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quinta-feira, junho 21, 2018

A invasão das putas. Charles Fonseca. Prosa.

A invasão das putas
Charles Fonseca

A última vez que estive num congresso estudantil de esquerda foi em 1965 nos arredores de São Paulo. Na noite que cheguei na Capital fui recebido por conhecido que me disse que por motivo de segurança teríamos que dormir em esteiras de palha num apartamento abandonado. Dia seguinte me hospedou num hotel uma estrela. Levado ao encontro estudantil lá estavam representantes da AP, POLOP,
PCB, PCdoB, UCEB. Esta última sigla se referia à União Cristã dos Estudantes do Brasil. Dois dos seus líderes egressos de Seminário Presbiteriano de Campinas chegados a um esquerdismo tal que a denominação evangélica houve por bem fechar o dito. Anos 60.
O encontro estudantil anterior promovido pela tal UCEB foi em Olinda, Pernambuco. Era uma reunião de estudantes representativos de vários Estados hospedados no Seminário de Olinda. Patati  patatá, no segundo dia à noite apareceu um padre no refeitório onde à noite nos serviam uma sopa e, de súbito, em alta voz, disse que estávamos fazendo discriminação contra os empregados da cozinha e que absolutamente ele não permitiria a continuidade de tal ofensa. Pasmos, nos reunimos com os líderes dos estudantes da Associação Cristã de Acadêmicos cria da UCEB. Ninguém teria feito tal. Não haveria por que. E, então, por que?. Concluiu-se que o Exército estava de olho naquele grupo agora acompanhado de estudantes da Universidade de Cornell dos Estados Unidos. Estrategicamente era interessante para nós. Anos de chumbo. Dia seguinte saímos logo cedo num caminhão pau de arara para a vila de Pontesinha nos arredores de Recife para trabalho de campo. Lá construímos uma escola no fundo da Igreja Católica, casa de taipa coberta por telhas, não sem antes o povoado ter ficado pasmo com a nossa chegada. Calor enorme, as estudantes americanas saltaram do caminhão usando bermudas curtinhas, fumando e aos gritos invadiram um boteco gritando bier!, bier!, cerveja!, cerveja!
Correu a notícia que um bando de prostitutas invadiram aquela comunidade sonolenta. Chamaram o padre Geraldo para acalmar os ânimos, que eram gente do bem mas de outra cultura...

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