Pesquisar este blog

domingo, junho 24, 2018

O cacete. Charles Fonseca. Prosa.

Fui nomeado para gerente de Centro de Saúde. Faltavam três meses para me aposentar. A gerente anterior, recém formada, resolveu atender a reivindicação dos colegas para que um dia na semana não atendessem os demandantes do Centro de Saúde. Planejava contar esta memória no dia de Santo Antônio. Mas creio que o Salvador me inspirou a publicar no dia de São João.
Que um dia por semana seria para reuniões internas dos profissionais de saúde. Patati patatá as reuniões internas foram rareando as externas foram crescendo até que todos não compareciam mais ao trabalho. Aboli a mamata após três meses de aviso prévio. Havia naquele Centro um consultório sem janela. Só uma porta muito bem trancada por dentro para atendimento ginecológico. Profissional atendia ali. Os rumores cresciam quanto mais subiam odores. Num sábado mandei esvaziar quase tudo da sala e colocar numa sala ampla e ventilada no segundo andar. Na segunda feira permanecia apenas uma mesa pequena de escritório e duas cadeiras. Profissional ginecologista me apareceu na sala e me perguntou por que transferi o atendimento para o segundo andar. - Era pra ser o atendimento num ambiente mais higiênico... em benefício de paciente e profissional...
Já havia me matriculado no Pontifício Instituto Superior para Estudos de Matrimônio e Família para viver por meses a fio uma singular experiência intelectual. Dia seguinte recebi dois telefonemas aflitos de empregados do Posto de Saúde: estacionado na porta do Centro de Saúde à sombra num elegante automóvel Karmann Ghia vermelho o dito dele não saia para o atendimento com um nutrido cacete de madeira ao seu lado. Que não fosse que ele estava à minha espera. Prudente, não fui. Gato Mestre no Centro de Saúde, preferi cursar o Mestrado no citado Instituto o oitavo no mundo, após o de Bombaim, Índia. E me aposentei.

Nenhum comentário:

Postar um comentário