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segunda-feira, fevereiro 29, 2016

SAUDADES. Charles Fonseca. Poesia

SAUDADES
Charles Fonseca

Me acompanha olhar triste
Tenho a alma enxovalhada
Longa tem sido a estrada
Não levanto dedo em riste

Riste, meu caro amigo
Choras e chove lá fora
Mas temos também auroras
Arrebóis alegram os tristes.

Tenho mulher amada
Filhos vão bem na vida
Um cão que uiva à saída
Saudade da enteada.

Cunhada. Fotografia


Limpo de mãos e puro de coração. Fotografia. Eurico Fonseca


domingo, fevereiro 28, 2016

Colmeia. Fotografia. Charles Fonseca.


Amanhã será outro dia. Charles Fonseca. Fotografia


PERGUNTO AO RELÓGIO. Charles Fonseca. Poesia

PERGUNTO AO RELÓGIO
Charles Fonseca

Por que não te adiantas relógio
Por que não a posso logo ver
Ao menos ouvi-la, alegra o ser
Por que não te adiantas relógio?

Por que não te atrasas relógio
No tempo do meu passado
Quando a ouvi, toquei, bom fado
Por que não te atrasas relógio?

Por me opões tão longa prova
De ficar dela só com a imagem
Longa estrada, longa viagem,
Até que a abrace a beije em nova?

sábado, fevereiro 27, 2016

Brasília. Juscelino Kubitschek e Lucio Costa. Fotografia


O Norte me chama. Charles Fonseca. Fotografia


JOEL E CARMITA. Charles Fonseca. Poesia

JOEL E CARMITA
Charles Fonseca

Teus anos já são sessenta
De casados sob o amor
Baluartes contra a dor
Sois exemplo para quem entra

No doce convívio casal
No drama do que é humano
Ser mais que ter cada ano
Juntos até o final

Desta vida que de abrolhos
Que também é de ventura
Vossa herança é a pura
Vivência, abrem-nos olhos.

O escorpião sempre pica

Johan Adalbert Angermayer. Pintura.


Bouquet of Flowers with Animals
1704
ANGERMAYER, Johann Adalbert (1674-1740) Baroque Bohemian painter (Prague)

quinta-feira, fevereiro 25, 2016

Comentário da Beata Teresa de Calcutá

Cristo disse: «Tive fome e destes-Me de comer» (Mt 25, 35). E não teve fome só de pão, mas também da estima acolhedora que nos permite sentirmo-nos amados, reconhecidos, sermos alguém aos olhos de outrem. Ele não foi desprovido só das suas vestes, mas também da dignidade e do respeito humano, pela grande injustiça que é cometida com o pobre, que é precisamente ser desprezado por ser pobre. Não só foi privado de um tecto, mas também sofreu as privações por que passam os encarcerados, os rejeitados e os escorraçados, aqueles que vagueiam pelo mundo sem ter ninguém que trate deles.

Ao desceres a rua, sem outro propósito senão esse, talvez atentes no homem que está ali à esquina, e vás ao seu encontro. Talvez ele fique de pé atrás, mas tu colocas-te na sua frente. Tens de irradiar a presença que trazes dentro de ti com o amor e a atenção que dás ao homem a quem te diriges. E porquê? Porque, para ti, Ele é Jesus. Sim, é Jesus, mas não pode receber-te em sua casa — é por isso que tens de ser tu a dirigir-te a Ele. Ele está escondido ali, naquela pessoa. Jesus, oculto no mais pequenino dos irmãos (Mt 25, 40), cheio de fome de pão, mas também de amor, de reconhecimento, de ser tido como alguém com valor.

Chopin Piano Concerto No. 1 Op.11 Evgeny Kissin

Chesterton. Autobiografia


Não estou aqui defendendo doutrinas como a do Sacramento da Penitência, e tampouco aquela igualmente atordoante doutrina do amor divino pelo homem. Não estou escrevendo um livre de polemica religiosa, dos quais escrevi vários e dos quais provavelmente irei escrever outras ainda, a menos que seja violentamente detido por amigos e parentes. Estou aqui empenhado a mórbida e aviltante tarefa de estabelecer quais foram realmente os efeitos de tais doutrinas em meus próprios sentimentos e ações. E estou, pela própria natureza da tarefa, especialmente preocupado com o fato de que essas doutrinas me parecem se ligar a toda a minha vida, desde seu princípio, como quaisquer outras doutrinas jamais poderiam, e em especial resolver simultaneamente os dois problemas da minha alegria infantil e da minha permanente cisma de quando garoto. E elas influenciaram especialmente uma ideia principal da minha vida não direi que a doutrina que sempre ensinei, mas a doutrina que eu sempre teria gostado de ensinar. É a ideia de aceitar as coisas com gratidão e de não dá-las sempre por certas e garantidas.

ANDORINHA. Charles Fonseca. Poesia

ANDORINHA
Charles Fonseca

Ave de arribação com dor caminho,
Do sul voejo ao norte em triste sorte.
Deixei lá no seu ninho os meus filhotes
Exausto sangro ao corte, andorinha.

Pousei em outro ninho, ave sozinha
- Aqui repousa, ave, disse-me ela
Sou tua, és de mim não outro, a longa espera
Descansa, há outra era, em mim te aninha.

Marcio Vasconcelos. Fotografia

É melhor morar num canto de telhado do que ter como companheira em casa ampla uma mulher briguenta. Provérbios 21:9

quarta-feira, fevereiro 24, 2016

Filho. José Saramago

Fotografia. Autor desconhecido
















As Sete Idades Do Homem. William Shakespeare

As sete idades do homem
William Shakespeare

O mundo inteiro é um palco,

E todos os homens e mulheres são meros atores:

Eles têm suas saídas e suas entradas;

E um homem cumpre em seu tempo muitos papéis.

Seus atos se distribuem por sete idades.

1ª No início a criança

Choraminga e regurgita nos braços da mãe.

2ª E mais tarde o garoto se queixa com sua mochila,

E seu rosto iluminado pela manhã, arrastando-se como uma lesma

Sem vontade de ir à escola.

3ªE então o apaixonado,

Suspirando como um forno, com uma balada aflita,

Feita para os olhos da sua amada.

4ªDepois o soldado,

Cheio de juramentos estranhos, com a barba de um leopardo,

Zeloso de sua honra, rápido e súbito na briga,

Buscando a bolha ilusória da reputação

Até mesmo na boca de um canhão.

5ª E então vem a justiça,

Com uma grande barriga arredondada pelo consumo de frangos gordos,

Com olhos severos e barba bem cortada,

Cheio de aforismos sábios e argumentos modernos.

E assim ele cumpre seu papel.

6ª A sexta idade o introduz

Na pobre situação de velho bobo de chinelos,

Com óculos no nariz e a bolsa do lado,

Suas calças estreitas guardadas, o mundo demasiado largo para elas,

Suas canelas encolhidas, e sua grande voz masculina

Quebrando-se e voltando-se outra vez para os sons agudos,

Os sopros e assobios da infância.

7ª A última cena de todas,

Que termina sua estranha e acidentada história,

É a segunda infância e o mero esquecimento,

Sem dentes, sem mais visão, sem gosto, sem coisa alguma.

Vivien Meier. Fotografia

vivianmaier2

Vem pra rua.

Clique: http://www.mapa.vemprarua.net/

O sertão não virou mar.

Comentário de Imitação de Cristo

Não te preocupes muito se alguém é por ti ou contra ti, mas procede e ocupa-te de modo a que Deus esteja contigo em tudo quanto faças. Consegue uma consciência pura, que Deus te defenderá bem. […]

Se souberes calar-te e sofrer, verás sem dúvida o auxílio do Senhor. Ele conhece o tempo e o modo de te libertar, e por isso a Ele te deves submeter. É próprio de Deus ajudar e libertar de toda a confusão.

Muitas vezes, é mais útil para a conservação da nossa humildade que os outros conheçam os nossos defeitos e os censurem. Quando um homem se humilha por causa dos seus defeitos, acalma os outros facilmente e satisfaz sem custo os que com ele se iravam.

Deus protege e liberta o humilde, ama-o e consola-o. Inclina-Se para ele e dá-lhe grande graça; e, depois do seu abatimento, eleva-o à glória. Revela os seus segredos ao humilde, arrasta-o e convida-o docemente para Si. E ele, mesmo na confusão, vive em paz, porque se firma em Deus e não no mundo. Não julgues ter adiantado em qualquer coisa se não te sentires inferior a todos.

Angelluccio. Pintura


Rural Scene
1640s
ANGELUCCIO c. 1620-c. 1650) Baroque Italian painter (Rome)

SE. Charles Fonseca. Poesia

SE

Charles Fonseca

Um coração generoso
De tanta pancada cobriu-se
De ferro em couraça cingiu-se
Tanto sofreu que flexou-se

Sua alma exangue verteu-se
O doce olhar seu fechou-se
Não mais a ver-me crispou-se
Até não mais ter-me adeuses.

terça-feira, fevereiro 23, 2016

ANÚNCIO COMPUTADOR. Charles Fonseca. Poesia

ANÚNCIO COMPUTADOR
Charles Fonseca

Preciso de outra, substituta
Pro meu coração que foi magoado
Que pouco quer, quer só ser amado
Que seja mulher de bem, computa!

Que não concorra em outra luta
Tal qual mulher do augusto César
Que parecia séria, não era
Que só o ouro queria em disputa!

O menino é pai do homem. Machado de Assis. Prosa

O menino é pai do homem
Machado de Assis

Cresci; e nisso é que a família não interveio; cresci naturalmente, como crescem as magnólias e os gatos. Talvez os gatos são menos matreiros, e, com certeza, as magnólias são menos inquietas do que eu era na minha infância. Um poeta dizia que o menino é pai do homem. Se isto é verdade, vejamos alguns lineamentos do menino.
Desde os cinco anos merecera eu a alcunha de «menino diabo»; e verdadeiramente não era outra cousa; fui dos mais malignos do meu tempo, arguto, indiscreto, traquinas e voluntarioso. Por exemplo, um dia quebrei a cabeça de uma escrava, porque me negara uma colher do doce de coco que estava fazendo, e, não contente com o malefício, deitei um punhado de cinza ao tacho, e, não satisfeito da travessura, fui dizer à minha mãe que a escrava é que estragara o doce «por pirraça»; e eu tinha apenas seis anos. Prudêncio, um moleque de casa, era o meu cavalo de todos os dias; punha as mãos no chão, recebia um cordel nos queixos, à guisa de freio, eu trepava-lhe ao dorso, com uma varinha na mão, fustigava-o, dava mil voltas a um e outro lado, e ele obedecia, -- algumas vezes gemendo,-- mas obedecia sem dizer palavra, ou, quando muito, um -- «ai, nhonhô!» -- ao que eu retorquia: -- «Cala a boca, besta!» -- Esconder os chapéus das visitas, deitar rabos de papel a pessoas graves, puxar pelo rabicho das cabeleiras, dar beliscões nos braços das matronas, e outras muitas façanhas deste jaez, eram mostras de um gênio indócil, mas devo crer que eram também expressões de um espírito robusto, porque meu pai tinha-me em grande admiração; e se às vezes me repreendia, à vista de gente, fazia-o por simples formalidade: em particular dava-me beijos.

Não se conclua daqui que eu levasse todo o resto da minha vida a quebrar a cabeça dos outros nem a esconder-lhes os chapéus; mas opiniático, egoísta e algo contemptor dos homens, isso fui; se não passei o tempo a esconder-lhes os chapéus, alguma vez lhes puxei pelo rabicho das cabeleiras.

Outrossim, afeiçoei-me à contemplação da injustiça humana, inclinei-me a atenuá-la, a explicá-la, a classificá-la por partes, a entendê-la, não segundo um padrão rígido, mas ao sabor das circunstâncias e logares. Minha mãe doutrinava-me a seu modo, fazia-me decorar alguns preceitos e orações; mas eu sentia que, mais do que as orações, me governavam os nervos e o sangue, e a boa regra perdia o espírito, que a faz viver, para se tomar uma vã fórmula. De manhã, antes do mingau, e de noite, antes da cama, pedia a Deus que me perdoasse, assim como eu perdoava aos meus devedores; mas entre a manhã e a noite fazia uma grande maldade, e meu pai, passado o alvoroço, dava-me pancadinhas na cara, e exclamava a rir: Ah! brejeiro! ah! brejeiro!

Sim, meu pai adorava-me. Minha mãe era uma senhora fraca, de pouco cérebro e muito coração, assaz crédula, sinceramente piedosa, -- caseira, apesar de bonita, e modesta, apesar de abastada; temente às trovoadas e ao marido. O marido era na terra o seu deus. Da colaboração dessas duas creaturas nasceu a minha educação, que, se tinha alguma cousa boa, era no geral viciosa, incompleta, e, em partes, negativa. Meu tio cônego fazia às vezes alguns reparos ao irmão; dizia-lhe que ele me dava mais liberdade do que ensino e mais afeição do que emenda; mas meu pai respondia que aplicava na minha educação um sistema inteiramente superior ao sistema usado; e por este modo, sem confundir o irmão, iludia-se a si próprio.

De envolta com a transmissão e a educação, houve ainda o exemplo estranho, o meio doméstico. Vimos os pais; vejamos os tios. Um deles, o João, era um homem de língua solta, vida galante, conversa picaresca. Desde os onze anos entrou a admitir-me às anedotas reais ou não, eivadas todas de obscenidade ou imundície. Não me respeitava a adolescência, como não respeitava a batina do irmão; com a diferença que este fugia logo que ele enveredava por assunto escabroso. Eu não; deixava-me estar, sem entender nada, a princípio, depois entendendo e enfim achando-lhe graça. No fim de certo tempo, quem o procurava era eu; e ele gostava muito de mim, dava-me doces, levava-me a passeio. Em casa, quando lá ia passar alguns dias, não poucas vezes me aconteceu achá-lo, no fundo da chácara, no lavadouro, a palestrar com as escravas que batiam roupa; aí é que era um desfiar de anedotas, de ditos, de perguntas, e um estalar de risadas, que ninguém podia ouvir, porque o lavadouro ficava muito longe de casa. As pretas, com uma tanga no ventre, a arregaçar-lhes um palmo dos vestidos, umas dentro do tanque, outras fora, inclinadas sobre as peças de roupa, a batê-las, a ensaboá-las, a torcê-las, iam ouvindo e redarguindo às pilhérias do tio João, e a comentá-las de quando em quando com esta palavra:

-- Cruz, diabo!... Este sinhô João é o diabo!

Bem diferente era o tio cônego. Esse tinha muita austeridade e pureza; tais dotes, contudo, não realçavam um espírito superior, apenas compensavam um espírito medíocre. Não era homem que visse a parte substancial da igreja; via o lado externo, a hierarquia, as preeminências, as sobrepelizes, as circunflexões. Vinha antes da sacristia que do altar. Uma lacuna no ritual excitava-o mais do que uma infração dos mandamentos. Agora, a tantos anos de distância, não estou certo se ele poderia atinar facilmente com um trecho de Tertuliano, ou expor, sem titubear, a história do símbolo de Nicéia; mas ninguém, nas festas cantadas, sabia melhor o número e caso das cortesias que se deviam ao oficiante. Cônego foi a única ambição de sua vida; e dizia de coração que era a maior dignidade a que podia aspirar. Piedoso, severo nos costumes, minucioso na observância das regras, frouxo, acanhado, subalterno, possuía algumas virtudes, em que era exemplar, mas carecia absolutamente da força de as incutir, de as impor aos outros.

Não digo nada de minha tia materna, D. Emerenciana, e aliás era a pessoa que mais autoridade tinha sobre mim; essa diferençava-se grandemente dos outros; mas viveu pouco tempo em nossa companhia, uns dous anos. Outros parentes e alguns íntimos não merecem a pena de ser citados; não tivemos uma vida comum, mas intermitente, com grandes claros de separação. O que importa é a expressão geral do meio doméstico, e essa aí fica indicada, -- vulgaridade de caracteres, amor das aparências rutilantes, do arruído, frouxidão da vontade, domínio do capricho, e o mais. Dessa terra e desse estrume é que nasceu esta flor.

Evandro Teixeira. Fotografia

Ex-pastor protestante diz: “A Bíblia leva-nos a Roma”

Clique: http://www.bibliacatolica.com.br/blog/categoria/protestantismo/

segunda-feira, fevereiro 22, 2016

QUEBRA-QUEIXO. Charles Fonseca. Poesia

QUEBRA-QUEIXO
Charles Fonseca

Quando ela foi embora
Restou um ebó na esquina
Um galo velho de rinha
Cachaça, fumo, farofa

Faltou-lhe o principal
Oh, que supremo desleixo
Faltou doce quebra-queixo
Incompleto o ritual.

Elliott Erwitt. Fotografia

20. Símbolos, atas de martírio, epitáfios, literatura...


No Novo Testamento existem numerosas profissões de fé (cfr. At 8,37; 1Cor 12,13; Rm 10,9; Fl 2,11; 1Cor 15,3s; 1Cor 8,6; 2Cor 13,14; 1Cor 12,4) resumindo pontos essenciais do cristianismo. Os primeiros símbolos datados da metade do século II se inspiram no mandamento de Jesus acerca do batismo em nome da Santíssima Trindade (Mt 28,19). Antes do batismo os catecúmenos eram interrogados pelo ministro, fazendo sua profissão de fé no Pai, no Filho e no Espírito Santo.

Inúmeras homilias e atas de martírios são conhecidas deste período. Destaques: a Homilia de Melitão sobre a Páscoa, o Martírio de Policarpo, a Carta das Igrejas de Viena e Lyon às igrejas da Ásia e da Frígia, as Atas dos mártires de Scili.

O epitáfio de Abércio de Hierápolis, do final do século II, é o monumento de pedra mais antigo que se refere à eucaristia. Abércio tinha sido bispo de Hierápolis, na Frígia. Aos 72 anos de idade mandou fazer a inscrição, na qual fala, entre outras coisas, do seu envio a Roma pelo Pastor, encontrando por toda parte irmãos na fé, dos quais recebeu o "peixe" (ICHTHYS, em grego, abreviação de "Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador" - a iconografia cristã aproveitará esta simbologia), vinho misturado e pão. Atesta o costume cristão de se orar pelos mortos.

O epitáfio de Pectório, para alguns do início do séc. II, para outros do séc. III ou IV, fala do batismo, "fonte imortal das águas divinas", da eucaristia, "alimento melífluo do Redentor dos santos", "peixe que sustentas nas mãos". Pectório pede a seus pais falecidos que se recordem dele "na paz do peixe".

A quantidade de evangelhos e epístolas gnósticas que circulavam no segundo século é enorme: o Evangelho de Tomé, o Apocryphon de João, a carta de Tiago, o Evangelho de Maria, a Sabedoria de Jesus Cristo, os dois livros de Jeú, o Evangelho de Matias...

Também o número de apócrifos não-gnósticos (livros não-canônicos) é elevado: O Testamento dos doze patriarcas, o Martírio e a ascensão de Isaías, os Oráculos sibilinos, o Evangelho dos Nazoreus, dos ebionitas, dos hebreus, dos egípcios, de Pedro, a epístola dos Apóstolos, o Proto-evangelho de Tiago, a Narração da infância de Jesus, por Tomé, o Kerygma de Pedro, os Atos de Pedro, os Atos de São Paulo, os Atos de André, o Apocalipse de Pedro...

No meio de tantos livros, cada igreja possuía um esboço do que seria o cânone definitivo do Novo Testamento.

Meu jardim exterior. Charles Fonseca. Fotografia


Angelo di Nalduccio. Escultura


The Archangel Gabriel
ANGELO DI NALDUCCIO (active 1342-1389) Medieval Italian sculptor (Siena)

HILEIA. Charles Fonseca. Poesia

HILEIA
Charles Fonseca

Sinto carência de afeto
Até sábado solteiro
Depois de modo altaneiro
À Hileia vou decerto

Andar montado canoa
No barco que é minha vida
Adeus estou de partida
Pro norte vou numa boa.

Curtir igarapés
O verde daquelas matas
O calor o sol em brasa
À noite massagens nos pés.

Fundos de Pensão. Funcef, Petros, Postalis.

buraco

Suculências. Charles Fonseca. Poesia

SUCULÊNCIAS
Charles Fonseca

Sonhei sorrindo gemia
Gemias, gozando, gritavas
Comendo, tu davas risadas
Gozado, qual fruta comia?

Por fora, seco era o fruto
Só quando, imerso, molhado,
Premido, sedento em agrado
Em orvalho se dava em produto.

domingo, fevereiro 21, 2016

Mestre Julio. Fotografia

Leito de folhas verdes. Gonçalves Dias. Poesia

Leito de folhas verdes
Gonçalves Dias

Por que tardas, Jatir, que tanto a custo
À voz do meu amor moves teus passos?
Da noite a viração, movendo as folhas,
Já nos cimos do bosque rumoreja.

Eu sob a copa da mangueira altiva
Nosso leito gentil cobri zelosa
Com mimoso tapiz de folhas brandas,
Onde o frouxo luar brinca entre flores.

Do tamarindo a flor abriu-se, há pouco,
Já solta o bogari mais doce aroma!
Como prece de amor, como estas preces,
No silêncio da noite o bosque exala.

Brilha a lua no céu, brilham estrelas,
Correm perfumes no correr da brisa,
A cujo influxo mágico respira-se
Um quebranto de amor, melhor que a vida!

A flor que desabrocha ao romper d'alva
Um só giro do sol, não mais, vegeta:
Eu sou aquela flor que espero ainda
Doce raio do sol que me dê vida.


Sejam vales ou montes, lago ou terra,
Onde quer que tu vás, ou dia ou noite,
Vai seguindo após ti meu pensamento;
Outro amor nunca tive: és meu, sou tua!


Meus olhos outros olhos nunca viram,
Não sentiram meus lábios outros lábios,
Nem outras mãos, Jatir, que não as tuas
A arazóia na cinta me apertaram.


Do tamarindo a flor jaz entreaberta,
Já solta o bogari mais doce aroma
Também meu coração, como estas flores,
Melhor perfume ao pé da noite exala!


Não me escutas, Jatir! nem tardo acodes
À voz do meu amor, que em vão te chama!
Tupã! lá rompe o sol! do leito inútil
A brisa da manhã sacuda as folhas!

Marcio Scavone. Fotografia

CINZAS. Charles Fonseca. Poesia

CINZAS
Charles Fonseca

Não levastes o meu Neruda
Só o simplório cinzeiro
Do nosso amor que luzeiro
Qual cigarro se esfuma

Espumas, Massarandupió
Estrelas, um burro a zurrar
Pra traz ficam à beira mar
Cinzas do que foi melhor.

Somos Novios. Andrea Bocelli. Música

Homenageio meus pais pela base ética que me ensinaram.

Somewhere Over the Rainbow - The Wizard of Oz (1/8) Movie CLIP (1939) HD

sábado, fevereiro 20, 2016

Pieter Angelis. Pintura


Musical Company in an Elegant Interior
ANGELLIS, Pieter (1685-1734) Rococo Flemish painter

REFOLHOS D’ALMA. Charles Fonseca. Poesia

REFOLHOS D’ALMA
Charles Fonseca

Não me opines sobre meu afeto
Bem sabes por que caminhos andei
Diz, poeta, só os meus eu sei
Os teus só tu o sabes, sou discreto.

Decerto que andastes por desertos
Que só por eles anda quem não ama
Chama à alma teus refolhos, andas,
Mandas pro além o falso, ama presto.

Francisco Lopes - Quero beijar te ainda.mp4


Quero Beijar-te Ainda
Orlando Silva

Quero beijar-te ainda
Uma só vez que seja
Quando se beija
Os corações batem febris
A tua imagem linda
Está sempre em mim presente
E finalmente longe de ti
Não sou feliz

Quero beijar-te ainda
Eu quero mas não posso
O amor que é nosso
A vida ingrata proibiu
Pra tanto amor peço tão pouco
Serei um louco, dirão talvez
Querer beijar-te ainda
Ao menos uma vez

Comentário de São Fulgêncio de Ruspas


«Não devais a ninguém coisa alguma a não ser o amor mútuo» (Rom 13,8). Que dívida espantosa, irmãos, este amor que o apóstolo Paulo nos ensina a pagar, sem nunca cessarmos de ser devedores. Dívida feliz, esta, dívida sagrada, portadora de juros no céu, cumulada de riquezas eternas! […] Recordemos também as palavras do Senhor: «Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, abençoai os que vos amaldiçoam, rezai pelos que vos caluniam» (Lc 6,27). E qual será a recompensa deste labor? […] «Sereis filhos do Altíssimo» (v. 35).

O apóstolo Paulo revela-nos o que será dado a estes filhos de Deus: seremos «filhos e também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo» (Rom 8,17). Escutai, pois, cristãos, escutai, filhos de Deus, escutai, herdeiros de Deus, co-herdeiros de Cristo! Se quereis possuir a herança do vosso Pai, pagai a vossa dívida de amor, não só aos vossos amigos, mas também aos vossos inimigos. A ninguém recuseis este amor, que é o tesouro comum de todos os homens de boa vontade. Possuí-o, pois, todos juntos e, a fim de o aumentar, dai-o tanto aos maus como aos bons. Porque este bem, que apenas pode ser possuído em conjunto, não é da terra mas do céu; e a parte de um jamais reduz a parte de outro. […]

O amor é um dom de Deus: «O amor de Deus foi derramado em nossos corações, pelo Espírito Santo que nos foi concedido» (Rom 5,5). […] O amor é a raiz de todos os bens, da mesma maneira que, diz São Paulo, a avareza é a raiz de todos os males (1Tim 6,10). […] O amor está sempre satisfeito porque, quando mais multiplica os seus dons, mais abundantemente Deus no-los dispensa. Eis por que motivo, enquanto o avarento empobrece com tudo aquilo que açambarca, o homem que paga as suas dívidas de amor enriquece com tudo aquilo que dá.

sexta-feira, fevereiro 19, 2016

TRANSPARÊNCIAS. Charles Fonseca. Poesia

TRANSPARÊNCIAS
Charles Fonseca

Não quero as transparências
De ti, mulher, que és da rua
Vestida, estás sempre nua
Despida, te sobram ausências.

Em ti, que cheia és vazia
Moram em bordel fantasmas
De dia recendes miasmas
De noite a mil almas mias.

Fra Angelico. Pintura


St Nicholas of Bari
1423-24

O elefantinho. Vinicius de Moraes. Poesia

O elefantinho
Vinicius de Moraes

Onde vais, elefantinho
Correndo pelo caminho
Assim tão desconsolado?
Andas perdido, bichinho
Espetaste o pé no espinho
Que sentes, pobre coitado?

— Estou com um medo danado
Encontrei um passarinho!

Com que roupa? - Noel Rosa, 1930

quinta-feira, fevereiro 18, 2016

PIEDADE. Charles Fonseca. Poesia

PIEDADE
Charles Fonseca

Um dia morreu a cadela
Enterro pé de mangueira
Foi ao céu e é estrela
Foi brilhar onde está ela?

Onde ela se escondeu
Será virou um cometa
Como eu que digo em peta
Sem saudade dela eu?

Antes dela foi-se outro
Enterro beira de estrada
Como a minha empoeirada
Beira rio ao pé dum toco

Agora tenho herdade
Pra deixar, é o meu cão
Filho na desolação
Fio ele a vós, piedade.

Ansel Adams. Fotografia

The Reel Foto: <b>Ansel Adams</b>: A Different Kind Of Landscape

Menino Deus. Caetano Veloso. Poesia

Menino Deus
Caetano Veloso

Menino Deus
Um corpo azul dourado
Um porto alegre é bem mais que um seguro
na rota das nossas viagens no escuro
Menino Deus
Quando tua luz se acenda
a minha voz comporá tua lenda
e por um momento
haverá mais futuro do que jamais houve
Mas ouve a nossa harmonia
A electricidade ligada no dia
em que brilharias por sobre a cidade
Menino Deus
Quando a flor do teu sexo abrir as pétalas para o universo
então por um lapso se encontrará nexo
ligando breus
dando sentido aos mundos
e aos corações sentimentos profundos
de terna alegria
no dia do Menino Deus.

Rebentos. Charles Fonseca. Poesia

REBENTOS
Charles Fonseca

Ai dos órfãos de pai vivo
Alijado em conjunto
Por também ódio perfuncto
Mortos ao pai, acredito

Um dia, talvez, ressuscitem...
Perderam em vida um bom tempo
De terem com ele um alento

Talvez voltem penitentes
Antes que cordas que o prendem

Rebentem.

Ilha dos Frades. Bahia


Não brinque de casamento.

quarta-feira, fevereiro 17, 2016

CAVALGANDO. Charles Fonseca. Poesia


CAVALGANDO
Charles Fonseca

Eu a olho num olhar certeiro
Digo pra ela meus versos vesgos
Chamo. Crepita a chama desejo
Que aquece e a toma por inteiro.

Meio de mim instintual a quer
Como sendo outra me fascina?
Vê ela outro que a monta em cima
Ela por baixo é só mulher?

Vivian Maier. Fotografia

VM19XXW04205-06-MC

Comentário de São João Crisóstomo

«Jesus, cheio do Espírito Santo, retirou-se do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto, onde esteve durante quarenta dias, e era tentado pelo diabo.» […] Tudo o que Jesus fez e padeceu foi para nos instruir. Por isso, quis ser conduzido a esse lugar a fim de lutar com o demónio, para que ninguém, de entre os baptizados, se sinta perturbado se, depois do seu batismo, sofre as maiores tentações, como se fosse uma coisa extraordinária; deve, antes, suportar tudo isso como se fizesse parte da ordem natural das coisas. Foi para isso que recebestes as armas: não para ficardes ociosos, mas para combaterdes.

Estes são alguns motivos pelos quais Deus não impede que tenhais tentações. Em primeiro lugar, para vos ensinar que vos tornastes muito mais fortes. Depois, para que vos conserveis prudentes, em lugar de vos orgulhardes dos grandes dons recebidos, porque as tentações têm o dom de vos humilhar. Além disso, sereis tentados para que o espírito do mal, perguntando-se se verdadeiramente renunciastes a ele, fique convencido, pela experiência das tentações, de que o abandonastes totalmente. Em quarto lugar, sois tentados para vos fortalecerdes e vos tornardes mais sólidos do que o aço. Em quinto lugar, para que tenhais a certeza absoluta de que vos foram confiados tesouros; porque o demónio não vos assaltaria se não tivesse visto que recebíeis uma honra maior.

Calazans Neto. Pintura

terça-feira, fevereiro 16, 2016

RAMALHETE. Charles Fonseca. Poesia

RAMALHETE
Charles Fonseca

Uma rosa na sacada
Gerânios vão da janela
Flores o que são elas
São mulheres ou são vagas

Ilusões que voam soltas
Devaneios são imagens
São pétalas que em miragem
Junto a nós fazem-se trouxas

Ramalhetes ou corbeilles
Em provençal ou francês
Também podem ser bouquets
Lembra a língua mil mulheres.

segunda-feira, fevereiro 15, 2016

A LÁGRIMA. Charles Fonseca. Poesia

A LÁGRIMA
Charles Fonseca

Eras minha esperança, quantas vezes fui a ti
Tu, sempre amada, a inspirar-me à verve!
Quantas vezes fui a ti na sofreguidão imberbe
Hoje a chorar te lembro, eu nunca mais sorri.

Desde que te foste no vale deixo lágrima
Eras estrela que do céu, cadente, brilhou fria
Caiu em terra quente, morreu em agonia
Do mapa astral celeste o livro viro a página.

Giuseppe Angeli. Pintura


View of the ballroom
1760
ANGELI, Giuseppe (1712-1798) Baroque Italian painter (Venice)

domingo, fevereiro 14, 2016

Mestre Julio. Fotografia

imagem.asp

Comentário de São João Crisóstomo

«Jesus, cheio do Espírito Santo, retirou-se do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto, onde esteve durante quarenta dias, e era tentado pelo diabo.» […] Tudo o que Jesus fez e padeceu foi para nos instruir. Por isso, quis ser conduzido a esse lugar a fim de lutar com o demónio, para que ninguém, de entre os baptizados, se sinta perturbado se, depois do seu baptismo, sofre as maiores tentações, como se fosse uma coisa extraordinária; deve, antes, suportar tudo isso como se fizesse parte da ordem natural das coisas. Foi para isso que recebestes as armas: não para ficardes ociosos, mas para combaterdes.

Estes são alguns motivos pelos quais Deus não impede que tenhais tentações. Em primeiro lugar, para vos ensinar que vos tornastes muito mais fortes. Depois, para que vos conserveis prudentes, em lugar de vos orgulhardes dos grandes dons recebidos, porque as tentações têm o dom de vos humilhar. Além disso, sereis tentados para que o espírito do mal, perguntando-se se verdadeiramente renunciastes a ele, fique convencido, pela experiência das tentações, de que o abandonastes totalmente. Em quarto lugar, sois tentados para vos fortalecerdes e vos tornardes mais sólidos do que o aço. Em quinto lugar, para que tenhais a certeza absoluta de que vos foram confiados tesouros; porque o demónio não vos assaltaria se não tivesse visto que recebíeis uma honra maior.

sábado, fevereiro 13, 2016

Eu sou eu e minha circunstância, e se não salvo a ela, não me salvo a mim. José Ortega y Gasset

Rogerio Ferrari. Fotografia

... -Resistências, de Rogério <b>Ferrari</b> (<b>Foto</b>: <b>Rogerio</b> <b>Ferrari</b>

Vazios. Charles Fonseca. Poesia

VAZIOS
Charles Fonseca

Há movimento covarde
Areias se movem no charco
Ideias de acoitados
Aparvalhados debalde

Se movem entre cicios
A negra noite assombra
À luz fogem alfombras
Os cobrem são maus, vazios.

sexta-feira, fevereiro 12, 2016

À MARGEM DA MARGEM. Charles Fonseca. Poesia

À MARGEM DA MARGEM
Charles Fonseca

Tenho saudade do sonho impossível
Que projetei sobre ti na travessia
De minha viagem à outra margem
Do porto imaginário, mas lá tu não estavas.

Lá, só tu estavas, mas em símbolo.
Lá, só tu representavas.
Só tu e o teu passado.
Lá, só eu e o teu nada.

Firme nas promessas de Jesus. Música

Você confia numa decisão em que só 7 por cento responde a uma só pergunta de sim ou não?

NA PAREDE. Charles Fonseca. Poesia

NA PAREDE
Charles Fonseca

Na parede do passado
ficaram sonhos vetustos
mirraram ideias arbustos
flores caíram pros lados

Sementes somente sós
caules então cheios vida
gravetos de distorcidas
lembranças o vero pós.

Porto da Barra. Salvador. Bahia


quinta-feira, fevereiro 11, 2016

Onde estás. Castro Alves. Poesia

Onde estás
Castro Alves


É meia-noite... e rugindo
Passa triste a ventania,
Como um verbo de desgraça,
Como um grito de agonia.
E eu digo ao vento, que passa
Por meus cabelos fugaz:
"Vento frio do deserto,
Onde ela está? Longe ou perto?"
Mas, como um hálito incerto,
Responde-me o eco ao longe:
"Oh! minh'amante, onde estás?. . .


Vem! É tarde! Por que tardas?
São horas de brando sono,
Vem reclinar-te em meu peito
Com teu lânguido abandono! ...
'Stá vazio nosso leito...
'Stá vazio o mundo inteiro;
E tu não queres qu'eu fique
Solitário nesta vida...
Mas por que tardas, querida?...
Já tenho esperado assaz...
Vem depressa, que eu deliro
Oh! minh'amante, onde estás? ...


Estrela — na tempestade,
Rosa — nos ermos da vida;
lris — do náufrago errante,
Ilusão — d'alma descrida!
Tu foste, mulher formosa!
Tu foste, ó filha do céu! ...
... E hoje que o meu passado
Para sempre morto jaz...
Vendo finda a minha sorte,
Pergunto aos ventos do Norte...
"Oh! minh'amante, onde estás?..."

É meia-noite... e rugindo
Passa triste a ventania,
Como um verbo de desgraça,
Como um grito de agonia.
E eu digo ao vento, que passa
Por meus cabelos fugaz:
"Vento frio do deserto,
Onde ela está? Longe ou perto?"
Mas, como um hálito incerto,
Responde-me o eco ao longe:
"Oh! minh'amante, onde estás?. . .

Vem! É tarde! Por que tardas?
São horas de brando sono,
Vem reclinar-te em meu peito
Com teu lânguido abandono! ...
'Stá vazio nosso leito...
'Stá vazio o mundo inteiro;
E tu não queres qu'eu fique
Solitário nesta vida...
Mas por que tardas, querida?...
Já tenho esperado assaz...
Vem depressa, que eu deliro
Oh! minh'amante, onde estás? ...

Estrela — na tempestade,
Rosa — nos ermos da vida;
lris — do náufrago errante,
Ilusão — d'alma descrida!
Tu foste, mulher formosa!
Tu foste, ó filha do céu! ...
... E hoje que o meu passado
Para sempre morto jaz...
Vendo finda a minha sorte,
Pergunto aos ventos do Norte...
"Oh! minh'amante, onde estás?..."

Vivo em estado de graça. Charles Fonseca. Fotografia


quarta-feira, fevereiro 10, 2016

Evangelho segundo São Marcos 6,53-56.

Naquele tempo, Jesus e os seus discípulos fizeram a travessia do lago e vieram para terra em Genesaré, onde aportaram.
Quando saíram do barco, as pessoas reconheceram logo Jesus;
então percorreram toda aquela região e começaram a trazer os doentes nos catres, para onde ouviam dizer que Ele estava.
Nas aldeias, cidades ou casais onde Jesus entrasse, colocavam os enfermos nas praças públicas e pediam que os deixasse tocar-Lhe ao menos na orla do manto. E todos os que O tocavam ficavam curados.

Marcha da quarta-feira. Vinicius de Moraes e Toquinho. Música

O silêncio. Charles Fonseca

O SILÊNCIO
Charles Fonseca

A psicóloga perguntou:
- Quem deseja fazer análise comigo
- Eu não
- Por que?
- Eu me apaixonaria por você. Não quero me apaixonar por você.
O grupo compreendeu e ficou em silêncio.

Se o amor se vai. Roberto Carlos. Música

terça-feira, fevereiro 09, 2016

Palácio Rio Branco. Salvador. Bahia

A psiquiatria e o hospital psiquiátrico tem mais é de acabarem mesmo. Marcelo Caixeta

Não resta a menor dúvida, para ninguém, que a IstoÉ, hoje, é uma revista anti-esquerdista. No entanto, vejamos um fato curioso que aparentemente derruba esta informação : em sua edição de 10.fev.16, a coluna “Brasil Confidencial”, da repórter Débora Bergamasco ( da qual reproduzo pequena parte na ilustração ), ocupa uma tira vertical de página inteira para ripar o atual coordenador de saúde mental do Ministério da Saúde, nunca empossado, pelo jeito só porque é médico, é psiquiatra, só porque já foi diretor de um “abominável” hospital psiquiátrico ( que a autora, assim como os esquerdistas-corporativistas-coitadistas, optam por propalar, prejorativamente, como “manicômios”). Tudo é muito bem escondido nas entrelinhas, é claro. Vejamos:
1/ a autora grifa o nome do “psiquiatra” ( sim, faz também questão de dizer esta “abominável” palavra ) em negrito, assim como também , logo abaixo, faz questão de também grifar em negrito – “o maior manicômio da América Latina” - também o hospital onde trabalhou. Mais “propaganda subliminar” do que isto, impossível. Mas não acaba por aí, tem muito mais.
2/ a reportes ( jornalista ?) continua destilando seu veneno subliminar : logo após o negrito “MAIOR MANICÔMIO”, ela diz : “interditado”, “denúncias”, “violações de direitos humanos”.
3/ Para mostrar a “força coletiva” antipsiquiátrica, a autora diz : “mais de 600 entidades assinam manifesto”.
4/ Diz que “preparam um dossiê de memória e da verdade” sobre o tratamento dado a 70 anos de funcionamento do MANICÔMIO no Rio.
5/ Continua a coluna da revista : o grupo que invadiu o Ministério da Saúde, há quase 2 meses, só sai quando vencer o atual ministro ( PMDB ) da saúde, “coincidentemente” também psiquiatra, Marcelo Castro. Não se leva em conta que o atual ministro, no que pese o estigma e a “delinqüência” de ser psiquiatra, possa estar com boas intenções para os cofres públicos : estancar a sangria de recursos para centros governamentais antipsiquiátricos que só tem feito aumentar as estatísticas de doenças psiquiátricas : suicídios, homicídios, mortes nas ruas, encarceramento de doentes mentais, toxicomanias, “loucos nas ruas”, infanticídios, overdoses, etc. Não que a hospitalização psiquiátrica maciça seja a solução para nada; como tudo , em medicina, só tem razão de ser para diagnóstico e tratamento especializado e complexo. Mas, pelo menos, que se mostre então, cientificamente, estatisticamente, que a atual política antipsiquiátrica dos centros governamentais têm razão de continuar sorvendo bilhões dos cofres públicos, num momento em que falta dinheiro até para a merenda das criancinhas. Não se diz, nem na IstoÉ, nem em momento algum, que a relativa retirada de força e poder de décadas, dos antipsiquiátricos no Ministério da Saúde, possa ser uma estratégia plausível de Marcelo Castro : tudo tem de ser escamoteado para mostrar só seu abominável lado “médico”, lado “´psiquiátrico”, lado “pró-manicômio-particular-de-70-anos-de-tortura”.
6/ A revista continua sua peçonha antipsiquiátrica : Só desocuparão o Ministério, continua a coluna, quando Dilma nomear, é claro, um antipsiquiatra, diz a reportagem “identificado com as políticas antimanicomiais”.
7/ E, para fechar sua tese do apoio coletivo-social-esquerdista- coitadista-antiautoritarista-governamental aos anti-hospitais-psiquiátricos, a autora diz que a política antimanicomial é bem chancelada pelas Conferências Nacionais de Saúde.
Eu particularmente já considero a batalha do nome da psiquiatria perdido no Brasil- portanto que meus contendores sorvam , felizes e calmos, a doce taça da vingança contra o médico.... Assim como o “hospital psiquiátrico”, já sou cachorro-morto que, sadicamente, pode ser alegremente pisado e cuspido, vocês venceram ....
Quanto aos hospitais psiquiátricos, nem preciso dizer nada : já estão quase todos fechados mesmo ( 95% em 10 anos ) , apesar de, -na surdina, como se procura uma prostituta na escuridão- nós, psiquiatras hospitalares, fomos transformados nas Genis do sistema judiciário, delegados, pronto-socorros, ambulâncias de convênios médicos, etc, que vivem nos IMPLORANDO por vagas psiquiátricas. Estes, no entanto, sobretudo o sistema judiciário-ministério público-setor público da saúde, para não dizer usuários e familiares, jamais vêm em nosso socorro dizer : “peraí, hospitalização psiquiátrica, assim como qualquer hospitalização médica, ainda é necessária, tanto para o diagnóstico quanto para o tratamento”.
Quando o problema não ocorre dentro de casa, todos têm algum motivo para negar a hospitalização psiquiátrica. Vejamos :
a/ Entidades religiosas : precisam açambarcar fiéis dizendo que “depressão não é problema médico, é problema espiritual”. Todas as religiões, a começar da Cientologia do Tom Cruise, passando pelas evangélicas, católicas, e até espírita ( da qual sou adepto ), adoram negar o fato do adoecimento cerebral com repercussão mental. Estes dias li em folders e banners numa livraria espírita, Chico Xavier, em Caldas Novas : “depressão é problema fácil de resolver”, “não se entregue à medicações alopáticas”, “a cura é espíritual”, etc.
b/ Pacientes psiquiátricos, sobretudo aqueles menos graves, que têm um problema de personalidade ou temperamento, odeiam a psiquiatria, o médico, o hospital, pois estes “restringem sua criatividade”, “sua capacidade de amar”, querem tolhê-los, prendê-los, dopá-los. Tão logo quando melhoram de seus surtos são os melhores antipsiquiatras que existem. É claro, são cheios de história, sobretudo de “médicos e hospitais frios e desumanos” ( que, exatamente por serem tão desvalorizados, não recebem o suficiente para darem um atendimento mais “humano” para seus clientes ).
c/ Estes pacientes acima são usados como “massa -de-manobra” ideal ( assim como os universitários para o esquerdismo ) para as lutas “antipsiquiátricas”. São massa-de-manobra fundamentalmente para os grupos de pressão corporativa-profissional para o aumento de vagas de emprego nos centros psicossociais do Governo. Aqui entra também o viés “feminista” da luta contra o “falo” do abominável “homem-frio-ganancioso- psiquiatra”, pois a maioria dos funcionários destes centros é de mulheres , e , para uma mulher, é bem mais fácil ser “antiautoridade” do que para um homem.
d/ Ser “anti-psiquiatra”, ser “anti-hospital”, “anti-prisão”, “anti-manicômio”, ser “anti-retirar-a-pessoa-do-convívio-social”, “anti-truculência-masculina-capitalista”, tudo isso é, hoje, tão “na moda” quanto ser pró-direitos humanos, pró-direitos dos animais, pró-defesa-do-verde, pró-defesa-das-vítimas-da-pedofilia, pró-crianças-exiladas-mortas-nas-prais-da-Europa, etc. Não há como não ser tudo isso, é o completo “espírito dos tempos” e ninguém está fora dele. Esta é uma agenda tão poderosa que, como mostra a revista IstoÉ - repetindo, notoriamente de direita - ultrapassou e venceu a pretensa rejeição da ideologia esquerdista ( provavelmente nem a revista se deu conta de que está fazendo uma apologia governista ). Quem não tem alguém muito próximo, tipo um parente, um amigo, uma namorada, um fiel da Igreja, um ativista pelos direitos humanos, um estudante de psicologia, sociologia, filosofia, serviço social, um pastor, um médium, etc, que estão cheios de “razão anti-psiquiátrica” de ser ?
d/ Vejam bem, só até aqui, já temos fortíssimos grupos de pressão anti-médico-psiquiátrico : o esquerdismo ( para quem é importante acabar com a “iniciativa privada dos hospitais psiquiátricos” ), o governismo ( para quem é importante acabar com redes privadas para aumentar o poder de contratação no Estado e o poder da “saúde pública” face à “saúde privada” ), o feminismo ( para quem é importante “fincar o pé” contra a autoridade fálica ), os coitadinhos ( que tem de ser protegidos da sanha dos capitalistas, da sanha dos frios, truculentos, torturadores ), a imprensa ( que tem de jogar para toda esta galera aí acima ), os poderes constituídos, executivo, judiciário, legislativo, promotores, etc ( que têm de fazer seus cabides-de-emprego, seus currais-eleitorais, seus “fãs-que-adoram-as-ações-politicamente-corretas-justificando-assim-altos-cargos-altos-salários” ), os convênios médicos ( para quem é muito interessante negar a necessidade da hospitalização psiquiátrica para baixar custos : “manda todo mundo para a “fazendinha-clínica-religiosa de recuperação” ) . Há também o fortíssimo corporativismo, para o qual seria muito interessante se a psiquiatria desaparecesse da face da Terra, como vem acontecendo nos EUA, onde , p.ex., psicólogos, já viraram psiquiatras forenses, já prescrevem medicações, avaliam e solicitam exames médicos, internam, dão alta, etc. É até paradoxal falarem tanto contra a “dopação psiquiátrica” e depois, como nos EUA, como aqui no Brasil, numa lei de autoria da senadora-psicóloga Marta Suplicy, reivindicarem o “poder médico” de prescreverem as mesmas abomináveis drogas... Como se vê , é muito importante, e para muita gente, que a psiquiatria desapareça, e ela vai desaparecer, creia-me. Ela, hoje, é o “contrário de tudo que aí está”, não há prognóstico...
e/ Portanto, caro leitor, é inimigo demais, a psiquiatria não agüenta, não vai agüentar, por isso, como eu disse acima, estou “jogando a toalha” de ser psiquiatra, e se depender de mim, nenhum hospital mais se intitula “hospital psiquiátrico” ( diga-se : “manicômio” ). Você vai ser psiquiatra e trabalhar em hospital psiquiátrico para quê ? Para fugirem de você ? Para o paciente dizer que o hospital onde você trabalha “parece hospital mesmo e não aqueles manicômios veiculados no filme do “Bicho-de-Sete-Cabeças?” Para o paciente que você cuida com o maior carinho e atenção virar e dizer : “Que não sei porque me trouxeram em você , aqui neste hospital, pois tenho problema no cérebro, é coisa neurológica, não sou louco, não sou delinqüente para ficar preso, não tenho desvio de caráter para ter privação de liberdade deste jeito” ? Não é tudo mais fácil dizer que você é um “médico do cérebro” e que trabalha em um hospital de “doenças do cérebro?”.
e/ E é muito fácil para todos estes aí acima serem antipsiquiatras, pois a doença psiquiátrica não sangra; não se “morre” de doença psiquiátrica : suicídio, homicídio, mutilações ( auto e hetero ), overdose, cirrose, hepatite, afogamento, atropelamento, acidente automobilístico, AVC, convulsão, arritmia, tudo isto é “conseqüência” ( quase nunca vista ) da doença mental, mas não “é” a doença mental. Ninguém, portanto, morre ou se seqüela de doença psiquiátrica, por isto é muito fácil, facílimo, acabarem com a especialidade, como vem acontecendo e vai continuar acontecer. Asfixiados desse jeito, não há defesa possível para o psiquiatra, a psiquiatria e seu hospital.
f/ Os próprios médicos já jogaram a toalha, e por vários motivos. Algumas especialidades médicas adorariam ver o fim da psiquiatria. Um exemplo, uma porcentagem esmagadora de doentes “neurológicos”, na verdade, padecem de problemas psiquiátricos ( e para estes, há a feliz associação do profissional médico-não-psiquiatra com a profissional não-médica, sobretudo psicóloga ). É uma vertente que favorece aos dois, tanto médicos quanto não-médicos, para o fim-da-psiquiatria.
g/ Outra vertente : as próprias entidades psiquiátricas ( como “toda” boa entidade médica ) engalfinham-se entre si, médicos são os maiores inimigos de si mesmos. Já vi associações psiquiátricas fazerem até homenagens públicas repetidas para os anti-manicomiais que vivem com a faca em suas costas. Mas, para muitos psiquiatras, muitos à cabeça de instituições, é muito importante serem “amigos” de profissionais que verdadeiramente conversam com seus pacientes, pois estes lhes encaminham para a “sedação” ( olha o dindin aí ), do mesmo modo que eles, psiquiatras, têm de “dopar” e encaminhar para alguém fazer o “serviço humanizado” para eles ( “eu não converso, quem conversa é a psicóloga”). É , importante, portanto, dentro da própria psiquiatria, ser “humanista”, “jogar para a galera”, mesmo que , com isto, tenha de destruir a própria atividade profissional e os próprios locais de trabalho. Se o psiquiatra é um "mero prescritor de remédios para o cérebro" ( perdeu sua função humanística-psicoterápica ) , não é muito melhor ir no neurologista, pois afinal o "médico do cérebro não é ele?". E, não se preocupem, a própria medicina já preparou “nomes” para renomear a prática psiquiátrica dentro da medicina, p.ex., “neurologia cognitiva”, “neurologia comportamental”, “neuropsicologia”, “pediatria do desenvolvimento e do comportamento”, “psicologia médica”, “psicossomática”, etc, etc, e por aí vai...
Como eu já disse lá em cima, não escrevo tanta coisa para defender um cadáver, portanto não tenho esperanças de melhora nem da psiquiatria, do psiquiatra ou do hospital psiquiátrico. Escrevo por mero exercício intelectual, pelo “prazer lógico” de mostrar à jornalista (?) de IstoÉ que há muuuuuito mais coisa por debaixo da manifestação em sua coluna do que mostra sua horizontalidade superficial ( isto apesar de ser uma coluna vertical que pega a página inteira ).
.....................................................................................
Marcelo Caixeta é médico, "especializado em doenças cerebrais, trabalha em hospital especializado em doenças cerebrais".

IN MEMORIAM. Charles Fonseca

IN MEMORIAM
Charles Fonseca

Eu a beijei na testa ela estava fria
Frio fiquei e eu a queria quente
Ali morria na vida tão carente
Do meu amor que outra substituía

E ele a falar pra ela o necrológio
Só a verdade, seus erros omitia
Fora seu par, com ela filhos tinha
Real era a partida, ficava o simbólico

Dela ficou em mim a sua imagem
Não só de vista mas também acústica
Fica por ela minha verve rústica
A lhe prestar a última homenagem.

Pissarro. Pintura

The Woodcutter by Camille Pissarro is typically Impressionist in its ...

Trem de ferro. Manuel Bandeira. Poesia

Trem de ferro
Manuel Bandeira

Café com pão
Café com pão
Café com pão

Virge Maria que foi isso maquinista?

Agora sim
Café com pão
Agora sim
Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo
Na fornalha
Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força
(trem de ferro, trem de ferro)

Oô...
Foge, bicho
Foge, povo
Passa ponte
Passa poste
Passa pasto
Passa boi
Passa boiada
Passa galho
Da ingazeira
Debruçada
No riacho
Que vontade
De cantar!
Oô...
(café com pão é muito bom)

Quando me prendero
No canaviá
Cada pé de cana
Era um oficiá
Oô...
Menina bonita
Do vestido verde
Me dá tua boca
Pra matar minha sede
Oô...
Vou mimbora vou mimbora
Não gosto daqui
Nasci no sertão
Sou de Ouricuri
Oô...

Vou depressa
Vou correndo
Vou na toda
Que só levo
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente...
(trem de ferro, trem de ferro)



(Manuel Bandeira in "Estrela da Manhã" 1936)

Filippo Napoletano. Pintura,


Dante and Virgil in the Underworld
c. 1622
NAPOLETANO, Filippo) (c. 1589-1629) Baroque Italian painter (Rome)

segunda-feira, fevereiro 08, 2016

Comentário de Santa Teresa de Ávila


Ó Deus verdadeiro e Senhor meu! Para a alma afligida pela solidão em que vive na tua ausência, é grande consolo saber que estás em toda a parte. Mas que sentido há nisto, Senhor, quando a força do amor e o ímpeto desta pena aumentam e o coração se atormenta, a tal ponto que nem podemos já compreender nem conhecer tal verdade? A alma percebe apenas que está apartada de Ti, e nenhum remédio admite. Porque o coração que muito ama não consente outros conselhos nem consolos, senão os vindos daquele que o feriu; dele somente espera a cura para a sua pena.

Quando Tu queres, Senhor, depressa saras a ferida que fizeste. Ó meu Bem-Amado, com quanta compaixão, com quanta doçura, bondade e ternura, com quantas mostras de amor saras estas chagas feitas com as setas do teu amor! Ó meu Deus, Tu és o repouso para todas as penas. Não será loucura vã procurar meios humanos para curar os que vivem enfermos do divino fogo? Quem poderá saber aonde tal ferida chegará, donde vem, e como mitigar tão penoso tormento? […] Quanta razão tem a esposa do Cântico dos Cânticos, ao dizer: «O meu amado é para mim e eu para ele» (Ct 2,16)! Porque o amor que sinto não pode ter origem em algo tão baixo como é este meu amor. E no entanto, Esposo meu, sendo ele assim tão baixo, como entender que seja afinal capaz de superar todas as coisas criadas, para chegar a seu Criador?

CRISTAL. Charles Fonseca. Poesia

CRISTAL
Charles Fonseca

Um amar por utopia
Querer bem sonho desfeito
Um cristal jogado ao eito
Cedo o afeto à agonia

Dum querer pra sempre órfão
Dum amar por espartilho
Mil senões amar sem brilho
Estilhaços de mim cobram

Quero eu não mais amar
Só um pouco querer bem
Quem sabe, esquecer também
Sem rastejo ao céu voar.

Super Homem (A Canção). Caetano Veloso. Gilberto Gil

À VISTA. Charles Fonseca. Poesia

À VISTA
Charles Fonseca

À vista vossa vendo vulgo
Viseira voluta, véu vetusto
Vós a vedes, vil verdugo
Vela à vista, vejo vultos.

Sem lenço e sem documentos à vista.


domingo, fevereiro 07, 2016

É doce envelhecer juntos

Comentário de Santo Agostinho

Como é grande a bondade de Cristo! Pedro foi pescador, e actualmente um orador que seja capaz de compreender este pescador merece um grande elogio. Era por isso que o apóstolo Paulo dizia aos primeiros cristãos: «Considerai, pois, irmãos, a vossa vocação; não há entre vós muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos nobres. Mas o que é louco segundo o mundo é que Deus escolheu para confundir os sábios; o que é fraco segundo o mundo é que Deus escolheu para confundir o que é forte. O que é vil e desprezível no mundo é que Deus escolheu, como também aquelas coisas que nada são, para destruir as que são» (1 Cor 1, 26-28).

Porque se Cristo tivesse escolhido um orador, este poderia dizer: «Fui escolhido pela minha eloquência.» Se tivesse escolhido um senador, este poderia dizer: «Fui escolhido por causa do meu cargo.» Enfim, se tivesse escolhido um imperador, este poderia dizer: «Fui escolhido devido ao poder que tenho.» Essas pessoas que esperem um pouco e se mantenham tranquilas, pois não serão esquecidas nem rejeitadas; que esperem um pouco, porque poderiam glorificar-se do que são por si próprias.

«Dêem-me», disse Cristo, «este pescador, dêem-me este homem simples e sem instrução, dá-me aquele com o qual o senador não se digna falar, mesmo quando lhe compra um peixe. Sim, dêem-me este homem. E quando Eu o tiver preenchido, ver-se-á claramente que sou apenas Eu que ajo. É certo que também concluirei a minha obra no senador, no orador e no imperador […], mas a minha acção será mais evidente no pescador. O senador, o orador e o imperador podem gloriar-se daquilo que são; o pescador apenas pode gloriar-se de Cristo. Assim, será o pescador a ensinar-lhes a humildade que leva à salvação. Por isso, que ele seja o primeiro.»

Aipim com ovo e carne do sertão


Nem vem que não tem

OS OLHOS DA MINHA AMADA Charles Fonseca. Poesia


Pablo Picasso. Fotografia


sábado, fevereiro 06, 2016

Comentário de São Zenão de Verona

Ó caridade, como és boa e rica! Como és poderosa! Não possui nada aquele que não te possui. Tu foste capaz de fazer de Deus um homem. Tu fizeste-O abaixar-Se e afastar-Se durante algum tempo da sua imensa majestade. Tu mantiveste-O prisioneiro durante nove meses no seio da Virgem. Tu curaste Eva em Maria. Tu renovaste Adão em Cristo. Tu preparaste a cruz para a salvação do mundo perdido.

Ó amor, tu, para vestir aquele que está nu, contentas-te em ficar nu. Para ti, a fome é um repasto abundante, se um pobre esfomeado tiver comido do teu pão. A tua fortuna consiste em destinar tudo o que possuis à misericórdia. Só tu não te fazes rogado. Tu socorres os oprimidos sem demora, mesmo a expensas tuas, seja qual for a aflição em que estejam mergulhados. Tu és o olhar dos cegos, o pé dos coxos, o protetor fidelíssimo das viúvas e dos órfãos. Tu amas os teus inimigos, de tal maneira que ninguém consegue discernir a diferença que para ti existe entre eles e os teus amigos.

Tu, ó caridade, unes os mistérios celestes às coisas humanas e os mistérios humanos às coisas celestes. Tu és a guardiã do que é divino. És tu que, no Pai, tudo governas e ordenas; és tu a obediência do Filho; és tu que exultas no Espírito Santo. Porque és uma nas três pessoas, não podes ser dividida. Jorrando da fonte que é o Pai, vertes-te toda inteira no Filho sem te retirares do Pai. Com razão dizemos que «Deus é amor» (1Jo 4,16), porque só tu guias o poder da Trindade.

Giuseppe Arcimboldo. Pintura


Dormition of the Virgin
1558
ARCIMBOLDO, Giuseppe

sexta-feira, fevereiro 05, 2016

Ironia fina é uma forma superior de inteligência

Comentário de Orígenes

Admiremos João Batista sobretudo por causa do seguinte testemunho: «Entre os nascidos de mulher, não há profeta maior do que João» (Lc 7, 28); ele teve o mérito de se elevar a tão grande fama de virtude, que muitos pensavam que era o Cristo (Lc 3, 15). Mas há outra coisa ainda mais admirável: o tetrarca Herodes, que detinha o poder real, podia matá-lo quando quisesse. Ora, ele tinha cometido uma acção injusta e contrária à lei de Moisés, tomando para si a mulher de seu irmão. João, que não tinha medo dele nem fazia acepção de pessoas, que não temia o poder real nem receava a morte, mas tinha consciência de todos estes perigos, repreendeu Herodes com a liberdade dos profetas, censurando-lhe o casamento em que se envolvera. Preso por semelhante audácia, não o preocupa a morte nem um julgamento de resultado incerto; apesar das correntes que o sujeitam, os seus pensamentos vão para o Cristo que tinha anunciado.

Não podendo ir pessoalmente ter com Ele, manda os seus discípulos perguntar-lhe: «És Tu o que está para vir ou devemos esperar outro?» (Lc 7, 19). Reparai bem como até na prisão João ensinava. Até aqui tinha discípulos; até na prisão João cumpria o seu dever de mestre, instruindo os seus discípulos com conversas sobre Deus. Nestas circunstâncias, estava colocado o problema de Jesus, pelo que João Lhe envia alguns dos seus discípulos.

Os discípulos vêm dizer ao mestre o que o Salvador os tinha encarregado de anunciar, resposta que é para João uma arma para o combate: ele morre com segurança, deixando-se decapitar de coração ao largo, seguro pela palavra do próprio Senhor, de que Aquele em Quem havia acreditado era verdadeiramente o Filho de Deus. Tal foi a liberdade de João Batista, tal foi a loucura de Herodes, que aos seus numerosos crimes acrescentou, primeiro a prisão, depois o assassínio de João Batista.

As mães nunca morrem

O zika virus é mais importante que Dilma, Lula e o PT juntos.

Os sertões

Fernando Pessoa

quinta-feira, fevereiro 04, 2016

PANTOMIMA. Charles Fonseca. Poesia

PANTOMIMA
Charles Fonseca

Lavo então minha alma
ponho tudo em pratos limpos
história caminho ínvio
espinho a face calma

As cortinas cerro agora
fechada a pantomima
antes que a vida finda
inda conto muita história

Retrovisor. Clarice Lispector

Retrovisor
Clarice Lispector

O presente é o instante em que a roda do
automóvel em alta velocidade toca minimamente
o chão. E a parte da roda que ainda não tocou
tocará num imediato que absorve o instante
presente e torna-o passado. Eu, viva e
tremeluzente como os instantes, acendo-me e
me apago, acendo e apago, acendo e apago...

Escultura

A promoção. Charles Fonseca

A PROMOÇÃO
Charles Fonseca

A fábrica de fertilizantes em formação. Anos 70. Reunião com o Gerente Geral e o responsável pela área de recursos humanos, RI. Foi comunicado ao médico do trabalho que uma empresa de medicina de grupo fez proposta de assistência médica. Dados sobre a mesa.
- Vamos fazer o convênio, estamos ilhados, foi dito. Cerca de cinco quilômetros uma única cervejaria. No mais a imensidão da catinga.
- Estou ciente, disse o jovem médico.
- Ciente não, você vai ter que opinar.
- Para opinar preciso analisar a proposta. Os olhos rasos d’água.
Dado quatro dias úteis para responder. Respondeu circunstaciadamente. Não. Criaram um sistema de multi credenciados.

Os anos passaram. Em reunião de gerentes, chefes de divisão, o RI comunicou a todos que já dispunha de outro médico para a Fábrica. Vetado pelo Gerente Geral à vista de todos.

Sete anos sem promoção que só poderia ocorrer no máximo a cada dois anos. Enfim, liberado o progresso funcional.

Anos depois o dito RI levou pessoalmente o médico ao novo Diretor fazendo queixa do mesmo presencialmente. Cabeçudo este médico. Falava o que pensava. Cumpridor de ordens, administrativamente. Aí passou da conta. O Diretor mandou que o médico se manifestasse. Chegou a hora. Este falou em histórico desde 1969 o que ocorrera, colaterais e afins.
- Então, voltem e se acertem.

Ambos hoje aposentados na mesma empresa. Para o médico não poderia haver mais promoção possível. No topo.

Fecham-se as cortinas.

The Annunciation. Arcangelo di Jacopo del Sellaio. Pintura.


The Annunciation
ARCANGELO DI JACOPO DEL SELLAIO (1477/78-1530) High Renaissance Italian painter (Florence)

O desamor. Charles Fonseca.

O DESAMOR
Charles Fonseca

De namoro com a amiga. De amizade com ela. Almoçaram e foram para a sala de visitas. Almofadas acolhiam. Uma música a tocar ninguém me ama ninguém me quer. Da amiga uma lágrima rolou. Da namorada um sorriso sacana. Engravidou e amputou o outro ser que seu corpo acolhia. Hoje não se falam. Eram íntimas. Anos 70.

PENTELHOS. Charles Fonseca. Poesia

PENTELHOS
Charles Fonseca

Pentelhos, minha cabeça
não mais escova ou pente
tampouco cortá-los rente
nem cera me apeteça

Só dedos por ele corram
Só sol ou lua prateada
Espumas marinas águas
Tristezas ao vê-los morram.

Comentário de Beato Charles de Foucauld

Ser apóstolo, mas por que meios? Por aqueles que o Senhor põe à disposição de cada um: os padres têm os respectivos superiores, que lhes dizem o que devem fazer. Os leigos devem ser apóstolos para com todos aqueles a quem podem chegar: parentes e amigos, mas não só eles; a caridade não é estreita, alcança todos aqueles que o Coração de Jesus abraça.

Por que meios? Pelos melhores, tendo em conta aqueles a quem se dirigem: com todos aqueles com quem se relacionam, sem excepção, pela bondade, a ternura, o afecto fraterno, o exemplo de virtude, a humildade e a doçura, sempre atraentes e tão cristãs. Com alguns, sem lhes dizer nunca uma palavra sobre Deus ou sobre religião, tendo paciência como Deus tem paciência, sendo bom como Deus é bom, sendo um irmão terno e rezando. Com outros, falando-lhes de Deus na medida que conseguem atingir; a partir do momento em que chegam à ideia de procurar a verdade pelo estudo da religião, pondo-os em contacto com um sacerdote bem escolhido e capaz de lhes fazer bem. Sobretudo, vendo em cada homem um irmão.

Calcinhas. Fotografia


Calcinhas. Ewerton Mendonça. Poesia

CALCINHAS
Ewerton Mendonca

Não sei e nem imagino
O motivo que levou
Charles com faro ferino
Que uma foto ofertou
A mim, inocente menino
Que o destino transformou
E vem Fonseca sentindo
Sargaços perfumes no ar
Cuja origem é um varal
Colorido de calcinhas
Gandes e pequenininhas
Encheu todo um quintal
Na Bahia diz-se vixe mainha
Nunca vi uma coisa igual
Será que pertencem todinhas
A uma mocinha normal
Para que tanta calcinha
Estendida num varal
Será que é da vizinha
Que ontem fez algo mal
Ou seria do Fonseca
Coleção Especial ...

(Em 04-02-2016, inspirado em foto de Fonseca a mim dedicada, de um varal lotado de calcinhas)

ESPELHO ( I ), Charles Fonseca. Poesia

ESPELHO
Charles Fonseca

Ausente a sinto, ela está ao largo
Sinto saudade, ela me está presente
Ela é real, não sou eu demente
Estou ao espelho e só me vejo imago

Sou por acaso um ser faltante
Por destino sou um ser de sorte
Rio do ocaso terminal da morte
Vivo no início de final farsante

O Prisioneiro da Grade de Ferro. Cinema

quarta-feira, fevereiro 03, 2016

Alessandro Araldi. Pintura


Portrait of Barbara Pallavicino
1510s
ARALDI, Alessandro (c. 1460-c. 1530) High Renaissance Italian painter (Parma)

Cinema

https://www.facebook.com/romero.vargas.7/posts/10209204038084948?notif_t=story_reshare

Antonio Carlos Jobim y Gal Costa - Dindi

Comentário de São Boaventura

O Senhor Jesus, regressando do Templo e de Jerusalém a Nazaré com seus pais, morou com eles até à idade de trinta anos «e era-lhes submisso» (Lc 2,51). As Escrituras não nos dizem o que Ele fez durante todo este tempo, o que parece bastante surpreendente. […] Mas, se olharmos com atenção, veremos claramente que, não fazendo nada, fazia maravilhas. Cada um dos seus gestos revela, com efeito, o seu mistério. E, como agia com poder, também Se calou com poder, permanecendo recolhido na obscuridade com poder. O Mestre soberano, que nos vai ensinar os caminhos da vida, começa desde a sua juventude a fazer obras poderosas, mas de uma forma surpreendente, incógnita e inconcebível, parecendo aos olhos dos homens inútil, ignorante e a viver no opróbrio. […]

Ele apreciava esta maneira de viver, para ser julgado por todos como um ser pequeno e insignificante; isto fora anunciado pelo profeta, que dissera em seu nome: «Sou um verme e não um homem» (Sl 21,7). Vês portanto o que Ele fazia, não fazendo nada: tornava-Se desprezível […]; parece-te pouca coisa? Seguramente, não era Ele que tinha necessidade disso, mas nós, pois não conheço coisa mais difícil nem mais grandiosa. Parece-me que chegaram ao mais alto grau aqueles que, de todo o seu coração e sem fingimento, se possuem suficientemente para não quererem nada de outrem senão ser desprezados, não contar para nada e viver num abaixamento extremo. É uma vitória maior que a tomada de uma cidade.

Vagalumes. Japão. Fotografia

PICADURA. Charles Fonseca. Poesia

PICADURA
Charles Fonseca

Prefiro a jaca dura
o posar da borboleta
na praia a mole areia
na cama a ditadura

já me deu tanto trabalho
a mesma meio da rua
só via mulheres nuas
adolescente carvalho

a mão no bolso tortura
só queria ele tenro
o rebelde só sem tempo
pra outra vez só na pura

idéia libidinosa
té hoje a samba canção
me deixa na contra mão
mulheres é tudo prosa

pra compor só mais uns versos
confesso que em mim palpita
medo picadura zika
não temam poeta presto.

terça-feira, fevereiro 02, 2016

Comentário de Beato John Henry Newman

«De repente, entrará no seu Templo o Senhor que vós procurais» (Mal 3,1). Hoje é-nos recordada a acção silenciosa da Providência de Deus. Acontecimentos que tinham sido previstos há muito inserem-se tranquilamente no curso do tempo; as visitas do Senhor permanecem simultaneamente repentinas e misteriosas. […]

Nesta cena, não há verdadeiramente nada de extraordinário nem de impressionante; no mundo, pessoas como os pais desta criança, que eram pessoas pobres, e dois velhos como estes são olhados sem grande interesse e passa-se à frente. Contudo, o que temos aqui é a realização solene de uma profecia antiga e prodigiosa. […] A criança que se toma nos braços é o Salvador do mundo, o autêntico herdeiro que vem, sob a aparência de um desconhecido, visitar a sua própria casa. O profeta tinha dito: «Quem poderá suportar o dia da sua vinda?» (Mal 3,2); ei-Lo que vem para tomar posse da sua herança.

Por sua vez, o velho Simeão está repleto dos dons do Espírito: alegria, acção de graças, e esperança, misteriosamente combinadas com o temor, o susto e a dor. Também Ana se torna profetisa, e as testemunhas a quem se dirige são o autêntico Israel que espera com fé a redenção do mundo, de acordo com a promessa. «A glória que virá desse Templo ultrapassará a do antigo», tinha anunciado outro profeta (Ag 2,9). Ei-la agora, essa glória: um menino com seus pais, dois velhos e uma assembleia sem nome e sem futuro. «A vinda do Reino não se deixa ver» (Lc 17,20).

Tal foi sempre a maneira de Deus fazer as suas visitas […]: o silêncio, o inesperado, a surpresa aos olhos do mundo, apesar das previsões conhecidas de todos, cujo sentido a Igreja verdadeira apreende e cujo cumprimento espera. […] Não pode ser de outra forma. Os avisos de Deus são claros, mas o mundo continua o seu curso; envolvidos pelas suas actividades, os homens não sabem discernir o sentido da história. Tomam grandes acontecimentos por factos sem importância e medem o valor das realidades segundo uma perspectiva apenas humana. […] O mundo permanece cego, mas a Providência oculta de Deus realiza-se dia após dia.

A lamentação. Ulrich the Elder


The Lamentation
APT, Ulrich the Elder (c. 1460-1522) Northern Renaissance German painter

segunda-feira, fevereiro 01, 2016

ARREPIOS. Charles Fonseca. Poesia

ARREPIOS
Charles Fonseca

Arrepios tia Dilma
Avô Lula o honesto
Urticária logo presto
Sobrenome eu sou Silva

Do outro lado sou Fonseca
Quer na várzea ou nos mares
Nos ares ou nos palmares
Nos catinga terra seca

Só comungo hóstia benta
Longe dos escarnecedores
Que mambembe são atores
De outra estirpe já setenta

Quero chegar aos noventa
Não nesta crise bufunfa
Apetralhada cacunda
Pobre Brasil, pestilenta.