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sábado, dezembro 31, 2016

Prevejo que o Papa Francisco será canonizado

Elegia ( I ). Orides Fontela. Poesia

ELEGIA (I)
Orides Fontela


Mas para que serve o pássaro?
Nós o contemplamos inerte.
Nós o tocamos no mágico fulgor das penas.
De que serve o pássaro se
desnaturado o possuímos?

O que era vôo e eis
que é concreção letal e cor
paralisada, íris silente, nítido,
o que era infinito e eis
que é peso e forma, verbo fixado, lúdico

O que era pássaro e é
o objeto: jogo
de uma inocência que
o contempla e revive
— criança que tateia
no pássaro um
esquema de distâncias —

mas para que serve o pássaro?

O pássaro não serve. Arrítmicas
brandas asas repousam.


De Transposição (1969)

Feliz 2017. Charles Fonseca. Fotografia

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Me cace. Não me casse

Qual o ex presidente chamado de "encantador de burros"?

O mito é uma narrativa, uma fala

Arquejo (II). Charles Fonseca. Prosa

ARQUEJO (II)
Charles Fonseca

Um bom lugar pra navegar, pra se amar, pra um luar, um por de sol. Lugar de ficar numa boa esta minha Lagoa da Conceição. Aqui também quero que seja a lagoa da ressurreição dos vivos mortos, dos mortos vivos que não sabem que aqui bate um coração, fingem que não, riem assim, mentira vã. Quando vierem quem sabe ainda foi-se a restinga, a Praia Mole, a Joaquina que me console, adeus amores, sem chororô, ai Jurerê, penar pra que? Restam os mares, os meus luares, o estrelejo, quando te vejo, tenho saudade, distante a hora, vem sem demora, de amar arquejo.

Secos & Molhados - Sangue Latino. Música

Muito amasso todos os dias muito amansa meu desejo

sexta-feira, dezembro 30, 2016

E no entanto você vai partir

Ninguém conhece um cumpanhêro mais enrustido que eu

Escultura

Hercules, well now:

Uma forma de amar é compartilhar o belo

O antagonista fica minúsculo se você silencia maiúsculo

TATOO. Charles Fonseca. Prosa

TATOO
Charles Fonseca

Uma mulher de busto belíssimo, rosa claro a sua pele. Nua. Da barriga pra cima o corpo coberto em tatuagem cobrindo as tetas. Mais acima um colar de tatuagem a sustentar a “blusa”. Oh musa atroz, quem foi o algoz que te fez tirar de minha vista o gozo de te ver tão bela? Por que escondes a nós homens o que gostamos de alisar, apalpar, ver o arrepiar da pele, o arrebitar dos biquinhos ávidos de uma língua de veludo, de um mordiscar suave, de um reflexo condicionado tão herdado desde o tempo das cavernas? De um amassar devagarinho, devagarinho, de um sugar tão terno? Um preparo tão doce quanto o mel que de ti verte preparando o vestíbulo, o caminhar do viajor ao mais fundo deste vulcão que és?

Klimt. Pintura

Gustav Klimt, Portrait of Emily Flöge:

quinta-feira, dezembro 29, 2016

Tenho me dado bem em não ler todos os e-mails, postagens de whatsapp e de redes sociais

Olhando a lua. Gleide Fonseca. Prosa

E me lembrei d'agente na cama com Painho e Mãinha, a ouvir histórias de livros que ela comprava pelo Correio; e também de cantar deitados no hall daquela casa em Jequié, deitados no chão olhando a lua, ouvindo os dois cantar a duas vozes!

Na hora de fazer negócio aja sério

Marcio Vasconcelos. Fotografia

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A barbárie é um fato consumado

A Máquina do Mundo. Carlos Drummond de Andrade

A Máquina do Mundo
(Carlos Drummond de Andrade)

E como eu palmilhasse vagamente
uma estrada de Minas, pedregosa,
e no fecho da tarde um sino rouco

se misturasse ao som de meus sapatos
que era pausado e seco; e aves pairassem
no céu de chumbo, e suas formas pretas

lentamente se fossem diluindo
na escuridão maior, vinda dos montes
e de meu próprio ser desenganado,

a máquina do mundo se entreabriu
para quem de a romper já se esquivava
e só de o ter pensado se carpia.

Abriu-se majestosa e circunspecta,
sem emitir um som que fosse impuro
nem um clarão maior que o tolerável

pelas pupilas gastas na inspeção
contínua e dolorosa do deserto,
e pela mente exausta de mentar

toda uma realidade que transcende
a própria imagem sua debuxada
no rosto do mistério, nos abismos.

Abriu-se em calma pura, e convidando
quantos sentidos e intuições restavam
a quem de os ter usado os já perdera

e nem desejaria recobrá-los,
se em vão e para sempre repetimos
os mesmos sem roteiro tristes périplos,

convidando-os a todos, em coorte,
a se aplicarem sobre o pasto inédito
da natureza mítica das coisas.

(Trecho de A Máquina do Mundo, de Carlos Drummond de Andrade).

Escultura

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A AÇÃO DE GRAÇAS E O LOUVOR AO PAI

1359. A Eucaristia, sacramento da nossa salvação realizada por Cristo na cruz, é também um sacrifício de louvor em ação de graças pela obra da criação. No sacrifício eucarístico, toda a criação, amada por Deus, é apresentada ao Pai, através da morte e ressurreição de Cristo. Por Cristo, a Igreja pode oferecer o sacrifício de louvor em ação de graças por tudo o que Deus fez de bom, belo e justo, na criação e na humanidade.

1360. A Eucaristia é um sacrifício de acção de graças ao Pai, uma bênção pela qual a Igreja exprime o seu reconhecimento a Deus por todos os seus benefícios, por tudo o que Ele fez mediante a criação, a redenção e a santificação. Eucaristia significa, antes de mais, «ação de graças».

1361. A Eucaristia é também o sacrifício de louvor, pelo qual a Igreja canta a glória de Deus em nome de toda a criação. Este sacrifício de louvor só é possível através de Cristo: Ele une os fiéis à sua pessoa, ao seu louvor e à sua intercessão, de maneira que o sacrifício de louvor ao Pai ë oferecido por Cristo e com Cristo, para ser aceite em Cristo.

Degas. Pintura

Edgar Degas, Two Dancers, c. 1878-1880:

quarta-feira, dezembro 28, 2016

Calendário. Charles Fonseca. Prosa

CALENDÁRIO
Charles Fonseca

Que belo mês o de outubro! Balança o seu símbolo, balança o meu coração. Nele nasceu meu filho, o meu maior orgulho transferencial do que sonhei e não pude realizar. A minha amada também. Com ela me casei, namoro, noivado e casamento em vinte dias. Palmas pra ela que com um beijo selinho acordou o belo adormecido que assim descobriu que já estava namorando. Nele nasceu também meu irmão solidário que se foi aos quarenta e dois pra nunca mais voltar. Dos meus 68 janeiros fico a cismar com esse calendário que me trouxe tantas surpresas na vida. Nele nasceram uma doce irmã, um irmão inteligente, minha mãe intransigente nos seus princípios morais e religiosos. Em março nasceu meu pai, um homem bom e também meu irmão caçula, o mais puro de todos que se diz lavado pelo sangue de Cristo e, embora com um imaginário hipertrofiado, nunca perdeu a candura. Também nele nasceu minha filha, estou ainda pra ver uma mulher de tanta garra, grande amor de minha vida. Em junho, no dia de São João, meu primeiro neto puxando a fila de tantos outros que mais chegarem. Em julho, minha enteada, a doçura que sempre sonhei. E ainda não era natal e nasceu a minha irmã que salvei das águas juntamente com meu pai. Foi o mais heroico gesto da minha vida aos seis anos de idade, tão pouco mas para mim tão grande feito!

Você me viu assado e hoje me vê assim

Fotografia. Charles Fonseca. Florianópolis


Quem sou eu para te julgar?

terça-feira, dezembro 27, 2016

Seu bom nome deve ocupar todos os espaços necessários

Escultura

Livro. Charles Fonseca. Prosa

LIVRO
Charles Fonseca

Minha vida é um livro aberto. Tudo o que sou a nível consciente está exposto no meu blog desde 2006 e no facebook mais recentemente. E eu com isso? Podem folhear à vontade. São páginas explícitas, muitas medíocres, umas líricas, aqui ou acolá uma dor, uma flor beira caminho, um passarinho, um criador incriado, uma fé aqui tá fundo aqui tá raso. Não tenho grandes posses, umas roupinhas, objetos de toucador. Um carrinho, símbolo de poder pequeno. Uma mulher, símbolo de grande virtude, sua filha, uma jóia preciosa que fica na ostra o mais das vezes mas que quando sai brilha ao luar, as estrelas luzentes competem com ela. Dois filhos meus, a minha herança são eles, já recebi em vida, um privilégio. Por enquanto um netinho ao longe, distante, ainda bebê. Mas que fazer? O ninho vazio, um dia chega pra uns de um modo, pra outros de modo semelhante. É só esperar. Eu não pude esperar tanto. Mas minha casa é um novo ninho, a porta aberta, o que mais resta? Escrever o que não sei dizer às claras nem porta travessa. Que meu nome está errado, meu nome é Amorildo do Amor Divino, sem os sobrenomes orleans e bragança nem os algarves de castela e aragão. Pra que brazão?

segunda-feira, dezembro 26, 2016

Quem espalha mau gosto atrai desgosto

Tire a sua máscara

Os princípios, os meios e os fins. Charles Fonseca. Prosa

OS PRINCÍPIOS, OS MEIOS, OS FINS
Charles Fonseca

Não falem mal das pessoas sem conhecer os seus começos, os meios que andaram, os fins a que se propõem. Você que me lê também tem este mesmo roteiro a cumprir. Goste ou não. Na verdade, procure saber o mais possível dos seus avós e pais. A partir daí você poderá julgá-los melhor, no que for bom, no que for pior. E não tem aquela de não querer saber da vida deles, da sua árvore genealógica. Antes de ser, você já foi ideia, depois semente, cresceu, floresceu e talvez já tenha dado frutos. Aí verá como é que é ser pai ou mãe na prática. E tem mais. Quem casa, se ajunta, se amanceba, quem se enrabicha, tem um xodó, etc., tem uma cultura familiar, tios, primos. Como foi e é o relacionamento do homem e da mulher com seus familiares? A mulher se dava ou se dá bem com o pai? Se não, cuidado. Pode ser que ela transferencialmente e de modo inconsciente trate você real através do simbólico que ela carrega e do seu imaginário. E isso atinge até o sogro. E como era o relacionamento do homem com sua mãe? Você que vai casar deve também levar isso em consideração. Antes de julgar o fim, procure saber o meio e o início. Ainda assim, o mundo dá muitas voltas. Você faz parte do todo e a soma das partes é maior do que o mesmo.

Kandisnsky. Pintura

Wassily Kandinsky:

domingo, dezembro 25, 2016

Poema de agradecimento à corja. Joaquim Pessoa. Poesia

Poema de agradecimento à corja
Joaquim Pessoa

Obrigado, excelências.
Obrigado por nos destruírem o sonho e a oportunidade de vivermos felizes e em paz.
Obrigado pelo exemplo que se esforçam em nos dar de como é possível viver sem vergonha, sem respeito e sem dignidade.
Obrigado por nos roubarem. Por não nos perguntarem nada.
Por não nos darem explicações.
Obrigado por se orgulharem de nos tirar as coisas por que lutámos e às quais temos direito.
Obrigado por nos tirarem até o sono. E a tranquilidade. E a alegria.
Obrigado pelo cinzentismo, pela depressão, pelo desespero.
Obrigado pela vossa mediocridade.
E obrigado por aquilo que podem e não querem fazer.
Obrigado por tudo o que não sabem e fingem saber.
Obrigado por transformarem o nosso coração numa sala de espera.
Obrigado por fazerem de cada um dos nossos dias um dia menos interessante que o anterior.
Obrigado por nos exigirem mais do que podemos dar.
Obrigado por nos darem em troca quase nada.
Obrigado por não disfarçarem a cobiça, a corrupção, a indignidade.
Pelo chocante imerecimento da vossa comodidade e da vossa felicidade adquirida a qualquer preço.
E pelo vosso vergonhoso descaramento.
Obrigado por nos ensinarem tudo o que nunca deveremos querer, o que nunca deveremos fazer, o que nunca deveremos aceitar.
Obrigado por serem o que são.
Obrigado por serem como são.
Para que não sejamos também assim.
E para que possamos reconhecer facilmente quem temos de rejeitar.

Elis Regina O Bebado e A Equilibrista

Deserto. Tarso de Melo. Poesia

DESERTO
Tarso de Melo

(trechos)


PONTAS DE FACA abrem
de um canto a outro
a manhã — desterro em
meu deserto

uma mulher, seus filhos,
sacolas

um casal na noite
expande o vulto duro
de uma árvore

volta-se um
contra o outro
até cegarem
quem
os observa

Escultura.

Aristaeus: Greek God of Bee-Keeping, honey-mead, olive-growing, to name but a few of his talents.:

A paz. Charles Fonseca. Prosa

A PAZ
Charles Fonseca

Pra ficar em paz deixei a minha com os meus amores lá atrás e ela está aqui, ela me acompanha. A paz que salva, a do meu mestre, meu guia, meu protetor, a paz do meu salvador, o mesmo da minha cidade que é da baía de todos os santos, de todos os orixás, de todos os oxalá, quem sabe, algum dia, a agonia se vá, a alegria daqui esteja lá e cá ao mesmo tempo num só lugar.

Especial Roberto Carlos 2016 - "De que Vale Tudo Isso" com Marisa Monte

Rembrandt. Pintura

Rembrandt. A Philosopher in Meditation. Again, two small sources of light and still very strong shades of darkness.:

II Coríntios, 5

1.Sabemos, com efeito, que ao se desfazer a tenda que habitamos neste mundo, recebemos uma casa preparada por Deus e não por mãos humanas, uma habitação eterna no céu.

2.E por isto suspiramos e anelamos ser sobrevestidos da nossa habitação celeste,

3.contanto que sejamos achados vestidos e não despidos.

4.Pois, enquanto permanecemos nesta tenda, gememos oprimidos: desejamos ser não despojados, mas revestidos com uma veste nova por cima da outra, de modo que o que há de mortal em nós seja absorvido pela vida.

5.Aquele que nos formou para este destino é Deus mesmo, que nos deu por penhor o seu Espírito.

6.Por isso, estamos sempre cheios de confiança. Sabemos que todo o tempo que passamos no corpo é um exílio longe do Senhor.

7.Andamos na fé e não na visão.

8.Estamos, repito, cheios de confiança, preferindo ausentar-nos deste corpo para ir habitar junto do Senhor.

9.É também por isso que, vivos ou mortos, nos esforçamos por agradar-lhe.

10.Porque teremos de comparecer diante do tribunal de Cristo. Ali cada um receberá o que mereceu, conforme o bem ou o mal que tiver feito enquanto estava no corpo.

11.Compenetrados do temor do Senhor, procuramos persuadir os homens. Estamos a descoberto aos olhos de Deus, e espero que o estejamos também ante as vossas consciências.

12.Não estamos a gabar-nos ante os vossos olhos, mas damo-vos ocasião de vos gloriardes por nossa causa. Tereis assim o que responder àqueles que se prevalecem das aparências e não do que há no coração.

13.De fato, se ficamos arrebatados fora dos sentidos, é por Deus; e se raciocinamos sobriamente, é por vós.

14.O amor de Cristo nos constrange, considerando que, se um só morreu por todos, logo todos morreram.

15.Sim, ele morreu por todos, a fim de que os que vivem já não vivam para si, mas para aquele que por eles morreu e ressurgiu.

16.Por isso, nós daqui em diante a ninguém conhecemos de um modo humano. Muito embora tenhamos considerado Cristo dessa maneira, agora já não o julgamos assim.

17.Todo aquele que está em Cristo é uma nova criatura. Passou o que era velho; eis que tudo se fez novo!

18.Tudo isso vem de Deus, que nos reconciliou consigo, por Cristo, e nos confiou o ministério desta reconciliação.

19.Porque é Deus que, em Cristo, reconciliava consigo o mundo, não levando mais em conta os pecados dos homens, e pôs em nossos lábios a mensagem da reconciliação.

20.Portanto, desempenhamos o encargo de embaixadores em nome de Cristo, e é Deus mesmo que exorta por nosso intermédio. Em nome de Cristo vos rogamos: reconciliai-vos com Deus!

21.Aquele que não conheceu o pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele nós nos tornássemos justiça de Deus.

Escute as histórias que um homem velho tem pra contar.

sábado, dezembro 24, 2016

Silent night - Susan Boyle

Steve McCurry. Fotografia

Resultado de imagem

O sacrifício sacramental: ação de graças, memorial, presença

1356. Se os cristãos celebram a Eucaristia desde as origens e sob uma forma que, na sua substância não mudou através da grande diversidade dos tempos e das liturgias, é porque sabem que estão ligados pela ordem do Senhor, dada na véspera da sua paixão: «Fazei isto em memória de Mim» (1 Cor 11, 24-25).

1357. Esta ordem do Senhor, cumprimo-la celebrando o memorial do seu sacrifício. E fazendo-o, oferecemos ao Pai o que Ele próprio nos deu: os dons da sua criação, o pão e o vinho, transformados, pelo poder do Espírito Santo e pelas palavras de Cristo, no corpo e no sangue do mesmo Cristo: assim Cristo torna-se real e misteriosamente presente.

1358. Temos, pois, de considerar a Eucaristia

– como ação de graças e louvor ao Pai,
– como memorial sacrificial de Cristo e do Seu corpo,
– como presença de Cristo pelo poder da sua Palavra e do seu Espírito.

Catecismo

De Profundis (Septuagesima Sunday, Tract)

Retrato proletário. William Carlos Williams. Poesia

RETRATO PROLETÁRIO
William Carlos Williams

Mulher jovem corpulenta sem chapéu
de avental

Cabelo puxado para trás parada
na rua

A ponta do pé descalço
tocando a calçada

Sapato na mão. Olhando-
o atentamente

Retira a palmilha de cartão
para achar o prego

Que a estava machucando

Mesura. Charles Fonseca. Prosa

MESURA
Charles Fonseca

Musa? Não, não é. Mas que põe mesa, isso põe. A beleza também à mesa. Esta a minha mesura. Minha musa está em todo lugar, no meu pensamento, nas minhas orações poucas, confesso. Muitas as dela. Admirável. Como pode ser tão espírito num corpo tão gostoso de se ver e por aqui podo a pergunta. Gosto da poda. Fui de vagarinho, pra não espantar a pombinha que não era a do Espírito Santo, nem da Paraíba, nem das Alagoas, muito menos da Bahia, de onde é ela, de onde é ela? Floripa na mente respondo que é mulher dos grotões das Minas Gerais com estágio no Rio de Janeiro e que aportou na Bahia de todos os santos e dos meus não poucos pecados. E que por lá ficou quinze anos como filha de santo à espera deste pai de santo dos mistérios. Oxalá. Tomara. Desejo que assim seja, que continue, até que eu vá pedir a São Pedro abrir a porta pra eu entrar, tenho vaga assegurada, pelo seu superior maior. E se puder, vou ver se subo mais alguns degraus pois que se eu não melhorar mais por aqui no aquém lá no além ela estará, num plano mais elevado mas não custa chegar pertinho dela que é como eu aqui ando a fazer.

Escultura

Escultura da Roma Antiga – Wikipédia, a enciclopédia livre:

2016 tem que acabar

sexta-feira, dezembro 23, 2016

Uns nasceram pra padre todos pra padecer

Compartilhe seu saber

A distorção do Natal. Hernandes Dias Lopes

Tão grave quando a distorção do Natal é a proibição da celebração do Natal. Na igreja primitiva a festa do ágape, realizada como prelúdio da santa ceia foi distorcida. A igreja não deixou de celebrar a ceia por causa dessa distorção. Ao contrário, aboliu a distorção e continuou com a ceia. Não podemos jogar a criança fora com a água da bacia. Não podemos considerar o Natal, o nascimento do Salvador, celebrado com entusiasmo tanto pelos anjos como pelos homens, uma festa pagã. Pagão são os acréscimos feitos pelos homens, não o Natal de Jesus. Não celebramos os acréscimos, celebramos Jesus! Não celebramos o Papai-Noel, celebramos o Filho de Deus. Não celebramos a árvore enfeitada, celebramos o Verbo que se fez carne. Não celebramos os banquetes gastronômicos, celebramos o banquete da graça. Não celebramos a troca de presentes, celebramos Jesus, a dádiva suprema de Deus.
Hernandes Dias Lopes

Edith Piaf - La foule

Palmeira. Suely Monteiro. Fotografia


DO QUE GOSTO. Charles Fonseca. Poesia

Gosto de desafivelar colares. De expor um busto lindo. De cheirar um corpo e indo. Indo e vindo como os mares.

Mistério. Charles Fonseca. Prosa

MISTÉRIO
Charles Fonseca

Paciência, a vida parou ao sol posto pra esperar um novo tipo de beleza, a lua crescente, os luzeiros dos céus fúlgidos, muitos chegando novos até nós quando já morreram mas pra nós é vida. As vermelhas, coradas de pudor pela loucura dos homens e das mulheres desde outras eras e que se repete e que ainda vai chegar o dia quem sabe, algum dia. E as amarelas de vergonha de amarelarem antes da hora, o céu é infinito, pra que pressa? E as azuis nascendo para a vida, um novo tipo de vida, a via láctea dos peitos ebúrneos, túrgidos, onde mamam os inocentes, os pios, os vadios. Ah, o orbe! Ah, a nave Terra onde navegam as paixões eternas, o mistério, o amor, a dor, a saudade do que se foi, do que está sendo, do que será mas já dá saudade. Ah, criaturas do não criado, do imóvel, do mistério!

ANIMAÇÃO EM FOCO - TROFÉU SETH CINEMA DE ANIMAÇÃO - MNBA -RJ

Renoir. Pintura

Jeunes filles au piano (Girls at the Piano)  by Pierre-Auguste Renoir                                                                                                                                                      Mais:

quinta-feira, dezembro 22, 2016

Não creia em quem aperta sua mão de modo frouxo

Compartilhe tudo o que lhe for agradável

I Coríntios, 5

1.Ouve-se dizer constantemente que se comete, em vosso meio, a luxúria, e uma luxúria tão grave que não se costuma encontrar nem mesmo entre os pagãos: há entre vós quem vive com a mulher de seu pai!...

2.E continuais cheios de orgulho, em vez de manifestardes tristeza, para que seja tirado dentre vós o que cometeu tal ação!

3.Pois eu, em verdade, ainda que distante corporalmente, mas presente em espírito, já julguei, como se estivesse presente, aquele que assim se comportou.

4.Em nome do Senhor Jesus -, reunidos vós e o meu espírito, com o poder de nosso Senhor Jesus -,

5.seja esse homem entregue a Satanás, para mortificação do seu corpo, a fim de que a sua alma seja salva no dia do Senhor Jesus.

6.Não é nada belo o motivo da vossa jactância! Não sabeis que um pouco de fermento leveda a massa toda?

7.Purificai-vos do velho fermento, para que sejais massa nova, porque sois pães ázimos, porquanto Cristo, nossa Páscoa, foi imolado.

8.Celebremos, pois, a festa, não com o fermento velho nem com o fermento da malícia e da corrupção, mas com os pães não fermentados de pureza e de verdade.

9.Na minha carta vos escrevi que não tivésseis familiaridade com os impudicos.

10.Porém, não me referia de um modo absoluto a todos os impudicos deste mundo, os avarentos, os ladrões ou os idólatras, pois neste caso deveríeis sair deste mundo.

11.Mas eu simplesmente quis dizer-vos que não tenhais comunicação com aquele que, chamando-se irmão, é impuro, avarento, idólatra, difamador, beberrão, ladrão. Com tais indivíduos nem sequer deveis comer.

12.Pois que tenho eu de julgar os que estão fora? Não são os de dentro que deveis julgar?

13.Os de fora é Deus que os julgará... Tirai o perverso do vosso meio.

Escultura

Caryatid from the Erechtheion in Athens. Marble, Greek artwork, ca. 420 BC.:

Quem não sabe história conta estória

Roberto Carlos - A Montanha (Ao vivo em Jerusalém)

Marcio Vasconcelos. Fotografia

Daa Dagbo Avimadjenon - Ouidah - Benin - 2009 (Marcio Vasconcelos)

quarta-feira, dezembro 21, 2016

Quão cego andei e perdido vaguei!

O ridículo pode ser hilario

Pequeno diário da palavra. Iacyr Anderson de Freitas. Poesia


PEQUENO DIÁRIO DA PALAVRA 
Iacyr Anderson Freitas


Toda palavra tem um oco
uma fenda uma avessa
claridade
de onde as formigas emigram.

Há gravetos, conchas vocabulares,
acentos à paisana, vírgulas úmidas e bivalves.

Um vento antigo
tange as crases desse poema, arrasta
os pontos de exclamação pelos cabelos.
Estende-os para secar
o sol mais triste de seu nome.

O meio-dia a esmo
bate a sua orelha na cancela.
Toda palavra tem sexo e sintaxe,
um amarelo em luta
com as folhas mortas do terreiro.

Alfabeto crivado de dízimos
onde não se pode tagarelar
sem doer um grão de arroz
por sob a língua.

Palavra carece de pátria
lugar de raiz e eleição.

Onde adensa sua espera, duas borboletas
grifam a giz a paisagem
.

Munch. Pintura

Edvard Munch:

Quem se vende por dinheiro se vende por muito pouco.

Tempo e riqueza. Charles Fonseca. Prosa

TEMPO E RIQUEZA
Charles Fonseca

Confesso, sou rico. Tenho cara disso. Cara amiga, sorte minha ter você de mim vizinha. Não tem jeito. Só sei escrever assim. Dizendo logo a verdade, essa sim a minha herdade. De modo que esta herança uso com prazer e dando prazer, se me permite. Mas tenho que atender a toda a minha pulsão erótica. Não só a de gostar e de receber afagos tácteis, quanto olhares de mormaço, quanto aromas marinhos, serve também os lacustres e silvestres. De ouvir os passarinhos, o eu te amo ou similares, gemidos, olhares que falem. Silêncios que reverberam em minha alma carente. Não fiquem tanto ausentes, morro de amores, um boa noite e não tenho insônia. Este nome tem u’a história mas só depois, muito depois, conto aos iniciados. Continuamos? Pois bem, tenho que administrar todas estas carências da minha pulsão. Gosto de mordiscar, também. Faz muito bem. E de escrever o que não sei falar, esta a minha maior pobreza, alteza. Agora diversificando por estas crônicas um tanto anacrônicas, talvez, mas muito analógicas. Sentiu a lógica? Depois da internet então, adeus solidão, adeus horas vagas, adeus, adeus. Mas não vale viciar nela. Todo dia um pouquinho, a qualquer hora, ver as notícias dos principais jornais, ler os e-mails, blogar, facebookar, é pouco? Não é não. Assim vou tentar estabelecer um tempo pra ela, não tão rígido, também amoleço, um certo limite, digamos. A meta, uma hora dia. Um dia, quem sabe, consiga. Tenho que dar tempo ao meu jardim, aos que me amam e estão ao lado, aos distantes que moram no meu coração, ainda tem espaço a ocupar, não esmoreça, questão de tempo, de vagar, devagar se vai ao longe. Vê, gastei 25 minutos até aqui. Você leu em menos de cinco. Mas você merece. Ainda vou postar estes rabiscos no Facebook para o público em geral, para os que curtem minha página de prosa, poesia e fotografia, para grupo de médicos artistas e para um que tem por título ‘você é muito especial’. E você é, creia. Não esmoreça.

terça-feira, dezembro 20, 2016

Onde anda você Toquinho Vinicius de moraes

Café da manhã. Jacques Prévert. Poesia

CAFÉ DA MANHÃ
Jacques Prévert

Pôs café
na xícara
Pôs leite
na xícara com café
Pôs açúcar
no café com leite
Com a colherzinha
mexeu
Bebeu o café com leite
E pôs a xícara no pires
Sem me falar
acendeu
um cigarro
Fez círculos
com a fumaça
Pôs as cinzas
no cinzeiro
Sem me falar
Sem me olhar
Levantou-se
Pôs
o chapéu na cabeça
Vestiu
a capa de chuva
porque chovia
E saiu
debaixo de chuva
Sem uma palavra
Sem me olhar
Quanto a mim pus
a cabeça entre as mãos
E chorei.

Escultura

Vênus de Milo (c.100 a.C.). Artista desconhecido. mármore 2,02m de altura. Museu do Louvre, Paris, França. Book: FARTHING, Stephen. This is Art. London: Quintessence, 2010.:

PELOS CAMINHOS DO CÉU. Charles Fonseca. Prosa

ADMIRÁVEL AMOR
Charles Fonseca

Como é desvanecedor inspirar ventura a quem nos trouxe a amor de volta! Que belo sentimento brota onde havia a não esperança, somente o sonho etéreo! Oh, grande é esse mistério! Que grata satisfação! Que importa se o tempo é pouco para um grande amor, se a vida é curta se o espaço é infinito! Como gostaria de ser mais doce, mais presente, menos néscio, menos menos! Oh, amar, este o destino, o ser mais que o ter, o estar mais que o a ver! Vem comigo, amada, de mãos dadas pelos caminhos do céu, por entre os espaços luzentes, juntos entre as neblinas, passo a passo além das brumas. E se primeiro e adiante eu for que fique a ternura do tão vivido, a saudade do compartilhado, os nossos saberes sabidos por todos, os nossos segredos por poucos notados!

Roberto Carlos e Erasmo Carlos no Maracanã: Amigo (11/07/2009)

A dor do médico e o gozo do desembargador

"Recebi no hospital onde sou diretor médico , o paciente X, militar, condenado por lesão corporal grave, tiro em um cidadão, com mandado de justiça , para internação em nosso hospital, um hospital majoritariamente infantil( vide discussão abaixo ) . Tentei recusar, pelos motivos citados abaixo. O paciente chegou com um policial e um promotor ao nosso hospital. Entre outras alegações, a de sempre : “Ordem judicial não se discute, se cumpre” ( é claro, para os pobres, pois os do tipo Renam não cumprem mesmo ). Também disseram que “você tem de ficar com esse paciente aqui mesmo porque agora é feriado forense e isso aqui foi mandado de Desembargador ( tipo assim, “pessoa importantíssima” ) , não vamos achar, nestes feriados, ninguém que possa arrumar isso”. ( é claro, só quem ganha menos que 80 mil reais por mês é que tem de trabalhar em feriados, enquanto os “reis descansam” ). Tenho postado aqui sobre abusos de autoridades judiciais, mas os disseminados e generalizados “fãs de Moro”( os milhões de “massa-de-manobra” do Judiciário que foram às ruas semana passada achando que estavam só “defendendo a Lava-Jato” ) me atacam dizendo que é preciso de “força da Justiça” mesmo, para arrumar esse país. Não notam é que estão é defendendo um Poder , que, como se vê abaixo, nós, aqui de baixo, já não agüentamos mais de tanto ABUSO. Não notam que estão a defender um poder que, hoje, também como se vê abaixo, é o maior algoz dos médicos que estão na linha-de-frente neste país ( ou, seja, pessoas que, longe dos 80 mil por mês, estão atendendo, por merrecas, o serviço que eles, Governo, deveriam fazer ) . Eu pergunto : esse tipo de abuso de autoridade é “arrumar um país ?” O que é pior , é que este tipo específico de abuso de autoridade , hoje, é exercido sobre todos os médicos psiquiatras desse país, sobre todos hospitais psiquiátricos desse país, sem que , ao que eu saiba, nenhuma Entidade Médica, nenhuma Entidade Hospitalar, tenha se insurgido coletivamente sobre isso ( são , classicamente, pró-Governo e pró-Grandes-Interesses, então, obviamente, não irão preocupar-se com assuntos “pequenos” como esses, ou seja, assuntos que não fornecem dividendos para as relações deles com os Governos , com os Grandes Grupos, com os Grandes Coroneis ).
................................................................................................................
Exmo Sr. Juiz ...........................

Goiânia, 19 de dezembro de 2016

Viemos de receber o mandado de internação hospitalar do paciente X.
Infelizmente, nosso Hospital não foi ouvido pelas instâncias competentes quanto a esta internação, pois há vários problemas com ela.
Nosso hospital é aberto, o paciente já evadiu-se do mesmo várias vezes. Nas ruas, volta para as atividades delinquenciais, abuso de drogas, é pego e trazido de volta em situações completamente lastimáveis, drogado, sujo, péssimas condições de saúde .
Já teve atividade sexual dentro do hospital, com outra paciente em situação psiquiátrica gravíssima.
Já foi pego várias vezes dentro de enfermarias e apartamentos femininos, levando ao pânico entre as pacientes .
Já foi pego usando substâncias entorpecentes nas dependências do hospital.
Tem uma conduta de “pedinte” dentro do hospital, vindo a perturbar enormemente a paz de outros pacientes, dizendo-se abandonado, desprovido de recursos e de apoio familiar.
É paciente ex-policial militar, com quase dois metros de altura, fortíssimo, que já foi processado, julgado, está em cumprimento de pena por lesão corporal grave ( decorrência de tiro de arma de fogo ). Portanto, potencialmente, de alta periculosidade. Ora , nosso hospital é aberto, tem uma unidade infantil, tem uma unidade geriátrica, uma unidade de psiquiatria de mulheres no pós-parto ( unidade puerperal ) , completamente abertas ao livre-acesso de qualquer paciente, inclusive ao paciente X .
Também, ao nosso ver, a determinação de hospitalização ( internação ) e alta de um doente não podem ficar a cargo de uma autoridade judicial, como consta no mandado enviado ( “sem data definida de alta” ). Ao nosso ver, compete ao conhecimento técnico, médico, a determinação de necessidade de hospitalização, e não a uma autoridade outra, por mais meritória e digna de respeito possa ser.
Pois bem, ao nosso ver, tais elementos constituem possível indicativo de que houve abuso de autoridade judicial ao encaminhar este paciente para o nosso serviço, sem a devida oitiva da nossa situação hospitalar.
É importante frisar, além disso, que o paciente veio direcionado ao nosso serviço sem nenhuma solicitação médica, conforme diz a legislação abaixo.

Lei de Assistência Psiquiátrica ( 10.216/2001 )
Art. 6o A internação psiquiátrica somente será realizada mediante laudo médico circunstanciado que caracterize os seus motivos.
Parágrafo único. São considerados os seguintes tipos de internação psiquiátrica:
I - internação voluntária: aquela que se dá com o consentimento do usuário;
II - internação involuntária: aquela que se dá sem o consentimento do usuário e a pedido de terceiro; e
III - internação compulsória: aquela determinada pela Justiça.

Ou seja, como se vê, mesmo pacientes com internação compulsória, devem ter algum laudo médico embasando a justificação.

Por outro lado, não nos parece que o meritíssimo Juiz tenha também observado o que reza o seguinte artigo da mesma lei :
Art. 9o A internação compulsória é determinada, de acordo com a legislação vigente, pelo juiz competente, que levará em conta as condições de segurança do estabelecimento, quanto à salvaguarda do paciente, dos demais internados e funcionários.

Conforme mostrado acima, ao nosso ver, claramente, não foram cumpridas as “condições de segurança do estabelecimento”.
Destarte , é nosso entendimento de que tal mandado judicial hospitalização necessitaria ser revisto, desta vez levando em conta os responsáveis técnicos e administrativos do referido hospital, que diga-se de passagem, não é um hospital governamental, e sim particular.
Hospitais governamentais deveriam estar aptos a , eles sim, receber este tipo de injunção , uma vez que contam com pessoal, recursos e estrutura física adequada para o caso, p.ex., entre outros, Hospital do Pronto Socorro Municipal de Goiânia, Hospital Credeq, etc.
Outrossim, consta como “obrigação de fazer”, por parte deste Governo, a abertura de estruturas hospitalares judiciais que possam acondicionar casos específicos como estes. Não é obrigação da Sociedade Civil fazê-lo, quanto mais sob a “ameaça” de mandados judiciais exarados , ao nosso ver, com uma perigosa unilateralidade.
Deste modo, pedimos deferimento,
Marcelo Ferreira Caixeta
Diretor-Medico
Hospital Psiquiátrico Infanto Juvenil"

segunda-feira, dezembro 19, 2016

Cabelo crespo

Resultado de imagem para pinterest charles fonseca

Filho é transcendência

Delacroix. Pintura

eugene delacroix paintings - Google Search:

BEIJA-FLOR. Charles Fonseca. Poesia

BEIJA-FLOR
Charles Fonseca

Eu sumo de tangerina,
tu somo flor de laranja,
ele some e esbanja,
teu sumo frescor de menina.

Onde anda o teu amor
o meu aonde estará?
aqui, pertinho, vem cá,
quero ser teu beija flor.

Escultura

Alexandre, o Grande – Wikipédia, a enciclopédia livre:

Chico Buarque - Eu te Amo

O DESENROLAR DA CELEBRAÇÃO

1348. Todos se reúnem. Os cristãos acorrem a um mesmo lugar para a assembleia eucarística. A sua cabeça está o próprio Cristo, que é o actor principal da Eucaristia. Ele é o Sumo-Sacerdote da Nova Aliança. É Ele próprio que preside invisivelmente a toda a celebração eucarística. E é em representação d'Ele (agindo «in persona Christi capitis – na pessoa de Cristo-Cabeça»), que o bispo ou o presbítero preside à assembleia, toma a palavra depois das leituras, recebe as oferendas e diz a oração eucarística. Todos têm a sua parte activa na celebração, cada qual a seu modo: os leitores, os que trazem as oferendas, os que distribuem a comunhão e todo o povo cujo Ámen manifesta a participação.

1349. A liturgia da Palavra comporta «os escritos dos Profetas», quer dizer, o Antigo Testamento, e «as Memórias dos Apóstolos» ou seja, as suas epístolas e os evangelhos. Depois da homilia, que é uma exortação a acolher esta Palavra como o que ela é na realidade, Palavra de Deus(180), e a pô-la em prática, vêm as intercessões por todos os homens, segundo a palavra do Apóstolo: «Recomendo, antes de tudo, que se façam preces, orações, súplicas e acções de graças, por todos os homens, pelos reis e por todos os que exercem autoridade» (1 Tm 2, 1-2).

1350. A apresentação das oferendas (ofertório): traz-se então para o altar, por vezes processionalmente, o pão e o vinho que vão ser oferecidos pelo sacerdote em nome de Cristo no sacrifício eucarístico, no qual se tornarão o seu corpo e o seu sangue. É precisamente o mesmo gesto que Cristo fez na última ceia, «tomando o pão e o cálice». «Só a Igreja oferece esta oblação pura ao Criador, oferecendo-Lhe em acção de graças o que provém da sua criação» (181). A apresentação das oferendas no altar assume o gesto de Melquisedec e põe os dons do Criador nas mãos de Cristo. É Ele que, no seu sacrifício, leva à perfeição todas as tentativas humanas de oferecer sacrifícios.

1351. Desde o princípio, com o pão e o vinho para a Eucaristia, os cristãos trazem as suas ofertas para a partilha com os necessitados. Este costume, sempre actual, da colecta (182) inspira-se no exemplo de Cristo, que Se fez pobre para nos enriquecer (183):

«Os que são ricos e querem, dão, cada um conforme o que a si mesmo se impôs; o que se recolhe é entregue àquele que preside e ele, por seu turno, presta assistência aos órfãos, às viúvas, àqueles que a doença ou qualquer outra causa priva de recursos, aos prisioneiros, aos imigrantes, numa palavra, a todos os que sofrem necessidade» (184).

1352. A anáfora: Com a oração eucarística, oração de acção de graças e de consagração, chegamos ao coração e cume da celebração:

no prefácio, a Igreja dá graças ao Pai, por Cristo, no Espírito Santo, por todas as suas obras: pela criação, redenção e santificação. Toda a comunidade une, então, as suas vozes àquele louvor incessante que a Igreja celeste – os anjos e todos os santos – cantam ao Deus três vezes Santo:

1353. na epiclese, pede ao Pai que envie o seu Espírito Santo (ou o poder da sua bênção)(185)sobre o pão e o vinho, para que se tornem, pelo seu poder, o corpo e o sangue de Jesus Cristo, e para que os que participam na Eucaristia sejam um só corpo e um só espírito. (Algumas tradições litúrgicas colocam a epiclese depois da anamnese);

na narração da instituição, a força das palavras e da acção de Cristo e o poder do Espírito Santo tomam sacramentalmente presentes, sob as espécies do pão e do vinho, o corpo e o sangue do mesmo Cristo, o seu sacrifício oferecido na cruz de uma vez por todas;

1354. na anamnese que se segue, a Igreja faz memória da paixão, ressurreição e regresso glorioso de Cristo Jesus: e apresenta ao Pai a oferenda do seu Filho, que nos reconcilia com Ele:

nas intercessões, a Igreja manifesta que a Eucaristia é celebrada em comunhão com toda a Igreja do céu e da terra, dos vivos e dos defuntos, e na comunhão com os pastores da Igreja: o Papa, o bispo da diocese, o seu presbitério e os seus diáconos, e todos os bispos do mundo inteiro com as suas Igrejas.

1355. Na comunhão, precedida da Oração do Senhor e da fracção do pão, os fiéis recebem «o pão do céu» e «o cálice da salvação», o corpo e o sangue de Cristo, que Se entregou «para a vida do mundo» (Jo 6, 51):

Porque este pão e este vinho foram, segundo a expressão antiga, «eucaristizados» (186), «chamamos a este alimento Eucaristia; e ninguém pode tomar parte nela se não acreditar na verdade do que entre nós se ensina, se não recebeu o banho para a remissão dos pecados e o novo nascimento e se não viver segundo os preceitos de Cristo» (187).

Catecismo

domingo, dezembro 18, 2016

Nossa vida é manancial de afetos

Cantiga de praia. Alphonsus de Guimaraens Filho. Poesia

CANTIGA DE PRAIA
Alphonsus de Guimaraens Filho

Estou sozinho na praia,
estou sozinho e não sei.
Que luz adormece a face
se em gritos já me afoguei?

Estou dançando na praia?
Estou dançando? Não sei.
Eu colho com as mãos da ausência
a rosa que não beijei.

Que luz chega do outro lado,
do outro rio, do outro mar?
Estou sozinho na praia...
Ó mundo, vamos dançar!

Dali. Pintura

Dalí foi influenciado pelos mestres da Renascença e foi um artista com grande talento e imaginação. Era conhecido por fazer coisas ex...:

Moçoila. Charles Fonseca. Prosa

MOÇOILA
Charles Fonseca

Será que estou perdendo o rebolado eu bailarino do verso? Agora só quero escrever sem rima, sem métrica, só musicalidade, será chegou a idade? Fico a meditar a liberdade da escrita ao teclar bem piano neste meu note book catando milho eu que nunca aprendi a dactilografia que era como se escrevia. A professora calorenta só usava uma blusa leve sem nada por baixo e eu cabisbaixo olhava pra ela. Ou ela não ligava ou era desligada, quem sabe, pudera, palpar tetas dela! Os dedos tremiam as letras trocava poiuy, asdfg, e eu sem nada aprender, meu caso era perdido, era só de apreender. Ai meu Deus, quanta tesão, era duro meu irmão, pensava em nossa senhora nos anjos e nos arcanjos, aí o sonho acabou, fui tirado da escola, aula particular com a moçoila, que palavra quanta rima ela encerra e eu em cima!

Escultura

Estátua grega demonstrando com perfeição os detalhes do corpo humano;o corpo perfeito,claro:

Romanos, 5

1.Justificados, pois, pela fé temos a paz com Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo.

2.Por ele é que tivemos acesso a essa graça, na qual estamos firmes, e nos gloriamos na esperança de possuir um dia a glória de Deus.

3.Não só isso, mas nos gloriamos até das tribulações. Pois sabemos que a tribulação produz a paciência,

4.a paciência prova a fidelidade e a fidelidade, comprovada, produz a esperança.

5.E a esperança não engana. Porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.

6.Com efeito, quando éramos ainda fracos, Cristo a seu tempo morreu pelos ímpios.

7.Em rigor, a gente aceitaria morrer por um justo, por um homem de bem, quiçá se consentiria em morrer.

8.Mas eis aqui uma prova brilhante de amor de Deus por nós: quando éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós.

9.Portanto, muito mais agora, que estamos justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira.

10.Se, quando éramos ainda inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, com muito mais razão, estando já reconciliados, seremos salvos por sua vida.

11.Ainda mais: nós nos gloriamos em Deus por nosso Senhor Jesus Cristo, por quem desde agora temos recebido a reconciliação!

12.Por isso, como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim a morte passou a todo o gênero humano, porque todos pecaram...

13.De fato, até a lei o mal estava no mundo. Mas o mal não é imputado quando não há lei.

14.No entanto, desde Adão até Moisés reinou a morte, mesmo sobre aqueles que não pecaram à imitação da transgressão de Adão (o qual é figura do que havia de vir).

15.Mas, com o dom gratuito, não se dá o mesmo que com a falta. Pois se a falta de um só causou a morte de todos os outros, com muito mais razão o dom de Deus e o benefício da graça obtida por um só homem, Jesus Cristo, foram concedidos copiosamente a todos.

16.Nem aconteceu com o dom o mesmo que com as conseqüências do pecado de um só: a falta de um só teve por conseqüência um veredicto de condenação, ao passo que, depois de muitas ofensas, o dom da graça atrai um juízo de justificação.

17.Se pelo pecado de um só homem reinou a morte (por esse único homem), muito mais aqueles que receberam a abundância da graça e o dom da justiça reinarão na vida por um só, que é Jesus Cristo!

18.Portanto, como pelo pecado de um só a condenação se estendeu a todos os homens, assim por um único ato de justiça recebem todos os homens a justificação que dá a vida.

19.Assim como pela desobediência de um só homem foram todos constituídos pecadores, assim pela obediência de um só todos se tornarão justos.

20.Sobreveio a lei para que abundasse o pecado. Mas onde abundou o pecado, superabundou a graça.

21.Assim como o pecado reinou para a morte, assim também a graça reinaria pela justiça para a vida eterna, por meio de Jesus Cristo, nosso Senhor.

Maria Rita e Marcelo D2 - Desabafo (Programa Sai do Chão)

sábado, dezembro 17, 2016

De conveniência. Charles Fonseca. Prosa

DE CONVENIÊNCIA
Charles Fonseca

Tem um chinês trás de mim. Meu seguidor, mora na China. Qualquer coisa, lá vem chinês e não japonês trás de mim. Não sei mandarim não sei mandar nele não mando nem em mim, quem me manda é a paixão, eu sou do querer bem, do afago, do beijo de todos os tipos, dos abraços amigos contigo, contidos, com ela nem falo ou melhor, com falo. Aí uma amiga me disse que eu só penso nisso, penso naquilo, também. Quando escrevo, é verdade, o assunto principal é este. Quando leio gosto da imensidão, do eterno, do mais além, você também? Convém.

Caravaggio

The Inspiration of Saint Matthew by Caravaggio - A Inspiração de São Mateus – Wikipédia, a enciclopédia livre:

sexta-feira, dezembro 16, 2016

O apocalipse do Aleijadinho. Bueno de Rivera. Poesia

O apocalipse do Aleijadinho
Bueno de Rivera


ALEIJADINHO: MARTÍRIO E SOLIDÃO


Profeta Ezequiel, em Congonhas do Campo (MG), escultura do AleijadinhoAnjo bruxo
anjo brusco
anjo tosco
anjo fosco
anjo fusco.

Corvo engaiolado
corvo depenado
corvo acorrentado
corvo torvo
estorvo.

Luporina?
Cardina?
Heroína?
Escorbuto?

Torto na liteira
torto na cadeira
torto na esteira
torto na poeira.

Cai o dedo
polegar
no ar.
Cai o dedo
indicador
de dor.
Cai o dedo
anular
no sal.
Cai o médio
sem remédio.
Cai o mínimo.
Caem todos
um a um.
Mãos
sem nenhum.

Pardo fardo
carregado
no ombro
no lombo.

Ó Januário
arma a tenda
do trabalho.

Vem cá Maurício,
amarra o formão
no cotó
da mão.

Talha
corta
sulca
vinca
finca
fende
entalha
bate forte
bate bate
rebate
toc-toc.

Com um toque
abre a cara
de Simão Stock.

De um golpe
cria o Jorge
sem cavalo
sem galope.

Surgem da pedra talhada
(e do nada)
barbas de Isaías
pés de Jeremias
túnicas de Amós
coturnos de Oséas
braços de Habacuc
ventre de Nahum
véus de Ezequiel
cabelos de Baruc
leão de Daniel
baleia de Jonas
queixos de Abdias
nariz de Joel.

Ouro preto
trevas
pentateuco
trevas
apocalipse
trevas
hora nona
trevas
agonia
trevas
miserere
trevas
miserere.

Frio e só
no jirau.

Morto e só.
Ninguém.

Nem o presidente
nem o intendente
nem o confessor.

Só.

Dobram sinos
batem sinos
choram alguém?

Dobram os sinos
do Pilar
— pelo notário
— pelo sicário.

Dobram os sinos
do Carmo
— pelo ricaço
— pelo devasso.

Dobram os sinos
das Mercês
— pelo ouvidor
— pelo marquês.

Dobram os sinos
choram os sinos
pelos Nobres blão
pelos Brancos blão

— pelo Aleijadinho N Ã O !

Escultura

Filosofia - Platão (428 a.C. Atenas, Grécia – 348 a.C. Atenas, Grécia):

CANSADO. Charles Fonseca. Poesia

CANSADO
Charles Fonseca

Em leito nasceu
num berço fofinho,
com véu de voil,
branquinho arminho,
os pais só carinho,
quem mais, bacurau?

Nasceu não em trapos,
colchão de palhinha,
comida vaquinha,
o pai, ninguém mais,

Só pobres coitados,
reis magos distantes
à luz de brilhante,
chegaram cansados

E ela na dela
a ele ela teve
à morte esteve
jogado à gamela

Das almas bacia
bacio dos fortes
dobrado o cangote
oh Deus, agonia,

Agora passado
presente futuro
feliz num auguro
encerro cansado.

quinta-feira, dezembro 15, 2016

A celebração litúrgica da Eucaristia

A MISSA DE TODOS OS SÉCULOS

1345. Desde o século II, temos o testemunho de São Justino, mártir, sobre as grandes linhas do desenrolar da celebração eucarística. Permaneceram as mesmas até aos nossos dias, em todas as grandes famílias litúrgicas. Eis o que ele escreve, cerca do ano 155, para explicar ao imperador pagão Antonino Pio (138-161) o que fazem os cristãos:

«No dia que chamam Dia do Sol, realiza-se a reunião num mesmo lugar de todos os que habitam a cidade ou o campo.
Lêem-se as memórias dos Apóstolos e os escritos dos Profetas, tanto quanto o tempo o permite.
Quando o leitor acabou, aquele que preside toma a palavra para incitar e exortar à imitação dessas belas coisas.
Em seguida, levantamo-nos todos juntamente e fazemos orações» (175) «por nós mesmos [...] e por todos os outros, [...] onde quer que estejam, para que sejamos encontrados justos por nossa vida e acções, e fiéis aos mandamentos, e assim obtenhamos a salvação eterna.
Terminadas as orações, damo-nos um ósculo uns aos outros.
Depois, apresenta-se àquele que preside aos irmãos pão e uma taça de água e vinho misturados.
Ele toma-os e faz subir louvor e glória ao Pai do universo, pelo nome do Filho e do Espírito Santo, e dá graças (em grego: eucharistian) longamente, por termos sido julgados dignos destes dons.
Quando ele termina as orações e acções de graças, todo o povo presente aclama: Ámen.
[...] Depois de aquele que preside ter feito a acção de graças e de o povo ter respondido, aqueles a que entre nós chamamos diáconos distribuem a todos os que estão presentes pão, vinho e água "eucaristizados" e também os levam aos ausentes» (176).

1346. A liturgia eucarística processa-se em conformidade com uma estrutura fundamental, que se tem conservado através dos séculos até aos nossos dias. Desdobra-se em dois grandes momentos, que formam basicamente uma unidade:

– a reunião, a liturgia da Palavra, com as leituras, a homilia e a oração universal;
– a liturgia eucarística, com a apresentação do pão e do vinho, a acção de graças consecratória e a comunhão.

Liturgia da Palavra e liturgia eucarística constituem juntas "um só e mesmo acto de culto" (177). Com efeito, a mesa posta para nós na Eucaristia é, ao mesmo tempo, a da Palavra de Deus e a do corpo do Senhor (178).

1347. Não é esse também o dinamismo da refeição pascal de Jesus Ressuscitado com os seus discípulos? Enquanto caminhavam, Ele explicava-lhes as Escrituras; depois, pondo-Se à mesa com eles, «tomou o pão, proferiu a bênção, partiu-o e deu-lho» (179). Catecismo

Baixa dos sapateiros. Charles Fonseca. Prosa

BAIXA DOS SAPATEIROS
Charles Fonseca

Baixa dos Sapateiros! Ainda madrugada, em 1960, saltei da cabine de um caminhão vindo de Jequié para estudar em Salvador. Fui morar num beco, Rua Alfredo Requião 17, na casa de uma tia que mandou a filha morar com meus pais em Jequié sem despesas de parte a parte uma vez que a quantidade de comida se equivaliam. A prima me perguntou se eu sabia beijar e como disse que não ela me deu a primeira aula. Um doce sabor. Uma excelente professora. Mais tarde, apliquei os conhecimentos com outra prima, mas aí, depois eu conto. Dinheiro curto. Estava ali para estudar. Ia a pé para o colégio dois quilômetros pra ir alimentado, dois que pareciam mais na volta, faminto. Era um trajeto ladeira acima pra ouvir aulas no melhor colégio da Bahia. Encontrei só um professor brilhante, de biologia.
Baixa dos Sapateiros! Aí, de supetão, sem motivo, ganhei um soco de um maconhado que fugiu e como um tatu se escondeu na caverna do que seria mais adiante o túnel de ligação da cidade alta à cidade baixa. Salvador era assim dividida. Era o 2 de Julho data em que em 1823 os portugueses foram expulsos do Brasil que já se dizia independente deste 1822... Preso o agressor, lá fui eu levando o infeliz para a polícia, as garotas dos colégios em forma para o desfile comemorativo, saia plissada, blusas brancas com escudo dos colégios sobre o busto encobrindo atrás de si aquilo que gostava de tocar com delicadeza angelical. E elas “coitadinho, tão novo e já vai preso!”. Foi minha estréia militar. Na delegacia, mal chegando e começando a contar o ocorrido pedi que não batessem no agressor. Plaft! Um tapa no rosto do infeliz que desceu para os porões e cujo destino desconheço.
Baixa dos Sapateiros! Cine Tupy. Filmes de faroeste. O porteiro, amigo de minha tia, me deixava entrar pra ver todos os filmes que quisesse, mas só os cinco minutos finais, de graça. Não perdia um. Que fim levou o cine Tupy? “O espaço se transformou num pulsante centro de encontros de travestis, homossexuais, garotas de programa e demais espectadores, que são atraídos pela programação exclusivamente erótica.” Antes, na minha adolescência, ali só mão na mão, mão naquilo só no escurinho do cinema. Aquilo naquilo só na minha imaginação. Nem os filmes mostravam, só davam a entender. Entendeu?

quarta-feira, dezembro 14, 2016

Como é com os irmãos?

Estudo 208. Antonio Brasileiro. Poesia

ESTUDO 208
Antonio Brasileiro

1.
A perfeição reside nos tumultos, nos
escombros, nas sinopses
de um homem —
perdoai,
amigos, estas diatribes:
a voz não diz o que desejo, é escasso
o raciocínio, não há livros
com os ensinamentos e os conselhos —
perdoai,
amigos, meu linguajar de símbolos
tão velados

2.
:bailarinos inábeis
executando seus primeiros passos
num palco gigantesco (sem
bordas)
sem aplausos —
sós nós e uma valsa
sem memória
a ecoar (a ecoar a ecoar) por toda parte

e não há tempo para temer
e não há tempo para chorar:
a Valsa
não tem perdões, obriga-nos a valseá-la
a Valsa
não sabe nomes, envolve-nos nos braços
a Valsa
ela mesma não se chama Valsa —
perdoai, amigos, falar-vos nesta linguagem
há algo em mim que quer brotar com força:
talvez um simples poema
talvez (perdoai) apenas
esta vontade, imensa, de falar.

Vivien Maier. Fotografia

maier1:

Evolução. Charles Fonseca. Prosa

EVOLUÇÃO
Charles Fonseca

Evoluí. Não uso mais roupa nenhuma. Só durmo nu, uma beleza. Nada me apertando. Eu é que por prazer e dever de ofício dou meus apertos. Tudo balançando. Bimbalham os sinos. Tudo vibração. Aleluias em hinos. Você, meu caro amigo, se já não o faz, experimente uma vez por semana. Diz pra ela que está fazendo uma promessa. Uma experiência, uma regressão, um renascimento. Nu.

terça-feira, dezembro 13, 2016

Enquanto houver amor haverá uma esperança

Miró. Pintura

Joan Miro | Ballerina - Joan Miró

Líder de comunidade cadastra os contra e a favor de suas opiniões políticas

Conte. Charles Fonseca. Prosa

CONTE
Charles Fonseca

Estou sem assunto a contar. Assim, de modo que, portanto, chega, conte para o psicólogo, o psiquiatra, o pediatra, o amigo do peito, a amiga de peitos murchos ou empinados, o que lhe vai pela alma mas, cuidado, amigos poucos mas íntimos, de preferência os de longa data, os de outros carnavais. Vais? É bom, desabafa, você levita, fica leve. Lave a alma, passe a limpo, vista nova. E ouça muito, de preferência a sós, a dois, ao sol ou ao luar, tanto faz.

Netuno. Escultura

"O Deus Netuno".  (1725) (by Adam Terracota).  Los Angeles County Museum of Art. L.A., USA.:

Atos dos Apóstolos, 5

1.Um certo homem chamado Ananias, de comum acordo com sua mulher Safira, vendeu um campo

2.e, combinando com ela, reteve uma parte da quantia da venda. Levando apenas a outra parte, depositou-a aos pés dos apóstolos.

3.Pedro, porém, disse: Ananias, por que tomou conta Satanás do teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo e enganasses acerca do valor do campo?

4.Acaso não o podias conservar sem vendê-lo? E depois de vendido, não podias livremente dispor dessa quantia? Por que imaginaste isso em teu coração? Não foi aos homens que mentiste, mas a Deus.

5.Ao ouvir estas palavras, Ananias caiu morto. Apoderou-se grande terror de todos os que o ouviram.

6.Uns moços retiraram-no dali, levaram-no para fora e o enterraram.

7.Depois de umas três horas, entrou também sua mulher, nada sabendo do ocorrido.

8.Pedro perguntou-lhe: Dize-me, mulher. Foi por tanto que vendestes o vosso campo? Respondeu ela: Sim, por esse preço.

9.Replicou Pedro: Por que combinastes para pôr à prova o Espírito do Senhor? Estão ali à porta os pés daqueles que sepultaram teu marido. Hão de levar-te também a ti.

10.Imediatamente caiu aos seus pés e expirou. Entrando aqueles moços, acharam-na morta. Levaram-na para fora e a enterraram junto do seu marido.

11.Sobreveio grande pavor a toda a comunidade e a todos os que ouviram falar desse acontecimento.

12.Enquanto isso, realizavam-se entre o povo pelas mãos dos apóstolos muitos milagres e prodígios. Reuniam-se eles todos unânimes no pórtico de Salomão.

13.Dos outros ninguém ousava juntar-se a eles, mas o povo lhes tributava grandes louvores.

14.Cada vez mais aumentava a multidão dos homens e mulheres que acreditavam no Senhor.

15.De maneira que traziam os doentes para as ruas e punham-nos em leitos e macas, a fim de que, quando Pedro passasse, ao menos a sua sombra cobrisse alguns deles.

16.Também das cidades vizinhas de Jerusalém afluía muita gente, trazendo os enfermos e os atormentados por espíritos imundos, e todos eles eram curados.

17.Levantaram-se então os sumos sacerdotes e seus partidários (isto é, a seita dos saduceus) cheios de inveja,

18.e deitaram as mãos nos apóstolos e meteram-nos na cadeia pública.

19.Mas um anjo do Senhor abriu de noite as portas do cárcere e, conduzindo-os para fora, disse-lhes:

20.Ide e apresentai-vos no templo e pregai ao povo as palavras desta vida.

21.Obedecendo a essa ordem, eles entraram ao amanhecer, no templo, e puseram-se a ensinar. Enquanto isso, o sumo sacerdote e os seus partidários reuniram-se e convocaram o Grande Conselho e todos os anciãos de Israel, e mandaram trazer os apóstolos do cárcere.

22.Dirigiram-se para lá os guardas, mas ao abrirem o cárcere, não os encontraram, e voltaram a informar:

23.Achamos o cárcere fechado com toda segurança e os guardas de pé diante das portas, e, no entanto, abrindo-as, não achamos ninguém lá dentro.

24.A essa notícia, os sumos sacerdotes e o chefe do templo ficaram perplexos e indagaram entre si sobre o que significava isso.

25.Mas, nesse momento, alguém transmitiu-lhes esta notícia: Aqueles homens que metestes no cárcere estão no templo ensinando o povo!

26.Foi então o comandante do templo com seus guardas e trouxe-os sem violência, porque temiam ser apedrejados pelo povo.

27.Trouxeram-nos e os introduziram no Grande Conselho, onde o sumo sacerdote os interrogou, dizendo:

28.Expressamente vos ordenamos que não ensinásseis nesse nome. Não obstante isso, tendes enchido Jerusalém de vossa doutrina! Quereis fazer recair sobre nós o sangue deste homem!

29.Pedro e os apóstolos replicaram: Importa obedecer antes a Deus do que aos homens.

30.O Deus de nossos pais ressuscitou Jesus, que vós matastes, suspendendo-o num madeiro.

31.Deus elevou-o pela mão direita como Príncipe e Salvador, a fim de dar a Israel o arrependimento e a remissão dos pecados.

32.Deste fato nós somos testemunhas, nós e o Espírito Santo, que Deus deu a todos aqueles que lhe obedecem.

33.Ao ouvirem essas palavras, enfureceram-se e resolveram matá-los.

34.Levantou-se, porém, um membro do Grande Conselho. Era Gamaliel, um fariseu, doutor da lei, respeitado por todo o povo.

35.Mandou que se retirassem aqueles homens por um momento, e então lhes disse: Homens de Israel, considerai bem o que ides fazer com estes homens.

36.Faz algum tempo apareceu um certo Teudas, que se considerava um grande homem. A ele se associaram cerca de quatrocentos homens: foi morto e todos os seus partidários foram dispersados e reduzidos a nada.

37.Depois deste, levantou-se Judas, o galileu, nos dias do recenseamento, e arrastou o povo consigo, mas também ele pereceu e todos quantos o seguiam foram dispersados.

38.Agora, pois, eu vos aconselho: não vos metais com estes homens. Deixai-os! Se o seu projeto ou a sua obra provém de homens, por si mesma se destruirá;

39.mas se provier de Deus, não podereis desfazê-la. Vós vos arriscaríeis a entrar em luta contra o próprio Deus. Aceitaram o seu conselho.

40.Chamaram os apóstolos e mandaram açoitá-los. Ordenaram-lhes então que não pregassem mais em nome de Jesus, e os soltaram.

41.Eles saíram da sala do Grande Conselho, cheios de alegria, por terem sido achados dignos de sofrer afrontas pelo nome de Jesus.

42.E todos os dias não cessavam de ensinar e de pregar o Evangelho de Jesus Cristo no templo e pelas casas.

Gaudeamus Omnes (All Saints, Introit)

segunda-feira, dezembro 12, 2016

«FAZEI ISTO EM MEMÓRIA DE MIM»

1341. Ao ordenar que repetissem os seus gestos e palavras, «até que Ele venha» (1 Cor 11, 26), Jesus não pede somente que se lembrem d'Ele e do que Ele fez. Tem em vista a celebração litúrgica, pelos apóstolos e seus sucessores, do memorial de Cristo, da sua vida, morte, ressurreição e da sua intercessão junto do Pai.

1342. Desde o princípio, a Igreja foi fiel à ordem do Senhor. Da Igreja de Jerusalém está escrito:

«Eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à união fraterna, à fracção do pão e às orações. [...] Todos os dias frequentavam o templo, como se tivessem uma só alma, e partiam o pão em suas casas; tomavam o alimento com alegria e simplicidade de coração» (Act 2, 42.46).

1343. Era sobretudo «no primeiro dia da semana», isto é, no dia de domingo, dia da ressurreição de Jesus, que os cristãos se reuniam «para partir o pão» (Act 20, 7). Desde esses tempos até aos nossos dias, a celebração da Eucaristia perpetuou-se, de maneira que hoje a encontramos em toda a parte na Igreja com a mesma estrutura fundamental. Ela continua a ser o centro da vida da Igreja.

1344. Assim, de celebração em celebração, anunciando o mistério pascal de Jesus «até que Ele venha» (1Cor 11, 26), o Povo de Deus em peregrinação «avança pela porta estreita da cruz» (174) para o banquete celeste, em que todos os eleitos se sentarão à mesa do Reino.

Catecismo

Lagoa da Conceição. Florianópolis.Charles Fonseca. Fotografia


Canção do outono. Paul Verlaine. Poesia

CANÇÃO DO OUTONO
Paul Verlaine

Os soluços graves
Dos violinos suaves
Do outono
Ferem a minh'alma
Num langor de calma
E sono.

Sufocado, em ânsia,
Ai! quando à distância
Soa a hora,
Meu peito magoado
Relembra o passado
E chora.

Daqui, dali, pelo
Vento em atropelo
Seguido,
Vou de porta em porta,
Como a folha morta
Batido...

Sessenta e cinco anos. Com o bebê Freud.


Fim. Charles Fonseca. Prosa

FIM
Charles Fonseca

Quando começa o fim? Quando termina o que mal começou? Aquele olhar sem eternidade, aquele beijo fugidio, a mesa vazia, a cama posta, o um sem mais, o passo em falso, a verdade encoberta, o que mais resta? O faz de conta, o conto depois, é bom sonhar, melhor que é, que ser, que a ver, haver.

Gauguin. Pintura

“Par le courant, Automne” (O córrego no outono), pintura em óleo sobre tela de 1885, das obras-primas de Paul Gauguin. Veja mais em: http://semioticas1.blogspot.com.br/2012/12/inventando-abstracao.html:

São João, 5

1.Depois disso, houve uma festa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém.

2.Há em Jerusalém, junto à porta das Ovelhas, um tanque, chamado em hebraico Betesda, que tem cinco pórticos.

3.Nestes pórticos jazia um grande número de enfermos, de cegos, de coxos e de paralíticos, que esperavam o movimento da água.

4.[Pois de tempos em tempos um anjo do Senhor descia ao tanque e a água se punha em movimento. E o primeiro que entrasse no tanque, depois da agitação da água, ficava curado de qualquer doença que tivesse.]

5.Estava ali um homem enfermo havia trinta e oito anos.

6.Vendo-o deitado e sabendo que já havia muito tempo que estava enfermo, perguntou-lhe Jesus: Queres ficar curado?

7.O enfermo respondeu-lhe: Senhor, não tenho ninguém que me ponha no tanque, quando a água é agitada; enquanto vou, já outro desceu antes de mim.

8.Ordenou-lhe Jesus: Levanta-te, toma o teu leito e anda.

9.No mesmo instante, aquele homem ficou curado, tomou o seu leito e foi andando. Ora, aquele dia era sábado.

10.E os judeus diziam ao homem curado: E sábado, não te é permitido carregar o teu leito.

11.Respondeu-lhes ele: Aquele que me curou disse: Toma o teu leito e anda.

12.Perguntaram-lhe eles: Quem é o homem que te disse: Toma o teu leito e anda?

13.O que havia sido curado, porém, não sabia quem era, porque Jesus se havia retirado da multidão que estava naquele lugar.

14.Mais tarde, Jesus o achou no templo e lhe disse: Eis que ficaste são; já não peques, para não te acontecer coisa pior.

15.Aquele homem foi então contar aos judeus que fora Jesus quem o havia curado.

16.Por esse motivo, os judeus perseguiam Jesus, porque fazia esses milagres no dia de sábado.

17.Mas ele lhes disse: Meu Pai continua agindo até agora, e eu ajo também.

18.Por esta razão os judeus, com maior ardor, procuravam tirar-lhe a vida, porque não somente violava o repouso do sábado, mas afirmava ainda que Deus era seu Pai e se fazia igual a Deus.

19.Jesus tomou a palavra e disse-lhes: Em verdade, em verdade vos digo: o Filho de si mesmo não pode fazer coisa alguma; ele só faz o que vê fazer o Pai; e tudo o que o Pai faz, o faz também semelhantemente o Filho.

20.Pois o Pai ama o Filho e mostra-lhe tudo o que faz; e maiores obras do que esta lhe mostrará, para que fiqueis admirados.

21.Com efeito, como o Pai ressuscita os mortos e lhes dá vida, assim também o Filho dá vida a quem ele quer.

22.Assim também o Pai não julga ninguém, mas entregou todo o julgamento ao Filho.

23.Desse modo, todos honrarão o Filho, bem como honram o Pai. Aquele que não honra o Filho, não honra o Pai, que o enviou.

24.Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna e não incorre na condenação, mas passou da morte para a vida.

25.Em verdade, em verdade vos digo: vem a hora, e já está aí, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus; e os que a ouvirem viverão.

26.Pois como o Pai tem a vida em si mesmo, assim também deu ao Filho o ter a vida em si mesmo,

27.e lhe conferiu o poder de julgar, porque é o Filho do Homem.

28.Não vos maravilheis disso, porque vem a hora em que todos os que se acham nos sepulcros sairão deles ao som de sua voz:

29.os que praticaram o bem irão para a ressurreição da vida, e aqueles que praticaram o mal ressuscitarão para serem condenados.

30.De mim mesmo não posso fazer coisa alguma. Julgo como ouço; e o meu julgamento é justo, porque não busco a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou.

31.Se eu der testemunho de mim mesmo, não é digno de fé o meu testemunho.

32.Há outro que dá testemunho de mim, e sei que é digno de fé o testemunho que dá de mim.

33.Vós enviastes mensageiros a João, e ele deu testemunho da verdade.

34.Não invoco, porém, o testemunho de homem algum. Digo-vos essas coisas, a fim de que sejais salvos.

35.João era uma lâmpada que arde e ilumina; vós, porém, só por uma hora quisestes alegrar-vos com a sua luz.

36.Mas tenho maior testemunho do que o de João, porque as obras que meu Pai me deu para executar - essas mesmas obras que faço - testemunham a meu respeito que o Pai me enviou.

37.E o Pai que me enviou, ele mesmo deu testemunho de mim. Vós nunca ouvistes a sua voz nem vistes a sua face...

38.e não tendes a sua palavra permanente em vós, pois não credes naquele que ele enviou.

39.Vós perscrutais as Escrituras, julgando encontrar nelas a vida eterna. Pois bem! São elas mesmas que dão testemunho de mim.

40.E vós não quereis vir a mim para que tenhais a vida...

41.Não espero a minha glória dos homens,

42.mas sei que não tendes em vós o amor de Deus.

43.Vim em nome de meu Pai, mas não me recebeis. Se vier outro em seu próprio nome, haveis de recebê-lo...

44.Como podeis crer, vós que recebeis a glória uns dos outros, e não buscais a glória que é só de Deus?

45.Não julgueis que vos hei de acusar diante do Pai; há quem vos acusa: Moisés, no qual colocais a vossa esperança.

46.Pois se crêsseis em Moisés, certamente creríeis em mim, porque ele escreveu a meu respeito.

47.Mas, se não acreditais nos seus escritos, como acreditareis nas minhas palavras?

domingo, dezembro 11, 2016

Um cais chamado saudade. Sônia Régis

Um cais chamado saudade
Sônia Régis


havia um porto
antes
ao alcance da vista

um ponto
onde as naus
suspendiam viagem

as velas arfavam
desenfunadas
e sonhavam

a lua sobre o mar
era um sabre
aparando a água

havia um porto
antes
ao alcance do corpo

(um ponto
onde hoje atraco a saudade
e mais nada)




na exígua laje
o nome em brasa

a primavera exala um odor patético
do peito do mármore
: a lâmina fina de tua morte me transpassa

da pedra ignara
um cancro floresce



a escrita
(como nos estudos de Leonardo)
é corpo dissecado

os músculos saltam dos traços
marcando a delicada anatomia
do rosto que a vida grafa

no desenho tosco:
o engenho do pensamento
nudez de nervos na página

A INSTITUIÇÃO DA EUCARISTIA

1337. Tendo amado os seus, o Senhor amou-os até ao fim. Sabendo que era chegada a hora de partir deste mundo para regressar ao Pai, no decorrer duma refeição, lavou-lhes os pés e deu-lhes o mandamento do amor (170). Para lhes deixar uma garantia deste amor, para jamais se afastar dos seus e para os tornar participantes da sua Páscoa, instituiu a Eucaristia como memorial da sua morte e da sua ressurreição, e ordenou aos seus Apóstolos que a celebrassem até ao seu regresso, «constituindo-os, então, sacerdotes do Novo Testamento» (171).

1338. Os três evangelhos sinópticos e São Paulo transmitiram-nos a narração da instituição da Eucaristia. Por seu lado, São João refere as palavras de Jesus na sinagoga de Cafarnaum, palavras que preparam a instituição da Eucaristia: Cristo designa-se a si próprio como o pão da vida, descido do céu (172).

1339. Jesus escolheu a altura da Páscoa para cumprir o que tinha anunciado em Cafarnaum: dar aos seus discípulos o seu corpo e o seu sangue:

«Veio o dia dos Ázimos, em que devia imolar-se a Páscoa. [Jesus] enviou então a Pedro e a João, dizendo: "Ide preparar-nos a Páscoa, para que a possamos comer" [...]. Partiram pois, [...] e prepararam a Páscoa. Ao chegar a hora, Jesus tomou lugar à mesa, e os Apóstolos com Ele. Disse-lhes então: "Tenho desejado ardentemente comer convosco esta Páscoa, antes de padecer. Pois vos digo que não voltarei a comê-la, até que ela se realize plenamente no Reino de Deus". [...] Depois, tomou o pão e, dando graças, partiu-o, deu-lho e disse-lhes: "Isto é o Meu corpo, que vai ser entregue por vós. Fazei isto em memória de Mim". No fim da ceia, fez o mesmo com o cálice e disse: "Este cálice é a Nova Aliança no meu sangue, que vai ser derramado por vós"» (Lc 22, 7-20) (173).

1340. Celebrando a última ceia com os seus Apóstolos, no decorrer do banquete pascal, Jesus deu o seu sentido definitivo à Páscoa judaica. Com efeito, a passagem de Jesus para o seu Pai, pela sua morte e ressurreição – a Páscoa nova – é antecipada na ceia e celebrada na Eucaristia, que dá cumprimento a Páscoa judaica e antecipa a Páscoa final da Igreja na glória do Reino. Catecismo

Um casal feliz

Exibindo 20130309_172336.jpg

No meio. Charles Fonseca. Prosa

NO MEIO
Charles Fonseca

Bela, corpo de mulher, seria como sereia não fosse as belas pernas que lhe conduzem na vida às belas praias, à comunidade espiritual, ao trabalho, à cozinha apetitosa como só ela sabe fazer. E como eu sei quanto é bom uma comidinha deliciosa à calda do amor. Não à cauda da sereia. Com essa seria um amar pela metade um querer e não poder, um gostar e não ter, uma tortura ver e não gozar. Ai, as águas de Iemanjá! Prefiro um quero agora, um vem que tem, não tem ninguém, por que eu gosto tanto desse assunto? Você não? Mentira. É todo dia de vez em quando pensando nas pernas que tem pra dar, nas nervuras a vibrar, nas contrações das pro posições. Pronto, agora é com você, no seu devaneio, no seu eu no meio.

Paisagens com palavras. Ieda Estergilda de Abreu

Paisagens com palavras
Ieda Estergilda de Abreu

A palavra passa
o gesto fica
o carro passa
o pé fica
o foguete passa
a estrela fica
o adeus passa
a mão fica
o abraço passa
o calor fica
a guitarra passa
a música fica
a bola passa
o jogo fica
o cabelo passa
a cabeça fica
os navios passam
o mar fica
os deuses passam
o homem-deus fica.

Escultura

Latona e seus filhos, Apolo e Ártemis - William Henry Rinehart, 1870. Museu Metropolitano:

São Marcos, 5

1.Passaram à outra margem do lago, ao território dos gerasenos.

2.Assim que saíram da barca, um homem possesso do espírito imundo saiu do cemitério

3.onde tinha seu refúgio e veio-lhe ao encontro. Não podiam atá-lo nem com cadeia, mesmo nos sepulcros,

4.pois tinha sido ligado muitas vezes com grilhões e cadeias, mas os despedaçara e ninguém o podia subjugar.

5.Sempre, dia e noite, andava pelos sepulcros e nos montes, gritando e ferindo-se com pedras.

6.Vendo Jesus de longe, correu e prostrou-se diante dele, gritando em alta voz:

7.Que queres de mim, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Conjuro-te por Deus, que não me atormentes.

8.É que Jesus lhe dizia: Espírito imundo, sai deste homem!

9.Perguntou-lhe Jesus: Qual é o teu nome? Respondeu-lhe: Legião é o meu nome, porque somos muitos.

10.E pediam-lhe com instância que não os lançasse fora daquela região.

11.Ora, uma grande manada de porcos andava pastando ali junto do monte.

12.E os espíritos suplicavam-lhe: Manda-nos para os porcos, para entrarmos neles.

13.Jesus lhos permitiu. Então os espíritos imundos, tendo saído, entraram nos porcos; e a manada, de uns dois mil, precipitou-se no mar, afogando-se.

14.Fugiram os pastores e narraram o fato na cidade e pelos arredores. Então saíram a ver o que tinha acontecido.

15.Aproximaram-se de Jesus e viram o possesso assentado, coberto com seu manto e calmo, ele que tinha sido possuído pela Legião. E o pânico apoderou-se deles.

16.As testemunhas do fato contaram-lhes como havia acontecido isso ao endemoninhado, e o caso dos porcos.

17.Começaram então a rogar-lhe que se retirasse da sua região.

18.Quando ele subia para a barca, veio o que tinha sido possesso e pediu-lhe permissão de acompanhá-lo.

19.Jesus não o admitiu, mas disse-lhe: Vai para casa, para junto dos teus e anuncia-lhes tudo o que o Senhor fez por ti, e como se compadeceu de ti.

20.Foi-se ele e começou a publicar, na Decápole, tudo o que Jesus lhe havia feito. E todos se admiravam.

21.Tendo Jesus navegado outra vez para a margem oposta, de novo afluiu a ele uma grande multidão. Ele se achava à beira do mar, quando

22.um dos chefes da sinagoga, chamado Jairo, se apresentou e, à sua vista, lançou-se-lhe aos pés,

23.rogando-lhe com insistência: Minha filhinha está nas últimas. Vem, impõe-lhe as mãos para que se salve e viva.

24.Jesus foi com ele e grande multidão o seguia, comprimindo-o.

25.Ora, havia ali uma mulher que já por doze anos padecia de um fluxo de sangue.

26.Sofrera muito nas mãos de vários médicos, gastando tudo o que possuía, sem achar nenhum alívio; pelo contrário, piorava cada vez mais.

27.Tendo ela ouvido falar de Jesus, veio por detrás, entre a multidão, e tocou-lhe no manto.

28.Dizia ela consigo: Se tocar, ainda que seja na orla do seu manto, estarei curada.

29.Ora, no mesmo instante se lhe estancou a fonte de sangue, e ela teve a sensação de estar curada.

30.Jesus percebeu imediatamente que saíra dele uma força e, voltando-se para o povo, perguntou: Quem tocou minhas vestes?

31.Responderam-lhe os seus discípulos: Vês que a multidão te comprime e perguntas: Quem me tocou?

32.E ele olhava em derredor para ver quem o fizera.

33.Ora, a mulher, atemorizada e trêmula, sabendo o que nela se tinha passado, veio lançar-se-lhe aos pés e contou-lhe toda a verdade.

34.Mas ele lhe disse: Filha, a tua fé te salvou. Vai em paz e sê curada do teu mal.

35.Enquanto ainda falava, chegou alguém da casa do chefe da sinagoga, anunciando: Tua filha morreu. Para que ainda incomodas o Mestre?

36.Ouvindo Jesus a notícia que era transmitida, dirigiu-se ao chefe da sinagoga: Não temas; crê somente.

37.E não permitiu que ninguém o acompanhasse, senão Pedro, Tiago e João, irmão de Tiago.

38.Ao chegar à casa do chefe da sinagoga, viu o alvoroço e os que estavam chorando e fazendo grandes lamentações.

39.Ele entrou e disse-lhes: Por que todo esse barulho e esses choros? A menina não morreu. Ela está dormindo.

40.Mas riam-se dele. Contudo, tendo mandado sair todos, tomou o pai e a mãe da menina e os que levava consigo, e entrou onde a menina estava deitada.

41.Segurou a mão da menina e disse-lhe: Talita cumi, que quer dizer: Menina, ordeno-te, levanta-te!

42.E imediatamente a menina se levantou e se pôs a caminhar (pois contava doze anos). Eles ficaram assombrados.

43.Ordenou-lhes severamente que ninguém o soubesse, e mandou que lhe dessem de comer.

sábado, dezembro 10, 2016

Michelangelo. Pintura

"The Dream" by Michaelangelo

FEIA. Charles Fonseca. Poesia

FEIA
Charles Fonseca

Eu te acho muito feia
Chegas a ser mui feiosa
Tudo bem mas és gostosa
A risada mela, creia,

Pois se és tanto assim
Tu sabes que o oposto
Quanto mais forte o desgosto
Mais o facho murcha sim

É que estão verdes as uvas
O mar não virou sertão
Olha bela, digo não,
És tanto que a vista turva

Fica só de ver-te a tez
Deves ter pele macia
Profundezas... agonias,
Desisto, és feia, de vez!

Rita Lee e Ney Mato Grosso Balada do Louco cantando ao vivo

sexta-feira, dezembro 09, 2016

Como o universo foi criado?

Praça Municipal de Salvador. Charles Fonseca. Prosa

PRAÇA MUNICIPAL DE SALVADOR
Charles Fonseca

Ali vi o prefeito Virgildásio Sena ser preso pela ditadura. Ali recebi uma coronhada de fuzil. Ali me encostei num canto da praça enquanto a soldadesca batia. Ali perdi aquela que nunca veio a ser minha namorada. Ali acabou uma tarde de domingo após ver capoeira de Angola do Mestre Pastinha antes dele ir à África e de nunca mais ver a luz do sol. As mulheres ao fim da tarde em vestidos saia rodada e perfumes faziam que não viam os olhares gulosos dos homens a fumar. A mulher do roxo ali desfilava, mistura de dama e mendiga, freira e noiva abandonada ao altar. Que havia naquela alma, no seu coração a não ser sobre seus fartos peitos um humilde crucifixo a balouçar?

Araquém Alcântara. Fotografia,

Lago Manariá, de Araquém Alcântara, na Fotospot: http://www.fotospot.com.br/catalogo/araquem-alcantara/aal-013-araquem-alcantara-lago-manaria/:

A Eucaristia na economia da salvação

OS SINAIS DO PÃO E DO VINHO

1333. No centro da celebração da Eucaristia temos o pão e o vinho que, pelas palavras de Cristo e pela invocação do Espírito Santo, se tornam o corpo e o sangue do mesmo Cristo. Fiel à ordem do Senhor, a Igreja continua a fazer, em memória d'Ele e até à sua vinda gloriosa, o que Ele fez na véspera da sua paixão: «Tomou o pão...», «Tomou o cálice com vinho...». Tornando-se misteriosamente o corpo e o sangue de Cristo, os sinais do pão e do vinho continuam a significar também a bondade da criação. Por isso, no ofertório [apresentação das oferendas], nós damos graças ao Criador pelo pão e pelo vinho (164), fruto «do trabalho do homem», mas primeiramente «fruto da terra» e «da videira», dons do Criador. A Igreja vê no gesto de Melquisedec, rei e sacerdote, que «ofereceu pão e vinho» (Gn 14, 18), uma prefiguração da sua própria oferenda (165).

1334. Na Antiga Aliança, o pão e o vinho são oferecidos em sacrifício entre as primícias da terra, em sinal de reconhecimento ao Criador. Mas também recebem uma nova significação no contexto do Êxodo: os pães ázimos que Israel come todos os anos na Páscoa, comemoram a pressa da partida libertadora do Egipto; a lembrança do maná do deserto recordará sempre a Israel que é do pão da Palavra de Deus que ele vive (166). Finalmente, o pão de cada dia é o fruto da terra prometida, penhor da fidelidade de Deus às suas promessas. O «cálice de bênção» (1 Cor 10, 16), no fim da ceia pascal dos judeus, acrescenta à alegria festiva do vinho uma dimensão escatológica – a da expectativa messiânica do restabelecimento de Jerusalém. Jesus instituiu a sua Eucaristia dando um sentido novo e definitivo à bênção do pão e do cálice.

1335. Os milagres da multiplicação dos pães, quando o Senhor disse a bênção, partiu e distribuiu os pães pelos seus discípulos para alimentar a multidão, prefiguram a superabundância deste pão único da sua Eucaristia (167). O sinal da água transformada em vinho em Caná (168) já anuncia a «Hora» da glorificação de Jesus. E manifesta o cumprimento do banquete das núpcias no Reino do Pai, onde os fiéis beberão do vinho novo (169) tornado sangue de Cristo.

1336. O primeiro anúncio da Eucaristia dividiu os discípulos, tal como o anúncio da paixão os escandalizou: «Estas palavras são insuportáveis! Quem as pode escutar?» (Jo 6, 60). A Eucaristia e a cruz são pedras de tropeço. É o mesmo mistério e não cessa de ser ocasião de divisão. «Também vos quereis ir embora?» (Jo 6, 67): esta pergunta do Senhor ecoa através dos tempos, como convite do seu amor a descobrir que só Ele tem «palavras de vida eterna» (Jo 6, 68) e que acolher na fé o dom da sua Eucaristia é acolhê-1'O a Ele próprio.

Catecismo

Escultura

"O Desterrado" - Antonio Soares dos Reis Portugal. / "The Outcast" - Antonio Soares dos Reis Portugal.:

quinta-feira, dezembro 08, 2016

Quantas voltas você já deu em volta do Sol?

Matisse. Pintura

peixinhos                                                                                                                                                                                 Mais:

Por que? Charles Fonseca. Prosa

POR QUE?
Charles Fonseca

Se há uma coisa que gosto é intimidade. Unha com carne, olho no olho, chamego, xodó, cheiro de mulher, alfazema de bebê, sofrer de tanto amar, saudade, vontade de ver, ouvir um lamento, um só pensamento, juntinho a sós, sem o amor que será de nós, dos vós, onde avós, fiquei sem voz, és surdo, é tudo? Tu és hominídeo ou és digital e eu analógico? Pareço com quem e tu mais a quem? Foi tudo um sonho, foi só brincadeira, não pense asneira, estranho bisonho. Eu quero sonhar, sorrir, lamentar. Embora me vá ainda estou e quando me for não vás lamentar. É tarde sol posto saudade desgosto por que esta minha mania de tudo rimar? Que chato, eu quero escrever em prosa sem métrica rima olhar mais pra cima eu quero a gostosa a tua risada sem ti tudo é mundinho, me mudo, contudo, por que tanto amar?

quarta-feira, dezembro 07, 2016

Eu sei que vou te amar - Toquinho e Orquestra Arte Viva - Vinicius Jobim

Autopsicografia. Fernando Pessoa. Poesia

Autopsicografia
Fernando Pessoa

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração

Escultura

Terracotta statuette of nude Eros flying. Greek. Late 2nd century B.C. | The Museum of Fine Arts, Boston:

Cronicamente. Charles Fonseca.Prosa

CRONICAMENTE
Charles Fonseca

Como escrever esta crônica? Sem assunto, paixão, razão, quem vai ler esta zorra, por piedade? Não é pra ganhar dinheiro, converter incréus, arrebanhar fiéis, é só um passatempo enquanto espero dar uma boa caminhada numa esteira rolante, avaliação cardiológica de rotina, você crê? Mas meu coração vai até bem depois de tanto pára e anda, para onde, com quem, você vem ou eu vou? Gostou da mudança? Eu também. Mas o tal do cardiologista está demorando de me atender ou fartô ao trabaio cumpanhêro? Um soslaio, um piscar d’olhos, a recepcionista sorri plastificado e eu acoitado nesse cantinho da sala, solo, a amada que adoro foi dar uma voltinha no em torno e eu retorno ao início. Será que já é uma crônica ou só um lero lero eu quero, eu quero, você não? É só mão na mão, tudo foi ilusão, me atacou um tesão, agora não, daqui a pouco, eu também quero... “– Sr. Charles, por favor!” Logo agora que estava esquentando?

terça-feira, dezembro 06, 2016

Muitos só conseguem ler ou ouvir síntese

A grande mentira elabora grande argumento etéreo

Senhor Imperador. Renata Pallottini. Poesia

SENHOR IMPERADOR
Renata Pallottini

Senhor Imperador:
escrevo-lhe estas linhas
em nome das mulheres
— as pobres e as rainhas.

Em nome das manhãs
que nascerão sem paz;
em nome das crianças
que nascerão sem pais.

Senhor Imperador:
se é bom fazer a guerra
por que não vai você
o homem que não erra?

Se a pátria pede sangue
por que não dá o seu?
Por que matar o moço
que ainda não viveu?

Um Deus que não o seu
louvando a vida humana
virá pra nos salvar
da garra dos tiranos

dos amantes da morte,
dos senhores da Dor.
Terá fim o seu crime,
Senhor Imperador!

Bruna Karla - Nasce Jesus - 2014 [Natal] (Com Letra)

Patatí. Charles Fonseca,Prosa,

PATATI
Charles Fonseca

E lá se vão décadas. Patatí, patatá, dei-lhe meu número de telefone. Pedi o dela, ela não respondeu. Que foi que lhe deu? Onde foi que mordeu? Também fiz que não entendi. Melhor pra mim, melhor pra ela. As paredes têm ouvidos, também podem escutar. Agora posso contar. Nesse novo modo de escrever, teclo o que não sei dizer, o que não soube nem nunca saber hei.

In Medio Ecclesiae (Common of Doctors, Introit)

segunda-feira, dezembro 05, 2016

São Mateus, 5

1.Vendo aquelas multidões, Jesus subiu à montanha. Sentou-se e seus discípulos aproximaram-se dele.

2.Então abriu a boca e lhes ensinava, dizendo:

3.Bem-aventurados os que têm um coração de pobre, porque deles é o Reino dos céus!

4.Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados!

5.Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra!

6.Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados!

7.Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia!

8.Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus!

9.Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus!

10.Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos céus!

11.Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra vós por causa de mim.

12.Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós.

13.Vós sois o sal da terra. Se o sal perde o sabor, com que lhe será restituído o sabor? Para nada mais serve senão para ser lançado fora e calcado pelos homens.

14.Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre uma montanha

15.nem se acende uma luz para colocá-la debaixo do alqueire, mas sim para colocá-la sobre o candeeiro, a fim de que brilhe a todos os que estão em casa.

16.Assim, brilhe vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus.

17.Não julgueis que vim abolir a lei ou os profetas. Não vim para os abolir, mas sim para levá-los à perfeição.

18.Pois em verdade vos digo: passará o céu e a terra, antes que desapareça um jota, um traço da lei.

19.Aquele que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e ensinar assim aos homens, será declarado o menor no Reino dos céus. Mas aquele que os guardar e os ensinar será declarado grande no Reino dos céus.

20.Digo-vos, pois, se vossa justiça não for maior que a dos escribas e fariseus, não entrareis no Reino dos céus.

21.Ouvistes o que foi dito aos antigos: Não matarás, mas quem matar será castigado pelo juízo do tribunal.

22.Mas eu vos digo: todo aquele que se irar contra seu irmão será castigado pelos juízes. Aquele que disser a seu irmão: Raca, será castigado pelo Grande Conselho. Aquele que lhe disser: Louco, será condenado ao fogo da geena.

23.Se estás, portanto, para fazer a tua oferta diante do altar e te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti,

24.deixa lá a tua oferta diante do altar e vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; só então vem fazer a tua oferta.

25.Entra em acordo sem demora com o teu adversário, enquanto estás em caminho com ele, para que não suceda que te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao seu ministro e sejas posto em prisão.

26.Em verdade te digo: dali não sairás antes de teres pago o último centavo.

27.Ouvistes que foi dito aos antigos: Não cometerás adultério.

28.Eu, porém, vos digo: todo aquele que lançar um olhar de cobiça para uma mulher, já adulterou com ela em seu coração.

29.Se teu olho direito é para ti causa de queda, arranca-o e lança-o longe de ti, porque te é preferível perder-se um só dos teus membros, a que o teu corpo todo seja lançado na geena.

30.E se tua mão direita é para ti causa de queda, corta-a e lança-a longe de ti, porque te é preferível perder-se um só dos teus membros, a que o teu corpo inteiro seja atirado na geena.

31.Foi também dito: Todo aquele que rejeitar sua mulher, dê-lhe carta de divórcio.

32.Eu, porém, vos digo: todo aquele que rejeita sua mulher, a faz tornar-se adúltera, a não ser que se trate de matrimônio falso; e todo aquele que desposa uma mulher rejeitada comete um adultério.

33.Ouvistes ainda o que foi dito aos antigos: Não jurarás falso, mas cumprirás para com o Senhor os teus juramentos.

34.Eu, porém, vos digo: não jureis de modo algum, nem pelo céu, porque é o trono de Deus;

35.nem pela terra, porque é o escabelo de seus pés; nem por Jerusalém, porque é a cidade do grande Rei.

36.Nem jurarás pela tua cabeça, porque não podes fazer um cabelo tornar-se branco ou negro.

37.Dizei somente: Sim, se é sim; não, se é não. Tudo o que passa além disto vem do Maligno.

38.Tendes ouvido o que foi dito: Olho por olho, dente por dente.

39.Eu, porém, vos digo: não resistais ao mau. Se alguém te ferir a face direita, oferece-lhe também a outra.

40.Se alguém te citar em justiça para tirar-te a túnica, cede-lhe também a capa.

41.Se alguém vem obrigar-te a andar mil passos com ele, anda dois mil.

42.Dá a quem te pede e não te desvies daquele que te quer pedir emprestado.

43.Tendes ouvido o que foi dito: Amarás o teu próximo e poderás odiar teu inimigo.

44.Eu, porém, vos digo: amai vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos [maltratam e] perseguem.

45.Deste modo sereis os filhos de vosso Pai do céu, pois ele faz nascer o sol tanto sobre os maus como sobre os bons, e faz chover sobre os justos e sobre os injustos.

46.Se amais somente os que vos amam, que recompensa tereis? Não fazem assim os próprios publicanos?

47.Se saudais apenas vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? Não fazem isto também os pagãos?

48.Portanto, sede perfeitos, assim como vosso Pai celeste é perfeito.