A CARNE
Charles Fonseca
Era uma união perfeita. De propósitos de pensamentos e de ações. Cúmplices e frequentes entre si. Quando se viam o sorriso aflorava. A tal ponto que um amigo comum sugeriu com a leveza de uma pétala que via naquela amizade um possível namoro. Assustado, o real aflorou a si o que já era desejado ou desconfiado por outrem. Pareceu ao mancebo uma abordagem que poderia ser fruto de uma instância superior imanente. E os anos iam se passando, passou de lustro. A instância, o espírito santo, foi alijado. Veio o substituto e instalou entre os dois uma cunha. Bem que poderia ser uma cunhada simbólica. Ah, as mulheres! Quem disse? Tomou-se de gentilezas por ele. De requebros, de meias voltas olímpicas. O clima aos poucos foi azedando entre elas. Ele em outra seara. Adiantemos os passos. O bem amado não se decidia. Dali ganhava seu pão. Mas a virtude se fez fraca. Pendeu em espírito para a mais afoita ou mais aflita. Como entender as mulheres? Nisso o sábio Freud desistiu. Já que não encarnava, o espírito santo delas passou a o considerar imundo, indeciso. Um sapo coaxava, uma serpente em ciclo, um vidente no espio, um nó que não desatava. Uma potranca no cio. Enfim, o espírito se fez carne e habitou uma delas. A tragédia consumada.
sábado, outubro 03, 2015
A carne. Charles Fonseca
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