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sexta-feira, fevereiro 23, 2018

A Rendeira da Lagoa da Conceição. Tiago Costa.

A Rendeira da Lagoa da Conceição
Padre tiago Costa

Segunda passada tive a grata alegria de passar por Florianópolis. Uma passadinha de meio dia, pois, estava indo em direção a Nova Tento, onde participaria de um encontro.
Tendo chegado à cidade pela manhazinha, fui acolhido por amigo queridos, destes de longas datas que as circunstâncias da vida ao mesmo tempo em que afasta propicia encontros. Eles gentilmente fizeram questão de me mostra a Ilha, visto que eu não a conhecia. Fiquei encantado!
Dentre risos, fotos e lembranças, deparei-me com um simples e afetuoso monumento junto ao porto na Lagoa da Conceição. Trata-se da estátua de uma Rendeira de Bilros. Mas, o que aquela estátua estava fazendo ali, junto ao porto? A minha curiosidade, me fez buscar entender... Estão, descobri que ela foi uma forma encontrada para homenagear aquelas que dão nome a principal Avenida da Lagoa da Conceição (Avenidas das Rendeiras). Uma forma de trazer viva a lembrança de uma atividade artesanal que aportou ao Brasil no século XVIII com a chegada da primeira família açoriana.
Homenagem mais que justa. Justa do ponto de vista cultural, mas acima de tudo, do ponto de vista do afeto.
Contemplar aquela estátua me trouxe afetos, lembranças que trago na mente e no coração. Cresci ouvindo o tac, tac dos bilros se encontrando e dando origem a belos bicos de rendas. Bicos estes que eram cuidadosamente confeccionados pelas mãos habilidosas de Dona Antônia, minha avó paterna. Ela, passava horas, dias, semanas no tac, tac dos seus bilros produzindo lindas franjas que enfeitavam seus panos de pratos e serviam de presentes para suas netas.
Ali, sentada tecendo seus bicos, ela ouvia seu programa de rádio favorito (Vida do Povo de Deus, história da BÍblia) e muitas vezes a víamos cantarolando e balbuciando orações.
Fé e trabalho manual se misturavam junto ao rebolo de bilros de dona Antônia. Vida, fé e arte se se encontravam naquela habilidosa senhora que não sabia ler nem escrever, mas que com o seu jeito simples de bordar deixou escrito na nossa memória o tamanho dos seus afetos.
Já fazem dez anos que “Tonha da Renda” nos deixou, mas o seu tac, tac, continuam vivos em minha memória e corações.
Descanse em paz querida vó, que lá do céu você continue a tecer lindas franjas com suas orações em favor dos seus.

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Curiosidade sobre as Renda de Bilros

A renda de bilros é realizada sobre uma almofada dura chamada de rebolo, cilindro de pano grosso, cheio com palha ou algodão, cujas dimensões dependem da dimensão da peça a realizar, coberto exteriormente por um saco de tecido mais fino. A almofada fica sobre um suporte de madeira, ajustável, de forma a ficar à altura do trabalho da rendeira. No rebolo, é colocado um cartão perfurado, o "pinicado", onde se encontra o desenho da renda, feito com pequenos furos. As rendeiras mais experientes produzem sem o cartão onde a peça vai saindo no visual mesmo. Nos furos da zona do desenho que está a ser realizada, a rendeira espeta alfinetes, que desloca à medida que o trabalho progride. Os fios são manejados por meio de pequenas peças de madeira torneada (ou de outros materiais, como o osso), os "bilros". Uma das extremidades do bilro tem a forma de pera ou de esfera, conforme a região. O fio está enrolado na outra extremidade. Os Bilros são manejados aos pares pela rendeira que imprime um movimento rotativo e alternado a cada um, orientando-se pelos alfinetes. O número de bilros utilizado varia conforme a complexidade do desenho.


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