos patrulharmos. São tempos complexos, que demandam mais humildade ainda.

Num debate em São Paulo, depois do primeiro turno, confessei como o processo me surpreendeu. As pesquisas indicavam uma grande vontade de renovação. Quando os partidos se destinaram quase R$ 2 bilhões para a campanha, concluí que a renovação seria mínima.

Apesar de ter feito algumas campanhas no território digital, minha reflexão ainda se dava no quadro analógico. A renovação, cuja qualidade ainda é discutível, aconteceu. Com R$ 53 milhões, Meirelles teve menos votos do que o Cabo Daciolo, um exemplo de como os velhos parâmetros foram para o espaço.

As próprias pesquisas que tanto critiquei no passado porque achava que favoreciam Sérgio Cabral, hoje as vejo com nostalgia. Existe informação na pergunta clássica em quem você vai votar.

Mas, para detectar tendências, é preciso um oceano de dados e capacidade de análise. As pesquisas envelheceram, sem que muitos se dessem conta. Mas não apenas elas envelhecem, num mundo em que a inteligência artificial avança implacavelmente.

E é nesse mundo que teremos de navegar. A situação econômica internacional não é favorável como no passado. Nos artigos em que trato de alguns de seus aspectos, começo sempre com o paradoxo: os Estados Unidos, que lideraram uma ordem multilateral, decidiram abandoná-la. Será preciso mais do que nunca acertar os passos aqui dentro. Isso significa gastar menos, fazer reformas.

Quando estava na Rússia, os primeiros protestos contra a reforma da Previdência foram abafados pelo oba-oba da Copa do Mundo. Soube que agora a popularidade de Putin caiu 20 pontos precisamente por causa dela. Em outras palavras, a vida não é nada fácil para quem precisa reformar o Estado e fazer um ajuste fiscal.

Nesse futuro tão nebuloso que nos espera, a tese do quanto pior melhor é atraente, no entanto, pode ser também um novo erro de avaliação.

Quando ficamos muito concentrados nos problemas internos, perdemos um pouco de vista nossa inserção internacional. A imagem do Brasil lá fora mudou. O próprio Bolsonaro começará seu mandato como um dos presidentes mais rejeitados pela imprensa planetária. Ele terá de moderar sua retórica. E quem faz oposição precisa tomar consciência da situação delicada em que o país entra.

A sobrevivência da democracia não está ameaçada. Mas algumas escoriações podem empurrá-la para o viés autoritário que hoje cresce no mundo.

As fake news, por exemplo, sempre existiram, mas hoje têm um peso maior, pelo alcance e velocidade. Utilizá-las sem escrúpulos e denunciá-las no adversário apenas confirma o pesadelo moderno da decadência da verdade.

É muito difícil chamar à razão a quem se considera o dono dela. Os intelectuais condenam as escolhas populares, mas, às vezes, não percebem a sede de sinceridade que há por baixo delas. Pena.

Artigo publicado no Globo em 22/10/2018

ADORMECIDO NO VALE. Arthur Rimbaud. Poesia.

ADORMECIDO NO VALE
Arthur Rimbaud
Tradução: Ferreira Gullar

É um vão de verdura onde um riacho canta
A espalhar pelas ervas farrapos de prata
Como se delirasse, e o sol da montanha
Num espumar de raios seu clarão desata.

Jovem soldado, boca aberta, a testa nua,
Banhando a nuca em frescas águas azuis,
Dorme estendido e ali sobre a relva flutua,
Frágil, no leito verde onde chove luz.

Com os pés entre os lírios, sorri mansamente
Como sorri no sono um menino doente.
Embala-o, natureza, aquece-o, ele tem frio.

E já não sente o odor das flores, o macio
Da relva. Adormecido, a mão sobre o peito,
Tem dois furos vermelhos do lado direito.

DOM PETRINI. Charles Fonseca. Poesia.

DOM PETRINI
Charles Fonseca

Um irmão beira da estrada
outro imaginação
um se foi de nós então
ficou um só na beirada

Do real que foi tão bruto
só ficou sua voz suave
qual a pomba da paz ave
ainda ao longe o escuto

Sinto falta de irmão
no lugar do que é ausente
está distante foi presente
pra meu filho, gratidão.

Você sente tonturas quando está estressado ou ansioso? Neurologista Dr S...

LIVE 06 - Aula de francês pra iniciantes - cours de français pour débutants

terça-feira, outubro 23, 2018

FILA INDIANA. Nauro Machado. Poesia.

FILA INDIANA
Nauro Machado

Um atrás do outro, atrás um do outro,
ano após ano, ano após outros,
minuto após minuto, século
após séculos, continuam

(a conduzir seus madeiros
na perícia dos próprios dramas)

um atrás do outro, atrás um do outro,
ano após ano, ano após outros,
minuto após minuto, século
após séculos, e de novo

um atrás do outro, atrás um do outro,
até a surdez final do pó.

LIVE 05 - Aula de francês pra iniciantes - cours de français pour débutants

“Bolsonaro sabe que, em caso de golpe, pode perder o emprego, pois um general da ativa tomaria as rédeas do poder”.

Sensual tango - La Cumparsita

segunda-feira, outubro 22, 2018

Homenagem

Homenagem
Este homem me fez o mais belo convite que recebi na vida. Claro que aceitei e, como só agora eu soube que hoje é o Dia dos Poetas, o publico com todo meu carinho, estendendo, claro, a homenagem à todos aqueles cuja sensibiludade ultrapassa o senso comum e descortina à humanidade a beleza que sozinha ela não consegue ver .
Obrigada Charles Fonseca por me amar. Tenha certeza de que você é retribuído com igual intensidade.

CONVIDO-TE
Charles Fonseca

À Tilly

Convido-te, amiga, às doces paragens
Campestres, ao silêncio dos prados,
Aos ternos murmúrios dos nossos regatos,
Aos roucos sussurros aquém das miragens.

Convido-te comigo a outros olhares,
A outros dizeres dos nossos silêncios,
A outros perfumes a nós como prêmios,
Tocar nossas harpas, frementes, vibrares.

Convido-te, amiga, pra caminhada
A dois pela praia, o mar por fronteira,
As nossas dores escrever na areia,
Do nosso amor gozar, madrugada.
A imagem pode conter: 1 pessoa, a sorrir, sentado

Aretha Franklin performs "I Never Loved a Man (The Way I Love You)"

Sentimentos na depressão | Psiquiatra Fernando Fernandes

Se essa rua fosse minha -Uma versão diferente

Fui eu que mandei o beijo

A imagem pode conter: ave

Caetano Veloso - Cucurrucucu Paloma (Ao Vivo)

LIVE 05 - Aula de francês pra iniciantes - cours de français pour débutants

Evangelho segundo S. Lucas 12,13-21.

Naquele tempo, alguém, do meio da multidão, disse a Jesus: «Mestre, diz a meu irmão que reparta a herança comigo».
Jesus respondeu-lhe: «Amigo, quem Me fez juiz ou árbitro das vossas partilhas?».
Depois disse aos presentes: «Vede bem, guardai-vos de toda a avareza: a vida de uma pessoa não depende da abundância dos seus bens».
E disse-lhes esta parábola: «O campo dum homem rico tinha produzido excelente colheita.
Ele pensou consigo: ‘Que hei de fazer, pois não tenho onde guardar a minha colheita?
Vou fazer assim: Deitarei abaixo os meus celeiros para construir outros maiores, onde guardarei todo o meu trigo e os meus bens.
Então poderei dizer a mim mesmo: Minha alma, tens muitos bens em depósito para longos anos. Descansa, come, bebe, regala-te’.
Mas Deus respondeu-lhe: ‘Insensato! Esta noite terás de entregar a tua alma. O que preparaste, para quem será?’
Assim acontece a quem acumula para si, em vez de se tornar rico aos olhos de Deus».

Via transmissão de celular, Bolsonaro fala com população na Av. Paulista.

domingo, outubro 21, 2018

5 Dicas de Roupa de Frio para Sobreviver ao Inverno Canadense

Sergio Moro

Rafal Olbinski, pintor polonês, Gloriana

Rafal Olbinski - Gloriana

"COM TODO O AMOR..." Antonio Carlos Secchin. Poesia.

"COM TODO O AMOR..."
Antonio Carlos Secchin


A Waldemar Torres

Com todo o amor de Amaro de Oliveira.
São Paulo, 2 de abril de 39.
O autógrafo se espalha em folha inteira,
enredando o leitor, que se comove,

não na história narrada pelo texto,
mas na letra do amor, que agora move
a trama envelhecida de outro enredo,
convidando uma dama a que o prove.

Catharina, Tereza, Ignez, Amália?
Não se percebe o nome, está extinta
a pólvora escondida na palavra,

na escrita escura do que já fugiu.
Perdido entre os papéis de minha casa,
Amaro ama alguém no mês de abril.

"O que eu calo e o que não digo/ atropelam meu percurso”

VIDA. Charles Fonseca. Poesia.

VIDA
Charles Fonseca

Quando morre uma cadela
morre um real porém
ficam sonhos do aquém
foi-se Vida, onde ela?

Nós vamos chorar agora
netos avós e pais
irmãos primos e os demais
nossa Vida, o em volta chora.

sábado, outubro 20, 2018

Aretha Franklin Chain of Fools

RESUMÃO ANTAGONISTA: Haddad quer o zap de Bolsonaro

LIVE 04 - Aula de francês pra iniciantes - français pour débutants

MANUEL BANDEIRA. Sophia de Mello Breyner Andresen. Poesia.

MANUEL BANDEIRA
Sophia de Mello Breyner Andresen

Este poeta está
Do outro lado do mar
Mas reconheço a sua voz há muitos anos
E digo ao silêncio os seus versos devagar

Relembrando
O antigo jovem tempo quando
Pelos sombrios corredores da casa antiga
Nas solenes penumbras do silêncio
Eu recitava
«As três mulheres do sabonete Araxá»
E minha avó se espantava

Manuel Bandeira era o maior espanto da minha avó
Quando em manhãs intactas e perdidas
No quarto já então pleno de futura
Saudade
Eu lia
A canção do «Trem de ferro»
e o «Poema do beco»

Tempo antigo, lembrança demorada
Quando deixei uma tesoura esquecida nos ramos
[ da cerejeira
Quando
Me sentava nos bancos pintados de fresco
E no Junho inquieto e transparente
As três mulheres do sabonete Araxá
Me acompanhavam
Tão visíveis
Que um eléctrico amarelo as decepava.

Estes poemas caminharam comigo e com a brisa
Nos passeados campos de minha juventude
Estes poemas poisaram a sua mão sobre o meu
[ ombro
E foram parte do tempo respirado.

A BEIRA-RIO. Charles Fonseca. Poesia.

sexta-feira, outubro 19, 2018

Como agir em caso de crise de ansiedade (pânico). Psiquiatra explica téc...

"Evangelho segundo S. Lucas 12,1-7.

Naquele tempo, a multidão afluía aos milhares, a ponto de se atropelarem uns aos outros. E Jesus começou a dizer, em primeiro lugar para os seus discípulos: «Acautelai-vos do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia. Não há nada encoberto que não venha a descobrir-se, nem há nada oculto que não venha a conhecer-se. Por isso, tudo o que tiverdes dito às escuras será ouvido à luz do dia e o que tiverdes dito aos ouvidos, nos aposentos interiores, será proclamado sobre os telhados. Digo-vos a vós, meus amigos: Não temais os que matam o corpo e depois nada mais podem fazer. Vou mostrar-vos a quem deveis temer: Temei Aquele que, depois de matar, tem poder para lançar na Geena. Sim, Eu vos digo, a Esse é que deveis temer. Não se vendem cinco passarinhos por duas moedas? Contudo, nenhum deles é esquecido diante de Deus. Mais ainda, até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. Não temais. Valeis mais do que todos os passarinhos»."

Quem contratou o PCC para esfaquear o candidato?

Quem contratou o PCC para esfaquear o candidato?

EPITÁFIO. Eduardo Lizalde. Poesia.

EPITÁFIO
Eduardo Lizalde

Somente duas coisas quero, amigos,
uma: morrer,
e duas: que ninguém se lembre de mim
senão por tudo aquilo que esqueci.

LIVE 03 - Aula de francês pra iniciantes - français pour débutants

quinta-feira, outubro 18, 2018

LIVE 02 - Aula de francês pra iniciantes - français pour débutants

O ORGULHO E O HUMILDE. Charles Fonseca. Poesia.

O ORGULHO E O HUMILDE
Charles Fonseca

Por orgulho ser maior
que o arrependimento
deixou humildade ao relento
aquela alma que ao pó

Deixou de pedir o perdão
na vingança se encrespou
sorrateira e sem amor
A dizer sim quando não

Por destino providente
brotou de si tanta lágrima
que virou mais esta página
livro da vida pendente

Frutos de si pós a flora
crescem em torno viçosos
a eles sombreia formosos
herdam amor que agora

Depurado o sofrer
maduro já sublimado
esquece os erros passados
Pra estes adeus, 'té mais ver.

LIVE 01 - Aula de francês pra iniciantes - français pour débutants

Festa de São Lucas, Evangelista (Homilia Diária.981)

quarta-feira, outubro 17, 2018

SENHORA ( I ). Charles Fonseca. Poesia.

SENHORA ( I )
Charles Fonseca

Agora te ver é o que quero
das profundas  do abissal
aos escuros deste céu
tomar-te por meu batel
consumir-me já sem véu
o que é doce em mim te entrego,

Tal qual foi antes agora
de mero encontro fortuito
a toda a vida pertuito
no caminho mais além
de mãos dadas desde o aquém
do espaço do tempo senhora.








Ansiedade é doença?

Eloqua Explique - Le verbe faire. Francês.

Les princesses. Francês.

L'incroyable pouvoir des chiens détecteurs de cancers...- La Quotidienne. Francês.

terça-feira, outubro 16, 2018

Santo Agostinho, Sermo 350, 2-3.

Santo Agostinho, Sermo 350, 2-3.

O amor através do qual amamos a Deus e ao próximo, resume em si toda a grandeza e profundidade dos outros preceitos divinos. Eis aqui o que nos ensina o único Mestre celestial: “Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu entendimento!’ Esse é o maior e o primeiro mandamento. Ora, o segundo lhe é semelhante: ‘Amarás teu próximo como a ti mesmo’. Toda a Lei e os Profetas dependem desses dois mandamentos”[1]. Por conseguinte, se te falta tempo para estudar página por página todas as da Escritura, ou para tirar todos os véus que cobrem suas palavras e penetrar em todos os segredos das Escrituras, pratica a caridade, que compreende tudo. Assim possuirás o que aprendeste e que não conseguiste decifrar. Com efeito, se tens a caridade, já sabes um principio que contém em si aquilo que talvez não entendes. Nas passagens da Escritura abertas à tua inteligência, a caridade se manifesta, e nas ocultas a caridade se esconde. Se colocares em prática esta virtude em teus costumes, possuis todos os oráculos divinos, entendendo-os ou não.

PERSEGUI A CARIDADE; SEM ELA, O MAIS RICO É POBRE, E COM ELA O POBRE É RICO.
Portanto, irmãos, persegui a caridade, doce e saudável vínculo dos corações; sem ela, o mais rico é pobre, e com ela o pobre é rico. A caridade nos dá a paciência nas aflições, moderação na prosperidade, coragem nas adversidades, alegria nas boas obras; ela nos oferece um asilo seguro nas tentações, dá generosamente hospitalidade aos desamparados, alegra o coração quando encontra verdadeiros irmãos e empresta paciência para suportar os traidores.

A caridade ofereceu agradáveis sacrifícios na pessoa de Abel; deu a Noé um refugio seguro durante o diluvio; foi a fiel companheira de Abraão em todas as suas viagens; inspirou a Moisés suave doçura em meio às injúrias e grande mansidão a Davi em suas tribulações. Amorteceu as chamas devoradoras dos três jovens hebreus na fornalha e deu valor aos Macabeus nas torturas do fogo.

A caridade foi casta no matrimônio de Susana, casta com Ana em sua viuvez e casta com Maria em sua virgindade. Foi causa da santa liberdade em Paulo para corrigir e de humildade em Pedro para obedecer; humana nos cristãos para arrependerem-se de suas culpas, divina em Cristo para perdoá-las. Mas que elogio posso eu fazer da caridade, depois de tê-lo feito o próprio Senhor, ensinando-nos pela boca de seu Apóstolo que é a mais excelente de todas as virtudes? Mostrando-nos um caminho de sublime perfeição, disse: “Se eu falasse as línguas dos homens e as dos anjos, mas não tivesse amor, eu seria como um bronze que soa ou um címbalo que retine. Se eu tivesse o dom da profecia, se conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, se tivesse toda a fé, a ponto de remover montanhas, mas não tivesse amor, eu nada seria. Se eu gastasse todos os meus bens no sustento dos pobres e até me entregasse como escravo, para me gloriar, mas não tivesse amor, de nada me aproveitaria”.

“O amor é paciente, é benfazejo; não é invejoso, não é presunçoso nem se incha de orgulho; não faz nada de vergonhoso, não é interesseiro, não se encoleriza, não leva em conta o mal sofrido; não se alegra com a injustiça, mas fica alegre com a verdade. Ele desculpa tudo, crê tudo, espera tudo, suporta tudo. O amor jamais acabará”[2].

Quantos tesouros tem a caridade! É a alma da Escritura, a virtude das profecias, a salvação dos mistérios, o fundamento da ciência, o fruto da fé, a riqueza dos pobres, a vida dos moribundos. Pode-se imaginar maior magnanimidade que a de morrer pelos ímpios, ou maior generosidade que a de amar os inimigos?

A caridade é a única que não se entristece pela felicidade alheia, porque não é invejosa. É a única que não se ensoberbece na prosperidade, porque não é vaidosa. É a única que não sofre o remorso da má consciência, porque não trabalha irrefletidamente. A caridade permanece tranquila nos insultos; em meio ao ódio faz o bem; na cólera tem calma; nos artifícios dos inimigos é inocente e simples; geme nas injustiças e se expande com a verdade.

Imagina, se podes, uma coisa com mais fortaleza do que a caridade, não para vingar injúrias, mas sim para estancá-las. Imagina uma coisa mais fiel, não por vaidade, mas por motivos sobrenaturais, que olham para a vida eterna. Porque tudo o que sofre na vida presente é porque crê com firmeza no que está revelado na vida futura: se tolera os males, é porque espera os bens que Deus promete no céu; por isso a caridade não acaba nunca.

Busca, pois, a caridade, e meditando santamente nela, procura produzir frutos de santidade. E tudo quanto encontrares de mais excelente nela e que eu não tenha notado, que se manifeste em teus costumes.



[1]Mt 22, 37-40.

[2] 1 Co3. 13, 1-8.

Fafen/Petrobrás. > Petroquisa. > Petrofértil. > Nitrofértil. > Petrobrás. > Privatizável.

A imagem pode conter: céu, nuvem e ar livre

Evangelho segundo S. Lucas 11,37-41.

Naquele tempo, depois de Jesus ter falado, um fariseu convidou-O para comer em sua casa. Jesus entrou e tomou lugar à mesa.
O fariseu admirou-se, ao ver que Ele não tinha feito as abluções antes de comer.
Disse-lhe o Senhor: «Vós, os fariseus, limpais o exterior do copo e do prato, mas o vosso interior está cheio de rapina e perversidade.
Insensatos! Quem fez o interior não fez também o exterior?
Dai antes de esmola o que está dentro e tudo para vós ficará limpo».

PASSOS E ACENOS. Florisvaldo Mattos. Poesia.

PASSOS E ACENOS
Florisvaldo Mattos

Nada tens de ave. Fera lúcida, olho
felino (pantera de Rilke entre grades)
nunca indefesa, à espreita. Além dos olhos,
bebo teu corpo, teu cabelo (franja
dos dias) — o mais dardeja. Também és
elástica e macia: braços, pernas
de roliça cogitação. Vais, vens.
De pé, agitas os vaporosos membros,
ao calor da voz que atordoa o vento.
Sentada, as formas se acomodam, urdem
rútilo desenho. É quando, pasmo, ouço
o marulho do sexo, ávido. Bem
que mereço essa onda, ronda de garras
que me acenam, me buscam pela tarde.

Memória de Santa Margarida Maria Alacoque (Homilia Diária.979)

segunda-feira, outubro 15, 2018

REQUIEM. ( I )Charles Fonseca. Poesia.

REQUIEM
Charles Fonseca

Naquele cemitério crânios
expostos ao Deus dará
de seres lado de lá
saudades lírios gerânios

Rodeando sepulturas
o pai ignoto à criança
mostra o fim de esperanças
princípio de esculturas

Erguidas por abonados
contrastes na terra vã
buracos cruzes cristãs
sepultura desgraçados

Desta vida todos restos
vaidades e lamentos
não mais todos por menos
igualados e em dejetos.


Quando o concreto é demais o poeta simboliza de menos.

OS SETE SACRAMENTOS DA IGREJA

Resumindo:

1590. São Paulo ao seu discípulo Timóteo: «Exorto-te a que reavives o dom que Deus depositou em ti, pela imposição das minhas mãos» (2 Tm 1, 6), e «aquele que aspira ao lugar de bispo, aspira a uma nobre função» (1 Tm 3, 1). A Tito, o mesmo Apóstolo dizia: «Se te deixei em Creta, foi para acabares de organizar o que faltava e estabelecer anciãos em cada cidade, como te havia ordenado» (Tt 1, 5).

1591. A Igreja é, na sua totalidade, um povo sacerdotal. Graças ao Baptismo, todos os fiéis participam no sacerdócio de Cristo. Esta participação chama-se «sacerdócio comum dos fiéis». Na base deste sacerdócio e ao seu serviço, existe uma outra participação na missão de Cristo: a do ministério conferido pelo sacramento da Ordem, cuja missão é servir em nome e na pessoa de Cristo-Cabeça no meio da comunidade.

1592. O sacerdócio ministerial difere essencialmente do sacerdócio comum dos fïéis, porque confere um poder sagrado para o serviço dos mesmos fiéis. Os ministros ordenados exercem o seu serviço junto do povo de Deus pelo ensino (munus docendi), pelo culto divino (munus liturgicum) e pelo governo pastoral (munus regendi).

1593. Desde as origens, o ministério ordenado fui conferido e exercido em três graus: o dos bispos, o dos presbíteros e o dos diáconos. Os ministérios conferidos pela ordenação são insubstituíveis na estrutura orgânica da Igreja: sem bispo, presbíteros e diáconos, não pode falar-se de Igreja (92).

1594. O bispo recebe a plenitude do sacramento da Ordem que o insere no colégio episcopal e faz dele o chefe visível da Igreja particular que lhe é confiada. Os bispos, enquanto sucessores dos Apóstolos e membros do Colégio, têm parte na responsabilidade apostólica e na missão de toda a Igreja, sob a autoridade do Papa, sucessor de São Pedro.

1595. Os presbíteros estão unidos aos bispos na dignidade sacerdotal e, ao mesmo tempo, dependem deles no exercício das suas funções pastorais; são chamados a ser os cooperadores providentes dos bispos; formam, d volta do seu bispo, o presbitério, que assume com ele a responsabilidade da Igreja particular: Os presbíteros recebem do bispo o encargo duma comunidade paroquial ou duma função eclesial determinada.

1596. Os diáconos são ministros ordenados para as tarefas de serviço da Igreja; não recebem o sacerdócio ministerial, mas a ordenação confere-lhes funções importantes no ministério da Palavra, culto divino, governo pastoral e serviço da caridade, encargos que eles devem desempenhar sob a autoridade pastoral do seu bispo.

1597. O sacramento da Ordem é conferido pela imposição das mãos, seguida duma solene oração consecratória, que pede a Deus para o ordinando as graças do Espírito Santo, requeridas para o seu ministério. A ordenação imprime um carácter sacramental indelével.

1598. A Igreja confere o sacramento da Ordem somente a homens (viris) baptizados, cujas aptidões para o exercício do ministério tenham sido devidamente reconhecidas. Compete à autoridade da Igreja a responsabilidade e o direito de chamar alguém para receber a Ordem.

1599. Na Igreja latina, o sacramento da Ordem para o presbiterado, normalmente, apenas é conferido a candidatos decididos a abraçar livremente o celibato e que manifestem publicamente a sua vontade de o guardar por amor do Reino de Deus e do serviço dos homens.

1600. Pertence aos bispos o direito de conferir o sacramento da Ordem nos seus três graus.


Catecismo

Comment utiliser "en l'occurrence". Francês.

DESEJO. Charles Fonseca. Poesia.

DESEJO
Charles Fonseca

Declare já teu desejo
assim aplaca a fome
de ser comida por homem
diz-me logo já sem pejo

Que sonha à noite comida
tens o gosto de caqui
do mosto ao vinho oiti
banana d'água querida

Nunca esqueço de ti trufa
degustar teu gosto mel
laranja Bahia um céu
só penso em ti, fruta.

Celine Oxygene. Francês.

CORSO. Charles Fonseca. Poesia.

CORSO
Charles Fonseca

Uma massagem nos pés
um fogo fogão a lenha
uma chama logo venha
da cumeeira ao chão de rés

Uma massagem no dorso
bem aqui mais um amasso
beijo cangote em teu laço
lasso fogoso qual corso

Sobre ti eu corcoveio
quem sabe em qualquer hora
te ponho a sonhar senhora
gemendo nós dois eu permeio.

domingo, outubro 14, 2018

VALSAS / WALTZ - As Valsas Mais Belas Do Mundo

Angèle - Balance ton quoi. Francês.

Montreal. Quebec.

A imagem pode conter: céu, noite e ar livre

Que tal você passar uma temporada na Venezuela?

AFINAL. Charles Fonseca. Poesia.

AFINAL
Charles Fonseca

Lá se vai mais um domingo
um dia santo como outro
todos e não são poucos
os já vividos bem-vindos

Os que vêm já e ainda
para aos poucos sonhar
com amores no vagar
esquecer antes que finda

Esta lida terreal
uma chegada uma ida
uma imagem dorida
outra feliz afinal.

Evangelho segundo S. Marcos 10,17-30.

Evangelho segundo S. Marcos 10,17-30. Naquele tempo, ia Jesus pôr-Se a caminho, quando um homem se aproximou correndo, ajoelhou diante d’Ele e Lhe perguntou: «Bom Mestre, que hei de fazer para alcançar a vida eterna?».Jesus respondeu: «Porque Me chamas bom? Ninguém é bom senão Deus.Tu sabes os mandamentos: "Não mates; não cometas adultério; não roubes; não levantes falso testemunho; não cometas fraudes; honra pai e mãe"». O homem disse a Jesus: «Mestre, tudo isso tenho eu cumprido desde a juventude».Jesus olhou para ele com simpatia e respondeu: «Falta-te uma coisa: vai vender o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu. Depois, vem e segue-Me».Ao ouvir estas palavras, o homem ficou abatido e retirou-se pesaroso, porque era muito rico.Então Jesus, olhando à sua volta, disse aos discípulos: «Como será difícil para os que têm riquezas entrar no reino de Deus!».Os discípulos ficaram admirados com estas palavras. Mas Jesus afirmou-lhes de novo: «Meus filhos, como é difícil entrar no reino de Deus!É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus».Eles admiraram-se ainda mais e diziam uns aos outros: «Quem pode então salvar-se?».Fitando neles os olhos, Jesus respondeu: «Aos homens é impossível, mas não a Deus, porque a Deus tudo é possível».Pedro começou a dizer-Lhe: «Vê como nós deixámos tudo para Te seguir». Jesus respondeu: «Em verdade vos digo: Todo aquele que tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos ou terras, por minha causa e por causa do Evangelho, receberá cem vezes mais, já neste mundo, em casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e terras, juntamente com perseguições, e, no mundo futuro, a vida eterna."

sábado, outubro 13, 2018

A TARDE VAGA. Charles Fonseca. Poesia.

A TARDE VAGA
Charles Fonseca

Quem ama se faz presente
quem não, à casa tarda,
olho à janela a tarde vaga
caio em silêncio os meus ausentes

Ainda tardam por que não chegam
eu sou só deles espero em vão
a noite avança onde é que estão
em outra casa 'spero que vejam

Quem sabe um dia lá no futuro
percebam eu só, o meu passado,
meu grande amor despedaçado
pequena vida, a eles auguro

Vida plena pena menor
do que a que tive agora tenho
o que desejo, a eles tenho,
eles já voltam, não mais eu só.



O SENTIMENTO DUM OCIDENTAL. Cesário Verde. Poesia.

O SENTIMENTO DUM OCIDENTAL
Cesário Verde

A Guerra Junqueiro

I - AVE-MARIA

Nas nossas ruas, ao anoitecer,
Há tal soturnidade, há tal melancolia,
Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia
Despertam-me um desejo absurdo de sofrer.

O céu parece baixo e de neblina,
O gás extravasado enjoa-me, perturba;
E os edifícios, com as chaminés, e a turba
Toldam-se duma cor monótona e londrina.

Batem os carros de aluguer, ao fundo,
Levando à via-férrea os que se vão. Felizes!
Ocorrem-me em revista exposições, países:
Madri, Paris, Berlim, S. Petersburgo, o mundo!

Semelham-se a gaiolas, com viveiros,
As edificações somente emadeiradas:
Como morcegos, ao cair das badaladas,
Saltam de viga em viga os mestres carpinteiros.

Voltam os calafates, aos magotes,
De jaquetão ao ombro, enfarruscados, secos;
Embrenho-me, a cismar, por boqueirões, por becos,
Ou erro pelos cais a que se atracam botes.

E evoco, então, as crônicas navais:
Mouros, baixéis, heróis, tudo ressuscitado!
Luta Camões no Sul, salvando um livro a nado!
Singram soberbas naus que eu não verei jamais!

E o fim da tarde inspira-me; e incomoda!
De um couraçado inglês vogam os escaleres;
E em terra num tinir de louças e talheres
Flamejam, ao jantar, alguns hotéis da moda.

Num trem de praça arengam dois dentistas;
Um trôpego arlequim braceja numas andas;
Os querubins do lar flutuam nas varandas;
Às portas, em cabelo, enfadam-se os lojistas!

Vazam-se por arsenais e as oficinas;
Reluz, viscoso, o rio, apressam-se as obreiras;
E num cardume negro, hercúleas, galhofeiras,
Correndo com firmeza, assomam as varinas.

Vêm sacudindo as ancas opulentas!
Seus troncos varonis recordam-me pilastras;
E algumas, à cabeça, embalam nas canastras
Os filhos que depois naufragam nas tormentas.

Descalças! Nas descargas de carvão,
Desde manhã à noite, a bordo das fragatas;
E apinham-se num bairro aonde miam gatas,
E o peixe podre gera os focos de infecção!

Lindo. Feliz. Fotografia.


Nós sem nós. Fotografia.


PÉTALA ( I )Charles Fonseca. Poesia.

PÉTALA ( I )
Charles Fonseca

Caiu do galho uma flor
despetalou fui ao chão
deixou atrás si fruta chã
chorei por ela e em dor

Ficou em mim a saudade
daquela do meu jardim
nem colho os frutos pós mim
os deixo por minha herdade.

sexta-feira, outubro 12, 2018

PAIXÃO EM TRÂNSITO. Poesia.

PAIXÃO EM TRÂNSITO
Poesia

No furacão de horas úteis, ele vinha ao celular. Não falava alto, nem espesso era o pulôver. Eu tinha na boca um gosto de óleo diesel.

Todos na rua vestiam azul. Embora nem motoristas, nem sonhadores fossem. Também não eram pacifistas, cirurgiões, açougueiros, não havia sangue, nem pássaros claros em suas mãos sombrias de chuva. Era um dia feio e sem sol. Eu olhei. Ele olhou. Eu tinha na boca um gosto de carvão.

Todos na rua eram deuses do luto. Nenhum clérigo no entanto, nenhum gótico ou judeu. Ele passou e eu passei. Ele tudo entendeu e eu também. A Fiandeira, que enrolou todo o mistério, nunca saberá dizer o quê.

Dolores Duran - Fim de Caso (1958)

ESTRO. Charles Fonseca. Poesia.

ESTRO
Charles Fonseca

Uma dama a beira rio
um rio corre pro mar
mar que abraça ao luar
morena noite de estio.

Também noite de chuva
abraça o pescador
que lhe quer em ais de amor
qual gata em estro em cio.

FURTA COR. Charles Fonseca. Poesia.

FURTA COR
Charles Fonseca

Agora verde e amarela
antes vermelho escarlate
escondidos disparates
petralhas, escara velha,

Ratos todos rabo preso
uns nos atos ou idéias
verdadeiras panacéias
acoitados ao degredo

Ao lixo da nossa história,
ao esgoto excrementos,
à fossa pensamentos
podres da nossa memória.

quinta-feira, outubro 11, 2018

Canudos �� documentário de 1978 dirigido por Ipojuca Pontes

COCHICHO. Charles Fonseca. Poesia.

COCHICHO
Charles Fonseca

Que alegria um neto
dois três quantos mais
houverem sigo atrás
o tempo é curto decerto

Que já me é longa a vida
a que resta eu espicho
pra dizer-lhes quase em cochicho
em meu coração tens guarida.

"No eterno não há passado, nem futuro: tudo é presente."

Sermão da Quinta Dominga da Quaresma. Padre Antônio Vieira

Sermão da Quinta Dominga da Quaresma

Na Igreja Maior da Cidade de São Luís no Maranhão. Ano de 1654.

Si dixero quia non scio eum, ero similis vobis, mendax (1).

§ I

A verdade e a mentira: a verdade do pregador e a mentira dos ouvintes. As três espécies de mentiras com que os escribas e fariseus hoje contradisseram, caluniaram e quiseram afrontar e desonrar o Filho de Deus.

Temos juntamente hoje no Evangelho duas coisas que nunca podem andar juntas: a verdade e a mentira.

E por que não podem andar juntas, por isso as temos divididas; a verdade no pregador, a mentira nos ouvintes; o pregador muito verdadeiro, o auditório muito mentiroso. Uma e outra coisa disse Cristo aos escribas e fariseus, com quem falava. O pregador muito verdadeiro: Si veritatem dico vobis (2); o auditório muito mentiroso: Ero similis vobis, mendax (3).

De três modos - que há muitos modos de mentir - mentiram hoje estes maus ouvintes. Mentiram, porque não creram a verdade; mentiram, porque impugnaram a verdade; mentiram, porque afirmaram a mentira.

Não crer a verdade é mentir com o pensamento; impugnar a verdade é mentir com a obra; afirmar a mentira é mentir com a palavra. Tudo isto lhe tinha profetizado a Cristo seu pai Davi, quando disse: In multitudine virtutis tuae mentientur tibi inimici tui (4). De muitos modos mostrareis eficazmente a verdade de vosso ser, mas vossos inimigos vos mentirão também por muitos modos; mentir-vos-ão não crendo; mentir-vos-ão impugnando; mentir-vos-ão mentindo, como hoje fizeram. Disse-lhes Cristo que era Filho de Deus verdadeiro, a quem eles chamavam Pai sem o conhecerem: disse-lhes que os que

recebessem e observassem sua doutrina viveriam eternamente, e aqui mentiram não crendo a verdade: Si veritatem dico vobis, quare non creditis mihi ( 5)? Disse-lhes mais, que Abraão desejara ver o seu dia, isto é, o dia em que havia de descer do céu à terra, e nascer homem entre os homens, e que, finalmente, o vira com grande júbilo e alegria da sua alma, e aqui mentiram impugnando a verdade: Quinquaginta annos nondum habes, et Abraham vidisti (Jo 8, 57)? Tu não tens ainda cinqüenta anos, e viste Abraão? - E o bezerro que vós dissestes que vos livrara do Egito, quantos anos tinha? Não era nascido e gerado naquele mesmo dia? O ditame com que o tivestes por Deus era falso, mas a suposição com que entendestes que em Deus podia haver duas gerações, uma antes e outra depois, era verdadeira.

Respondeu Cristo: Antequam Abraham fieret, ego sum (Jo 8, 58): Antes que Abraão fosse, eu já era.

- Mas este era, declarou-o pela palavra Ego sum: eu sou para que entendessem que era aquele mesmo Deus, que quando se definiu a Moisés disse: Ego sum qui sum (Êx 3, 14): Eu sou o que sou porque no eterno não há passado, nem futuro: tudo é presente. Enfim, mentiram afirmando a mentira, porque disseram que Cristo era samaritano e endemoninhado: Samaritanus es, et daemonium habes (6). E para mentirem duas vezes em uma mentira, repetiram a mesma blasfêmia ratificando o que tinham dito e alegando-se a si mesmos: Nonne bene dicimus nos ( 7)? Mal é dizer mal, mas depois de o haverdes dito, dizerdes ainda que dizeis bem, é um mal maior sobre outro mal, porque é estar obstinado nele.

Estas são as mentiras com que os escribas e fariseus hoje contradisseram, caluniaram e quiseram afrontar e desonrar ao Filho de Deus, como o Senhor lhes disse: Ego honorifico Patrem meum, et vos inhonorastis me (8). Mas, posto que a Sabedoria eterna fosse caluniada e injuriada por semelhante gente, nem por isto ficou afrontado nem desonrado Cristo, porque tudo o que disseram dele e lhe fizeram foi por inveja, por ódio, por raiva, por vingança, e quando as causas são estas, as injúrias não injuriam, as afrontas desafrontam, as desonras honram. Não está muito honrado Cristo? Dizei-o vós. Ora eu, que pregarei neste dia, em que tanto se espera o assunto dos pregadores? Hei também de dizer-vos uma grande injúria, uma grande afronta e uma grande desonra da vossa terra. Contudo, ainda que as verdades causam ódio, espero que não haveis de ficar mal comigo, porque hei de afrontar todos para desafrontar a cada um. O discurso dirá como. Ave Maria.

§II

O Domingo das verdades. No Maranhão a corte da mentira. O galante apólogo do diabo. O M de Maranhão. No Maranhão até o sol e os céus mentem.

Si dixero quia non scio eum, ero similis vobis, mendax (9).

A este Evangelho do Domingo Quinto da Quaresma chamais comumente o domingo das verdades. Para mim todos os domingos têm este sobrenome, porque em todos prego verdades, e muito claras, como tendes visto. Por me não sair, contudo, do que hoje todos esperam, estive considerando comigo que verdades vos diria, e, segundo as notícias que vou tendo desta nossa terra, resolvi-me a vos dizer uma só verdade. Mas que verdade será esta? Não gastemos tempo. A verdade que vos digo é que no Maranhão não há verdade.

Cuidavam e diziam os sábios antigos, que em diferentes ilhas do mundo reinavam diferentes deidades: que em Creta reinava Júpiter, que em Delos reinava Apolo, que em Samos reinava Juno, que em Chipre reinava Vênus, e assim de outras. Se o império da mentira não fora tão universal no mundo, pudera-se suspeitar que nesta nossa ilha tinha a sua corte a mentira. Todas as terras, assim como tem particulares estrelas, que naturalmente predominam sobre elas, assim padecem também diferentes vícios, a que geralmente são sujeitas. Fingiram a este propósito os alemães uma galante fábula. Dizem que quando o diabo caiu do céu, que no ar se fez em pedaços, e que estes pedaços se espalharam em diversas províncias da Europa, onde ficaram os vícios que nelas reinam. Dizem que a cabeça do diabo caiu em Espanha, e que por isso somos furiosos, altivos, e com arrogância graves. Dizem que o peito caiu em Itália, e que daqui lhes veio serem fabricadores de máquinas, não se darem a entender, e trazerem o coração sempre coberto. Dizem que o ventre caiu em Alemanha, e que esta é a causa de serem inclinados

à gula, e gastarem mais que os outros com a mesa e com a taça. Dizem que os pés caíram em França, e que daqui nasce serem pouco sossegados, apressados no andar, e amigos de bailes. Dizem que os braços com as mãos e unhas crescidas, um caiu na Holanda, outro em Argel, e que daí lhes veio - ou nos veio - o serem corsários. Esta é a substância do apólogo, nem mal formado, nem mal repartido, porque, ainda que a aplicação dos vícios totalmente não seja verdadeira, tem contudo a semelhança de verdade, que basta para dar sal à sátira. E, suposto que à Espanha lhe coube a cabeça, cuido eu que a parte dela que nos toca ao nosso Portugal é a língua, ao menos assim o entendem as nações estrangeiras que de mais perto nos tratam. Os vícios da língua são tantos, que fez Drexélio um abecedário inteiro e muito copioso deles. E se as letras deste abecedário se repartissem pelos estados de Portugal, que letra tocaria ao nosso Maranhão? Não há dúvida, que o M. M - Maranhão, M - murmurar, M - motejar, M - maldizer, M - malsinar, M - mexericar, e, sobretudo, M - mentir: mentir com as palavras, mentir com as obras, mentir com os pensamentos, que de todos e por todos os modos aqui se mente. Novelas e novelos, são as duas moedas correntes desta terra (10), mas têm uma diferença, que as novelas armam-se sobre nada, e os novelos armam-se sobre muito, para tudo ser moeda falsa.

Na Bahia, que é a cabeça desta nossa província do Brasil; acontece algumas vezes o que no Maranhão quase todos os dias. Amanhece o sol muito claro, prometendo um formoso dia, e dentro em uma hora tolda o céu de nuvens, e começa a chover como no mais entranhado inverno. Sucedeu-lhe um caso como este a D. Fradique de Toledo, quando veio a restaurar a Bahia no ano de mil seiscentos e vinte e cinco. E tendo toda a gente da armada em campo para lhe passar mostra, admirado da inconstância do clima, disse: En el Brasil hasta los cielos mientem. Não sei se é isto descrédito, se desculpa. Que mais pode fazer um homem, que ser tão bom como o céu da terra em que vive? Outra terra há em Europa ( * ), na qual eu estive há poucos anos, em que se experimentaram cada dia as mesmas mudanças, pelas quais Galeno não quis curar nela; porém, ali há outra razão, porque como a terra tem jurisdição sobre o céu, segue o céu as influências da terra. Mas o que se disse do Brasil por galanteria, se pode afirmar do Maranhão com toda a verdade. É experiência inaudita a que agora direi, e não sei que fé lhe darão os matemáticos que estão mais longe da linha. Quer pesar o sol um piloto nesta cidade onde estamos, e não no porto, onde está surto o seu navio, senão com os pés em terra: toma o astrolábio na mão com toda a quietação e segurança. E que lhe acontece? Coisa prodigiosa! Um dia acha que está o Maranhão em um grau, outro dia em meio, outro dia em dois, outro dia em nenhum. E esta é a causa por que os pilotos que não são práticos nesta costa, areiam, e se têm perdido tantos nelas. De maneira que o sol, que em toda a parte é a regra certa e infalível por onde se medem os tempos, os lugares, as alturas, em chegando à terra do Maranhão, até ele mente. E terra onde até o sol mente, vede que verdade falarão aqueles sobre cujas cabeças e corações ele influi. Acontece-lhes aqui aos moradores o mesmo que aos pilotos, que nenhum sabe em que altura está. Cuida o homem nobre hoje que está em altura de honrado, e amanhã acha-se infamado e envilecido. Cuida a donzela recolhida que está em altura de virtuosa, e amanhã acha-se murmurada pelas praças. Cuida o eclesiástico que está em altura de bom sacerdote, e amanhã acha-se com reputação de mau homem. Enfim, um dia estais aqui em uma altura, e ao outro dia noutra, porque os lábios são como o astrolábio. É isto assim? A vós mesmos o ouço, que eu não o adivinhei. vede se é certa a minha verdade: que não há verdade no Maranhão.

§ III

A influência do clima no nascimento de vícios e virtudes. Os dois vícios dos cretenses: mentira e preguiça. As mais desfechadas mentiras que nunca se ouviram nem imaginaram. A mentira, filha primogênita do ócio. A proposição de Davi. O juízo temerário. A língua, a fera mais dificultosa de enfrear.

Ora, eu me pus a especular a causa por que o clima e o céu desta terra influi tanta mentira, e parece-me que achei a causa verdadeira e natural. Assim como o céu com uma virtude influi outra virtude, assim o clima, que também se chama céu, com um vício influi outro vício. Ponhamos o exemplo na verdade, que é a virtude contrária da mentira: Veritas de terra orta est (Sl 8, 12), diz Davi: A verdade nasceu da terra. - E logo advertiu que a terra de que falava não era toda a terra, senão a sua: Et terra nostra dabit fructum

suum (11). Mas donde lhe veio aquela terra - que era a de Promissão - donde veio uma virtude tão singular no mundo, que nascesse dela a verdade? O mesmo profeta o disse: Veritas de terra orta est, et justitia de coelo prospexit ( 12). Toda esta virtude da terra veio-lhe do céu. Influiu o céu na terra a justiça, e nasceu nela a verdade. A verdade é filha legítima da justiça, porque a justiça dá a cada um o que é seu. E isto é o que faz e o que diz a verdade, ao contrário da mentira. A mentira, ou vos tira o que tendes, ou vos dá o que não tendes; ou vos rouba, ou vos condena. A verdade não: a cada um dá o seu, como a justiça. E porque o céu influiu naquela terra a justiça, por isso influiu e nasceu nela a verdade. Influiu uma virtude, e nasceu outra.

O mesmo passa nos vícios. Se o clima influi soberba, nasce a inveja; se influi gula, nasce a luxúria; se influi cobiça, nasce a avareza; se influi ira, nasce a vingança. E para nascer a mentira, que é o que influi?

Ociosidade. Onde o clima influi ócio, dá-se a mentira a perder. Nasce, cresce, espiga, e de um não-sei-quê, tamanho como um grão de trigo, podeis colher mentiras aos alqueires. Estes são os dois vícios do Maranhão, e estas as duas influências deste clima - ócio e mentira. - O ócio é a primeira influência, a mentira a segunda; o ócio a causa, a mentira o efeito. Não há terra no mundo que mais incline ao ócio ou à preguiça, como vós dizeis, e esta é a semente de que nasce tão má erva. Ouvi a S. Paulo. Fala o apóstolo da Ilha de Creta, que é a Cândia, que hoje vai conquistando o turco, e diz assim : Cretenses semper mendaces, ventres pigri (13): os cretenses têm dois vícios, que sempre se acham neles:

mentirosos e preguiçosos. Pudera dizer mais, se falara da nossa ilha, e de toda esta terra? Digam-no os naturais. Nem a sua diligência nem a sua verdade o pode negar. Não há gente mais mentirosa nem mais preguiçosa no mundo. Deitados na sua rede: Ventres pigri; ouvidos nas suas palavras: semper mendaces. Mas como estas virtudes vêem do céu, como são influências do clima, pegaram-se também aos portugueses. Falta a verdade, porque sobeja a ociosidade. Dai-me vós homens ociosos, que eu vo-los darei mentirosos. E se não, vamos ao Evangelho.

As mais desfechadas mentiras, que nunca se ouviram nem imaginaram, foram as que hoje lhe disseram a Cristo na cara os escribas e fariseus, pelas quais o mesmo Senhor lhes chamou mentirosos: Ero similis vobis, mendax (Jo 8, 55). Disseram que era samaritano e endemoninhado. E não só o disseram esta vez, como advertiu Orígenes, mas assim o diziam publicamente; Nonne bene dicimus nos, quia samaritanus es tu, et daemonium habes ( 14 ) ? E notai o que disseram mais abaixo: Nunc cognovimus, quia samaritanus est tu, et daemonium habes (Jo 8, 52): (15). Agora conhecemos que és samaritano e endemonhinhado. - Pois, se agora o conhecestes, como o dizíeis dantes? Porque os mentirosos dizem as coisas antes de as saberem. Mas, tornemos à substância da mentira. Cristo lançava os demônios de todos os corpos, e eles chamam-lhe endemoninhado; Cristo era galileu natural de Nazaré, e chamam-lhe samaritano. E se o diziam pela religião e pelos costumes, os samaritanos eram idólatras e apóstatas da lei, e Cristo era o legislador e reformador dela. Estas eram as mentiras que diziam os escribas e fariseus. E o povo, que dizia? Dizia a verdade: que Cristo era um grande profeta, que era o Rei prometido de Israel, que era o Messias. Pois, se o povo simples e sem letras conhecia e dizia a verdade, os escribas e fariseus, que se prezavam de sábios, como cuidavam e diziam tão desatinadas mentiras? Porque os escribas e fariseus era gente abastada e ociosa, e o povo não. Ide-lhe ver as mãos, achar-lhas-eis cheias de calos. Quem trabalha, trata da sua vida; quem está ocioso, trata das alheias. Quem trabalha, como cuida no que faz, fala verdade, porque diz as coisas como são. O ocioso, como não tem que fazer, mente, porque diz o que imagina.

Esta é a razão por que a mentira é filha primogênita do ócio. Vede como se forma dentro em vós mesmos este monstruoso parto. Quem está ocioso não tem mais que fazer que pôr-se a imaginar; da ociosidade nasce a imaginação, da imaginação a suspeita, da suspeita a mentira. É a imaginação no ocioso como a serpente de Eva. Estava ociosa Eva no paraíso, entrou a serpente coleando-se mansamente sem pés, mas com cabeça; começou pela especulação, e acabou pela mentira. Começou pela especulação: Cur praecepit vobis Deus ( 16); e acabou pela mentira, e duas mentiras: Nequaquam moriemini: eritis sicut dii (17). Consentiu Eva na mentira peçonhenta: de Eva passou a Adão, de Adão ao gênero humano. Não sucede assim às mentiras imaginadas, que vós, como bicho da seda, gerastes dentro em vós mesmos, fabricando de vossas entranhas a mortalha para vós e o vestido para os outros? Meterá a língua a tesoura; e sem tomar as medidas à verdade, vós lhes cortareis de vestir. Por que cuidais que se dizem tantas coisas mal feitas? Por que se fizeram? Não, que a mim me consta do contrário. É porque se imaginaram; e tanto que vieram à imaginação, já estão na prancha da língua.

Que bem o disse Davi: Tota die iniquitatem cogitavit lingua tua (Sl 51, 4): Todo o dia a vossa língua estava cuidando e imaginando maldades (18). Tota die: todo o dia. Vede se era ocioso aquele de quem falava Davi: todo o dia não tinha outra coisa que fazer. E que fazia? Estava a sua língua cuidando e imaginando maldades. Não sei se reparais na impropriedade das palavras. O cuidar, o imaginar, é obra do entendimento, não é da língua: a língua fala, o entendimento imagina. Pois, se a imaginação está no entendimento, como diz Davi que estes fabricadores de maldades imaginavam com a língua: Tota die iniquitatem cogitavit lingua tua? Falou Davi com esta que parece impropriedade, para declarar com toda a propriedade o que queria dizer. Não diz que imagina com a língua, porque a língua imagine, que isso não pode ser; mas diz que imaginam com a língua, por duas razões: primeira, porque a sua língua não diz o que é senão o que imagina; segunda, porque quanto lhes vem à imaginação, logo o põe na língua. O mesmo Davi: Cogitaverunt et locuti sunt iniquitatem (19): Em imaginando a maldade, logo a dizem, sem outra causa para a dizerem mais que a sua maldade, sem outro fundamento mais que a sua imaginação. Por isso lhes chama o profeta verba praecipitationis (20), tão precipitados em afirmar quanto imaginam sem consideração, sem advertência, sem reparo, sem escrúpulo, sem temor de Deus, sem meter espaço nem fazer diferença entre o imaginar e o dizer, como se tiveram a imaginação na língua, ou a língua na imaginação, como se a língua fôra a que imagina, ou a imaginação a que fala:

Cogitavit injustitiam lingua tua. Quantas vezes se diz do honrado e da honrada, do inocente e da inocente o que nunca lhes passou pela imaginação? Mas basta que o maldizente o imagine ou o queira imaginar, para o pôr na conversação e na praça, e o afirmar com tanta certeza, como se o lêra em um Evangelho. Deus nos livre de tais línguas, e muito mais de tais imaginações, porque se a vossa honra lhes entrou na imaginação, nenhum remédio tendes: não há de parar aí, há de passar à língua: Cogitaverunt, et locuti sunt (21).

Daqui entendereis a razão de um notável preceito de Deus, que por uma parte parece rigoroso, e, por outra, menos necessário. Proíbe Deus, sob pena de pecado mortal e de inferno, que ninguém tenha juízo temerário do seu próximo. Juízo temerário é cuidar eu e julgar mal de meu próximo dentro do meu pensamento. Pois, se o meu juízo fica dentro do meu pensamento, e não sai fora, nem pode fazer bem nem mal ao próximo, por que o proíbe Deus com tanta severidade? Primeiramente notai e adverti quão estimada é, e quão delicada para com Deus a honra e a reputação de cada um de nós. Nem cá dentro no meu entendimento, nem cá dentro na minha imaginação quer Deus que estejais mal reputado. Zela Deus e cia a vossa honra e a vossa reputação, até de mim para comigo. Vede quanto ciará e sentirá que passe aos ouvidos, e ande pelas bocas de uns e outros. Daqui nasce a razão por que Deus proíbe tão rigorosamente os juízos temerários. Não quer que haja juízos temerários, para que não haja falsos testemunhos. Os falsos testemunhos formam-se na língua: os juízos temerários formam-se na imaginação; e como da imaginação à língua há tão pouca distância, para que não haja falsos testemunhos na língua, proíbe que não haja juízos temerários na imaginação. Não se contentou Deus com meter o inferno entre a imaginação e a língua, com um preceito de pecado mortal, mas meteu outra vez o inferno entre o entendimento e a imaginação, para que com estes dois muros de fogo tivesse defendida a nossa honra das nossas línguas. E, contudo, isto não basta. Por que? Porque em se passando a primeira muralha, está vencida a segunda; em chegando à imaginação, já está na língua: Cogitaverunt, et locuti sunt.

Senhores meus, vivemos em uma terra muito ociosa, e por isso muito sujeita a imaginações. Aqui se há de pôr o remédio. Diz o apóstolo S. Tiago que não há fera mais dificultosa de enfrear que a língua. Para se pôr o freio na língua, hão-se de meter as cabeçadas na imaginação. Nos vossos engenhos, para que não corra a levada, pondes o resisto no açude. O primeiro a quem mentis é a vós. Não mentiram as línguas a todos se as imaginações não mentiram a cada um. Aqui é que se há de pôr o resisto. Jó, que conhecia muito bem a simpatia das potências com os sentidos, dizia: Pepigi faedus cum oculis meis, ut ne cogitarem de virgine (22): Fiz concerto com os meus olhos, para estar seguro dos meus pensamentos. - Concertai-vos com os vossos pensamentos, se quereis estar seguro das vossas línguas. Mas porque dais entrada a quanto quereis no pensamento, por isso dizeis tantas coisas que nunca passaram pelo pensamento.

§ IV

Quantas voltas dão as palavras desde a boca até os ouvidos. O exemplo dos apóstolos. Os que ouvem pelos ouvidos e os que ouvem pelos corações. O que ouviram Moisés e Josué ao descer do Sinai. As mentiras e as formas do fundidor. O notável artifício com que a natureza formou os nossos ouvidos. Como saíram torcidas da boca dos fariseus as palavras de Cristo. A quimera e a mentira. A primeira mentira que no mundo se disse foi feita de duas verdades. As falsas testemunhas diante de Pilatos.

Vejo que estão agora alguns no auditório mui contentes, dizendo consigo que isto não fala com eles, porque é verdade que não são mudos, e que quando se acham em conversação também falam nas vidas alheias; mas que não são homens que digam o que imaginam: dizem o que ouvem, e quem diz o que ouve não mente. Ora, estai comigo. Se vós soubéreis quantas voltas dão as palavras desde a boca até os ouvidos, não houvéreis de dizer isso, ainda que foreis mui verdadeiros. Quero-vos pôr o exemplo na melhor boca e nos melhores ouvidos do mundo. Perguntou S. Pedro a Cristo que havia de ser de S. João. Respondeu o Senhor: Sic eum volo manere (Jo 21, 22): Quero que fique assim. - Isto é o que Cristo disse. E os apóstolos que disseram? Exiit sermo inter fratres, quod discipulus ille non moritur: Começaram a dizer uns com os outros que S. João não havia de morrer. - E acrescenta o Evangelista: Et non dixit Jesus non moritur, sed sic eum volo manere (Jo 21, 23): E Cristo não disse que ele não havia de morrer, senão que queria que ficasse assim. - Pois, se Cristo o não disse, como o disseram os apóstolos? Eles é certo que não quiseram dizer uma coisa por outra, mas desde a boca aos ouvidos são tantas as voltas que dão as palavras, ou no que soam, ou no que significam, que o que na boca de Cristo é ficar, nos ouvidos dos apóstolos é não morrer. Não podia haver nem melhor boca que a de Cristo, nem melhores ouvidos que os dos apóstolos; e se entre o dizer de tal boca e o perceber de tais ouvidos sucedem estas contradições, que será quando a boca não é de Cristo, e quando os ouvidos não são de S. Pedro nem de S. João? Quantas vezes vos disseram uma coisa e percebestes outra? Quantas vezes ouvis o que não ouvis? Quantas vezes entre a boca do outro e os nossos ouvidos ficou a honra alheia pendurada por um fio? E queira Deus que não ficasse enforcada. Isto acontece quando os homens ouvem com os ouvidos; mas quando ouvem com os corações, ainda é muito pior. E os corações também ouvem? Nunca vistes corações? Os corações também têm orelhas, e estai certos que cada um ouve, não conforme tem os ouvidos, senão conforme tem o coração e a inclinação.

Enquanto Moisés estava no Monte Sinai recebendo a lei de Deus, pediram os judeus a Arão que lhes fundisse um bezerro de ouro. E como era o primeiro dia da dedicação daquela imagem, celebraram-no eles com grandes festas. Desce do monte Moisés com Josué, ouviram as vozes ao longe: disse Moisés: - Eu ouço cantar a coros; - disse Josué: - Não é senão tumulto de guerra (Êx 32, 18). Aqui temos choros castrorum (23). Se as vozes eram as mesmas, como a um parecem música e a outro parecem trombetas? A razão é clara. Moisés era religioso, Josué era soldado: ao religioso, parecem-lhe as vozes do côro; ao soldado, de guerra. Cada um ouve conforme o seu coração e a sua inclinação. Deus nos livre de um coração mal inclinado. Se ouvir um Te Deum laudamus há de dizer que ouviu uma carta de excomunhão. Os que ouvem são os ouvidos, mas os que ouvem bem ou mal são os corações. Tudo o que entra pelo ouvido faz eco no coração, e conforme está disposto o coração, assim se formam os ecos. Ainda vos hei de declarar isto com outra comparação mais própria. Na fundição de Arão a temos.

Quer um fundidor formar uma imagem. Suponhamos que é de S. Bartolomeu com o seu diabo aos pés. Que faz para isto? Faz duas formas de barro, uma do santo e outra do diabo, e deixa aberto um ouvido em cada uma. Depois disto derrete o seu metal em um forno, e, tanto que está derretido e preparado, abre a boca ao forno, corre o metal, entra por seus canais no ouvido de cada forma, e em uma sai uma imagem de S. Bartolomeu muito formosa, noutra uma figura do diabo, tão feia como ele. Pois, valha-me Deus, que diferença é esta? O metal era o mesmo, a boca por onde saiu a mesma, e, entrando por um ouvido faz um santo, entrando por outro ouvido faz um diabo? Sim, que não está a coisa nos ouvidos, senão nas formas que estão lá dentro. Onde estava a forma do diabo, saiu um diabo; onde estava a forma do santo, saiu um santo. Senhores meus, todos os nossos ouvidos vão a dar lá dentro em uma forma, que é o coração. Se o coração é forma do santo, tudo o que entra pelo ouvido é santo; se é forma do diabo, tudo o que entra pelo ouvido é diabólico.

Querei-lo ver? Olhai para o nosso Evangelho. Disse Cristo aos escribas e fariseus: Ego honorifico Patrem meum (Jo 8, 49): Eu honro a meu Pai: Ego non quaero gloriam meam (ibid. 50): Eu não busco a minha glória: Si quis sermonem meum servaverit, mortem non videbit in aeternum (ibid. 51 ): Se alguém guardar os meus preceitos, viverá eternamente. - Ouvidas estas palavras, quem não diria, quando menos, que era um santo quem as dizia, principalmente tendo provado a sua doutrina com tantos milagres? E os escribas e fariseus que disseram? Nunc cognovimus quia daemonium habes (ibid. 52): Agora conhecemos que trazes dentro em ti o demônio. - Pois, também de umas palavras tão santas e tão divinas formam estes homens um conceito tão diabólico? Sim, também, porque tais eram as formas em que receberam o que lhes entrou pelos ouvidos. Aqueles malditos homens eram filhos do diabo, como Cristo lhes disse nesta mesma ocasião: Vos ex patre diabolo estis (24) - e de uns corações diabólicos, de umas formas endemoninhadas, ainda que o metal fosse tão divino, que havia de sair senão um demônio: daemonium habes? Isto sucedeu às palavras de Cristo, para que vejamos o que pode suceder às demais. É verdade que as formas não são todas umas. Assim como sai um diabo e outro diabo, pode sair também um S. Bartolomeu; mas, ainda assim, o melhor é não entrar por ouvidos de homens, posto que as formas não sejam do diabo, senão do santo, porque se a forma é do diabo, ficais diabo, e se é de S. Bartolomeu, ficais esfolado. Ninguém passou pelos dois estreitos da boca e ouvidos humanos que não deixasse neles, quando menos, a pele.

Notável é o artifício, com que a natureza formou os nossos ouvidos. Cada ouvido é um caracol, e de matéria que tem sua dureza. E como as palavras entram passadas pelo oco deste parafuso, não é muito que quando saem pela boca, saiam torcidas. Tornemos às de Cristo hoje. Disse o Senhor aos seus ouvintes: Abraham exsultavit ut videret diem meum vidit, et gavisus est (Jo 8, 56): Abraão desejou ver minha vinda ao mundo, viu-a, e alegrou-se. - Isto é o que entrou pelos ouvidos dos escribas e fariseus. E que é o que saiu pelas bocas? Quinquaginta annos nondum habes, et Abraham vidisti (Jo 8, 57 )? Ainda não tens cinqüenta anos, e viste Abraão? - Vede como saíram torcidas as palavras dos ouvidos à boca. Cristo disse que Abraão vira a ele, e os fariseus dizem que dissera que ele vira a Abraão: Et Abraham vidisti. Assim torceram o nome, e mais o verbo. Ao nome mudaram-lhe o caso, e ao verbo a pessoa. Cristo disse o nome em nominativo, e eles puseram-no em acusativo; Cristo disse o verbo na terceira pessoa, e eles puseram-no na segunda. De Abraham vidit, formaram Abraham vidisti. Eis aqui como saem as palavras dos ouvidos à boca, torcidas e retorcidas: torcidos os nomes, torcidos os verbos, torcidas as pessoas; torcidos os casos. Então dizeis que dissestes o que ouvistes.

Mais sucede nesta passagem dos ouvidos à boca. Como os ouvidos são dois, e a boca uma, sucede que, entrando pelos ouvidos duas verdades, sai pela boca uma mentira. Parece coisa de trejeito, mas é tão certa, que a primeira mentira que se disse no mundo foi desta casta: uma mentira feita de duas verdades. Antes que vo-la diga, quero-vos mostrar como isto pode ser. Quando quereis dizer que fulano é grande mentiroso, dizeis que é uma quimera. Mas que coisa é quimera? Mui poucos de vós deveis de o saber. Quimera é um animal fingido, composto de dois animais verdadeiros: um monstro, meio homem, meio cavalo, é quimera; um monstro, meio águia, meio serpente, é quimera; um monstro, meio leão, meio peixe, é quimera; mas não há tais monstros nem tais quimeras no mundo. De maneira que as ametades são verdadeiras; os todos, ou monstros que delas se compõem, são fingidos. As ametades são verdadeiras, porque há homem e cavalo, há águia e serpente, há leão e peixe; os monstros que se compõem destas ametades são fingidos, porque não há tal coisa no mundo. Isto mesmo fazem os mentirosos: partem duas verdades pelo meio, e, sem mudar nem acrescentar nada ao que dissestes, de duas verdades partidas fazem uma mentira inteira. Tal foi a mentira que disse o diabo a nossos primeiros pais, e foi a primeira mentira que no mundo se disse: Cur praecepit vobis Deus, ut non comederetis de omni ligno paradisi (Gên 3, 1 ) ? Por que vos mandou Deus - diz o diabo a Eva - que de todas as árvores, quantas há no paraíso, não comêsseis? - Há tal mentira como esta? E foi feita de duas verdades. Deus deu a nossos primeiros pais uma permissão e um preceito: a permissão foi: comei de todas as árvores; o preceito foi: não comais desta árvore. E que fez o diabo? Do comei de todas as árvores, tomou o de todas as árvores, e do não comais desta árvore, tomou o não comais, e, ajuntando o não comais com o de todas as árvores, disse que mandara Deus que de todas as árvores não comessem. Pode haver maior mentira? Pois foi grudada de duas verdades. Defendei-vos lá agora das vossas mentiras, com dizer que dissestes as mesmas palavras que ouvistes e que não acrescentastes nada. Que importa que não acrescenteis, se diminuístes? Pior é uma verdade diminuída, que uma mentira mui declarada, porque a verdade diminuída na essência é mentira, e tem aparências de verdade; e mentiras que parecem verdades são as piores mentiras de todas.

Mas por que acabemos de uma vez com as mentiras de ouvidas, para que seja mentira o que dizeis, não é necessário que oiçais mal nem que diminuais ou acrescenteis o que ouvistes: pode um homem dizer pontualmente o que ouviu, e ouvir pontualmente o que disseram, e com tudo isso mentir. Quando os judeus acusaram a Cristo diante de Pilatos, buscavam diversos falsos testemunhos, e nenhum concluía. Ultimamente, diz o Evangelista que vieram duas testemunhas falsas, as quais disseram que ouviram dizer a Cristo que, se o Templo de Jerusalém se desfizesse, ele o reedificaria em três dias. Para inteligência deste testemunho havemos de saber que, entrando Cristo no Templo de Jerusalém, e achando que nele estavam comprando e vendendo, fez um azorrague das cordas que ali estavam, e a açoites lançou fora os que compravam e vendiam. Espantados eles da resolução de Cristo, disseram que lhes desse algum sinal do poder com que fazia aquilo. Respondeu o Senhor: Solvite templum hoc, et in tribus diebus excitabo illud (25). Pois, se Cristo disse, derribai o Templo, e em três dias o levantarei, e eles testemunharam o que lhe ouviram, como eram testemunhas falsas: Venerunt duo falsi testes (26)? O Evangelista o declarou: Ille autem dicebat de templo corporis sui (Jo 2, 21 ): Falava do templo do seu corpo - o qual templo o Senhor excitou três dias depois de derrubado, que foi no dia da ressurreição. E como Cristo disse aquelas palavras em um sentido, e eles as referiram em outro, ainda que as palavras eram as mesmas que tinham ouvido, sem mudar, nem acrescentar, nem diminuir, as testemunhas eram falsas. Cuidais que para mentir e para dizer testemunhos falsos é necessário mudar, diminuir ou acrescentar as palavras que ouvistes? Não é necessário nada disso: basta mudar-lhes o sentido, ou a intenção, ainda que as não entendais, porque haveis supor que as podem ter, e mais quando as pessoas são tais - como era a de Cristo - que podem falar com mistério. Quantas vezes se dizem as palavras sinceramente com uma tenção muito sã, e vós as interpretais e corrompeis de maneira que de um louvor fazeis um agravo, de uma confiança uma injúria, de uma galantaria uma blasfêmia, e de uma graça levantais uma tal labareda, que se originaram dela muitas desgraças. E se isto sucede quando os homens dizem o que ouviram, e só o que ouviram, que será quando dizem o que imaginaram, e o que sonharam, ou que ninguém imaginou nem sonhou?

§V

A mentira dos olhos. Quais toram as coisas de que se formou o engano dos moabitas na campanha contra os reis de Israel. O cego do Evangelho. O que aconteceu aos cegos vigiadores, que vão estudar de noite o que hão de rezar de dia. O negrume das nuvens e da água.

Também contra este segundo discurso há quem cuide que está adargado. Dizem alguns, ou diz algum: não sou eu daqueles, porque a mim nunca me saiu pela boca coisa que me entrasse pelos ouvidos: para afirmar, hei de ver com os olhos primeiro; e se para isso for necessário que os olhos não durmam quarenta noites, estando vigiando a uma esquina, hei-o de fazer sem descansar, até ver averiguada a minha suspeita. Ah! ronda do inferno! Ah! sentinela de Satanás! Este mesmo, se lhe mandar o confessor que faça exame de consciência meio quarto de hora antes de se deitar, não o há de poder fazer com o sono. Mas, para destruir honras, para abrasar casas, estará feito um Argos quarenta noites inteiras. Não cuidem, porém, estes malignos vigiadores, que por aí se livrarão de mentirosos. Fostes, vigiastes, observastes, vistes, dissestes, e tendes para vós que falastes verdade? Pois mentistes muito grande mentira. Os olhos mentem de dia, quanto mais de noite. Grande caso! No Livro quarto dos Reis, capítulo terceiro ( 4 Rs 3, 22) : Saíram em campanha contra os moabitas el-rei de Israel, el-rei de Judá e el-rei de Edon. Estavam ainda os exércitos para dar batalha na manhã seguinte: eis que, ao romper do sol, olharam os moabitas para os arraiais dos inimigos, e viram que pelo meio deles corria um rio de sangue. Começaram a aclamar com grande alegria: - Sangue, sangue, sem dúvida que os três reis pelejaram esta noite entre si, e mataram-se uns aos outros: vamos a recolher os despojos. - Saíram os moabitas correndo tumultuariamente; mas eles foram os despojados e os vencidos, porque o sangue que viram, ou se lhes afigurou que viram, não era sangue. Foi o caso que passava um rio por meio dos arraiais dos três reis, e como ao sair do sol feriram os raios na água que ia correndo, fez tais reflexos a luz, que parecia sangue. E esta aparência de sangue, tão enganosamente visto, e tão falsa, e tão facilmente crido, foi o que precipitou aos moabitas, e os levou a meterem-se nas mãos de seus inimigos. Se reparais no caso, as duas coisas mais claras que há no mundo é o sol e a água. Os nossos provérbios o dizem: Claro como a água, claro como a luz do sol. E quais foram as coisas de que se formou aquele engano nos olhos dos moabitas, com que cuidaram que o rio era sangue? Uma coisa foi o sol, e outra coisa foi a água: o sol, porque feriu com seus raios as águas, e as águas porque, feridas, deram com os reflexos aparências de sangue. De sorte que se enganaram os olhos nas duas coisas mais claras que há no mundo. Pois, se os olhos se enganam nas coisas mais claras, como se não enganarão nas mais escuras, e às escuras? De dia, engana-vos o sol, e, de noite, quereis-vos desenganar com as trevas?

Dir-me-eis que havia lua e estrelas quando vistes. Essa pequena luz é a que cega mais, porque faz que umas coisas pareçam outras. Trouxeram um cego a Cristo, pos-lhe o Senhor as mãos nos olhos, e perguntou-lhe se via? Respondeu o cego: Video homines velut arbores ambulantes (Mar 8, 24): Senhor, vejo os homens como árvores que andam. - Mais cego estava agora este cego que dantes, porque dantes não via nada, agora via umas coisas por outras. Os homens que são de tão diferente figura e estatura, via-os como árvores, e as árvores que estão presas com raízes na terra, via que andavam como homens.

Eis aqui o que tem ver com pouca luz. O mesmo acontece a estes cegos vigiadores, que vão estudar de noite o que hão de rezar de dia: Video homines velut arbores ambulantes. O cego de Cristo, figurava-se-lhe que os homens eram árvores, e estes cegos do diabo, figura-se-lhes que as árvores são homens. Põem-se a espreitar, veem uma árvore em um quintal: eis lá vai um homem. A árvore está tão pregada pelas raízes que dois cavadores a não arrancarão em um dia, e ele há de jurar aos Santos Evangelhos, que viu entrar e sair aquele vulto; arbores ambulantes. Oh! maldito ofício! oh! infernal curiosidade! Já se os olhos levarem alguma nuvenzinha, como sempre levam, ou de desconfiança, ou de ódio, ou de inveja, ou de suspeita, ou de vingança, ou de outra qualquer paixão, aí vos gabo eu: Tenebrosa aqua in nubibus aeris (27). Notou Davi admiravelmente que a água nas nuvens é negra. Vedes lá vir um aguaceiro escuro mais que a mesma noite: que negrume é aquele? Não é mais que água e nuvem: a nuvem é um volante, a água é um cristal; e destes dois ingredientes tão puros e tão diáfanos se faz uma escuridade tão negra e tão espessa. Se quem vai vigiar e espreitar a vossa vida e a vossa honra levar alguma nuvem diante dos olhos, ainda que seja tão delgada como um volante, por mais que a vossa vida e a vossa honra seja tão clara e tão pura como um cristal, há-lhe de parecer escura e tenebrosa: Tenebrosa aqua in nubibus aeris. Finalmente, reduzindo todo o discurso, ou discursos: mentem as línguas, porque mentem as imaginações; mentem as línguas, porque mentem os ouvidos; mentem as línguas, porque mentem os olhos; e mentem as línguas, porque tudo mente, e todos mentem.

§ VI

A consolação e a desafronta da mentira. Bem-aventurados vós, quando os homens disserem todo o mal de vós, mentindo. A razão por que Cristo, quando o diabo o nomeou por Filho de Deus, lhe mandou que calasse. O engano e a falsa suposição em que estão os que não tem prática interior da terra. A confissão dos falsos testemunhos.

Tenho acabado de provar a matéria que propus. Mas parece-me que estais dizendo - como disse no princípio - que tenho dito muitas afrontas à vossa terra. Porém eu digo - como também prometi - que antes a tenho desafrontado. E senão, pergunto: Qual vos está melhor: que seja verdade o que se diz, ou que sejam mentiras? Não há dúvida que vos está melhor que sejam mentiras. Pois isto é o que eu tenho dito. Se fora verdade o que se diz, era grande afronta vossa; mas, como tenho mostrado que tudo são mentiras, ficais todos muito honrados.Hoje vos restituí vossa honra, porque provei que mentem todos os que dizem mal de vós. Vós bem sabeis melhor que eu que tudo são mentiras; mas eu tomei por minha conta este manifesto por amor dos forasteiros que me ouvem, que não são práticos nos costumes da terra. Dos apóstolos de Cristo se diziam e se haviam de dizer muitos males, porque é uso do mundo dizer mal dos bons. E o Senhor, para os desafrontar e animar disse-lhes esta divina sentença: Beati eritis cum maledixerint vobis homines, et dixerint omne malum adversum vos mentientes (Mt 5, 11): Bem-aventurados vós, quando os homens disserem todo o mal de vós mentientes: mentindo. Nesta palavra está a consolação e a desafronta. Se os homens dizem mal, falando verdade, é grande desgraça; mas se eles dizem mal mentientes: mentindo, não importa nada. Por isso disse, e quero que saibam todos, que o que nesta terra se diz são mentiras. O mentiroso conhecido há de se entender às avessas; e entendido às avessas, nem afronta, nem mente, porque diz verdade. E assim haveis de entender tudo o que ouvis. Guarde-vos Deus de que o mentiroso diga bem de vós, porque é sinal que sois o contrário do que ele diz. Essa foi a razão porque Cristo, quando o diabo o nomeou por Filho de Deus, lhe mandou que calasse, porque, como o diabo é pai da mentira, em dizer que era Filho de Deus dizia que o não era. E esse foi também o modo geral com que o mesmo Senhor hoje se desafrontou de todas as injúrias que os escribas e fariseus lhe tinham dito, qualificando-os por mentirosos: Ero similis vobis, mendax. ( 28 )

É verdade que os forasteiros a quem eu prego esta doutrina fazem um terrível argumento contra a nossa terra. Chegam a este porto, põem os pés em terra, e, ouvindo dizer mal de todos e de tudo, fazem este discurso: Ou estes homens mentem, ou falam a verdade; se falam verdade, esta é a mais má terra de todo o mundo, pois, nela se cometem tantas maldades; e se mentem também a terra é muito má, pois os homens tem tão pouca consciência, que levantam tantos falsos testemunhos. - Este é o argumento que parece não tem fácil solução. Mas eu respondo a uma e outra parte dele. Quanto à primeira, digo que as maldades que se dizem são falsas, e que, como falsas, não se devem crer. São falsas? - insta a outra parte - logo onde os homens levantam tantos falsos testemunhos, não pode ser senão a pior terra do mundo. Eis aí o engano e a falsa suposição em que estão os que não têm prática interior da terra. No Maranhão é verdade que há muitas mentiras, mas mentirosos, isso não; muito falso testemunho, sim, mas quem levante falso testemunho, por nenhum caso. Pois, como pode isto ser? Como pode ser que haja falsos testemunhos, sem haver quem os levante? Eu vo-lo direi. Nas outras terras os homens levantam os falsos testemunhos; nesta terra os falsos testemunhos levantam-se a si mesmos. Se vos parece dificultosa a proposição, vamos à prova. Confessa-se um homem, e, chegando ao quinto mandamento, diz: Padre, acuso-me que eu desejei a morte a um homem, e o busquei para o matar, e propus de lhe fazer todo o mal que pudesse. - E por quê? - Porque me tirou a minha honra com um falso testemunho de que eu estava tão inocente como S. Francisco. - Irmão, perdoai-lhe, para que Deus vos perdoe. - Passamos adiante, chegamos ao oitavo mandamento: - Levantastes algum falso testemunho? - Não, Padre, pecado é de que nunca me acusei, seja Deus louvado. - Vem uma mulher, chega ao quinto: Digo a Deus minha culpa, que eu há tantos meses que tenho ódio a uma mulher, e roguei-lhe muitas pragas, que a fala e a confissão lhe faltasse na hora da morte, e que nem nesta vida nem na outra lhe perdoava; que seus filhos visse ela mortos diante de si a estocadas frias. - Por quê? - Porque me levantou um aleive a mim e a uma filha minha, com que nos infamou em toda esta terra, e não me atrevo a lhe perdoar. -Ora, senhora, estamos em Quaresma; alguma coisa havemos de fazer por amor de um Deus que padeceu tantas afrontas e se pôs em uma cruz por amor de nós. - Enfim, compungiu-se, prometeu de perdoar. Chega o confessor ao oitavo mandamento. - E vossa mercê levantou algum falso testemunho? - Senhor padre, melhor estréia me dê Deus: muito grande pecadora sou, mas nunca Deus permita que eu diga das pessoas o que nelas não há; se ouço alguma coisa, ajudo também, mas levantar falso testemunho, nunca em minha vida o fiz. - Isto que aqui vos pus em dois, acontece infinitas vezes. De maneira que no quinto todos se queixam que lhes levantam falsos testemunhos; no oitavo ninguém se acusa de levantar falso testemunho. Logo, bem dizia eu que nesta terra os falsos testemunhos se levantam a si mesmos. Em suma, que temos aqui os pecados, mas não temos os pecadores: temos os falsos testemunhos, mas não temos as falsas testemunhas. Isto é o que posso cuidar. Mas, se acaso é o contrário, miseráveis daqueles que assim vivem! Grande miséria é que os falsos testemunhos se levantem; mas maior miséria é, que, depois de levantados, se faça deles tão pouco caso e tão pouco escrúpulo. Ou deixais de confessar o falso testemunho, conhecendo que o levantastes ou não o conhecendo: se o deixastes de confessar conhecendo-o, mentis a Deus; se o deixais de confessar pelo não conhecer, mentis-vos a vós. E uma e outra cegueira, é bem merecido castigo: que minta a Deus e que se minta a si mesmo, quem mentiu tão gravemente contra seu próximo, e que de um ou de outro modo se vá ao inferno!

§ VII

Aborrecer a mentira não só por consciência mas por conveniência. Quantas mentiras se dirão cada dia no Maranhão? Quantas cabem a cada casa? O pecado que mais facilmente se comete e com mais dificuldade se restitui. Exortação.

Senhores meus, se algum sermão não tinha necessidade de exortação era este. Só vos digo, como a homens e como a cristãos, que não só por consciência, mas por conveniência se deve aborrecer a mentira e amar a verdade. Por conveniência, porque viveis em uma terra muito pequena. Em toda a parte fazem muito mal as mentiras, mas nas terras grandes têm saca e têm muito por onde se espalhar; nas terras pequenas, todas ali ficam. Em Lisboa muita mentira se diz, mas repartem-se as mentiras por todo o reino e por todo o mundo. Chegou navio de Levante, fala-se nas guerras do turco, nas do veneziano, nas do tártaro, nas do polaco; fala-se no Papa, nos cardeais, nos outros príncipes e potentados de Itália: dizem-se muitas mentiras, mas repartem-se; umas caem em Constantinopla, outras em Veneza, outras em Roma, outras na Toscana, Sabóia, etc. Vem navio do Norte, fala-se em el-rei de França, no imperador, no sueco, no parlamento de Inglaterra, nos Estados de Holanda e Flandres: dizem-se muitas mentiras, mas repartem-se, por Paris, por Londres, por Viena de Áustria, por Amsterdam, por Estocolmo, etc. Partem também os nossos correios todos os sábados, e levam grande cópia das mentiras por todo o reino e o mesmo é das frotas do Brasil e da Índia; porém as mentiras do Maranhão não têm nem outra parte donde vir nem outra parte para onde ir: aqui nascem e aqui ficam; e quando as mentiras todas ficam na terra, e todas vos caem em casa, ainda por conveniência e razão de estado as haveis de lançar fora. E se não, fazei-me por curiosidade duas contas, as quais eu agora não posso fazer. Uma é: quantas mentiras se dirão cada dia no Maranhão? A outra: quantas casas há nesta cidade, e logo reparti as mentiras, e vereis quantas cabem a cada casa! E que será em uma semana, que será em um mês, que será em um ano?

Pois, se tudo isto vos fica em casa, e é força que assim seja, não é muito pouca razão de estado, e muito grande sem-razão, que vos andeis levantando falsos testemunhos, que vos andeis infamando e afrontando uns aos outros? Não fora muito melhor serdes todos muito amigos, muito conformes, amardes-vos todos, honrardes-vos todos, autorizardes-vos todos, e poupardes todos desgostos? Há outros pecados que parece que os pode desculpar o gosto ou o interesse; mas o mentir e o levantar falso testemunho? Que dão a um homem por mentir? Que gosto se pode ter em levantar um falso testemunho? Se é por me vingar de meu inimigo, muito maior mal me faço a mim que a ele, porque a ele, quando muito, tiro-lhe a honra: a mim condeno-me a alma. Ora, cristãos, por reverência daquele Senhor - que sendo Deus se preza de se chamar Verdade - que façamos hoje uma muito firme e muito verdadeira resolução de não haver paixão nenhuma, nem respeito, nem interesse que vos faça torcer nem faltar um ponto à verdade; quanto ao passado, que examinemos muito devagar e muito escrupulosamente se temos faltado à verdade em alguma coisa, principalmente em matéria da honra de nossos próximos. Olhai, senhores, que este, este é o pecado que mais facilmente se comete, e com mais dificuldade se restitui. Olhai, cristãos, que as balanças em que se pesam as consciências na outra vida são muito delicadas, e que será grande desgraça ir ao inferno para sempre por um falso testemunho. O remédio está em uma consciência muito bem examinada, em uma confissão muito bem feita, e em uma satisfação muito verdadeira, advertindo-vos e protestando-vos da parte de Deus, que sem estas três condições, nem nesta vida podeis alcançar a graça, nem na outra merecer a glória.

O VÔO. H. Dobal. Poesia.

O VÔO
H. Dobal

Dói o domingo
no ninho dos tédios.

Dói o verão:
esta pele seca
estirada
sobre os ministérios vazios.

Dói o clube
dos domingos.
Dói o rito
dos domingos:
o amargo esporte
de viver.
O amargo esporte
de esquecer.

Dói a divisão da vida:
o pão subtraído,
o peixe poluído,
a paz envenenada.

Dói o vôo cortante desta tarde.

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Por que não recebemos o que pedimos? (Homilia Diária.975: Quinta-feira d...

quarta-feira, outubro 10, 2018

TELEMÓVEL. Charles Fonseca. Poesia.

TELEMÓVEL
Charles Fonseca

Agora no telemóvel 
dito celular também
digito saudades do aquém
tudo foi tão analógico

ao que sonhei foi tanto
quanto ficou beira estrada
pouco restou quase nada
riso também houve pranto.

ESPELHO. Sylvia Plath. Poesia.

ESPELHO
Sylvia Plath

Tradução: Rodrigo Garcia Lopes e Maurício A. Mendonça

Sou prateado e exato. Não tenho preconceitos.
Tudo o que vejo engulo no mesmo momento
Do jeito que é, sem manchas de amor ou desprezo.
Não sou cruel, apenas verdadeiro —
O olho de um pequeno deus, com quatro cantos.
O tempo todo medito do outro lado da parede.
Cor-de-rosa, malhada. Há tanto tempo olho para ele
Que acho que faz parte do meu coração. Mas ele
[ falha.
Escuridão e faces nos separam mais e mais.


Sou um lago, agora. Uma mulher se debruça
[ sobre mim,
Buscando em minhas margens sua imagem
[ verdadeira.
Então olha aquelas mentirosas, as velas ou a lua.
Vejo suas costas, e a reflito fielmente.
Me retribui com lágrimas e acenos.
Sou importante para ela. Ela vai e vem.
A cada manhã seu rosto repõe a escuridão.
Ela afogou uma menina em mim, e em mim uma velha
Emerge em sua direção, dia a dia, como um
[ peixe terrível.

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Exame médico admissional

Exame médico admissional. Trazido pelo Chefe da Obra de Construção do Conjunto Petroquímico da Bahia o candidato foi contraindicado temporariamente até tratamento cirúrgico. O Chefe acatou. Três meses depois foi novamente examinado. Foi indicado para a função. Excelente empregado da empresa durante décadas. Assim era o Chefe Antônio da Silva Lima.

terça-feira, outubro 09, 2018

Alice et Antoine (Écho A1), 1 épisode, Alice

Evangelho segundo S. Lucas 10,38-42.

Naquele tempo, Jesus entrou em certa povoação e uma mulher chamada Marta recebeu-O em sua casa. Ela tinha uma irmã chamada Maria, que, sentada aos pés de Jesus, ouvia a sua palavra. Entretanto, Marta atarefava-se com muito serviço. Interveio então e disse: «Senhor, não Te importas que minha irmã me deixe sozinha a servir? Diz-lhe que venha ajudar-me». O Senhor respondeu-lhe: «Marta, Marta, andas inquieta e preocupada com muitas coisas, quando uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada»."

Augusto dos Anjos. Carlos Machado

Augusto dos Anjos


Caros,

O paraibano Augusto dos Anjos (1884-1914) é um poeta singular. Baudelairiano de primeira linha, ele produz aqueles poemas longos, cheios de um materialismo brutal e pessimista. O tema geral é a morte. Para o gosto atual, são versos cansativos, fora de propósito. Mas dos Anjos impressiona. Ao lado, as quadras iniciais do célebre "As Cismas do Destino", um poema gigante, com exatas 105 estrofes! Para quem não sabe, a casa do Agra, que abre o poema, tem tudo a ver com o clima: é o necrotério.

Morto aos 30 anos, Augusto dos Anjos não gozou em vida de nenhum reconhecimento público. Segundo Otto Maria Carpeaux, a notoriedade póstuma do poeta lhe foi garantida por leitores populares. Diz Carpeaux: "A abundância de estranhas expressões científicas e de palavras esquisitas em seus versos atraiu os leitores semicultos que não compreenderam nada de sua poesia e ficavam, no entanto, fascinados pelas metáforas de decomposição em seus versos assim como estavam em decomposição suas vidas." Por causa disso, conclui, dos Anjos é um dos poetas mais lidos do Brasil.

Carpeaux também esteve entre os críticos que ressaltaram a grandeza da poesia de Augusto dos Anjos, antes relegada à prateleira do mau gosto. O certo é que, até hoje, essa poesia continua a exercer um poderoso fascínio que passa de geração para geração. E isso ocorre mesmo entre gente culta, de amplas leituras. Portanto, o exotismo verbal apontado por Carpeaux pode, sim, ter contribuído para a popularidade do poeta. Mas não deve ser o único fator. Eu mesmo já vi, aqui em São Paulo, jovens de 30 anos, ou menos, que sabem de cor longos textos do poeta paraibano.



Há uma história estarrecedora — embora não comprovada — em torno do soneto "A Árvore da Serra". Conta-se que Augusto dos Anjos teria se apaixonado por uma jovem retirante, filha de um vaqueiro. Isso era simplesmente intolerável para a família de Augusto, dona de engenho de açúcar. A mãe dele teria mandado dar uma surra na moça, que estava grávida (do poeta?), e então abortou e morreu.

Alguns especialistas na obra de Augusto dos Anjos interpretam o soneto "A Árvore da Serra" não como uma cena ecológica, mas como a transposição, em versos, dessa história tenebrosa. Dizem que o amargor e o pessimismo de Augusto vêm daí.

Conta-se também que o pai, no episódio, teria ficado ao lado de Augusto, mas era dominado pela mãe. Para esses especialistas, isso também explicaria por que o poeta escreveu vários textos citando o pai e nunca falou sobre a mãe. Então, a árvore cortada seria a amada do poeta. E o próprio Augusto é que se teria abraçado àquele tronco "e nunca mais se levantou da terra". Consta também que, embora não haja registro histórico, o caso era de amplo conhecimento na região.

Agora, os créditos: retirei a história sobre "A Árvore da Serra" de dois artigos que estão no site do Jornal de Poesia: um do contista baiano Hélio Pólvora e o outro do poeta cearense Soares Feitosa, fundador e editor do Jornal de Poesia.

Um abraço, e até a próxima.

Carlos Machado

AS CISMAS DO DESTINO. Augusto dos Anjos. Poesia.

AS CISMAS DO DESTINO
Augusto dos Anjos

(trecho inicial)

Recife. Ponte Buarque de Macedo.
Eu, indo em direção à casa do Agra,
Assombrado com a minha sombra magra,
Pensava no Destino, e tinha medo!

Na austera abóbada alta o fósforo alvo
Das estrelas luzia... O calçamento
Sáxeo, de asfalto rijo, atro e vidrento,
Copiava a polidez de um crânio calvo.

Lembro-me bem. A ponte era comprida,
E a minha sombra enorme enchia a ponte,
Como uma pele de rinoceronte
Estendida por toda a minha vida!

A noite fecundava o ovo dos vícios
Animais. Do carvão da treva imensa
Caía um ar danado de doença
Sobre a cara geral dos edifícios!

Tal uma horda feroz de cães famintos,
Atravessando uma estação deserta,
Uivava dentro do eu, com a boca aberta,
A matilha espantada dos instintos!

Era como se, na alma da cidade,
Profundamente lúbrica e revolta,
Mostrando as carnes, uma besta solta
Soltasse o berro da animalidade.

E aprofundando o raciocínio obscuro,
Eu vi, então, à luz de áureos reflexos,
O trabalho genésico dos sexos,
Fazendo à noite os homens do Futuro.

(...)