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quinta-feira, agosto 24, 2017

Getúlio morreu. Charles Fonseca. Prosa

Aos 11 anos de idade pedi licença à professora para ir fazer xixi na casa do dono do cinema em Ibicuí. De volta, ouvi num Phillips holandês na Rádio Nacional o locutor com voz embargada dizer repetidas vezes "Brasileiros, Getúlio está morto". Saltitante, corri para a escola na Rua Apertada e disse baixinho à Professora Zefinha: Getúlio está morto. Pálida, ela se levantou e trêmula disse a todos: "Vamos rezar um Pai Nosso e uma Ave Maria. Getúlio está morto. Após as rezas todos saíram em fila silentes em direção à Igreja Católica o que não me era permitido por meus pais protestantes. Corri para casa e encontrei meu pai chorando ao pé do rádio e me disse: "Filho o pai dos pobres morreu". À noite uma procissão silenciosa com velas acesas saiu pelas ruas do povoado sem luz elétrica em velório contrito tendo à frente petebistas. Udenistas e pessedistas olhavam respeitosos.

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