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segunda-feira, janeiro 16, 2017

Ingratidões. Charles Fonseca. Prosa

INGRATIDÕES
Charles Fonseca

Tantas, tão variadas, de onde não esperava, sem razão evidente, que começo a pensar que aqui ou acolá fui eu que perdi o juízo, andei de miolo mole, a noção joguei ao eito, virou seixo de aluvião ou então larguei a direção do barco do querer demais, deixei solto o timão eu, velho marinheiro das procelas, dos mares revoltos. Sem ordem cronológica chamo a todos os contracenantes de personagem, palavra masculina do teatro grego aplicável a qualquer gênero. Exemplos a esmo. Um, salvei a vida e pra este estou virtualmente morto. Outro, livrei de ser incurso nas malhas da lei e age como asinino. Um entrou em falência de comando, dominei o motim. Mais um, à sua autoproclamada honorabilidade acostei a minha, ficou com um processo dormitando na polícia, a essa altura prescrito. O bom da vida é que ela também é bela, é boa e nela não me deixo ficar à toa. Continuo a curti-la, nutrir a esperança, a fé, a caridade, virtudes que creio já terem usado para comigo quando, onde, por que, como, quem haverá de? Umas por outras, elas por elas. Melhor ser puro como as pombas e prudente como as serpentes conforme o ensinamento, cada qual de per si, solo, como meta aonde quer que queira ir, seja levado ou deseje aqui ou lá ficar.

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