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quinta-feira, abril 30, 2015

Andrea del Castagno. Pintura

53. Dante Alighieri z Villi Carducci, Castagno

Jesuitas. Castro Alves. Poesia

Jesuítas
(século XIII)
Castro Alves

Quando o vento da Fé soprava Europa,
Como o tufão, que impele ao ar a tropa
Das águias, que pousavam no alcantil;
Do zimbório de Roma — a ventania
O bando dos Apost'los sacudia
Aos cerros do Brasil.

Tempos idos! Extintos luzimentos!
O pó da catequese aos quatro ventos
Revoava nos céus...
Floria após na India, ou na Tartária,
No Mississipi, no Peru, na Arábia
Uma palmeira — Deus! —

O navio maltês, do Lácio a vela,
A lusa nau, as quinas de Castela,
Do Holandês a galé
Levava sem saber ao mundo inteiro
Os vândalos sublimes do cordeiro,
Os átilas da fé.

Onde ia aquela nau? — Ao Oriente.
A outra? — Ao pólo. A outra? — Ao ocidente.
Outra? — Ao norte. Outra? — Ao sul.
E o que buscava? A foca além no pólo;
O âmbar, o cravo no indiano solo,
Mulheres em 'Stambul.

Ouro — na Austrália; pedras — em Misora!. .
"Mentira!" respondia em voz canora
O filho de Jesus...
"Pescadores!... nós vamos no mar fundo
"Pescar almas p'ra o Cristo em todo mundo,
"Com um anzol — a cruz —!"

Homens de ferro! Mal na vaga fria
Colombo ou Gama um trilho descobria
Do mar nos escarcéus,
Um padre atravessava os equadores,
Dizendo: "Gênios!... sois os batedores
Da matilha de Deus."

Depois as solidões surpresas viam
Esses homens inermes, que surgiam
Pela primeira vez.
E a onça recuando s'esgueirava
Julgando o crucifixo... alguma clava
Invencível talvez!

O martírio, o deserto, o cardo, o espinho,
A pedra, a serpe do sertão maninho,
A fome, o frio, a dor,
Os insetos, os rios, as lianas,
Chuvas, miasmas, setas e savanas,
Horror e mais horror ...

Nada turbava aquelas frontes calmas,
Nada curvava aquelas grandes almas
Voltadas p'ra amplidão...
No entanto eles só tinham na jornada
Por couraça — a sotaina esfarrapada...
E uma cruz — por bordão.

Um dia a taba do Tupi selvagem
Tocava alarma... embaixo da folhagem
Rangera estranho pé...
O caboclo da rede ao chão saltava,
A seta ervada o arco recurvava...
Estrugia o boré.

E o tacape brandindo, a tribo fera
De um tigre ou de um jaguar ficava à espera
Com gesto ameaçador...
Surgia então no meio do terreiro
O padre calmo, santo, sobranceiro,
O Piaga do amor.

Quantas vezes então sobre a fogueira,
Aos estalos sombrios da madeira,
Entre o fumo e a luz...
A voz do mártir murmurava ungida
"Irmãos! Eu vim trazer-vos — minha vida...
Vim trazer-vos — Jesus!"

Grandes homens! Apóstolos heróicos!...
Eles diziam mais do que os estóicos:
"Dor, — tu és um prazer!
"Grelha, — és um leito! Brasa, — és uma gema!
Cravo, — és um cetro! Chama, — um diadema
Ó morte, — és o viver!"

Outras vezes no eterno itinerário
O sol, que vira um dia no Calvário
Do Cristo a santa cruz,
Enfiava de vir achar nos Andes
A mesma cruz, abrindo os braços grandes
Aos índios rubros, nus.

Eram eles que o verbo do Messias
Pregavam desde o vale às serranias,
Do pólo ao Equador...
E o Niagara ia contar aos mares...
E o Chimborazo arremessava aos ares
O nome do Senhor!...

quarta-feira, abril 29, 2015

Lawrence Alma-Tadema. Pintura

Sir Lawrence Alma-Tadema (Sir Lawrence Alma Tadema) (1836-1912)  The Finding of Moses [detail]

O Espírito Santo atualiza o mistério de Cristo. Igreja. Cristianismo

O ESPÍRITO SANTO ATUALIZA O MISTÉRIO DE CRISTO

1104. A liturgia cristã não se limita a recordar os acontecimentos que nos salvaram: actualiza-os, torna-os presentes. O mistério pascal de Cristo celebra-se, não se repete; as celebrações é que se repetem. Mas em cada uma delas sobrevém a efusão do Espírito Santo, que actualiza o único mistério.

1105. A epiclese («invocação sobre») é a intercessão mediante a qual o sacerdote suplica ao Pai que envie o Espírito santificador para que as oferendas se tornem o corpo e o sangue de Cristo e para que, recebendo-as, os fiéis se tornem eles próprios uma oferenda viva para Deus.

1106 Juntamente com a anamnese, a epiclese é o coração de qualquer celebração sacramental, e mais particularmente da Eucaristia:

«Tu perguntas como é que o pão se torna corpo de Cristo, e o vinho [..] sangue de Cristo? Por mim, digo-te: o Espírito Santo irrompe e realiza isso que ultrapassa toda a palavra e todo o pensamento. [...] Baste-te ouvir que é pelo Espírito Santo, do mesmo modo que é da Santíssima Virgem e pelo Espírito Santo que o Senhor, por Si mesmo e em Si mesmo, assumiu a carne» (20).

1107. O poder transformante do Espírito Santo na liturgia apressa a vinda do Reino e a consumação do mistério da salvação. Na expectativa e na esperança. Ele faz-nos realmente antecipar a comunhão plena da Santíssima Trindade. Enviado pelo Pai, que atende a epiclese da Igreja, o Espírito dá a vida aos que O acolhem e constitui para eles, desde já, as «arras» da sua herança (21).

catecismo

segunda-feira, abril 27, 2015

A porta dos fundos. Arnaldo Jabor. Sexualidade

A porta dos fundos
Arnaldo Jabor

Como as ideologias falharam, só a sexualidade explica os rumos do mundo

Chega de política. Vou falar de sexo. Antes, havia a “sexpol”, bandeira da política sexual dos anos 1960. Hoje, temos no máximo a “polsex”, ou seja, como as ideologias dançaram, só a sexualidade explica muitos rumos do mundo e, claro, do Brasil, nosso grande motel das ilusões perdidas. Na verdade, falarei só sobre uma parte muito importante da sexualidade: a bunda.

Há um tempo, escreveram na internet um artigo com meu nome, onde meu “falso eu” dizia que mulher não precisa ter bunda dura e que as celulites eram bem-vindas. Na rua, veio uma senhora toda contente e me declarou: “Eu tenho bunda mole!” e saiu sorridente pelo artigo que eu “não” escrevi. Por isso, escrevo hoje sobre a “bunda”, a famosa “preferência nacional”, um dos poucos monumentos culturais que ainda nos restam. Por isso, e para esquecer nossa pornopolítica , escrevo, como um apócrifo de mim mesmo.

Vamos a isso. Visto de frente, o Brasil anda para trás, parece um ex-Brasil. Por isso, vou olhar pela porta dos fundos: a bunda. A palavra já soa imprópria, obscena, já traz um adjetivo acoplado. Por isso, desculpem-me os leitores, mas a palavra “bunda” é a única de que dispomos. Temos eufemismos com “nádegas”, doces apelidos como bumbum, mas o termo que usamos na vida diária é bunda mesmo, com a ressonância africana dos “bundos”, de onde vieram as vênus negras que nos miscigenaram. A bunda não começou no descobrimento do Brasil; as índias, apesar de “oferecidas”, não as tinham avolumadas, mas escorridas “em pera” , barrigudinhas e frágeis. A bunda começou nas senzalas com senhores inflamados pelas negras, longe do tédio das sinhás.

Há uma espantosa separação entre a bunda e a dona da bunda. A bunda fica mais importante do que sua dona. Conheci uma moça que ficou meio paranoica por causa do lindo rabinho que portava. Quando conversávamos, não era a ela que servíamos, mas à “outra”. Ela vivia com ciúmes de si mesma, e sua bundinha parecia dizer: “prestem atenção nela; ela também é gente...”.

Reparem que as mulheres de bunda bonita, mesmo quando estão de frente, estão de costas para nossos olhos. As mulheres de frente são mais inquietantes, porque são “sujeitos” com rosto e alma. Já as mulheres de costas aparentam um caráter mais passivo, mais “objetal”, diriam os filósofos. O desejo pelas costas é a defesa contra os perigos da vulva. A bunda é estéril; não inquieta como a vagina e seu mistério profundo. A bunda não procria — muito pelo contrário. Eu já vi belas bundinhas no passado, nas areias de Ipanema, e elas tinham uma florescência espontânea, inocente. Naquele tempo, não havia muito estímulo à punhetinha; raras eram as revistas pornográficas. Hoje, tanta oferta sexual angustia-nos, mostra que nosso desejo é programado por indústrias masturbatórias, provocando tesão para vender satisfação.

Nunca vimos tanta publicidade movida a sexo. A propaganda nos promete uma suruba transcendental. Em nenhum lugar do mundo vemos esse apelo sexual nas ruas, nas roupas das meninas — nosso feminismo resultou nisso. Quase todos os outdoors são de mulher nua — outro dia quase bati o carro por causa de um cartaz com uma lourinha nua da “Playboy”.

Hoje sexo é uma imagem farta e colorida. Na época, punheta era literatura; para nos excitar tínhamos de imaginar complicadas tramas de suspense com estrutura de filme policial e o que acendia o desejo eram justamente os obstáculos a vencer até a satisfação final.

Babávamos sim diante das vedetes do teatro rebolado, de Angelita Martinez, de Carmen Verônica, Luz del Fuego, mas elas eram pessoas verídicas, inteiras, e sua nudez tinha algo de transgressivo, de liberdade e luta. Hoje as mulheres travam uma competição frenética de bundas e seios e eu me pergunto: O que querem elas provar? Querem nos levar para o fundo do mar como sereias, querem destruir os lares, querem mostrar que o sexo sem limites resolverá os problemas do Brasil?

E agora, nesses tempos sinistros, surgiu a bunda industrial. Ela fatura milhões para as revistas de sacanagem. Elas programam nosso desejo e limitam a imaginação criadora dos praticantes do vicio solitário, como chamavam os padres no confessionário.

A bunda virou um instrumento de ascensão social. Mesmo nossas meninas mais românticas, sonhando com casamento e filhos, são obrigadas a rebolados cada vez mais desbragadas. Milhões de menininhas pelos grotões do país se olham no espelho e pensam: “Vou subir na vida”. A bunda é um capital. A pessoa não tem mais um corpo; o corpo é que tem uma pessoa, frágil, tênue, morando dentro dele. O corpo e a pessoa são duas coisas diferentes; a menina mostra sua bunda como se fosse uma irmã siamesa.

Agora, com o surgimento da bunda digital na internet, a bunda perdeu aquela aura de objeto único, “erguida no altar de nosso desejo” (arggh!). Viraram bundas em streaming, olhadas com tédio por nossos garotos, como um videogame superado. Depois da bunda, o que virá, já que a indústria cultural pede sempre mais? Ânus luminosos, entranhas profundas, o avesso do corpo?

No século XXI, nasce a bunda distópica, a “pós-bunda”, pela fragmentação do desejo. Desejamos as partes, mas tememos o conjunto. O chamado “objeto total” de Melanie Klein (aquela mulher sem bunda e com seios enormes) foi substituído pelo objeto perverso, parcial, deliciosamente irresponsável, “da ordem do demônio”, ao contrário dos seios, “objetos de Deus”.

Hoje, com a sonda cósmica pousando em cometa, com robôs capinando em Marte, em meio à crise mundial, nós olhamos a bunda: a porta dos fundos, a entrada de serviço, em que talvez fiquemos para sempre. A bunda é nosso destino histórico.

ANTES DO FIM. Charles Fonseca. Poesia

ANTES DO FIM
Charles Fonseca

Sou filho de um pai bondoso
Pai de filho, já fui esquivo
Sou pai do pai e enquanto vivo
Ele se esvai e em parte morro

Coreggio. Pintura

Luke 1:37 Because no word shall be impossible with God.   Image Result for http://www.artclon.com/OtherFile/Lucenti_de_Coreggio_Jeronimo-ZZZ-The_Annunciation.jpg

domingo, abril 26, 2015

Charles Chaplin. Fotografia

Charlie Chaplin and Jackie Coogan - 1921 - The Kid - Directed by Charles Chaplin - @~ Mlle

Timidez. Cecília Meireles. Poesia

Timidez
Cecília Meireles

Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve…

- mas só esse eu não farei.

Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes…

- palavra que não direi.

Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,

- que amargamente inventei.

E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando…

e um dia me acabarei.

Livro dos Actos dos Apóstolos 4,8-12. Igreja. Cristianismo

Naqueles dias, Pedro, cheio do Espírito Santo, disse-lhes: «Chefes do povo e anciãos,
já que hoje somos interrogados sobre um benefício feito a um enfermo e o modo como ele foi curado,
ficai sabendo todos vós e todo o povo de Israel: É em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, que vós crucificastes e Deus ressuscitou dos mortos, é por Ele que este homem se encontra perfeitamente curado na vossa presença.
Jesus é a pedra que vós, os construtores, desprezastes e que veio a tornar-se pedra angular
. E em nenhum outro há salvação, pois não existe debaixo do céu outro nome, dado aos homens, pelo qual possamos ser salvos».

sábado, abril 25, 2015

O exército de Lula em defesa do que é nosso (deles). Guilherme Fiuza. Política

O exército de Lula em defesa do que é nosso (deles)
A operação Lava Jato é como um filme de gângsteres passado na cabeça de algum roteirista de Hollywood

Guilherme Fiuza
17/04/2015

Lula convocou o “exército” do MST – nas palavras dele – para defender o PT nas ruas. Até que enfim alguém faz algo concreto em defesa do nascente e moribundo governo de Dilma 2, a missão. A esta altura dos acontecimentos, talvez só mesmo um exército usando a força bruta possa salvar o mandato da grande dama – porque na legalidade está difícil.

Mas não tem problema, porque o PT sabe que esse negócio de legalidade não tem a menor importância. Pelo menos não para quem tem bons despachantes, doleiros diligentes e militantes bem pagos dispostos a tudo. Lula convocará todos os seus exércitos até o dia 15, se possível com o auxílio sofisticado de alguns depredadores de elite. Entre uma soneca e outra, o Brasil está programando sair às ruas nesse dia. E não é de vermelho. Cumpre ao grande líder, portanto, reunir todas as forças populares de aluguel para mandar o Brasil de volta para casa, que é o lugar dele.

Tudo isso acontece num momento histórico para o país. Após anos de trabalho exaustivo, o PT conseguiu o que parecia impossível: rebaixar a Petrobras à categoria de investimento especulativo. Não pensem que isso é tarefa fácil, nem para o mais laureado dos parasitas. Tratava-se da oitava maior empresa do mundo, que ia ficar maior ainda após a descoberta do pré-sal. Jogar a Petrobras na lona, levando-a a perder o grau de investimento e a sair vendendo bugigangas como uma butique em liquidação é façanha para poucos. Os brasileiros que sairão às ruas no dia 15 só podem estar com inveja dessa obra-prima.

O Brasil deu 16 anos consecutivos de mandato presidencial ao PT, e pode-se afirmar com segurança que uma grossa fatia desses votos foi dada em defesa do nacionalismo – em defesa da Petrobras. Lula e o império do oprimido conquistaram o monopólio da defesa do que é nosso e não têm culpa se o povo não entendeu que eles estavam lutando pelo que é “só nosso”. No caso, os dividendos bilionários que a Petrobras podia dar a um esquema subterrâneo de sustentação política. É mais ou menos como a situação do padre pedófilo, que guarnece a pureza da criança para poder abusar dela.

Os brasileiros levaram essa curra ideológica e continuam relaxados. Ninguém deu queixa. A Operação Lava Jato continua sendo assistida como um filme de gângsteres, como se isso se passasse na cabeça de algum roteirista de Hollywood. Um mistério insondável permanece impedindo que se entenda por que as vítimas do estupro ainda não botaram os gângsteres para correr. Talvez isso comece a se esclarecer no dia 15 de março de 2015. Ou não.

Em junho de 2013, o petrolão ainda não tinha jorrado nas manchetes em todo o seu esplendor. Mas o mensalão e seus sucedâneos já revelavam a jazida de golpes do governo popular contra o Estado – esse que o PT jurava defender contra a sanha da direita neoliberal. Ou seja: o padre pedófilo já estava escondido com a batina de fora, não via quem não queria. Foi então que o Brasil saiu às ruas indignado, disposto a dar um basta nos desmandos que já lhe custavam, entre outras coisas, a subida da inflação e o aumento do custo de vida. O padre pedófilo assistiu àquela explosão de olhos arregalados, certo de que tinha sido descoberto e de que agora vinham buscar o seu escalpo. Mas os revoltosos nem o notaram, e ele pôde até, tranquilamente, estender seu tempo de permanência na paróquia. Foi o fenômeno conhecido como a Primavera Burra.

Agora o outono se aproxima, com ares primaveris. As vítimas do abuso começam, aparentemente, a entender que o seu protetor é o seu algoz. Como sempre no Brasil, tudo muito lento, meio letárgico e confuso, com as habituais cascas de banana ideológicas largadas no caminho pelo padre – “a culpa é de FHC”, “querem a intervenção militar”, “é a burguesia contra o Bolsa Família” etc. Como escreveu Fernando Gabeira, o velho truque de jogar areia nos olhos da plateia – única instituição que dá 100% certo no Brasil há 12 anos. O problema é que, mesmo com areia nos olhos, está dando para ver que o petrolão ajudou a financiar a reeleição de Dilma. E agora?

Agora é hora de tirar a batina do padre e mostrar que o rei está nu. Sem medo dos exércitos de aluguel que farão o diabo para defender o que é nosso (deles).

Velasquez. 8. Pintura

Velazquez

Joan Miró. Murilo Mendes. Poesia

Joan Miró
Murilo Mendes

Soltas a sigla, o pássaro, o losango.
Também sabes deixar em liberdade
O roxo, qualquer azul e o vermelho.
Todas as cores podem aproximar-se
Quando um menino as conduz no sol
E cria a fosforescência:
A ordem que se desintegra
Forma outra ordem ajuntada
Ao real — este obscuro mito.

sexta-feira, abril 24, 2015

O rio. Vinicius de Moraes. Poesia

O rio
Vinicius de Moraes

Uma gota de chuva
A mais, e o ventre grávido
Estremeceu, da terra.
Através de antigos
Sedimentos, rochas
Ignoradas, ouro
Carvão, ferro e mármore
Um fio cristalino
Distante milênios
Partiu fragilmente
Sequioso de espaço
Em busca de luz.

Um rio nasceu.

quinta-feira, abril 23, 2015

Velasquez. 7. Pintura

Polyptych of the Resurrection St Sebastian, 1520 Titian (Tiziano)

Immensis orbibus anguis. Castro Alves. Poesia

Immensis orbibus anguis.
Castro Alves

Sibila lambebant linguis vibrantibus ora.
Virgílio


Resvala em fogo o sol dos montes sobre a espalda,
E lustra o dorso nu da índia americana...
Na selva zumbe entanto o inseto de esmeralda,
E pousa o colibri nas flores da liana.

Ali — a luz cruel, a calmaria intensa!
Aqui — a sombra, a paz, os ventos, a cascata
E a pluma dos bambus a tremular imensa. . .
E o canto de aves mil... e a solidão... e a mata...

E à hora em que, fugindo aos raios da esplanada,
A Indígena, a gentil matrona do deserto
Amarra aos palmeiras a rede mosqueada,
Que, leve como um berço, embala o vento incerto...

Então ela abandona-lhe ao beijo apaixonado
A perna a mais formosa — o corpo o mais macio,
E, as pálpebras cerrando, ao filho bronzeado
Entrega um seio nu, moreno, luzidio.

Porém, dentre os espatos esguios do coqueiro,
Do verde gravatá nos cachos reluzentes,
Enrosca-se e desliza um corpo sorrateiro
E desce devagar pelos cipós pendentes.

E desce... e desce mais... à rede já se chega...
Da índia nos cabelos a longa cauda some...
Horror! aquele horror ao peito eis que se apega!
A baba — quer o leite! — A chaga — sente fome!

O veneno — quer mel! A escama quer a pele!
Quer o almíscar — perfume! — O imundo quer — o belo!
A língua do reptil — lambendo o seio imbele!...
Uma cobra — por filho... Horrível pesadelo!...

II

Assim, minh'alma, assim um dia adormeceste
Na floresta ideal da ardente mocidade...
Abria a fantasia — a pétala celeste...
Zumbia o sonho d'ouro em doce obscuridade...

Assim, minh'alma deste o seio (ó dor imensa!)
Onde a paixão corria indômita e fremente!
Assim bebeu-te a vida, a mocidade e a crença,
Não boca de mulher ... mas de fatal serpente! ...

quarta-feira, abril 22, 2015

Trio Nagô. Na Baixa do Sapateiro. Música

Por tanto tempo. Olavo Bilac. Poesia

Por tanto tempo
Olavo Bilac

Por tanto tempo, desvairado e aflito,
Fitei naquela noite o firmamento,
Que inda hoje mesmo, quando acaso o fito,
Tudo aquilo me vem ao pensamento.

Sai, no peito o derradeiro grito
Calcando a custo, sem chorar, violento...
E o céu fulgia plácido e infinito,
E havia um choro no rumor do vento...

Piedoso céu, que a minha dor sentiste!
A áurea esfera da lua o ocaso entrava.
Rompendo as leves nuvens transparentes;

E sobre mim, silenciosa e triste,
A via-láctea se desenrolava
Como um jorro de lágrimas ardentes.

terça-feira, abril 21, 2015

A Igreja Católica: Construtora da Civilização (Completo e Legendado). 5hs44m.

Poema de amor. Charles Fonseca. Poesia

Pra você o meu longo e afetuoso abraço. Que muitos beijos de felicidade cubram seu corpo como gotas de orvalho na manhã que vem ensolarada. Que você caminhe leve na areia dura da praia. Que sonhemos o real na ponta de Humaitá. Que passeiemos de mãos dadas na colina sagrada do Senhor do Bomfim da Cidade do Salvador da Baía de Todos os Santos.

Ofendendo a Deus. Olavo de Carvalho. Filosofia. Teologia.

Tema de meditação para os cristãozinhos. Como é possível "ofender a Deus", se Deus é Ato Puro e nele não há passividade, possibilidade de sofrer? Deus só pode ser ofendido porque Ele próprio se ofereceu para isso, livremente, na pessoa do seu Filho. Quando Deus Se sente ofendido por você, não é para você Lhe oferecer uma reparação, é para você aceitar a reparação que Ele próprio oferece.

Ankito e Grande Otelo-É De Chuá (1958). Cinema

‘Venere’ di Tiziano, Pintura

Tiziano_-_Venere_di_Urbino_-_Google_Art_Project

segunda-feira, abril 20, 2015

Sobre Rosana. Rosana Gama. Prosa.

SOBRE ROSANA

Não quero ser desejada fisicamente.Quero apenas a presença dele,discreta e silensiosa.Que fique ali,fazendo as suas coisas e contemplando,com olhar doce e sem súplica,a minha quietude. Quero como um boi manso olhando a imensidão do pasto. Assistir à televisão sem som,como se assiste às labaredas de uma lareira. Quero o amor do meu homem, seu sexo em ereção por mim,mas sem que me solicite nada.Que seu coração emocionado e seu sexo desejante não me invadam não me invadam o corpo ou me penetrem a alma. Eu o quero disponível, ali, para a hora em que eu o desejar. Quero que não se magoe por nem sempre eu estar disponível para ele. Que seu sexo pertença ao meu corpo como um dedo de minha mão,mas que não me pressione. Quero que ele sinta o meu amor e o meu desejo por ele. Quero ser vista como uma princesa,e que seus olhos fiquem mansamente embevessidos por me ver assim. Ah,se ele pudesse me entender nesse meu terno deleite! Ah, se ele pudesse ser um manso regaço para a minha exaustão! Estou exausta até de amar e ser amada, de desejar e ser desejada. Que bom se ele pudesse viajar comigo em busca de paz! Sei que estou pedindo muito, mas não quero isso para sempre. É só por algum tempo, como alguém que precisa dormir para despertar com novas energias. Preciso passar só uns dias nos Jardins do ÉDEN, comendo os doces frutos do paraíso. Quero uma pausa nos orgasmos do corpo e dos sentimentos. Quero repouso no êxtase. Ele nem imagina como seria maravilhoso se pudesse me acompanhar nessa viagem,mansamente e cheio de prazer. Ele me veria repousada e saciada da minha fome de paz. E presenciaria o meu amanhecer, cheia de genuína gratidão e encantamento por ele. Desse sono reparador eu sairia restaurada. Ele então veria uma dança espanhola possuir o meu corpo, castanholas marcarem a minha cadência, a potranca árabe que trago em mim entrar no cio. Eu voltaria, de corpo e alma, para o lindo universo da paixão. Meus sentimentos e desejos entrariam em erupção. Minha cabeça,num cio intelectual. Eu recuperaria todos os meus gostos pelos prazeres masculinos até ao futebol eu iria. Mas, que ele vivesse, pelo menos durante um tempo, os meus prazeres femininos. Tão femininos que nem são próprios da mulher adulta. Um prazer pré-sexual, pré-emocional, pré-amoroso. A sensação de ser criança pequena aconchegada nos braços tranquilos da mãe. Todo um clima de bonança tão necessário a quem navegou nas tempestades. Ah,se o homem soubesse disso, quanto prazer ele não seria capaz de extrair de sua mulher! Quantas noites de amantes enlouquecidos ele não viveria! Se o homem pudesse arejar o seu vigor masculino, deixando penetrar em suas brechas as brisas femininas... Que sua renúncia transitória à busca aflita de encontros pudesse deixar nele a certeza de que encontros rejuvenescidos não tardariam a vir. Estou convencida de que muita mulher jamais se entregou ao seu parceiro porque ele jamais se entregou a ela. O masculino não soube enxergar o feminino nas suas formas mais extremas, de puro deleite de sensações plácidas. Desgraçadamente,essa necessidade feminina é vivida pelo homem como rejeição, frigidez, recusa e desamor.Por isso,tantos garanhões de raça não conseguem despertar a potranca puro-sangue que sua mulher recolhe nas suas entranhas. Trágico descompasso de cadências. Trágico desencontro de sonhos. Estranha busca desenfreada de realizações não acontecidas.

A forma das coisas invisíveis. Arnaldo Jabor. Prosa

A forma das coisas invisíveis

Picasso me dá vontade de viver! Pintava a vida, comidas, amores

Tirei férias e fui correndo para Paris. Essa vida de comentarista pode envenenar a alma. Além dos processos que tenho enfrentado, minha profissão é prestar atenção nos “malfeitos” políticos, eufemismo do governo para roubalheiras e cinismo. É como trabalhar no Instituto Butantan — um dia a cobra te morde. Por isso, de repente começa a pintar a depressão não apenas pelas coisas que acontecem no país, mas, pior, pelas coisas que “não” acontecem. Vejam nos jornais como as notícias são sobre fracassos: a meta não atingida, a obra inacabada, a lei que não pegou, o assassino que foi solto; em suma, nosso problema principal é a paralisia secular, descrita uma vez por Mário Henrique Simonsen brilhantemente: “O Brasil é um país sob anestesia, mas sem cirurgia”. E a ideologia do partido no Poder é manter essa paralisia em nome do Estado e de seus comedores. É deprimente o que o Brasil “não” faz.

Por isso, saí de ferias, em busca de um pouco de beleza e civilização. E fui direto para o Museu Picasso. Na saída, extasiado, tive a certeza súbita: “Picasso me dá vontade de viver!” É isso mesmo. Ele não tinha uma “mensagem” para passar ao mundo ou besteiras assim. Ele pintava a própria mudança, seu viver, suas comidas e seus amores, até os maravilhosos quadros de velhos apalhaçados e de mosqueteiros loucos nos últimos meses de seus 92 anos. Picasso pintava a forma das coisas desconhecidas, como escreveu Herbert Read: “The form of things unknown”.

Picasso mudou o olho humano. Cézanne já tinha pintado a geometria da natureza, declarando: “Eu sou a consciência da paisagem que se pensa em mim”. Cézanne recortou o espaço, e Van Gogh pintou o tempo. Olhem um Van Gogh e vejam o tempo passando sobre as coisas. Nada para em Van Gogh: a igreja se move, os lilases ventam, a matéria fervilha em cada pincelada, as cadeiras, as camas; parece que vemos os átomos girando, os girassóis rodando, vemos a morte passando no rosto do doutor Gachet.

Depois, Picasso chega e pinta os dois: o espaço-tempo. Uma de suas viúvas disse que Picasso não podia ficar com a mão parada. Mexia em tudo: de um peixe comido ele tirava a espinha e fazia uma cerâmica, de um selim de bicicleta ele esculpia uma cara de boi, o regador em um homem, um automóvel em macaco, um beijo na praia — virava mulher em flor e flor em mulher.

Fez milhares de quadros, além de esculturas, tudo. No museu, vemos que ele se recusava a ser “importante”, a ser “metafísico”, a ser um pintor “acima” da vida. Em sua arte, há uma permanente luz até de caricatura. Picasso é um pintor popular. Por isso, as filas se formam para ver seus quadros. Picasso era um rude espanhol, um torcedor de futebol, um comedor de mulheres, um sacana aficionado por touradas e que não queria humilhar ninguém. Picasso era um espantoso retratista da realidade, só que a “realidade” para ele não era essa série de arestas e volumes verossímeis, pousados no horizonte da perspectiva — a realidade era transiente, mutante, incessante. Por outro lado, Picasso nunca acreditou na babaquice do abstracionismo metafisico, que busca uma “essência” de algo finalmente flagrado, “para longe”, “mais além” da aparência suja do mundo. Os grandes artistas almejam a realidade, pois, como disse Woody Allen, “ninguém sabe o que é a realidade, mas ainda é o único lugar onde se come um bom bife”.

Picasso sempre amou justamente essa face “suja” do mundo; sempre viveu em busca da figura, sim, da figura, mas que, para ele, era muito mais complexa que as chatas realidades que o burguês chama de “naturais”. Para ele, nada existia além do olho que, esse sim, pode ser ampliado como um telescópio ou caleidoscópio, se não estiver domesticado por ideologias ou narcisismo de “gênios”. Picasso nunca precisou do Dada ou do surrealismo para sair “fora” da aparência. Picasso não deformava nada, como costumam dizer — seu olho negro profundo que nos fita sem parar parece dizer: “Eu vejo todos os lados das caras, dos corpos, eu vejo as figuras dentro das outras, eu vejo o espaço entre as pessoas, as linhas invisíveis que as ligam, os vazios dentro delas, eu vejo também o ridículo da beleza como algo ‘sublime’ a se chegar. Não há nada a se atingir, por isso a minha frase ‘Não procuro; acho’ é tão mal interpretada. Ela não quer dizer que eu tenho talento milagreiro ou algo assim. Não. Essa frase quer dizer que eu não sei, antes, para onde estou indo; eu só chego ao quadro ao final”. Raramente sabe o que fazer a priori; por isso, Picasso era um grafiteiro. Não buscava “auras”. Seus quadros são até mal acabados, nas coxas. Não foi por acaso que Jean-Michel Basquiat, o gênio-pichador, comprou um Picasso com o primeiro milhão que ganhou. Basquiat também, do fundo do desespero em que viveu quando era um mendigo desconhecido, nunca desprezou a vida, com seus quadros espantosos e sofridos. Picasso nunca teve a romântica amarelidão do sofrimento em busca do “sentido” ou do “belo”. Pintava a própria experiência, felicíssimo, de bermudas, comendo, trepando e fumando, nunca acreditou que o “artista só é grande se sofrer”.

Nós não vemos Picasso; ele é que nos vê. Por isso, faz tanto sucesso. Ele nos explica. Ele é uma lição de sabedoria para a arte contemporânea, frequentemente caída nas agruras de uma distopia “bodeada”, que faz do futuro um cemitério deprimente. Como Picasso mostrou, a “obra de arte deve ser exaltante”, frase de Stravinsky que ele provou em sua obra. Apesar disso saí do museu, em meu vício, pensando no PMDB e PT, porém com mais vontade de viver.

Platão desprezando a morte. Jacques-Louis David. Pintura

1787. Jacques-Louis David. "de dood van Socrates".  Opdrachtgevers Trudaine hingen politieke hervormingen aan, die 2 jaar inderdaad zouden leiden tot de Franse revolutie.  JLD was weg van de Oudheid en toont hier de 'revolutionaire' filosoof Socrates, die onrechtvaardig veroordeeld wordt maar liever sterft dan toe te geven.  S vol doodsverachting, Plato aan zijn voeteneind,  leerlingen zoals Crito vol emoties, familie die weggestuurd is.

Irene no céu. Manuel Bandeira. Poesia

Irene no Céu
Manuel Bandeira

Irene preta
Irene boa
Irene sempre de bom humor.

Imagino Irene entrando no céu:
- Licença, meu branco!
E São Pedro bonachão:
- Entra, Irene. Você não precisa pedir licença.

domingo, abril 19, 2015

Roberto Carlos - Detalhes

Poema da amante. Adalgisa Nery. Poesia

Poema da amante
Adalgisa Nery

Eu te amo
Antes e depois de todos os acontecimentos,
Na profunda imensidade do vazio
E a cada lágrima dos meus pensamentos.
Eu te amo
Em todos os ventos que cantam,
Em todas as sombras que choram,
Na extensão infinita dos tempos
Até a região onde os silêncios moram.
Eu te amo
Em todas as transformações da vida,
Em todos os caminhos do medo,
Na angústia da vontade perdida
E na dor que se veste em segredo.
Eu te amo
Em tudo que estás presente,
No olhar dos astros que te alcançam
E em tudo que ainda estás ausente.
Eu te amo
Desde a criação das águas,
desde a idéia do fogo
E antes do primeiro riso e da primeira mágoa.
Eu te amo perdidamente
Desde a grande nebulosa
Até depois que o universo cair sobre mim
Suavemente.

Tempo rei. Gilberto Gil. Música

Aspiração. Alberto de Oliveira. Poesia

Aspiração
Alberto de Oliveira

Ser palmeira! existir num píncaro azulado,
Vendo as nuvens mais perto e as estrelas em bando;
Dar ao sopro do mar o seio perfumado,
Ora os leques abrindo, ora os leques fechando;

Só de meu cimo, só de meu trono, os rumores
Do dia ouvir, nascendo o primeiro arrebol,
E no azul dialogar com o espírito das flores,
Que invisível ascende e vai falar ao sol;

Sentir romper do vale e a meus pés, rumorosa,
Dilatar-se a cantar a alma sonora e quente
Das árvores, que em flor abre a manhã cheirosa,
Dos rios, onde luz todo o esplendor do Oriente;

E juntando a essa voz o glorioso murmúrio
De minha fronde e abrindo ao largo espaço os véus
Ir com ela através do horizonte purpúreo
E penetrar nos céus;

Ser palmeira, depois de homem ter sido esta alma
Que vibra em mim, sentir que novamente vibra,
E eu a espalmo a tremer nas folhas, palma a palma,
E a distendo, a subir num caule, fibra a fibra:

E à noite, enquanto o luar sobre os meus leques
treme, E estranho sentimento, ou pena ou mágoa ou dó,
Tudo tem e, na sombra, ora ou soluça ou geme,
E a distendo, a subir num caule, fibra a fibra;

Que bom dizer então bem alto ao firmamento
O que outrora jamais — homem — dizer não pude,
Da menor sensação ao máximo tormento
Quanto passa através minha existência rude!

E, esfolhando-me ao vento, indômita e selvagem,
Quando aos arrancos vem bufando o temporal,
— Poeta — bramir então à noturna bafagem,
Meu canto triunfal!

E isto que aqui digo então dizer: — que te amo,
Mãe natureza! mas de modo tal que o entendas,
Como entendes a voz do pássaro no ramo
E o eco que têm no oceano as borrascas tremendas;

E pedir que, o uno sol, a cuja luz referves,
Ou no verme do chão ou na flor que sorri,
Mais tarde, em qualquer tempo, a minh'alma conserves,
Para que eternamente eu me lembre de til

Timidez. Cecília Meireles. Poesia

Timidez
Cecília Meirreles

Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve…

- mas só esse eu não farei.

Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes…

- palavra que não direi.

Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,

- que amargamente inventei.

E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando…

e um dia me acabarei.

( Cecília Meireles )

El derecho de Soñar - Eduardo Galeano

AO LÉU. Charles Fonseca. Poesia

AO LÉU
Charles Fonseca.

Por ti, mulher amada,
Espalho poemas ao léu.
São pequenos diamantes
Que só brilham se iluminas
Com tua luz o meu céu.
Mas se distante te tornas
Que destino eles terão?
Serão asteróides errantes,
Irão em busca, amantes,
De outras musas distantes,
Em outros céus errarão!

O que importa mesmo é se temos em média 150 amigos. Charles Fonseca

sábado, abril 18, 2015

Livro dos Actos dos Apóstolos 6,1-7.. Igreja. Cristianismo

Livro dos Actos dos Apóstolos 6,1-7.

Naqueles dias, aumentando o número dos discípulos, os helenistas começaram a murmurar contra os hebreus, porque no serviço diário não se fazia caso das suas viúvas.
Então os Doze convocaram a assembleia dos discípulos e disseram: «Não convém que deixemos de pregar a palavra de Deus, para servirmos às mesas.
Escolhei entre vós, irmãos, sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, para lhes confiarmos esse cargo.
Quanto a nós, vamos dedicar-nos à oração e ao ministério da palavra».
A proposta agradou a toda a assembleia; e escolheram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, Filipe, Prócoro, Nicanor, Timão, Parmenas e Nicolau, prosélito de Antioquia.
Apresentaram-nos aos Apóstolos e estes oraram e impuseram as mãos sobre eles.
A palavra de Deus ia-se divulgando cada vez mais; o número dos discípulos aumentava consideravelmente em Jerusalém e também obedecia à fé grande número de sacerdotes.

Anunciação - Alceu Valença

Comercial - Cobertores Parahyba

Pré-história. Murilo Mendes. Poesia

Pré-história
Murilo Mendes

Mamãe vestida de rendas Tocava piano no caos. Uma noite abriu as asas Cansada de tanto som, Equilibrou-se no azul, De tonta não mais olhou Para mim, para ninguém! Cai no álbum de retratos.

Gilberto Gil e Os Mutantes - Domingo no Parque

Machado de Assis. Fotografia

sexta-feira, abril 17, 2015

A BOMBA ATÔMICA I. Vinicius de Moraes. Poesia

A BOMBA ATÔMICA I
Vinicius de Morais

e = mc2
Einstein

Deusa, visão dos céus que me domina
… tu que és mulher e nada mais!
(Deusa, valsa carioca.)

Dos céus descendo
Meu Deus eu vejo
De paraquedas?
Uma coisa branca
Como uma forma
De estatuária
Talvez a forma
Do homem primitivo
A costela branca!
Talvez um seio
Despregado à lua
Talvez o anjo
Tutelar cadente
Talvez a Vênus
Nua, de clâmide
Talvez a inversa
Branca pirâmide
Do pensamento
Talvez o troço
De uma coluna
Da eternidade
Apaixonado
Não sei indago
Dizem-me todos
É A BOMBA ATÔMICA.

Vem-me uma angústia.

Quisera tanto
Por um momento
Tê-la em meus braços
A coma ao vento
Descendo nua
Pelos espaços
Descendo branca
Branca e serena
Como um espasmo
Fria e corrupta
Do longo sêmen
Da Via Láctea
Deusa impoluta
O sexo abrupto
Cubo de prata
Mulher ao cubo
Caindo aos súcubos
Intemerata
Carne tão rija
De hormônios vivos
Exacerbada
Que o simples toque
Pode rompê-la
Em cada átomo
Numa explosão
Milhões de vezes
Maior que a força
Contida no ato
Ou que a energia
Que expulsa o feto
Na hora do parto.

II

A bomba atômica é triste
Coisa mais triste não há
Quando cai, cai sem vontade
Vem caindo devagar
Tão devagar vem caindo
Que dá tempo a um passarinho
De pousar nela e voar...
Coitada da bomba atômica
Que não gosta de matar!

Coitada da bomba atômica
Que não gosta de matar
Mas que ao matar mata tudo
Animal e vegetal
Que mata a vida da terra
E mata a vida do ar
Mas que também mata a guerra...
Bomba atômica que aterra!
Pomba atônita da paz!

Pomba tonta, bomba atômica
Tristeza, consolação
Flor puríssima do urânio
Desabrochada no chão
Da cor pálida do helium
E odor de radium fatal
Lœlia mineral carnívora
Radiosa rosa radical.

Nunca mais, oh bomba atômica
Nunca, em tempo algum, jamais
Seja preciso que mates
Onde houve morte demais:
Fique apenas tua imagem
Aterradora miragem
Sobre as grandes catedrais:
Guarda de uma nova era
Arcanjo insigne da paz!

III

Bomba atômica, eu te amo! és pequenina
E branca como a estrela vespertina
E por branca eu te amo, e por donzela
De dois milhões mais bélica e mais bela
Que a donzela de Orleans; eu te amo, deusa
Atroz, visão dos céus que me domina
Da cabeleira loura de platina
E das formas aerodivinais
— Que és mulher, que és mulher e nada mais!
Eu te amo, bomba atômica, que trazes
Numa dança de fogo, envolta em gazes
A desagregação tremenda que espedaça
A matéria em energias materiais!
Oh energia, eu te amo, igual à massa
Pelo quadrado da velocidade
Da luz! alta e violenta potestade
Serena! Meu amor, desce do espaço
Vem dormir, vem dormir no meu regaço
Para te proteger eu me encouraço
De canções e de estrofes magistrais!
Para te defender, levanto o braço
Paro as radiações espaciais
Uno-me aos líderes e aos bardos, uno-me
Ao povo, ao mar e ao céu brado o teu nome
Para te defender, matéria dura
Que és mais linda, mais límpida e mais pura
Que a estrela matutina! Oh bomba atômica
Que emoção não me dá ver-te suspensa
Sobre a massa que vive e se condensa
Sob a luz! Anjo meu, fora preciso
Matar, com tua graça e teu sorriso
Para vencer? Tua enérgica poesia
Fora preciso, oh deslembrada e fria
Para a paz? Tua fragílima epiderme
Em cromáticas brancas de cristais
Rompendo? Oh átomo, oh neutrônio, oh germe
Da união que liberta da miséria!
Oh vida palpitando na matéria
Oh energia que és o que não eras
Quando o primeiro átomo incriado
Fecundou o silêncio das Esferas:
Um olhar de perdão para o passado
Uma anunciação de primaveras!

Realismo. Pintura. Aagaard.


AAGAARD, Carl Frederik
Danish painter (b. 1833, Odense, d. 1895, København)

Governo fora das leis. Reinaldo Azevedo. Política

Governo fora das leis
17/04/2015
A gente percebe a escalada da crise quando se estreita a distância entre um pico de tensão e outro. Sem que houvesse razão para tanto, é bom que se diga, o governo ameaçou comemorar, ainda que discretamente, a suposta baixa adesão aos protestos de domingo... O PT, por exemplo, em seu site, menosprezou os "apenas" (?) 250 mil nas ruas. Ainda que o número estivesse certo (não está), não custa lembrar que, cinco dias antes, os companheiros mal conseguiram lotar uma Kombi no protesto contra a terceirização e em defesa do governo Dilma. O suspiro de falso alívio mal durou 24 horas.

Na terça, dia 14, Leandro Colon, desta Folha, detonava a bomba: a Controladoria Geral da União (CGU) amoitou informação e provas de que a SBM havia pagado propina a funcionários da Petrobras. O início da investigação propriamente, que poderia ter-se dado no dia 29 de agosto do ano passado, foi postergado para 17 de novembro, já selado o destino das urnas. A CGU, como reza a sua página na internet, é um braço da Presidência, cuja titular é Dilma. Toda a hierarquia incidiu na Lei de Improbidade Administrativa, que pode resultar em cassação de mandato.

Raiou o dia 15, e lá estava na cadeia João Vaccari Neto, o tesoureiro do PT. Há pouco mais de dois meses, ele e Dilma compareceram a um mesmo evento, aplaudindo os 35 anos de fundação do partido, que veio à luz em 1980 prometendo "mais ética na política". Vaccari teve participação ativa nas duas campanhas eleitorais da presidente. Há ali uma mistura de fios desencapados com nitroglicerina. Qualquer movimento brusco, buuummm!!!

A notícia da prisão de Vaccari chegou pouco depois de o Planalto ter tomado ciência de que o ministro José Múcio, do Tribunal de Contas da União, decidira acatar parecer dos técnicos e recomendar que se investiguem as chamadas "pedaladas fiscais", com o que concordaram os seus pares na própria quarta. Para maquiar as contas, o primeiro governo Dilma retardou desembolsos devidos à CEF, ao Banco do Brasil e o BNDES. Esses entes tiveram de arcar com o custo de políticas públicas federais apelando aos próprios recursos, o que caracteriza uma forma de empréstimo ao Tesouro, pratica vedada pela Lei de Responsabilidade Fiscal.

É crime de responsabilidade. Rodrigo Janot, com a anuência de Teori Zavascki, faz uma leitura rasa da Constituição e assegura que Dilma não pode ser processada por atos anteriores ao mandato em curso. É? Tal dispositivo da Carta antecede o estatuto da reeleição. Duas perguntas para a dupla: a) então um presidente pode cometer um crime para se reeleger –dar pedaladas fiscais, por exemplo– e não terá de responder por isso no curso do novo mandato?; b) a eleição acontece em outubro; a posse, só em janeiro. Um reeleito, portanto, tem uma janela de dois meses para delinquir contra a responsabilidade, doutores? Que diabo de leitura é essa?

Que Janot mantenha a sua interpretação obtusa –ao menos até que um dos legitimados para tanto recorra contra ela com uma Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental. Independentemente da Lei de Responsabilidade, a pedalada fiscal também atropelou a Lei da Improbidade Administrativa.

Dilma deve lamentar como nunca o malogro daquela sua lojinha de bugigangas. Poderia ser hoje uma próspera empresária. O negócio não deu certo. Virou presidente do Brasil.

quinta-feira, abril 16, 2015

Difusão do Cristianismo no 2º século. Igreja. Cristianismo

15. Difusão do Cristianismo no 2º século

No final do século II, existem cristãos espalhados em todos os lugares do mundo romano. No Oriente (Ásia Menor, Síria, Palestina), a concentração de fiéis é maior, inclusive fora das cidades. No Ocidente, o progresso da evangelização é desigual. O Evangelho penetrou profundamente na Itália Central, no sul da Espanha, no norte da África. Na Ilíria, na Itália do Norte e na Gália a presença é menor.

Fora do Império existiam cristãos no reino de Edessa e no Império Persa

NOSSOS NATAIS. Charles Fonseca. Poesia

NOSSOS NATAIS
Charles Fonseca

Ah, natal de Jesus Cristo,
Dezembro tão anelado,
Dezembro tão adiado,
Natal por mim tão querido!

Oh, meu janeiro natal,
Quanto te espero e te estimo!
Faz-me reter o bom vinho,
Afasta o fel do meu cálice!

Dois mil e dois terminado,
Dois mil e três eu espero.
No meu natal eu só quero
Ainda ela ter ao meu lado.

Quantos natais ainda houver
A quantos janeiros chegar,
Tantos outubros alcançar,
Com ela é meu grande mister.

Dezembro tão anelado
Natal por mim tão querido,
Janeiro que quero e estimo,
Afasta o fel do meu cálice!

CHUVAS DE FLORIANÓPOLIS. Fotografia. Charles Fonseca


Globo Rural - 25-01-2015 - Pt 02 - A onça no pantanal

6 Hour of The Best Beethoven - Classical Music Piano Studying Concentra...

Mudança. Clarice Lispector. Prosa

MUDANÇA
Clarice Lispector

Sente-se em outra cadeira, no outro lado da mesa. Mais tarde, mude de mesa.
Quando sair, procure andar pelo outro lado da rua. Depois, mude de caminho, ande por outras ruas, calmamente, observando com atenção os lugares por onde você passa.
Tome outros ônibus.
Mude por uns tempos o estilo das roupas. Dê os seus sapatos velhos. Procure andar descalço alguns dias. Tire uma tarde inteira para passear livremente na praia, ou no parque, e ouvir o canto dos passarinhos.
Veja o mundo de outras perspectivas.
Abra e feche as gavetas e portas com a mão esquerda. Durma no outro lado da cama... Depois, procure dormir em outras camas. Assista a outros programas de tv, compre outros jornais... leia outros livros.
Viva outros romances.
Não faça do hábito um estilo de vida. Ame a novidade. Durma mais tarde. Durma mais cedo.
Aprenda uma palavra nova por dia numa outra língua.
Corrija a postura.
Coma um pouco menos, escolha comidas diferentes, novos temperos, novas cores, novas delícias.
Tente o novo todo dia. O novo lado, o novo método, o novo sabor, o novo jeito, o novo prazer, o novo amor.
A nova vida. Tente. Busque novos amigos. Tente novos amores. Faça novas relações.
Almoce em outros locais, vá a outros restaurantes, tome outro tipo de bebida, compre pão em outra padaria.
Almoce mais cedo, jante mais tarde ou vice-versa.
Escolha outro mercado... outra marca de sabonete, outro creme dental... Tome banho em novos horários.
Use canetas de outras cores. Vá passear em outros lugares.
Ame muito, cada vez mais, de modos diferentes.
Troque de bolsa, de carteira, de malas, troque de carro, compre novos óculos, escreva outras poesias.
Jogue os velhos relógios, quebre delicadamente esses horrorosos despertadores.
Abra conta em outro banco. Vá a outros cinemas, outros cabeleireiros, outros teatros, visite novos museus.
Mude.
Lembre-se de que a Vida é uma só. E pense seriamente em arrumar um outro emprego, uma nova ocupação, um trabalho mais light, mais prazeroso, mais digno, mais humano.
Se você não encontrar razões para ser livre, invente-as. Seja criativo.
E aproveite para fazer uma viagem despretensiosa, longa, se possível sem destino. Experimente coisas novas. Troque novamente. Mude, de novo. Experimente outra vez.
Você certamente conhecerá coisas melhores e coisas piores do que as já conhecidas, mas não é isso o que importa.
O mais importante é a mudança, o movimento, o dinamismo, a energia. Só o que está morto não muda !
Repito por pura alegria de viver: a salvação é pelo risco, sem o qual a vida não
vale a pena!

***Texto de Clarice Lispector

Poema - Navio Negreiro - Castro Alves

quarta-feira, abril 15, 2015

Trio Nagô. Chega de saudade. Música

CÉUS DE FLORIANÓPOLIS. Charles Fonseca. Fotografia


Evangelho segundo São João 3,16-21. Igreja. Cristianismo

Evangelho segundo São João 3,16-21.

Naquele tempo, disse Jesus a Nicodemos: «Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho Unigénito, para que todo o homem que acredita n’Ele não pereça, mas tenha a vida eterna.
Porque Deus não enviou o Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele.
Quem acredita n’Ele não é condenado, mas quem não acredita já está condenado, porque não acreditou no nome do Filho Unigénito de Deus.
E a causa da condenação é esta: a luz veio ao mundo e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque eram más as suas obras.
Todo aquele que pratica más ações odeia a luz e não se aproxima dela, para que as suas obras não sejam denunciadas.
Mas quem pratica a verdade aproxima-se da luz, para que as suas obras sejam manifestas, pois são feitas em Deus».

Gustave Moreau. The Unicorn. Pintura

thuja:

Gustave Moreau The Unicorn

Genealogia. Machado de Assis. Prosa

Genealogia
Machado de Assis

Mas, já que falei nos meus dous tios, deixem-me fazer aqui um curto esboço genealógico.
O fundador de minha família foi um certo Damião Cubas, que floresceu na primeira metade do século XVIII. Era tanoeiro de ofício, natural do Rio de Janeiro, onde teria morrido na penúria e na obscuridade, se somente exercesse a tanoaria. Mas não; fez-se lavrador, plantou, colheu, permutou o seu produto por boas e honradas patacas, até que morreu, deixando grosso cabedal a um filho, o licenciado Luís Cubas. Neste rapaz é que verdadeiramente começa a série de meus avós -- dos avós que a minha família sempre confessou --, porque o Damião Cubas era afinal de contas um tanoeiro, e talvez mau tanoeiro, ao passo que o Luís Cubas estudou em Coimbra, primou no Estado, e foi um dos amigos particulares do vice-rei conde da Cunha.

Como este apelido de Cubas lhe cheirasse excessivamente a tanoaria, alegava meu pai, bisneto do Damião, que o dito apelido fora dado a um cavaleiro, herói nas jornadas da Africa, em prêmio da façanha que praticou, arrebatando trezentas cubas aos mouros. Meu pai era homem de imaginação; escapou à tanoaria nas asas de um calembour. Era um bom caráter, meu pai, varão digno e leal como poucos. Tinha, é verdade, uns fumos de pacholice; mas quem não é um pouco pachola nesse mundo? Releva notar que ele não recorreu à inventiva senão depois de experimentar a falsificação; primeiramente, entroncou-se na família daquele meu famoso homônimo, o capitão-mor Brás Cubas, que fundou a vila de São Vicente, onde morreu em 1592, e por esse motivo é que me deu o nome de Brás. Opôs-se-lhe, porém, a família do capitão-mor, e foi então que ele imaginou as trezentas cubas mouriscas.

Vivem ainda alguns membros da minha família, minha sobrinha Venância, por exemplo, o lírio do vale, que é a flor das damas do seu tempo; vive o pai, o Cotrim, um sujeito que... Mas não antecipemos os successos; acabemos de uma vez como nosso emplasto.

Faroeste Caboclo da história da Petrobras

terça-feira, abril 14, 2015

Luiz de Carvalho - Amor Sem Igual

Envelhecer com qualidade: conversa com Dr. Renato Maia, geriatra

O Espírito Santo recorda o mistério de Cristo. Igreja Cristianismo

O ESPÍRITO SANTO RECORDA O MISTÉRIO DE CRISTO

1099. O Espírito e a Igreja cooperam para manifestar Cristo e a sua obra de salvação na liturgia. Principalmente na Eucaristia, e analogicamente nos outros sacramentos, a liturgia é o memorial do mistério da salvação. O Espírito Santo é a memória viva da Igreja (16).

1100. A Palavra de Deus. O Espírito Santo lembra à assembleia litúrgica, em primeiro lugar, o sentido do acontecimento salvífico, dando vida à Palavra de Deus, que é anunciada para ser recebida e vivida:

«É enorme a importância da Sagrada Escritura na celebração da liturgia. Porque é a ela que se vão buscar as leituras que se explicam na homilia e os salmos para cantar; com o seu espírito e da sua inspiração nasceram as preces, as orações e os hinos litúrgicos: dela tiram a sua capacidade de significação as acções e os sinais» (17).

1101. É o Espírito Santo que dá aos leitores e ouvintes, segundo a disposição dos seus corações, a inteligência espiritual da Palavra de Deus. Através das palavras, acções e símbolos, que formam a trama duma celebração, o Espírito Santo põe os fiéis e os ministros em relação viva com Cristo, Palavra e Imagem do Pai, de modo a poderem fazer passar para a sua vida o sentido daquilo que ouvem, vêem e fazem na celebração.

1102. «É pela Palavra da salvação [...] que a fé é alimentada no coração dos fiéis; e é mercê da fé que tem início e se desenvolve a reunião dos fiéis» (18). O anúncio da Palavra de Deus não se fica por um ensinamento: faz apelo à resposta da fé, enquanto assentimento e compromisso, em vista da aliança entre Deus e o seu povo. É ainda o Espírito Santo que dá a graça da fé, a fortifica e a faz crescer na comunidade. A assembleia litúrgica é, antes de mais, comunhão na fé.

1103. A anamnese. A celebração litúrgica refere-se sempre às intervenções salvíficas de Deus na história. «A economia da revelação realiza-se por meio de acções e palavras intimamente relacionadas entre si [...]; as palavras [...] declaram as obras e esclarecem o mistério nelas contido» (19). Na liturgia da Palavra, o Espírito Santo «lembra» à assembleia tudo quanto Cristo fez por nós. Segundo a natureza das acções litúrgicas e as tradições rituais das Igrejas, uma celebração «faz memória» das maravilhas de Deus numa anamnese mais ou menos desenvolvida. O Espírito Santo, que assim desperta a memória da Igreja, suscita então a acção de graças e o louvor (doxologia).

Catecismo

Com 137 assassinatos por dia no Brasil corresponde a todo dia cair um avião sem sobreviventes.

Hino Nacional Brasileiro (legendado)

O TREM. Charles Fonseca. Poesia

O TREM
Charles Fonseca

O trem Vida deu a partida,
Parado na grade estava.
Refeito, segue a estrada.
Adeuses ao longe. Apita.

Serpenteia sobre os trilhos,
Pela estrada resfolega.
Ao futuro não dá trégua,
Ao passado espanta grilos.

Por este já não estrila,
Já se foi, eu chego já.
Nova gente chegará
Na estação Fonseca. Silva.

Chega de Saudade - Elizete Cardoso

Profundamente. Manuel Bandeira. Poesia

Profundamente
Manuel Bandeira

Quando ontem adormeci
Na noite de São João
Havia alegria e rumor
Vozes cantigas e risos
Ao pé das fogueiras acesas.
No meio da noite despertei
Não ouvi mais vozes nem risos
Apenas balões
Passavam errantes
Silenciosamente
Apenas de vez em quando
O ruído de um bonde
Cortava o silêncio
Como um túnel.
Onde estavam os que há pouco
Dançavam
Cantavam
E riam
Ao pé das fogueiras acesas?

— Estavam todos dormindo
Estavam todos deitados
Dormindo
Profundamente.

Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci.

Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Minha avó
Meu avô
Totônio Rodrigues
Tomásia
Rosa
Onde estão todos eles?
— Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente.

Evangelho segundo São João 3,7b-15.Igreja. Cristianismo

Evangelho segundo São João 3,7b-15.

Não te admires por Eu te haver dito que todos devem nascer de novo.
O vento sopra onde quer: ouves a sua voz, mas não sabes donde vem nem para onde vai. Assim acontece com todo aquele que nasceu do Espírito».
Nicodemos perguntou: «Como pode ser isso?»
Jesus respondeu-lhe: «Tu és mestre em Israel e não sabes estas coisas?
Em verdade, em verdade te digo: Nós falamos do que sabemos e damos testemunho do que vimos, mas vós não aceitais o nosso testemunho.
Se vos disse coisas da terra e não acreditais, como haveis de acreditar, se vos disser coisas do Céu?
Ninguém subiu ao Céu, senão Aquele que desceu do Céu: o Filho do homem.
Assim como Moisés elevou a serpente no deserto, também o Filho do homem será elevado,
para que todo aquele que acredita tenha n’Ele a vida eterna».

segunda-feira, abril 13, 2015

Edith Piaf - Non, Je ne regrette rien

A PAIXÃO. Charles Fonseca. Poesia

A PAIXÃO
Charles Fonseca

Quando chega a paixão
flameja uma chama
lampeja uma dama
quero, mas agora não.

Olhares em volta,
Ciumes à vista,
Por mais que resista
Eu quero, que importa?

domingo, abril 12, 2015

Anisio Silva - Alguém Me Disse. Música


Em 1960, Anísio Silva lança o grande sucesso de sua carreira, o bolero Alguém me Disse, de autoria de uma das mais bem sucedidas dupla de compositores do Brasil de todos os tempos, Evaldo Gouveia e Jair Amorim. Segundo a então famosa vedete Eloína, uma das deusas do teatro de rebolado do Rio de Janeiro, a letra de Evaldo Gouveia, integrante do Trio Nagô, para essa canção foi feita para ela. 

O GALHO AO CHÃO. Charles Fonseca. Poesia

O GALHO AO CHÃO
Charles Fonseca

Nele pousaram andorinhas
Trinaram muitos canários
Muitos outros e eu vário
Sozinho canto modinhas

Daquelas do querer bem
Outras tantas de saudade
Sentir saudade quem há de
Não as ter, pergunto, quem?

Fio. Cecília Meireles. Poesia

Fio
Cecília Meireles

No fio da respiração,
rola a minha vida monótona,
rola o peso do meu coração.

Tu não vês o jogo perdendo-se
como as palavras de uma canção.

Passas longe, entre nuvens rápidas,
com tantas estrelas na mão...

— Para que serve o fio trêmulo
em que rola o meu coração?

Cinema Mudo - Conjunto Época de Ouro

O ELOGIO. Charles Fonseca. Poesia

O ELOGIO
Charles Fonseca

Não retira a minha alma
nem me arrepia o corpo
só me causa alvoroço
depois a razão me acalma.

Caetano Veloso - Carolina

Rio Grande do Sul. Fotografia

Ensaio Adriana Calcanhoto - Mais Feliz. Música

W.A.Mozart: Clarinet concerto in A major, K.622 with Nadja Drakslar

A assembléia dos ratos. Monteiro Lobato. Prosa

A assembléia dos ratos
Monteiro Lobato

Um gato de nome Faro-Fino deu de fazer tal destroço na rataria duma casavelha que os
sobreviventes, sem ânimo de sair das tocas, estavam a ponto de morrer de fome.
Tornando-se muito sério o caso, resolveram reunir-se em assembléia para o estudo da
questão. Aguardaram para isso certa noite em que Faro-Fino andava aos miados pelo telhado,
fazendo sonetos à Lua.
— Acho – disse um deles – que o meio de nos defendermos de Faro-Fino é lhe atarmos um
guizo ao pescoço. Assim que ele se aproxime, o guizo o denuncia, e pomo-nos ao fresco a
tempo.
Palmas e bravos saudaram a luminosa idéia. O projeto foi aprovado como delírio. Só votou
contra um rato casmurro, que pediu a palavra e disse:
— Está tudo muito direito. Mas quem vai amarrar o guizo no pescoço de Faro-Fino?
Silêncio geral. Um desculpou-se por não saber dar nó. Outro, porque não era tolo. Todos,
porque não tinham coragem. E a assembléia dissolveu-se no meio de geral consternação.

Dizer é fácil; fazer é que são elas!

sábado, abril 11, 2015

Alfred Stieglitz. Fotografia

street photography

It’s time of panelaço. Guilherme Fiuza. Política

It’s time of panelaço
Guilherme Fiuza

O humorista John Oliver, da HBO, vai ter um piripaque de tanto rir quando souber quem é Renato Duque

As manifestações de 15 de março não tiveram a menor importância. Como todo mundo sabe, manifestação que vale é aquela à qual o pessoal vai de vermelho em troca de sanduíche de mortadela. As multidões que tomaram o país de verde-amarelo, sem bandeiras partidárias ou sindicais, não contam. O mais chocante de tudo, porém, é o que está acontecendo com Dilma Rousseff: o procurador-geral da República e o ministro relator do petrolão no STF declararam que ela é inocente por antecipação. E o Brasil acreditou! Nesse ritmo, a próxima manifestação terá milhões de pessoas nas ruas pedindo a renúncia de Fernando Henrique.

Claro que a declaração de inocência absoluta de Dilma, a ponto de não poder sequer ser investigada, é uma piada. Por enquanto, para inglês rir. O que fez John Oliver, no seu programa na HBO, ao comentar que Dilma presidiu o Conselho de Administração da Petrobras enquanto o escândalo devorava a estatal, e foi isenta de suspeitas? Caiu na gargalhada. E terminou o programa batendo panela em sua bancada, explicando que no Brasil “it’s time of panelaço” (“é hora de panelaço”).

Será que John Oliver já sabe do Vaccari? Alguém precisa contar a ele que a Operação Lava Jato denunciou o tesoureiro do PT por cavar propinas do petrolão para abastecer a campanha de Dilma Rousseff, a base de Dilma Rousseff, o governo de Dilma Rousseff. Como não é brasileiro, Oliver vai se escangalhar de rir. O mais divertido (para ele) seria entrevistar o procurador-geral, Rodrigo Janot, e o ministro do Supremo Teori Zavascki. A dupla sustenta (e o Brasil acredita) que não há fatos que ensejem uma investigação sobre Dilma. Sugestão a John Oliver para a hipotética entrevista com os justiceiros do Brasil: comece perguntando “Who is Renato Duque?”.

Deixem uma UTI móvel na porta dos estúdios da HBO, porque o apresentador pode ter um piripaque de tanto rir. Vai ser demais para ele saber que Duque, preso como pivô do escândalo do petrolão, era homem do partido de Dilma na direção da Petrobras. Que era preposto de um companheiro de Dilma julgado e condenado por outro megaescândalo gestado no governo do PT – companheiro este que, mesmo atrás das grades, jamais foi censurado publicamente por Dilma, a inocente. Parem a gravação para abanar Oliver, porque ele já está com falta de ar.

Muito cuidado com a saúde do apresentador inglês, porque é hora de perguntar a Mr. Zavascki como ele se sente tendo mandado soltar Renato Duque e sabendo agora que o acusado aproveitou sua liberdade embolsando novas propinas. Oliver está rolando no chão.

Não detalhem ao apresentador da HBO o escândalo da compra da refinaria de Pasadena, em operação presidida pela inocência de Dilma Rousseff no Conselho da Petrobras. E, por favor, não digam a ele que esse delito e o do financiamento sujo da campanha dela em 2010 estão sendo engavetados pelos justiceiros “porque Dilma não estava no exercício da Presidência”. Oliver não encontraria fôlego para perguntar, entre gargalhadas histéricas, se um presidente que cometeu um homicídio antes de se eleger também seria poupado de investigações por estar “no exercício da Presidência”.

Dilma Rousseff é a representante máxima de um projeto político podre, que engendrou os dois mais obscenos escândalos de corrupção da história da República, e não pode ser investigada porque... Por que mesmo? Porque o Brasil acredita em qualquer bobagem que lhe seja dita de forma categórica em juridiquês castiço.

Também não contem, por favor, a John Oliver que depois de 2 milhões de pessoas saírem às ruas gritando “fora, Dilma!”, a presidente deu uma entrevista emocionada com a liberdade de manifestação no país que ela ajudou a conquistar. Como se diz “cara de pau” em inglês, perguntaria o apresentador, atônito. Ora, Mr. Oliver, faça essa pergunta ao carniceiro Nicolás Maduro, amigo de fé e irmão camarada da heroína da liberdade.

Assim é o Brasil de hoje. Dilma não pode ser investigada, e a casta intelectual que a apoia espalha que a multidão de verde-amarelo contra a corrupção usava camisas da CBF... Só faltou denunciar os que foram protestar contra o petrolão pegando ônibus com diesel da Petrobras...
Como se vê, a covardia não tem limite. Vejamos se a paciência tem.

Onde está, ó morte, a tua vitória?… (1 Coríntios 11:55). Igreja. Cristianismo

Elevador Lacerda sob os raios de Iansã. Fotografia

Foto de um usuário.
@guidmonteiroo 

Bach: Double Violin Concerto in D Minor 2nd mvt. Largo Original Instrum...

O BEIJO. Charles Fonseca. Poesia.

O BEIJO
Charles Fonseca

Ele chegou de raspão
foi-se nas asas do vento
em busca de uma paixão
ou só entretenimento?

sexta-feira, abril 10, 2015

Hangout com Olavo de Carvalho e Pe. Paulo Ricardo - Método Filosófico

Maysa - Ne me quitte pas traduzida

Um sonho de 12 anos. Fernando Gabeira

Fernando Gabeira: ‘Bye bye Dilma’

Publicado no Estadão

FERNANDO GABEIRA

Domingo é dia. De novo. O governo respondeu mal. Ele joga com o tempo. Sabe que é difícil manter tanta gente na rua quando sem um resultado tangível. É um cálculo válido para período de estabilidade e crescimento. O Brasil em crise é um fio desencapado. As manifestações não conseguiram ainda seu objetivo: Fora Dilma.

No entanto, Dilma já não está tão dentro como antes. A iniciativa política foi arrebatada pelo PMDB. O ajuste econômico é conduzido pelo liberal Joaquim Levy, que o negocia com o Congresso Nacional.


O debate sobre o ajuste tem conteúdo para ser discutido dias seguidos. Quase todos concordam que um ajuste adequado levará o Brasil de novo ao crescimento. Mas poucos se perguntam sobre o crescimento. Será que vamos reunir forças para um novo voo de galinha? Retomar o crescimento significa entupir os lares de eletrodomésticos e carros, exaurir os rios de forma irresponsável?

Mesmo para um voo de galinha as perspectivas não são boas. Teremos energia para o crescimento em 2016? Nossas estradas suportam um aperto econômico – elas que foram devastadas pelo tempo e pela corrupção? Todos se interrogam para onde estamos indo. Marchar para uma euforia consumista e, depois, cair na depressão torna a política econômica uma nova droga.

O escritor Frei Betto usou a imagem do filme Good Bye Lenin! para expressar o espanto de alguns eleitores de Dilma: é como se dormissem com a vitória de sua candidata e acordassem com a de Aécio Neves, seu adversário. Esse filme de Wolfgang Becker é bem lembrado porque conta a história de uma comunista fervorosa de Berlim oriental que ficou oito meses em coma e acordou depois da queda do Muro. E o esforço do seu filho era para mascarar os traços do capitalismo e evitar que ela se chocasse com o movimento da História.

Good Bye Lenin!, na minha opinião, não exprime apenas a perplexidade dos eleitores de Dilma. Ele exprime a perplexidade de toda a esquerda, que deveria estar acordando de um grande sonho e se espantar com o mundo, como a comunista de Berlim ao ver um imenso anúncio publicitário do outro lado da rua. Seria como se um cubano acordasse na Costa Rica ou um venezuelano nos supermercados do Peru, algo tão diferente. Nesses anos em que o Muro de Berlim caiu, muitos continuaram em coma, ou protegidos das mudanças no mundo real.

Isso não teria tanta importância se a esquerda não fosse para o poder com uma parte das ilusões. Ela confundiu partido com Estado e capitalismo de leis implacáveis com seus sonhos socialistas.

Não deveria. Marx estudou muito para explicitar essas leis. Nem sempre acertou, mas as estudou profundamente e jamais apoiaria um enfoque apenas consumista. Não porque Marx fosse da elite branca. Mas porque saberia que a conta seria cobrada na frente.

Hoje a conta está sendo cobrada. Dormiu-se com a promessa do paraíso, acorda-se numa realidade inequívoca: tanto Dilma como Aécio seriam obrigados a algum tipo de ajuste.

A confusão entre governo e poder, entre partido e Estado acabou arruinando uma experiência, finalmente, dinamitada pela corrupção.

Uma esquerda no governo não poderia comprometer-se a fundo com Cuba e Venezuela. Ainda que admirasse os dois modelos, o que é um alto grau de miopia, deveria levar em conta uma posição nacional.

Uma esquerda no governo deveria abster-se de levar o capitalismo a um outro sistema, mas, sim, tirar o melhor proveito de suas potencialidades e reduzir seus impactos negativos. O capitalismo pode alcançar altos níveis de inovação e criatividade, como nos Estados Unidos, ou mesmo uma respeitável rede de proteção, como na Escandinávia.

Não vejo como transitar do capitalismo para outro sistema econômico, exceto através da decadência e destruição de seus alicerces. E isso nem na Venezuela vai acontecer. O sonho bolivariano encarnou num homem que esmaga os opositores e conversa com passarinhos. Quando vão despertar? Quando encontrarem Nicolás Maduro cantando salsas e merengues nas pizzarias do seu bairro?

Bye Bye Dilma não é apenas o acordar de um sonho eleitoral. E um sono de 12 anos – de pouco mais de 25 anos se contarmos da queda do Muro de Berlim. O projeto não se perdeu apenas pela questão ética. Seus passos estão intensamente discutidos no escândalo do petrolão e outros que se espalham como tanques em chamas.

Mas os fins, quais eram mesmo os fins? Para onde é que nos levavam?

Dentro do País vivemos a crise do populismo econômico. Lá fora, nossa importância diplomática foi dramaticamente reduzida.

Não dói somente ver Dilma e o PT se comportarem como se nada de errado tivesse acontecido. Dói também ver a perspectiva de um grande esforço fiscal desaguar numa visão de crescimento de novo insustentável, tanto econômica como ambientalmente.

A Califórnia passou por mil desafios, abrigou a indústria de cinema e da informática, e agora se vê diante da necessidade de se reinventar. E muitos perguntam se conseguirá, como das outras vezes. A crise hídrica é grave por lá. No Brasil nem sequer nos colocamos a ideia de uma primeira reinvenção. E a crise hídrica é grave por aqui.

Toda vez que falam “vamos fazer o ajuste fiscal, voltar a crescer”, tenho um calafrio. De novo, um voo de galinha na economia e na política?

Seria necessário rever o caminho. A visão puramente eleitoral é sempre punida pelas leis do capitalismo. Não há espaço para uma esquerda monocrática que confunde suas ideias com o interesse nacional, que julga aproximar-se do socialismo, mas avança para o colapso econômico.

Essa esquerda dormiu abraçada numa bandeira vermelha e acordou com a multidão em cores verde e amarelo. Se acordou, finge que está dormindo.

Adios Nonino - Astor Piazzolla. Música

Balada dos mortos dos campos de concentração. Vinicius de Moraes . Poesia

Balada dos mortos dos campos de concentração
Vinicius de Moraes

Cadáveres de Nordhausen
Erla, Belsen e Buchenwald!
Ocos, flácidos cadáveres
Como espantalhos, largados
Na sementeira espectral
Dos ermos campos estéreis
De Buchenwald e Dachau.
Cadáveres necrosados
Amontoados no chão
Esquálidos enlaçados
Em beijos estupefatos
Como ascetas siderados
Em presença da visão.
Cadáveres putrefatos
Os magros braços em cruz
Em vossas faces hediondas
Há sorrisos de giocondas
E em vossos corpos, a luz
Que da treva cria a aurora.
Cadáveres fluorescentes
Desenraizados do pó
Grandes, góticos cadáveres!
Ah, doces mortos atônitos
Quebrados a torniquete
Vossas louras manicuras
Arancaram-vos as unhas
No requinte da tortura
Da última toalete . . .
A vós vos tiraram a casa
A vós vos tiraram o nome
Fostes marcados a brasa
E vos mataram de fome!
Vossas peles afrouxadas
Sobre os esqueletos dão-me
A impressão que éreis tambores —
Os instrumentos do Monstro —
Desfibrados a pancada:
Ó mortos de percussão!
Cadáveres de Nordhausen
Erla, Belsen e Buchenwald!
Vós sois o húmus da terra
De onde a árvore do castigo
Dará madeira ao patíbulo
E de onde os frutos da paz
Tombarão no chão da guerra!

Paul Gauguin. Pintura

The Large Trees Paul Gauguin - 1889

Evangelho segundo São João 21,1-14. Igreja. Cristianismo

Evangelho segundo São João 21,1-14.

Naquele tempo, Jesus manifestou-Se novamente aos discípulos junto ao Mar de Tiberíades. Manifestou-Se deste modo:
Estavam juntos Simão Pedro, Tomé, chamado Dídimo, e Natanael, que era de Caná da Galileia. Também estavam presentes os filhos de Zebedeu e mais dois discípulos de Jesus.
Disse-lhes Simão Pedro: «Vou pescar». Eles responderam-lhe: «Nós vamos contigo». Saíram de casa e subiram para o barco, mas naquela noite não apanharam nada.
Ao romper da manhã, Jesus apresentou-Se na margem, mas os discípulos não sabiam que era Ele.
Disse-lhes então Jesus: «Rapazes, tendes alguma coisa para comer?» Eles responderam: «Não».
Disse-lhes Jesus: «Lançai a rede para a direita do barco e encontrareis». Eles lançaram a rede e já mal a podiam arrastar por causa da abundância de peixes.
Então o discípulo predileto de Jesus disse a Pedro: «É o Senhor». Simão Pedro, quando ouviu dizer que era o Senhor, vestiu a túnica que tinha tirado e lançou-se ao mar.
Os outros discípulos, que estavam distantes apenas uns duzentos côvados da margem, vieram no barco, puxando a rede com os peixes.
Logo que saltaram em terra, viram brasas acesas com peixe em cima, e pão.
Disse-lhes Jesus: «Trazei alguns dos peixes que apanhastes agora».
Simão Pedro subiu ao barco e puxou a rede para terra, cheia de cento e cinquenta e três grandes peixes. E, apesar de serem tantos, não se rompeu a rede.
Disse-lhes Jesus: «Vinde comer». Nenhum dos discípulos se atrevia a perguntar: «Quem és Tu?»: bem sabiam que era o Senhor.
Então Jesus aproximou-Se, tomou o pão e deu-lho, fazendo o mesmo com o peixe.
Foi esta a terceira vez que Jesus Se manifestou aos discípulos, depois de ter ressuscitado dos mortos.

Caetano Veloso - Sozinho. Música

PT. Ronaldo Caiado. Política

Ronaldo Caiado:

"Seja na economia, na política ou no social, o PT perdeu o rumo do país e viu seu modelo de governo ser provado falho da pior maneira possível: humilhado por todos os indicadores, avaliações de desempenho, popularidade e estatísticas sociais. Na economia temos: inflação em alta, baixo crescimento e contas públicas desequilibradas. Os três pilares da crise econômica que acabou com qualquer otimismo da população, da indústria e do mercado. Na esfera política, um governo fatiado e cedido à cobiça de sua base fisiológica. Envolvido em escândalos de corrupção de proporções tão vergonhosas que sepultaram qualquer possibilidade de confiança da população. Dilma agora não tem credibilidade sequer para frear o loteamento de cargos diante da chantagem da base à qual se submeteu. Ingovernável. Quanto ao social, a base de sustentação do lulopetismo nesses últimos 12 anos, assistimos nesses 100 dias um governo que mordeu a língua, que fez a vaca tossir e que assumiu na cara dura as mentiras de campanha que usou para manchar as candidaturas de oposição. Direitos trabalhistas revogados, benefícios a aposentados sustados, cortes na educação, pane no Fies, golpe no reajuste da tabela do Imposto de Renda, corte no programa de tarifa social da energia, tarifaço em todos os tributos, combustíveis, luz, alimentos. O cidadão de baixa renda se viu como principal prejudicado pelas mentiras em que acreditou. É do seu bolso que o PT está tirando para pagar a fantasia que lhe venderam um ano antes, durante as eleições. 100 dias bastaram para que fosse provado que um modelo de governo que durou 12 anos falhou e falhou feio no fortalecimento de nossas instituições. Hoje vivemos a descentralização de um Estado sem líder. Quem cuida da economia é Levy, quem cuida da política é Michel Temer. O que resta a Dilma de governo?"

O amor. Fernando Pessoa. Poesia

O Amor
Fernado Pessoa

O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente...
Cala: parece esquecer...

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
P'ra saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...

quinta-feira, abril 09, 2015

Haydn Sonata Hob. 50 C major 1st mvt

Hino ao sono. Castro Alves. Poesia

Hino ao sono
Castro Alves

Ó sono! ó noivo pálido
Das noites perfumosas,
Que um chão de nebulosas
Trilhas pela amplidão!
Em vez de verdes pâmpanos,
Na branca fronte enrolas
As lânguidas papoulas,
Que agita a viração.

Nas horas solitárias,
Em que vagueia a lua,
E lava a planta nua
Na onda azul do mar,
Com um dedo sobre os lábios
No vôo silencioso,
Vejo-te cauteloso
No espaço viajar!

Deus do infeliz, do mísero!
Consolação do aflito!
Descanso do precito,
Que sonha a vida em ti!
Quando a cidade tétrica
De angústia e dor não geme...
É tua mão que espreme
A dormideira ali.

Em tua branca túnica
Envolves meio mundo...
E teu seio fecundo
De sonhos e visões,
Dos templos aos prostíbulos,
Desde o tugúrio ao Paço,
Tu lanças lá do espaço
Punhados de ilusões! ...

Da vide o sumo rúbido,
Do hatchiz a essência,
O ópio, que a indolência
Derrama em nosso ser,
Não valem, gênio mágico,
Teu seio, onde repousa
A placidez da lousa
E o gozo de viver...

O sono! Unge-me as pálpebras...
Entorna o esquecimento
Na luz do pensamento,
Que abrasa o crânio meu.
Como o pastor da Arcádia,
Que uma ave errante aninha...
Minh'alma é uma andorinha...
Abre-lhe o seio teu.

Tu, que fechaste as pétalas
Do lírio, que pendia,
Chorando a luz do dia
E os raios do arrebol,
Também fecha-me as pálpebras...
Sem Ela o que é a vida?
Eu sou a flor pendida
Que espera a luz do sol.

O leite das eufórbias
P'ra mim não é veneno...
Ouve-me, ó Deus sereno!
Ó Deus consolador!
Com teu divino bálsamo
Cala-me a ansiedade!
Mata-me esta saudade,
Apaga-me esta dor.

Mas quando, ao brilho rútilo
Do dia deslumbrante,
Vires a minha amante
Que volve para mim,
Então ergue-me súbito...
É minha aurora linda...
Meu anjo... mais ainda...
É minha amante enfim!

Ó sono! Ó Deus noctívago!
Doce influência amiga!
Gênio que a Grécia antiga
Chamava de Morfeu,
Ouve!...E se minhas súplicas
Em breve realizares...
Voto nos teus altares
Minha lira de Orfeu!

Olhos Nos Olhos. Ivete Sangalo

De menor.

Rembrandt. Cristo na cruz. Pintura

Rembrandt Christ On The Cross Painting

Suicídio. Marcelo Caixeta. Medicina. Psiquiatria

SUICÍDIO
Marcelo Caixeta
Médico psiquiatra

Parecem, abaixo, cartas de amor, parecem poesia, mas são bilhetes de suicídio.
Não se deixe enganar, depressivos podem ser geniais, podem ser campeões do amor.
Não é pela depressão ser o maior “aprofundador existencial” que existe que devemos simplesmente exaltá-la, que devemos banalizá-la, “estético-sizá-la”, “artístico-sizá-la”.
Há limites entre a aprendizado de um aprofundamento da existência e uma dor insuportável.
Aprendamos discerni-los e, sobretudo, aprendamos cuidá-los.
A depressão nos deve colocar em contato com Deus, não na presença d´Ele....

PS : Agradeço a B.C.D., que permitiu colocar sua dor a serviço dos que sofrem.

I
Não consigo viver, nem com, nem sem, você.

I I
Não haverá amanhã.
Quando todas as portas se fecham , abre-se o injustificável .
Uma covardia para qual se necessita uma coragem imensurável.
É o fim... meu fim.
Eu tentei...
Tentei muito...
E foi tentando que muitas vezes acertei,
e que provavelmente que eu também errei.
Vivi, sobrevivi, insisti...
Fiz de tudo um pouco, e do pouco muito.
Ainda assim este muito foi pouco.
Cansei...
Perdi a esperança... e sem ela não existe vida.
Desisti de mim , o que mais posso fazer.
Na equação da vida onde tudo é a somatória do “ser e do estar” eu me esqueci da plenitude do que é o viver.
Convivi com pessoas fantásticas.
Dentre todas, minha companheira de jornada, meu tesouro, meu baluarte, meu amor.
Tive amigos que me surpreenderam nas horas incertas e amargas, amigos de ombros largos.
Como também tive amigos que não me surpreendeu, talvez por não tiver dados a eles uma chance.
No emaranhado da vida eu me perdi,
Perdendo todos os sonhos...
E sem sonhos não se vive.

Acabei desistindo de mim.
Desistindo de tudo.
Meus motivos aos olhos de outrem podem ser fúteis,
Porem pra mim, era o meu tudo. E eu perdi este tudo.
Em algum lugar de minha existência, perdi a essência do que é viver.
Por isto não haverá amanhã pra mim.
Sem rancores, sem magoas
Apenas cansei de continuar vivendo este milagre que é a vida.
Porem para mim estava sendo muito difícil levá-la ou deixar ela me levar.
Viver nos últimos tempos era um tormento, uma tortura ver as horas passarem e eu passar com elas.
Quero estar leve
Morrer, de um jeito ou de outro, todos nós vamos um dia.
Apenas furei a fila.
Antecipei o tempo.

III
A existência é a maior obra prima surreal que a natureza criou. Deu-nos o poder da inteligência, discernir o mal e o bem e ser o topo da cadeia da vida no planeta.
Porem deu-nos o livre arbítrio, e a escolha é individual, como são os seres humanos. Este poder rege a vida e a morte de todo ser.
Chega-se a um ponto onde por mais forte que seja a dor, nos tornamos indiferente a ela, pois ela deixou de ser um dor para ser uma agonia sufocante.
A angustia que avassala a alma e torna todos os instante em momentos de profunda agonia pessoal, nos faz pensar em morrer.
Quantas vezes pensei nesta opção, e quantas vezes desisti.
Morrer é uma solução permanente e os problemas são sancionais, mas mesmo assim eles enegrecem a vida por muito tempo, e tempo é relativo de pessoa para pessoa. Como a capacidade de sofrer também não existe limite pré determinado cada um tem seu ponto de ruptura.
Sobreviver a cada dia é diferente de viver os mesmos dias.
Viver é um estado de espírito, se vive conforme as suas nuanças.
Morrer é uma atitude somente de vivos.
Morte assusta mais por seu mistério do que pelo o que se diz dela.
Morrer é simples, faz parte da existência só que tentamos não enxergar esta realidade.
Tem certos momentos na vida que eles deixam de serem momentos para ser uma existência. E como dói viver estes instantes eternos.
Eu estou cansado de ver o tempo passar e eu sem nada fazer vendo minha vida escorrer por entre os meus dedos, e nada fazer para rete-la.

quarta-feira, abril 08, 2015

O cangaço. Fotografia. Autor desconhecido.

A MUSA. Charles Fonseca. Prosa

A MUSA
Charles Fonseca

A musa é uma mulher muito ciumenta. Quer que o artista só pense nela, só coma ela, só respire ela, abraço nela, beijo de língua, só olhe pra ela. Na é qualquer uma, como as outras pensam que são. Ela é a sã paixão, a devoção. E agora e agora? Agora é agüentar firme, faz que olha, faz que olha. Ou então me olha, molha. Por que não quero, por que não gosto, é só pra ela o meu negócio, o meu ócio, não sou beócio. Jogo de fita, mulher aflita, não agüenta o tranco, brinca e desbrinca, carrego nas tintas. Levanto o pincel não é uma brocha, é uma tocha, atocha, atocha. Eu quero a musa, mulher confusa. Ela é matéria, tão ao meu lado, não é de agora, longo caminho, a dois, a dois.

Oswaldo Montenegro - Intimidade (2008). Música

O emplasto. Machado de Assis. Prosa

O emplasto
Machado de Assis

Com efeito, um dia de manhã, estando a passear na chácara, pendurou-se-me uma idéa no trapézio que eu tinha no cérebro. Uma vez pendurada, entrou a bracejar, a pernear, a fazer as mais arrojadas cabriolas de volatim, que é possível crer. Eu deixei-me estar a contemplá-la. Súbito, deu um grande salto, estendeu os braços e as pernas, até tomar a forma de um X: decifra-me ou devoro-te.
Essa idéa era nada menos que a invenção de um medicamento sublime, um emplasto anti-hipocondríaco, destinado a aliviar a nossa melancólica humanidade. Na petição de privilégio que então redigi, chamei a atenção do governo para esse resultado, verdadeiramente cristão. Todavia, não neguei aos amigos as vantagens pecuniárias que deviam resultar da distribuição de um produto de tamanhos e tão profundos efeitos. Agora, porém, que estou cá do outro lado da vida, posso confessar tudo: o que me influiu principalmente foi o gosto de ver impressas nos jornais, mostradores, folhetos, esquinas, e enfim nas caixinhas do remédio, estas três palavras: Emplasto Brás Cubas. Para que negá-lo? Eu tinha a paixão do arruído, do cartaz, do foguete de lágrimas. Talvez os modestos me arguam esse defeito; fio, porém, que esse talento me hão de reconhecer os hábeis. Assim, a minha idéa trazia duas faces, como as medalhas, uma virada para o público, outra para mim. De um lado, filantropia e lucro; de outro lado, sede de nomeada. Digamos: -- amor da glória.

Um tio meu, cônego de prebenda inteira, costumava dizer que o amor da glória temporal era a perdição das almas, que só devem cobiçar a glória eterna. Ao que retorquia outro tio, oficial de um dos antigos terços de infantaria, que o amor da glória era a cousa mais verdadeiramente humana que há no homem, e, conseguintemente, a sua mais genuína feição.

Decida o leitor entre o militar e o cônego; eu volto ao emplasto.

Trio nagô. Laura. Música

Análise psiquiátrica do que pode acontecer dentro de uma cabine de avião. Marcelo Caixeta. Medicina

ANÁLISE PSIQUIÁTRICA DO QUE PODE ACONTECER DENTRO DE UMA CABINE DE AVIÃO.
Marcelo Caixeta. Médico psiquiatra.

Recebi, via Facebook, uma correspondência de um médico psiquiatra que está acostumado a atender aviadores. Perguntei se ele era contratado por uma empresa, disse que não. Disse que seu consultório particular é “meio-chique”, em uma grande cidade , perto de um aeroporto , e como neste bairro há muitas empresas de aviação, há muitos pilotos que moram lá, ele os atende e fica meio que “por dentro” do que ocorre em cabines de avião. Aqui vão alguns fatos que ele cita :

1/ “Tenho dois pacientes bipolares, um dos quais já teve depressão suicida. Mas ele não comunica nada à empresa, eu não posso fazê-lo por causa de sigilo profissional. Já falei para ele deixar a profissão, mas ele não ouve, diz que é o “grande sonho da vida dele” e que, por ser muito inquieto, ele não agüenta ficar parado, por isto é um tipo de “caminhoneiro de luxo”.
2/” Um piloto de helicóptero, hiperativo, eu acho que não tem condições para a profissão, a hiperatividade é muito grave, ele tem sérios déficits de atenção, as vezes não consegue atentar a todos os instrumentos, mas ele também recusa o abandono da profissão” Também diz que gosta demais da “adrenalina” da profissão.
3) Um dos meus pacientes começou a desenvolver Alzheimer, ainda na fase de transtorno cognitivo leve, mas também negou-se a aposentar. Um dia, entrou na cabine e perguntou para o co-piloto : “nossa prá que é que servem mesmo estes tantos botões aqui embaixo “? O co-piloto escandalizou-se, “dedurou-o” e ele foi afastado.
4) Dois comandantes pilotavam o avião , exatamente nas mesmas condições hierárquicas,de equipamento (tipo do avião) tempo de serviço enfim, muito iguais...e com um detalhe: muito querelantes, patologicamente exaltados, os dois, e, por incrível que pareça, por causa de uma aparente "disputa dos egos" derrubaram um avião. Incrivel mas ,vem aquela máxima, acredite se quiser,um acelerador acelerando e o outro desacelerando.
Devido a isso ,o avião fez ,no fim da pista, uma curva abrupta para um dos lados da pista.
5) Outro caso que também ouvi outros pilotos falarem : semelhante ao caso acima, só que desta vez o avião não caiu. Eram dois pilotos, os dois eram namorados um do outro, ou seja, homoafetivos. Brigaram feio por motivos passionais, pelo que falaram, com uma exaltação até anormal, um atrapalhando o comando do outro, distraindo o outro, o avião “estolou”, perdeu muita altitude, quase caíram, um susto danado.
6) O resultado foi o que foi. Com relação ao da GOL, os passageiros nem sabem como e do que morreram. Ao cruzar por baixo do TAM, o Legacy tendo as barbatanas na ponta das asa para o lado de cima,simplesmente abriu um talho de fora a fora ,no sentido transversal, seccionando TODOS os comandos hidráulicos ,como uma tesoura,como se tirassem o volante do carro.O eixo roscado ,que aciona o leme central da traseira, com a velocidade do vento , será jogado para um dos lados,fazendo o avião ter o mesmo comando ,quando um caça de guerra,vira para dar o "bote"lé de cima para o chão.Tanto é que o avião da GOL caiu de barriga para cima. Histórias que ouço dos pilotos que atendo.

Pois bem, agora eu digo. Tudo isto acima indica que estes pilotos deveriam ter psiquiatras muito bem formados, muito bem especializados, DENTRO de suas respectivas companhias aéreas, fazendo pré-admissional, screening muito periódico, avaliações, tratamentos, reuniões de grupos, colher informações com os tripulantes, etc, etc. Tudo isto mostra que coisas psiquiátricas estarrecedoras acontecem dentro de uma cabine de avião, colocando muitos sob enorme perigo. Sem psiquiatras nas empresas, os psiquiatras liberais ficam em situação muito difícil pois não podem simplesmente dedurar seus pacientes. Ficam numa situação legal, ético-profissional , muito difícil.
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Marcelo Caixeta, médico psiquiatra ( marcelofcaixeta.wix.com/marcelo ) . Artigos no Diário da Manhã ( gratuito em DM.com.br ) nas terças, sextas, domingos , seção Opinião Pública

Raul Seixas - Medo da Chuva. Música

terça-feira, abril 07, 2015

CUIDADO com quem só lhe olha de cabeça baixa. Charles Fonseca

Os faróis. Bruno Tolentino. Poesia

OS FARÓIS
Bruno Tolentino

Rubens, rio de olvido e jardim da indolência,
travesseiro carnal onde é vedado amar,
mas por onde se agita e flui esta existência
como o ar pelo céu e o mar dentro do mar.

Leonardo da Vinci, sombrio espelho fundo
onde anjos sedutores sorriem com brandura
e, entre, penhascos e pinheiros do outro mundo,
sugerem-nos mistérios vedados à criatura.

Rembrandt, um hospital cheio de sons inquietos,
onde a um enorme crucifixo erguem-se a prece
e o coro de soluços de um monte de dejetos
a que a um raio invernal subitamente desce.

Michelangelo, ar vago onde os vultos hercúleos
e os Cristos se confundem, onde estranhos espectros,
poderosos fantasmas com seus dedos eretos,
estraçalham sudários à hora dos crepúsculos;

Puget, rei melancólico de um povo de forçados,
com impudências de fauno, de boxeador aos socos,
peito inchado de orgulho, homem débil e pálido,
resgastaste a beleza dos rudes e dos toscos.

Watteau, um carnaval de corações ilustres
a imitar borboletas, cada qual mais brilhante
ante os leves cenários em que o lume dos lustres
derrama o desvario no baile rodopiante.

Goya, onde o pesadelo não conhece mais peias:
fetos cozidos em sabás, velhas megeras
medindo-se ao espelho, ninfetas pondo as meias
para melhor tentar demoníacas feras.

Delacroix, lago cheio de sangue e anjos morosos
à sombra de pinheiros perenemente verdes,
onde passam fanfarras sob céus dolorosos
como se suspirasse Karl Maria von Weber.

Tantas blasfêmias, maldições, queixas e ais,
são um longo Te Deum de êxtases, de ecos
que, por mil labirintos, atravessando os séculos,
vertem ópios divinos aos corações mortais.

De boca em boca, inumeráveis sentinelas
repetem a mesma ordem, o mesmo grito passa
a cada caçador perdido atrás da caça
e um farol brilha aceso sobre mil cidadelas.

É o melhor testemunho da nossa dignidade,
Senhor, essa enxurrada ardente de soluços
que rola de era em era até cair de bruços
e morrer junto à orla da Tua eternidade!