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sábado, novembro 26, 2016

O trote. Charles Fonseca. Prosa

O TROTE
Charles Fonseca

Idos de 1962. Do medieval trote dos calouros de medicina na Bahia constava cortar os cabelos dos calouros, pintá-los de verde, tinta a óleo, amarrá-los pelos pulsos, corda de mão a mão e sair pelas ruas a fazer discursos cujos temas eram dados pelos veteranos. Um deles, a importância do arroto do urubu nos acidentes aéreos, e por aí vai. Dois nigerianos ficaram livres do constrangimento. Um moçambiquense, barbicha, foi o alvo da vez. Mas ele deu a testa, como se dizia e resolveu que quem se aproximasse dele ele sairia no pau. Não foi preciso, os assediantes ante tanta garra se intimidaram. Era um poeta e dedilhava um violãozinho. O mundo girou décadas. Encontrei-me com ele novamente num laboratório do Hospital das Clínicas da UFBa. Estava ali passando uma chuva, disse ele, até que houvesse nova movimentação política quando de novo voltaria para a pátria amada.

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