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terça-feira, junho 27, 2017

O que é politicamente correto? André Marroig

O QUE É O POLITICAMENTE CORRETO?
André Marroig

Outro dia, em um vídeo o qual postei, fui criticado por um integrante da intelligentsia alegando que eu mencionara o “politicamente correto” e que me mostrara equivocado sobre o que significava. Enfadado diante de mais um discurso dissonante cognitivo fiz o que deveria ter feito; ignorei-o. Acredito simplesmente que tal figura, longe de qualquer anseio em aprender, segue Derrida em seu desconstrucionismo. Agora que o mesmo caíra em seu devido lugar, ou seja, no esquecimento, e sobrando um tempinho para poder aqui desenvolver o tema, trago-lhes um pouco da origem, significado e a que se presta esta aberração chamada “politicamente correta”.
A dialética marxista previa a luta de classes e a revolta do proletariado, mas as conquistas da revolução industrial e o próprio nacionalismo na Primeira Grande Guerra, mostraram que Marx estava errado. A despeito da Revolução Russa, basicamente o processo não se estendera pelo restante da Europa.
Lukács na Hungria e Gramsci na Itália forneceriam o substrato para compreensão do equívoco marxista. Como disse, as conquistas da Revolução Industrial, especialmente na Inglaterra, abriram as portas para o acesso a bens nunca dantes sonhados. Muitos tiveram acesso a bens e serviços os quais seus pais nunca haviam sonhado. Estes, NUNCA se rebelariam contra o stablishment. Gramsci traria a noção de que, para instalar o processo revolucionário, haveria de ser destruída a sociedade ocidental. Lukács, respeitado teórico marxista, tornou-se em 1919, Comissário da Cultura no governo Bolchevique de Bela Kun, na Hungria. Lukács lançou o programa conhecido como “Terrorismo Cultural”, onde uma massiva campanha de “educação sexual” fora empreendida nas escolas da Hungria. Ali se esboçava o “politicamente correto” como conhecemos. O objetivo era a destruição do núcleo familiar triangular clássico, unidade considerada burguesa e instrumento-chave na sociedade judaico-cristã. As crianças eram o foco do processo para Lukács, pois o mesmo acreditava que era muito mais fácil a conversão de uma criança do que a de um adulto. O projeto serviu de base para a introdução massiva de conceitos marxistas em basicamente todas as áreas educacionais.
O governo de Bela Kun pouco durou, e parte de sua queda é atribuída a uma resistência da própria classe trabalhadora aos ensinamentos de Lukács. Na Alemanha nova tentativa semelhante aconteceria. Felix Weil propõe a criação de um instituto para “pesquisas sociais”. O mesmo seria sede de estudos marxistas, mas intentava não ser diretamente associado a tal. Tal grupo seria conhecido mais tardiamente como “Escola de Frankfurt”, sediado na Universidade de mesmo nome. Lukács fazia parte do grupo, e seus escritos serviram de base teórica para o que estava por vir. Ali o marxismo era traduzido do âmbito econômico para o âmbito cultural. Carl Grumberg fora seu primeiro diretor, e em seu discurso de abertura disse:
“Desde o começo tem sido nossa intenção aqui de manter a uniformidade na maneira como olhamos e resolvemos os problemas. Eu também sou um oponente da ordem econômica, social e legal herdada da história para nós, e também sou um dos apoiadores do marxismo neste instituto. Finalmente o marxismo terá uma casa.”

Em 1930, Grumberg deixa a direção da casa e quem assume é Horkheimer. Uma nova guinada acontece e Horkheimer percebe a inércia do proletariado diante da ansiada revolução. Sem ainda saber quem poderia assumir tal processo, a trupe manteve o foco de suas investidas na cultura. Ao associar o marxismo com uma deturpação tosca da obra freudiana (coitado do Freud) encontraram uma máxima de que a cultura ocidental era repressora, transferindo para o âmbito cultural o conflito de classes tradicionalmente proposto por Marx. Alegaram uma alienação sexual imposta pela cultura ocidental tão significativa quanto a alienação econômica. Na época, Erich Fromm, psicanalista, em agressiva psicologia de liberalização sexual (termo cunhado pelo mesmo), fomentou as bases da “política de gênero”. Para o mesmo, as características sexuais não seguiriam bases fisiológicas e sim apareceriam como resultado de imposições da sociedade burguesa e das relações de trabalho. Aqui se firmava nova e importante peça do quebra-cabeça chamado “politicamente correto”.
Os trabalhos de Fromm, Adorno e Marcuse culminaram com a “teoria crítica”. A mesma consistia em uma sistemática crítica a todas as instituições ocidentais visando à completa destruição das mesmas. Base dos estudos sociológicos hoje em universidades, a Teoria Crítica é praticada sistematicamente no intento de não deixar pedra sobre pedra. Adorno mostraria que não haveria uma defesa a qual se apoiar na Teoria Crítica, pois a mesma nada defendia além da completa destruição. Horowitz transpôs o processo para os campus americanos após percepção de que as atrocidades soviéticas haviam alertado ao mundo sobre os horrores do stalinismo. Propondo uma forma “light” de socialismo usava de todas as ferramentas para a tomada e implantação socialista em todos os espaços. Horowitz mais tarde daria forte guinada e se tornaria um ativista conservador. O mesmo assumiria que a trupe de Frankfurt não mais ansiava a construção da utopia, e sim, a destruição de tudo. A Teoria Crítica se fundaria então na destruição da própria lógica, relativizando-a; se a favor da revolução, a lógica pode ser acessada, se contrária, destruída. Ali estava a base do “Politicamente Correto”.
A fuga diante do nazismo para os EUA incrementou as possibilidades ao expor o grupo ao financiamento polpudo. A Teoria Crítica então fora massivamente aplicada à sociedade americana. Adorno defendia que a sociedade americana era fascista e que quem a defendesse era doente psicologicamente. Conheces o uso do termo “fascista” para defini-lo? Pois bem, devemos a Adorno. O mesmo também transpõe a dialética para o controle da natureza, trazendo para junto os “verdinhos”.
Após a Segunda Grande Guerra, Marcuse se manteve nos EUA e intensificou as críticas à sociedade americana/ocidental no meio acadêmico onde lecionava. Ali ele recrutou o grupo que assumiria o lugar do proletariado, o mesmo grupo rechaçado por Marx, o lumpemproletariado. Este grupo consistia daqueles os quais, por algum motivo se sentissem ressentidos diante do restante da sociedade e pudessem ter neste sentimento o combustível atiçado para continuidade do processo revolucionário. Ali nascia mais um elemento do “Politicamente Correto”: a vitimização. Em “Eros e a Civilização” de Marcuse, uma perversa releitura de Freud usava sua teorização para sustentar que nenhuma repressão sexual deveria existir. Marcuse alegava que sem qualquer repressão à sexualidade a pulsão de vida inauguraria uma nova era profícua em felicidade e realizações (mais uma vez, coitado do Freud). Aqui outro elemento do politicamente correto: liberalismo extremo da sexualidade e culto a bizarrices. Conceitua também a chamada “tolerância libertadora”, que de forma relativizada era tolerante com o que eles defendiam e intolerante com os opositores. Este conceito evoluiu para a “tolerância repressiva” que convidava à ação sobre o discordante. Nasciam outros elementos do “Politicamente Correto”: a relativização moral e a intransigência e a agressividade diante do discordante.
Sem sombra de dúvida a corrente socialista mais efetiva, esta trupe, hoje, contamina todos os espaços midiáticos, acadêmicos e culturais. Percebes agora o quanto foste manipulado?

André Marroig

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