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domingo, agosto 31, 2014

The supper at EmmausDe Emmaüsgangers, Jan Havicksz. Steen, 1665 - 1668. Pintura

Marina. J. R. Guzzo. Política


J. R. GUZZO: Marina, como a Rússia descrita por Churchill, é uma charada envolvida em mistério que fica dentro de um enigma

(Foto: Alexandre Santana/VEJA)
“Vai ser difícil, por exemplo, dizer que Marina é da elite branca do Sul, porque ela nasceu mais pobre do que Lula, não é branca e veio da periferia de Rio Branco”, diz J. R. Guzzo (Foto: Alexandre Santana/VEJA)
Artigo publicado em edição impressa de VEJA

J. R. GuzzoEis aí, qual galera em noite apagada, essa imprevisível Marina Silva navegando outra vez em mar imenso – e levando a si própria, junto com os eleitores brasileiros, para algum porto desconhecido. O que existia até a morte de Eduardo Campos não existe mais; o que ninguém imaginava passa a ser a nova realidade.

Marina, até agora uma mera candidata a vice que andava esquecida nas linhas de trás da disputa, e ainda por cima nem estava transferindo seus votos ao companheiro de chapa, como ele tanto queria, passa de repente a ser um nome decisivo para o resultado final – logo na primeira pesquisa após o acidente que tirou Campos da vida e da política brasileira, ela já aparece em segundo lugar na corrida, e à frente da atual líder Dilma Rousseff se houver um segundo turno entre as duas.

Aécio Neves, que toda a lógica do governo apontava como o nome a derrotar, talvez não seja mais o desafiante número 1. A presidente Dilma, até aqui a grande favorita por liderar com folga as sondagens, ter na televisão o dobro do tempo de propaganda que terão os seus adversários somados, e contar com a força bruta da máquina pública em seu favor, pode acabar nem sendo mais candidata a nada.

O ex-­presidente Lula, que estava fora, volta a ficar dentro – se bater mesmo o desespero, poderá empurrar a presidente para fora do barco, sem maiores delicadezas, e assumir ele próprio a candidatura.

É a vida, com suas vastas emoções e itinerários imperfeitos. Um desses nevoeiros malignos que de repente se formam sobre o quebra-cabeça de rios, braços de mar, canais e mangues onde ficam Guarujá e Santos, no litoral paulista; um avião com tecnologia de primeira classe, feito para não cair nunca; uma falha que aparece quando nem máquina nem homens poderiam falhar.

Pronto: bastaram alguns minutos de capricho da fortuna para reduzir a zero toda a vã sabedoria dos excelentes cálculos, análises e raciocínios feitos até agora sobre a eleição presidencial de 2014.

Como se pode ver, a prudência básica está nos aconselhando a lidar só com o presente, e do jeito com que se lida com um porco-espinho – ou seja, com extremo cuidado. O que acontece hoje, quando Marina herda cheia de gás a candidatura de Campos, pode acabar não tendo nada a ver com o que acontecerá no dia 5 de outubro.

Não há como fazer ciência aí. O que se sabe é menos do que o que não se sabe – a começar por quem é a própria candidata.

Marina, como a Rússia descrita por Churchill, é uma charada envolvida em mistério que fica dentro de um enigma. Em 2010, quando se candidatou à Presidência, conseguiu um prodígio: quase 20 milhões de pessoas votaram nela sem saber direito por quê. Não foi, certamente, por ficarem entusiasmadas quando ouviram Marina falar em “centralidade da necessidade”, “controles ex post frente” ou “agenda plasmante”.

Que patuá é esse? Nem o rapaz do Rio de Janeiro que ganhou outro dia a supermedalha internacional de matemática seria capaz de entender.

Ela admite que não se pode viver sem luz elétrica, mas parece não encontrar nenhuma usina que a satisfaça. Sabe que o Brasil não sobrevive 24 horas sem as exportações que só podem ser obtidas com agricultura capitalista de larga escala, mas defende uma “inflexão” na área agrícola.

Marina tinha o dobro das intenções de voto de Eduardo Campos, mas era candidata a vice. Formou-se no PT, mas hoje é a sua principal concorrente. Não se sabe o que pretende fazer, na vida real, diante de nenhum dos problemas que o eleitor quer ver resolvidos com urgência.

Seus 20 milhões de admiradores, até hoje, não lhe cobraram mais esclarecimentos – não entendem o que ela está dizendo, mas parecem achar que é bom. Dá para chegar ao Planalto nessa toada, falando de “sustentabilidade” e “esforço transversal”?

Lula e Dilma, mais que Aécio, esperam que não. Os dois só sabem fazer campanha apostando tudo na destruição do competidor, que sempre pintam como um inimigo da “maioria pobre” – e essa opção não está mais disponível para eles.

Vai ser difícil, por exemplo, dizer que Marina é da elite branca do Sul, porque ela nasceu mais pobre do que Lula, não é branca e veio da periferia de Rio Branco, no fundo do Acre. Não dá para pregar ódio contra alguém que só foi se alfabetizar aos 16 anos de idade, ou teve a saúde arruinada pela falta de dinheiro.

Não se conseguirá negar a Marina o “heroísmo moral” de que fala Cervantes – aquela penca de desvantagens que ninguém quer para si, a começar pela pobreza, mas acha um grande mérito nos outros.

Marina Silva pode ser uma pedreira.

A ressurreição de Cristo e a nossa ressurreição. Igreja. Cristianismo.

A ressurreição de Cristo e a nossa ressurreição

REVELAÇÃO PROGRESSIVA DA RESSURREIÇÃO

992. A ressurreição dos mortos foi revelada progressivamente por Deus ao seu povo. A esperança na ressurreição corporal dos mortos impôs-se como consequência intrínseca da fé num Deus criador do homem todo, alma e corpo. O Criador do céu e da terra é também Aquele que mantém fielmente a sua aliança com Abraão e a sua descendência. É nesta dupla perspectiva que começará a exprimir-se a fé na ressurreição. Nas suas provações, os mártires Macabeus confessam:

«O Rei do universo ressuscitar-nos-á para uma vida eterna, a nós que morremos pelas suas leis» (2 Mac 7, 9). «É preferível morrermos às mãos dos homens e termos a esperança em Deus de que havemos de ser ressuscitados por Ele» (2 Mac 7, 14) (562).

993. Os fariseus (563) e muitos contemporâneos do Senhor (564) esperavam a ressurreição. Jesus ensina-a firmemente. E aos saduceus, que a negavam, responde: «Não andareis vós enganados, ignorando as Escrituras e o poder de Deus?» (Mc 12, 24). A fé na ressurreição assenta na fé em Deus, que «não é um Deus de mortos, mas de vivos» (Mc 12, 27).

994. Mas há mais: Jesus liga a fé na ressurreição à sua própria pessoa: «Eu sou a Ressurreição e a Vida» (Jo 11, 25). É o próprio Jesus que, no último dia, há-de ressuscitar os que n'Ele tiverem acreditado (565), comido o seu Corpo e bebido o seu Sangue (566) Desde logo, Ele dá um sinal disto mesmo e uma garantia, restituindo a vida a alguns mortos (567) e preanunciando assim a sua própria ressurreição que, no entanto, será de ordem diferente. Jesus fala deste acontecimento único como do «sinal de Jonas» (568), do sinal do templo (569); Ele anuncia a sua ressurreição ao terceiro dia depois da morte (570).

995. Ser testemunha de Cristo é ser «testemunha da sua ressurreição» (Act 1, 22) (571), é «ter comido e bebido com Ele depois da sua ressurreição dos mortos» (Act 10, 41). A esperança cristã na ressurreição é toda marcada pelos encontros com Cristo ressuscitado. Nós ressuscitaremos como Ele, com Ele e por Ele.

996. Desde o princípio, a fé cristã na ressurreição deparou com incompreensões e oposições (572). «Não há ponto em que a fé cristã encontre mais contradição do que o da ressurreição da carne» (573). É bastante comum a aceitação de que, depois da morte, a vida da pessoa humana continua de modo espiritual. Mas como acreditar que este corpo, tão manifestamente mortal, possa ressuscitar para a vida eterna?

Catecismo

Chauncey Bradley Yves, c. 1863 - Pandora Museum of Fine Arts, Boston. E42. Escultura

Hão de Chorar por Ela os Cinamomos... Alphonsus de Guimaraens. Poesia

Hão de Chorar por Ela os Cinamomos...
Alphonsus de Guimaraens


Hão de chorar por ela os cinamomos,
Murchando as flores ao tombar do dia.
Dos laranjais hão de cair os pomos,
Lembrando-se daquela que os colhia.

As estrelas dirão — "Ai! nada somos,
Pois ela se morreu silente e fria.. . "
E pondo os olhos nela como pomos,
Hão de chorar a irmã que lhes sorria.

A lua, que lhe foi mãe carinhosa,
Que a viu nascer e amar, há de envolvê-la
Entre lírios e pétalas de rosa.

Os meus sonhos de amor serão defuntos...
E os arcanjos dirão no azul ao vê-la,
Pensando em mim: — "Por que não vieram juntos?"

sábado, agosto 30, 2014

Smile - Nat King Cole. Música

Provérbios 2. Salomão. Igreja. Cristianismo

Provérbios 2

1. Meu filho, se acolheres minhas palavras e guardares com carinho meus preceitos,
2. ouvindo com atenção a sabedoria e inclinando teu coração para o entendimento;
3. se tu apelares à penetração, se invocares a inteligência,
4. buscando-a como se procura a prata; se a pesquisares como um tesouro,
5. então compreenderás o temor do Senhor, e descobrirás o conhecimento de Deus,
6. porque o Senhor é quem dá a sabedoria, e de sua boca é que procedem a ciência e a prudência.
7. Ele reserva para os retos a salvação e é um escudo para os que caminham com integridade;
8. protege as sendas da retidão e guarda o caminho de seus fiéis.
9. Então compreenderás a justiça e a eqüidade, a retidão e todos os caminhos que conduzem ao bem.
10. Quando a sabedoria penetrar em teu coração e o saber deleitar a tua alma,
11. a reflexão velará sobre ti, amparar-te-á a razão,
12. para preservar-te do mau caminho, do homem de conversas tortuosas
13. que abandona o caminho reto para percorrer caminhos tenebrosos;
14. que se compraz em praticar o mal e se alegra com a maldade;
15. do homem cujos caminhos são tortuosos e os trilhos sinuosos.
16. Ela te preservará da mulher alheia, da estranha que emprega palavras lisonjeiras,
17. que abandona o esposo de sua juventude e se esquece da aliança de seu Deus.
18. Sua casa declina para a morte, seu caminho leva aos lugares sombrios;
19. não retornam os que a buscam, nem encontram as veredas da vida.
20. Assim tu caminharás pela estrada dos bons e seguirás as pegadas dos justos,
21. porque os homens retos habitarão a terra, e os homens íntegros nela permanecerão,

22. enquanto os maus serão arrancados da terra e os pérfidos dela serão exterminados.

Casas. Florianópolis. Charles Fonseca. Fotografia

Creio na ressurreição da carne. Igreja. Cristianismo

«CREIO NA RESSURREIÇÃO DA CARNE»

988. O Credo cristão — profissão da nossa fé em Deus Pai, Filho e Espírito Santo, e na sua acção criadora, salvadora e santificadora — culmina na proclamação da ressurreição dos mortos no fim dos tempos, e na vida eterna.

989. Nós cremos e esperamos firmemente que, tal como Cristo ressuscitou verdadeiramente dos mortos e vive para sempre, assim também os justos, depois da morte, viverão para sempre com Cristo ressuscitado, e que Ele os ressuscitará no último dia (558). Tal como a d'Ele, também a nossa ressurreição será obra da Santíssima Trindade:

«Se o Espírito d'Aquele que ressuscitou Jesus de entre os mortos habita em vós, Ele, que ressuscitou Cristo Jesus de entre os mortos, também dará vida aos vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que habita em vós» (Rm 8, 11) (559).

990. A palavra «carne» designa o homem na sua condição de fraqueza e mortalidade (560) «Ressurreição da carne» significa que, depois da morte, não haverá somente a vida da alma imortal, mas também os nossos «corpos mortais» (Rm 8, 11) retomarão a vida.

991. Crer na ressurreição dos mortos foi, desde o princípio, um elemento essencial da fé cristã. «A ressurreição dos mortos é a fé dos cristãos: é por crer nela que somos cristãos» (561):

«Como é que alguns de entre vós dizem que não há ressurreição dos mortos? Se não há ressurreição dos mortos, também Cristo não ressuscitou. Mas se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã é também a vossa fé. [...] Mas não! Cristo ressuscitou dos mortos, como primícias dos que morreram» (1 Cor 15, 12-14, 20).

Catecismo

Lagoa da Conceição. Florianópolis. Charles Fonseca. Fotografia


CIDADE DO SALVADOR. Charles Fonseca. Prosa

CIDADE DO SALVADOR
Charles Fonseca

Cidade do salvo à dor... oh dor! Saudade do bom que se foi, do belo que era, do justo que se pretende. Não é querer demais. Mais bem querer, mais haver, mais a ver, a ti não ter, minha bela e desgovernada Bahia de todos os pecados, todos os sofrimentos, todos os senões e eu ao sul de ti onde não existe o pecado a não ser os mesmos que ao norte tu sofres, minha amada terra natal, onde recebi minha herança em vida, o maior privilégio, a maior alegria da chegada, a maior tristeza se a perder em vida, mesmo distantes os meus amados estão perto, bem guardados, dentro do peito.

Musical Company, Rembrandt Harmensz. van Rijn, 1626. Pintura

Marina Presidente. Caetano Veloso. Política

MARINA PRESIDENTE.

Quanta coisa se mexe com esse grito! A segunda mulher presidente e - detalhe de grande força que não tem sido lembrado - o primeiro postulante de pele escura. Com seus elegantes traços, resultado óbvio da mistura de cafuzos com mamelucos, Marina, além de vir do coração da Amazônia (onde a lei faz quase desesperados esforços para instalar seu império), da luta ao lado de Chico Mendes, da fase heroica do PT, ela significará a chegada de evidentes fenótipos negros no posto da Presidência da República. Isso não é pouco. Sentirei orgulho (todos sentiremos coisas diferentes sobre o Brasil) ao ver seu rosto representando nosso país nas imagens que se espalharem pelo mundo. Mas há mais. Muito mais. O tom digno com que Marina mantém, desde sua última tentativa eleitoral majoritária, a determinação de levar à frente os avanços conquistados por FH e Lula. A coerência íntima com que ela se manifesta ao longo dos anos (que é diferente do mero repetir a mesma coisa). Sou dos que sempre quiseram que o país aproveitasse o que essa sucessão de lutadores pela democracia nos legou. Eu já disse em entrevista que, diferentemente de alguns amigos esquerdistas, não tenho rejeição pelos economistas de base liberal que se acercam de Marina. Pelo contrário, dado o conteúdo do primeiro livro de Eduardo Gianetti, "Vícios privados, benefícios públicos?", em que o ponto de interrogação define o liberalismo crítico que se expande pelas páginas que não deixam de lado nem mesmo o suspeito desprezo da filosofia europeia pelo homem tropical, e também dos últimos escritos de André Lara Resende, em que a obsessão com o crescimento perene é posta em cheque, não vejo por que jogar fora a liderança de uma mulher com esse histórico sobre técnicos que são também pensadores. Vou votar em Marina como votei em Lula em 2002. E, mais, como votei em Marina em 2010. Chorei na cabine no momento Lula (havia toda a simbologia da chegada dele à presidência e demasiadas complexidades em minha vida). Senti felicidade ao votar em Marina em 2010: saber que contribuía para fazer forte a marca de sua presença no imaginário nacional!... Agora, vejo o momento Marina. Irresistível. Cheio de promessas e insinuações. É a sociedade brasileira se movimentando para crescer com dores suportáveis. O que está à nossa frente é a nossa respeitabilidade como nação. Recusar isso seria estar cego para toda luz."

Bach - Brandenburg Concerto No. 3: First Movement, Allegro; Original Ins...

Canção do exílio. Murilo Mendes. Poesia

Canção do exílio
Murilo Mendes

Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.
Eu morro sufocado
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.


Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade!

Hino ao Senhor do Bonfim. Igreja. Cristianismo

sexta-feira, agosto 29, 2014

Beije lentamente

Portrait of a man, thought to be Dr. Ephraïm BuenoPortret van een man, vermoedelijk Dr. Ephraïm Bueno, Rembrandt Harmensz. van Rijn, 1645 - 1647. Pintura

Dialética. Vinicius de Moraes. Poesia

Dialética
Vinicius de Moraes

É claro que a vida é boa
E a alegria, a única indizível emoção
É claro que te acho linda
Em ti bendigo o amor das coisas simples
É claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz
Mas acontece que eu sou triste...

ÁRVORE. Charles Fonseca. Fotografia


A FELICIDADE. Charles Fonseca. Prosa

A FELICIDADE
Charles Fonseca

Se a felicidade bater, levanto ou se de pé vou rápido abrir a porta do meu coração, deixo ela fazer morada comigo e eu com ela. Bom que ela bata logo. Encontrará o seu lugar, o seu afago, a sua veneração, a minha mão, o meu olhar, um alisar, não corra não. Fique pra sempre, eu tão cansado, gosto de agrado, de querer bem, você já vem?

Carlo Kelly - Paul and Virginie Private Collection. E42. Escultura

quinta-feira, agosto 28, 2014

Passeio de barca. Lagoa da Conceição. Florianópolis


Belo Belo. Manuel Bandeira. Poesia

Belo Belo
Manuel Bandeira. Poesia


Belo belo belo,
Tenho tudo quanto quero.

Tenho o fogo de constelações extintas há milênios.
E o risco brevíssimo — que foi? passou — de tantas estrelas cadentes.

A aurora apaga-se,
E eu guardo as mais puras lágrimas da aurora.

O dia vem, e dia adentro
Continuo a possuir o segredo grande da noite.

Belo belo belo,
Tenho tudo quanto quero.

Não quero o êxtase nem os tormentos.
Não quero o que a terra só dá com trabalho.

As dádivas dos anjos são inaproveitáveis:
Os anjos não compreendem os homens.

Não quero amar,
Não quero ser amado.
Não quero combater,
Não quero ser soldado.

— Quero a delícia de poder sentir as coisas mais simples.

Bach - Brandenburg Concerto No. 3: First Movement, Allegro; Original Ins...

Provérbios 3. Salomão. Igreja. Cristianismo

Provérbios 3

1. Meu filho, não te esqueças de meu ensinamento e guarda meus preceitos em teu coração
2. porque, com longos dias e anos de vida, assegurar-te-ão eles a felicidade.
3. Oxalá a bondade e a fidelidade não se afastem de ti! Ata-as ao teu pescoço, grava-as em teu coração!
4. Assim obterás graça e reputação aos olhos de Deus e dos homens.
5. Que teu coração deposite toda a sua confiança no Senhor! Não te firmes em tua própria sabedoria!
6. Sejam quais forem os teus caminhos, pensa nele, e ele aplainará tuas sendas.
7. Não sejas sábio aos teus próprios olhos, teme o Senhor e afasta-te do mal.
8. Isto será saúde para teu corpo e refrigério para teus ossos.
9. Honra o Senhor com teus haveres, e com as primícias de todas as tuas colheitas.
10. Então, teus celeiros se abarrotarão de trigo e teus lagares transbordarão de vinho.
11. Meu filho, não desprezes a correção do Senhor, nem te espantes de que ele te repreenda,
12. porque o Senhor castiga aquele a quem ama, e pune o filho a quem muito estima.
13. Feliz do homem que encontrou a sabedoria, daquele que adquiriu a inteligência,
14. porque mais vale este lucro que o da prata, e o fruto que se obtém é melhor que o fino ouro.
15. Ela é mais preciosa que as pérolas, jóia alguma a pode igualar.
16. Na mão direita ela sustenta uma longa vida; na esquerda, riqueza e glória.
17. Seus caminhos estão semeados de delícias. Suas veredas são pacíficas.
18. É uma árvore de vida para aqueles que lançarem mãos dela. Quem a ela se apega é um homem feliz.
19. Foi pela sabedoria que o Senhor criou a terra, foi com inteligência que ele formou os céus.
20. Foi pela ciência que se fenderam os abismos, por ela as nuvens destilam o orvalho.
21. Meu filho, guarda a sabedoria e a reflexão, não as percas de vista.
22. Elas serão a vida de tua alma e um adorno para teu pescoço.
23. Então caminharás com segurança, sem que o teu pé tropece.
24. Se te deitares, não terás medo. Uma vez deitado, teu sono será doce.
25. Não terás a recear nem terrores repentinos, nem a tempestade que cai sobre os ímpios,
26. porque o Senhor é tua segurança e preservará teu pé de toda cilada.
27. Não negues um benefício a quem o solicita, quando está em teu poder conceder-lho.
28. Não digas ao teu próximo: Vai, volta depois! Eu te darei amanhã, quando dispões de meios.
29. Não maquines o mal contra teu vizinho, quando ele habita com toda a confiança perto de ti.
30. Não litigues com alguém sem ter motivo, se esse alguém não te fez mal algum.
31. Não invejes o homem violento, nem adotes o seu procedimento,
32. porque o Senhor detesta o que procede mal, mas reserva sua intimidade para os homens retos.
33. Sobre a casa do ímpio pesa a maldição divina, a bênção do Senhor repousa sobre a habitação do justo.
34. Se ele escarnece dos zombadores, concede a graça aos humildes.
35. A glória será o prêmio do sábio, a ignomínia será a herança dos insensatos.

Creio na remissão dos pecados. Igreja. Cristianismo

984. O Credo relaciona «o perdão dos pecados» com a profissão de fé no Espírito Santo. De facto, Cristo ressuscitado confiou aos Apóstolos o poder de perdoar os pecados, quando lhes deu o Espírito Santo.

985. O Batismo é o primeiro e principal sacramento para o perdão dos pecados: une-nos a Cristo morto e ressuscitado e dá-nos o Espírito Santo.

986. Por vontade de Cristo, a Igreja possui o poder de perdoar os pecados dos batizados e exerce-o através dos bispos e dos presbíteros, de modo habitual no sacramento da Penitência.

987. «Na remissão dos pecados, os sacerdotes e os sacramentos são instrumentos mediante os quais nosso Senhor Jesus Cristo, único autor e dispensador da salvação, nos concede a remissão dos pecados e a graça da justificação» (557).

Catecismo

Man in Oriental Dress, Rembrandt Harmensz. van Rijn, 1635

Ao correr da pena. Charles Fonseca

Ao correr da pena
Charles Fonseca

Começo a escrever e 'ao correr da pena' numa simples associação de idéias as letras vão surgindo e eu gostando, mais um pouquinho e eu gozando, até que a prudência, também chamada de censura, me contém, deixo o além e volto a quem.

terça-feira, agosto 26, 2014

Terceira e última fase. Charles Fonseca. Fotografia

François Dusquenoy, 1628-33 - Santa Susana Igreja de Santa Maria do Loreto, Roma. Escultura

INVESTIDURA. Charles Fonseca. Poesia

INVESTIDURA
Charles Fonseca

E o velho suspirava
vez em quando ele gemia
não de dor ele dizia
de tristeza eu achava

Por sonhos feitos na areia
por imagem vida dura
a morte investidura
o rondava 'stava à beira

De deixar os seus amores
de partir tudo acabado
de um olhar marejado
de subir, ao pó mil dores.

Bach - Brandenburg Concerto No. 6 in B-flat major BWV 1051 - 3. Allegro

Ao dous de julho. Castro Alves. Poesia

Ao dous de julho
Castro Alves


(Recitada no Teatro S. João)


É a hora das epopeias,
Das ilíadas reais.
Ruge o vento — do passado
Pelos mares sepulcrais.
É a hora, em que a Eternidade
Dialoga a Imortalidade...
Fala o herói com Jeová! ...
E Deus — nas celestes plagas —
Colhe da glória nas vagas
Os mortos de Pirajá.


Há destes dias augustos
Na tumba dos Briaréus.
Como que Deus baixa à terra
Sem mesmo descer dos céus.
É que essas lousas rasteiras
São — gigantes cordilheiras
Do Senhor aos olhos nus.
É que essas brancas ossadas
São — colunas arrojadas
Dos infinitos azuis.


Sim! Quando o tempo entre os dedos
Quebra um séc'lo, uma nação ...
Encontra nomes tão grandes.
Que não lhe cabem na mão!...
Heróis! Como o cedro augusto
Campeia rijo e vetusto
Dos séc'los ao perpassar,
Vós sois os cedros da História,
A cuja sombra de glória
Vai-se o Brasil abrigar.


E nós, que somos faíscas
Da luz desses arrebóis,
Nós, que somos borboletas
— Das crisálidas de avós,
Nós, que entre as bagas dos cantos.
Por entre as gotas dos prantos
Inda os sabemos chorar,
Podemos dizer: "Das campas
Sacudi as frias tampas!
Vinde a Pátria abençoar!. . .


Erguei-vos, santos fantasmas
Vós não tendes que corar...
(Porque eu sei que o filho torpe
Faz o morto soluçar... )
Gemem as sombras dos Gracos,
Dos Catões, dos Espartacos
Vendo seus filhos tão vis...
Dize-o tu, soberbo Mário!
Tu, que ensopas o sudário
Vendo Roma — meretriz? ...


Ai! Que lágrimas candentes
Choram órbitas sem luz! —
Que idéia terá Leônidas
Vendo Esparta nos pauis?!...
Alta noite, quando pena
Sobre Árcole, sobre Iena,
Bonaparte — o rei dos reis —,
Que dor d'alma lhe rebenta.
Ao ver su'águia sangrenta
No sabre de Juarez!?...


Porém aqui não há grito,
Nem pranto, nem ai, nem dor...
O presente não desmente
Do seu ninho de condor...
Mãos, que, outrora de crianças
A rir — dentaram as lanças
Dos velhos de Pirajá...,
De homens hoje, as empunhando,
Nas batalhas afiando,
Vão caminho de Humaitá!...


Basta!... Curvai-vos, ó povo!
Ei-los os vultos sem par,
Só de joelhos podemos
Nest’hora augusta fitar
Riachuelo e Cabrito,
Que sobem para o infinito
Como jungidos leões,
Puxando os carros dourados
Dos meteoros largados
Sobre a noite das nações.

segunda-feira, agosto 25, 2014

Casas. Florianópolis. Charles Fonseca

CONTUDO. Charles Fonseca. Prosa

CONTUDO
Charles Fonseca

Contudo, deixo a todos o meu silêncio falante, o meu sorriso triste, alegria mascarada, a paciência acoitada. Deixo o meu verbo em prosa, a minha lira a vibrar, o tempo a esgarçar, a semente feita em germe, o dormente a erigir-se, folhas e flores à sombra, frutos pêcos na alfombra, os férteis a reproduzir. O bom que veio raiz, o belo que refloriu, o fruto a seu justo tempo morreu para dar de si mil.

Bach - Brandenburg Concerto No. 3: First Movement, Allegro; Original Ins...

A espera. Adalgisa Nery. Poesia

A espera
Adalgisa Nery

Amado... Por que tardas tanto?
As primeiras sombras se avizinham
E as estrelas iniciam a noite.
Vem...
Pois a esperança que se acolheu em meu coração
Vai deixá-lo como um ninho abandonado nos penhascos.
Vem... Amado...
desce a tua boca sobre a minha boca
Para a tua alma levar a minha alma
Pesada de sofrimento!
Vem...
Para que, beijando a minha boca
Eu receba a sensação de uma janela aberta.
Amado meu...
Por que tardas tanto?
Vem...
E serás como um ramo de rosas brancas
Pousando no túmulo da minha vida...
Vem amado meu.
Por que tardas tanto?

domingo, agosto 24, 2014

Rude Cruz. Hino. Igreja. Cristianismo

Médicos desmentem as mentiras eleitorais de Dilma, Marcelo Caixeta. Medicina

MÉDICOS DESMENTEM MENTIRAS ELEITORAIS DE DILMA.
Marcelo Caixeta

O leitor, no Brasil, ( país onde só 4% leem jornal ), que, só de ler, já sabe das coisas, deve ter notado o subterfúgio escapista de todo Governo : “não é que nosso projeto - entre outros fracassos, o de colocar cubanos para atender saúde pública - não deu certo ( 85% de reprovação da saúde ) , precisamos de tempo para aperfeiçoar mais , estamos fazendo isto e aquilo, vai melhorar, vai ter um impacto, etc”. Com o fracasso ( que já havíamos anunciado ) dos cubanos, Dilma agora tem um novo mote de engambelação na área sempre disfuncional do SUS : “a saúde - agora que temos os clínicos gerais cubanos - está ruim porque os “médicos especialistas brasileiros” ( aqueles de “pulmão, coração”, etc) estão cobrando muito caro, não querem ir atender pobres, não querem abandonar as proximidades dos Shoppings”.
O Governo Dilma / PT alegou que os “médicos brasileiros não queriam os pobres do SUS”; pois bem, trouxe os “médicos clínico gerais cubanos” ( entre aspas porque, oficialmente, não são médicos, não conseguem passar em provas de Medicina ), mas a saúde não melhorou uma vírgula. Nos postinhos do SUS dá para engambelar, pois gripe e diarreia curam-se sozinhas, mas para “tratar tuberculose” é preciso “médico que estudou”, seja ele radiologista, pneumologista, espirometrista, hospital, etc, ou seja, “médico de verdade”, “médico com ciência de verdade” , e não os pseudo-médicos cubanos que engambelam e deixam a Natureza curar o doente - com , sem ou apesar do “médico”. Agora, nas palavras mentirosas de Dilma , o “novo culpado” é o “médico especialista”, o “mauricinho-coxinha que não quer atender pobres”. Depois do médico especialista será o “hospital particular” que não quer atender pobre, e por aí vai. Bem, vocês já entenderam onde ela quer chegar : na engambelação sem fim. Uma engambelação para esconder a verdadeira causa da “falência da assistência médico-hospitalar”, uma falência que tem um motivo muito simples : a tentativa de estatizar a Medicina. O fechamento de hospitais para a classe média ( 15 leitos por dia ) tem sido algo galopante no cenário brasileiro, assim como a deterioração do trabalho dos médicos que trabalham em consultórios ( 84 médicos por dia ) . Os impostos, encargos, multas, exigências governamentais, em cima dos hospitais, em cima do trabalho médico, são tantos que muitos não aguentam e quebram. Enquanto isto, os “médicos e hospitais de graça” que o Governo oferece à população não resolvem o problema e têm um fator agravante : jogam o preço do atendimento médico-hospitalar lá embaixo ( “se eu tenho médico e hospital de graça no Governo, por que vou pagar particular?”) , levando ao despovoamento médico, ao desabastecimento médico-hospitalar. Esta “estatização” médico-hospitalar subverte toda a dinâmica normal e sadia da “oferta-e-procura”, da meritocracia, da excelência ( quem é melhor se estabelece, quem é melhor cobra mais do quem é pior, etc ). Portanto, mesmo que Dilma “inunde” o país com a importação de “médicos de pulmão, de coração, etc”, ( coisa que não acontecerá pois médicos especialistas estão muito bem em seus países ), eles continuarão “não resolvendo o problema da saúde pública”, pois irá faltar hospitais, laboratórios, remédios, tecnologias, enfermarias, etc. É importante que quem está trabalhando na área, com isenção de interesses mesquinhos, políticos, econômicos, venha a público e denuncie mais esta farsa do PT.
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Marcelo Caixeta, médico, ex-Coordenador de Saúde Mental do Estado de Goiás.

Bach to the Future: Air on the G String (BWV 1068); J. S. Bach, Live vid...

Uma análise psiquiátrica de Marina Silva. Marcelo Caixeta. Prosa

UMA ANÁLISE PSIQUIÁTRICA DE MARINA SILVA
Marcelo Caixeta

Mesmo o brasileiro médio já notou que o PT de Dilma - como qualquer partido político que assuma o poder no Brasil - já se “PMDBizou”, ou seja, já se tornou uma agremiação fisiológica de pessoas que usa das estruturas do Estado só para se “manter por cima”. Só quem ainda continua com o PT são os “dependentes-de-Bolsa-Família-da-vida”. Até a maioria dos funcionários públicos - que historicamente gostou das benesses do PT - anda escandalizada pelo modo como dominaram , e detonaram, com o que resta de “máquina estatal”. Mas não pensem que o “povo brasileiro” desacreditou do Estado, do Governo. Até a alta classe média ( vide os médicos, que eu conheço bem ) sonha com sua “boquinha no Governo”. É aí que o Aécio Neves perde pontos : não há espaço para a “direita” ( “menos Estado”) no Brasil. O povo ( afora os “bolsa-família-da-vida”), a classe média, ainda sonha com um “Estado forte”, “provedor de Empregos, Educação, Saúde, Segurança, Ambiente”, ou seja, ainda sonha com o “socialismo”. Sentem que ainda precisam do Estado para derrotar os “fortes-do-Brasil”. Nosso país não tem cultura, leitura, questionamentos, crítica, debates, não tem interesse e movimentação coletiva-social ( só nos preocupamos com o umbigo, família, amigos ) , não tem embates, contraditório, contraposição, e por isto os “ricos”, os “donos-do-poder”, se deixados à seu bel-prazer, acabam com a vida do restante do povo. O povo, aqui inclusa a classe média, ao invés de atuar ( falta-lhe “leitura” para entender os mecanismos e contrapor-se aos “fortes” ), opta, mais uma vez, por delegar ao “Estado” a derrota dos “donos-do-poder”. Quer tirar o PT ( este “novo PMDB”) do poder, mas quer “mais Estado”, e é Marina que encarna isto, é “socialista”. Agora que têm uma “socialista honesta” para colocarem no lugar da Dilma, tenderão a polarizar Aécio como um “direitista” e, além disto ( o que é pior ), um “representante da política que aí está”, mais um “representante dos donos-do-poder”. Marina, além de representar o “Estado Forte que todos querem”, encarna a antítese dos atuais políticos e empresários “donos-do-poder” : é mulher, mulata, pobre, “contra esta política que aí está” ( notem as aspas ) , “honesta”, “idealista”, do Acre, evangélica, “usa roupas de Evangélica”, “cara de povão”, etc. Encarna tudo o que o povão quer : o “mito do Bom Estado”. Se ganhar será mais uma “ilusão de 4 anos” para o povo brasileiro. Terá como vantagem aquela de tirar a “máquina stalinista-comunista” que o PT montou dentro das engrenagens do Estado. Isto não é pouca coisa, pois com mais um mandato de 4 anos do PT iríamos rumo à Venezuela e depois à Cuba. Com Marina serão mais 4 anos de caos e enganação - mais do Mito do Estado Salvador e Forte, mas paciência, o que fazer com um povo que ainda não leu e estudou a ponto de entender que o Estado é o grande problema ? Vocês poderiam perguntar : mas por que Aécio não reage contra estes mecanismos e se diz também “contra a política que aí está ?”. O problema é que “esta política que aí está” ( leia-se : políticos e empresários usando do Estado em próprio benefício ) é, paradoxalmente, o que nos tem salvo do comunismo ( “todo mundo igual e todo mundo pobre”). São os “ricos” e seus “garotos-de-recado”, os políticos, que não deixam o “povão implantar o comunismo”. Viram como Aécio não tem como sair disto ? Só haveria um modo : dizer que seu intuito é abolir o máximo de Estado, abolir o máximo de política, abolir o máximo do poder econômico, e instalar em seu lugar o “Reino Ético da Transparência e do Controle Social do que é Público” ( a transparência pública completa é a única garantia de moral - isto antes que grande parte da Humanidade seja “santa e genuinamente cristã” ). O problema é que Aécio sabe que, sem um povo culto, lido, consciente, lutador, reivindicador, esta “transparência pública” não gera “controle público”. Ele sabe que o grosso da “parte culta” do Brasil - aquela parte que poderia ter consciência e unir-se coletivamente contra os “pobretões-do-bolsa-família” [comunismo] e contra os “políticos-empresários-donos-do-poder”[ capitalismo selvagem ] - ainda só pensa em “boquinha pública”, ainda é “estatizante”. Não é “lutadora”, mas sim uma “preguiçosa-espera-mais-Estado”. Aécio, então, não tem como “desmontar esta política que aí está” ( não descobriu ainda a “terceira via” entre o Estado e os Empresários ) , mas, aí será sua ruína, ao mesmo tempo, vai ser condenado pela Sociedade por fazer parte dela. Marina, portanto, vencendo, mesmo sendo ela também comunista, terá o “mérito” de alijar os “comunistas-stalinistas-petistas” já encastelados no poder; terá o mérito de gerar ainda mais “caos” por mais excesso de Estado; terá o mérito de fazer o povo brasileiro desesperar-se ainda mais com o tal Estado ineficiente. Desencantado com o “tal Estado” da Marina, será a hora do povo reagir e buscar verdadeiras alternativas, que , todas, passam por mais participação sua, coletiva, reivindicativa, iniciativa-privada, iniciativas-sociais, e menos Estado. O povo - as ruas de junho 2013 mostram isto - já está começando a “desconfiar”, já está começando a ter a “intuição infantil”, que a saída não é nem o Estado nem os Políticos-Empresários, por isto, após renegar o PT ( “carta fora do baralho”), tende a canalizar sua raiva para Aécio, que, no imaginário, ora representa o Estado tradicional ( herdeiro dos “coronéis-da-política”) , ora representa os Políticos-Empresários ( “playboy-chique-boa-vida-curtidor-mauricinho-garotão”) . Marina é a pessoa que, neste imaginário popular, é mais “independente”, “vítima como nós”, “revoltada como nós”, em “rede social como nós” ( veja a inteligência dela ao denominar seu partido de “Rede” ) , enfim a pessoa que não “encarna” nem o Estado ( PT ) nem os Políticos-Empresários ( PSDB ). É claro que é a mais pura ilusão, uma vez que, Marina , como comunista, só não encarna as mazelas dos “Poderes do Estado” porque ainda não tomou o poder. Ela e sua trupe querem dar a impressão ( e estão conseguindo ) de serem uma “rede social”, uma “rede das ruas”, justamente para tomar o poder e, mais uma vez, usar o Estado em benefício de sua máquina comunista ( fortalecendo o Estado, enfronhando na máquina, como o PT, e começando toda a maracutaia de novo ). Mas, mais uma vez, quem não lê - como a maioria dos brasileiros - não compreendem isto, e terão de aprender na “porrada” mesmo.
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Marcelo Caixeta, médico psiquiatra

O Prisioneiro da Grade de Ferro. Cinema

PEJO. Charles Fonseca. Poesia

PEJO
Charles Fonseca

Nem ao menos um só beijo
deu a ele ainda infante
mais que dor aquele instante
mais que fel em si, um pejo

boiou seus olhos a lágrima
cavada na alma um oco
ceifado do peito um broto
pra todo o sempre a lástima

De nunca lhe dar uma rosa
nem ao menos uma begônia
só, curtiu sua vergonha,
fez um poema sem prosa.

Portrait of a Goldsmith, Probably Bartholomeus Jansz van Assendelft, Werner van den Valckert, 1617. Pintura

Ismália. Alphonsus de Guimaraens. Poesia

Ismália
Alphonsus de Guimaraens


Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...

sábado, agosto 23, 2014

Spray para impotência sexual

O poder das chaves. Igreja. Cristianismo

II. O poder das chaves

981. Depois da ressurreição, Cristo enviou os seus Apóstolos «a anunciar a todos os povos o arrependimento em seu nome, com vista à remissão dos pecados» (Lc 24, 47). Este «ministério da reconciliação» (2 Cor 5, 18), não o cumprem os Apóstolos e os seus sucessores somente anunciando aos homens o perdão de Deus que nos foi merecido por Jesus Cristo, e chamando-os à conversão e à fé; mas também comunicando-lhes a remissão dos pecados pelo Baptismo e reconciliando-os com Deus e com a Igreja, graças ao poder das chaves recebido de Cristo:

A Igreja «recebeu as chaves do Reino dos céus, para que nela se faça a remissão dos pecados pelo Sangue de Cristo e a acção do Espírito Santo. É nesta Igreja que a alma, morta pelos pecados, recupera a vida para viver com Cristo, cuja graça nos salvou» (551).

982. Não há nenhuma falta, por mais grave que seja, que a santa Igreja não possa perdoar. «Nem há pessoa, por muito má e culpável que seja, a quem não deva ser proposta a esperança certa do perdão, desde que se arrependa verdadeiramente dos seus erros» (552). Cristo, que morreu por todos os homens, quer que na sua Igreja as portas do perdão estejam sempre abertas a todo aquele que se afastar do pecado (553).

983. A catequese deve esforçar-se por despertar e alimentar, entre os fiéis, a fé na grandeza incomparável do dom que Cristo ressuscitado fez à sua Igreja: a missão e o poder de verdadeiramente perdoar os pecados, pelo ministério dos Apóstolos e seus sucessores:

«O Senhor quer que os seus discípulos tenham um poder imenso: Ele quer que os seus pobres servidores façam, em seu nome, tudo quanto Ele fazia quando vivia na terra» (554).

«Os sacerdotes receberam um poder que Deus não deu nem aos anjos nem aos arcanjos. [...] Deus sanciona lá em cima tudo o que os sacerdotes fazem cá em baixo» (555).

«Se na Igreja não houvesse a remissão dos pecados, nada havia a esperar, não existiria qualquer esperança duma vida eterna, duma libertação eterna. Dêmos graças a Deus, que deu à sua Igreja um tal dom» (556).

Catecismo

John Rogers, 1871 Rip Van Winkle Returned Private Collection. E42. Escultura

A tesoura de Toledo. Murilo Mendes. Poesia

A tesoura de Toledo
Murilo Mendes

Com seus elementos de Europa e África,
Seu corte, inscrição e esmalte,
A tesoura de Toledo
Alude às duas Espanhas.
Duas folhas que se encaixam,
Se abrem, se desajustam,
Medem as garras afiadas:
Finura e rudeza de Espanha,
Rigor atento ao real,
Silêncio espreitante, feroz,
Silêncio de metal agindo,
Aguda obstinação
Em situar o concreto,
Em abrir e fechar o espaço,
Talhando simultaneamente
Europa e África,
Vida e morte.

Arcangelo Corelli: Christmas Concerto, Adagio Op. 6 No. 8 Voices of Music

sexta-feira, agosto 22, 2014

Chute a santa, mas adore Dilma. Reinaldo Azevedo. Política

Chute a santa, mas adore Dilma
15/08/2014

No Brasil, é permitido chutar a santa.

No Brasil, é permitido dizer que Jesus Cristo era um banana.

No Brasil, é permitido sacanear com igual ignorância ou sabedoria o sagrado e o profano.

E não esperem ler aqui a defesa de alguma forma de censura. Cada um diga o que quiser. E arque com as consequências aceitáveis na democracia. É a natureza do jogo.

Mas um território se pretende verdadeiramente divino e imune à crítica: o do petismo, incluindo os espaços que ele diviniza. Os quatro analistas do Santander, como sabemos, foram para a fogueira em razão de um texto sacrílego.

Nesta semana, mais uma não-notícia ganhou ares de escândalo, inflamando o espírito jihadista. A consultoria Rosenberg Associados, numa síntese notável, considerou que Dilma ainda é a favorita, mas emendou: "O cenário mais provável é a continuidade da mediocridade, do descompromisso com a lógica, do mau humor prepotente do poste que se transformou em porrete contra o senso comum".

É só a opinião de uma consultoria. Fez-se uma gritaria danada na imprensa. Alberto Cantalice, vice-presidente do PT e autor da lista negra de jornalistas (estou lá, o que me honra), afirmou que o partido iria ignorar a avaliação. Mas o seu exército pediu que se queimassem as bruxas.

Segundo a metafísica dos fanáticos –e isto, ao menos, essa gente preserva do socialismo–, é preciso fulminar a opinião contrária como expressão do Mal. A crítica nunca é tomada como um caminho legítimo, ainda que errado.

Alguém considera, por exemplo, ruim ou péssima a gestão de Fernando Haddad em São Paulo, como fazem 47% dos paulistanos? Descarte-se as possibilidades de o prefeito ser incompetente, ter errado nas escolhas ou alimentar interesses menores –afinal, só os "inimigos" os têm. Os descontentes ou estão a serviço da reação ou são pessoas abduzidas por um espírito maligno, que as faz perder a capacidade até de arbitrar o que é melhor para si mesmas.

A matriz dessa visão de mundo é o fascismo, de direita ou de esquerda. Os novos arautos, como antes, falam em nome do progresso, da igualdade e do Bem. Foi com a colaboração de obreiros assim que Hitler e Stálin se apresentaram como engenheiros de homens. Mataram milhões sem piscar. A tarefa de transformar o morticínio em teoria política, em categoria de pensamento e numa forma de ascese ficou a cargo de intelectuais –incluindo os da imprensa.

O tucano Aécio Neves está padecendo nas mãos do espírito miliciano deste tempo. Um candidato de oposição, Santo Deus!, é constrangido a evitar críticas ao governo, ou pesará sobre ele a suspeita de que, se eleito, vai punir os pobres. Não era diferente com Eduardo Campos, tornado agora um respeitável sonhador morto. Quem o viu no "Jornal Nacional" pode ter ficado com a impressão de que era candidato à Presidência não porque tivesse algo a dizer, mas porque não tinha como escapar dos entrevistadores. Outro elogia o homem "que buscava o sonho". Huuummm... Só não conseguia aceitar o político que buscava outra... realidade! Admiro o decoro com cadáveres, desde que se respeitem os vivos.

A imprensa é a primeira a demonstrar, com correção, que uma política desastrada de combate à inflação jogou parte da conta nas costas da Petrobras, cujo valor de mercado despencou. Ai de Aécio, no entanto, se apontar o desastre! Com ar inquiridor, lá vem a pergunta: "Então, se o senhor vencer a disputa, vai elevar o preço dos combustíveis?" Se ele diz "não", passa a ser usuário do mal que denuncia; se diz "sim", ninguém quer saber como e quando a correção seria feita. Busca-se um título ou uma síntese bucéfala: "Se eleito, tucano diz que aumenta o preço da gasolina".

"É uma pergunta legítima", dirá alguém. Tudo o que interdita o debate e torna a realidade ainda mais obscura agride a verdade e o processo democrático. De resto, é preciso definir se entrevistadores perguntam para, de fato, saber ou para desmoralizar o entrevistado. Será assunto de outra coluna.

Está com vontade de criticar a Dilma, leitor? Não seja herético ou iconoclasta! Chute a imagem de Nossa Senhora, a santa que a governanta já chamou de... "deusa"!

Philidor: Air en Musette, Gonzalo X. Ruiz and Voices of Music

APALPADELAS. Charles Fonseca. Poesia

APALPADELAS
Charles Fonseca

Ando às apalpadelas
Caminho teias de aranha
Por ti por ela tamanha
Saudade por ela por elas

As doces ternas lembranças
As lutas por vós ergo a voz
Perdidas, ganhas após
Vitórias, quantas andanças!

Discriminação racial. Fotografia


MESURA. Charles Fonseca. Prosa

MESURA
Charles Fonseca

Musa? Não, não é. Mas que põe mesa, isso põe. A beleza também à mesa. Esta a minha mesura. Minha musa está em todo lugar, no meu pensamento, nas minhas orações poucas, confesso. Muitas as dela. Admirável. Como pode ser tão espírito num corpo tão gostoso de se ver e por aqui podo a pergunta. Gosto da poda. Fui devagarinho, pra não espantar a pombinha que não era a do Espírito Santo, nem da Paraíba, nem das Alagoas, muito menos da Bahia, de onde é ela, de onde é ela? Floripa na mente respondo que é mulher dos grotões das Minas Gerais com estágio no Rio de Janeiro e que aportou na Bahia de todos os santos e dos meus não poucos pecados. E que por lá ficou quinze anos como filha de santo à espera deste pai de santo dos mistérios. Oxalá. Tomara. Desejo que assim seja, que continue, até que eu vá pedir a São Pedro abrir a porta pra eu entrar, tenho vaga assegurada, pelo seu superior maior. E se puder, vou ver se subo mais alguns degraus pois que se eu não melhorar mais por aqui no aquém lá no além ela estará, num plano mais elevado mas não custa chegar pertinho dela que é como eu aqui ando a fazer.

CLIPE ARMANDINHO Hino ao Senhor do Bonfim. Igreja. Cristianismo

Roger Abdelmassih : O MÉDICO - este "sempre monstro" - E A SOCIEDADE ( uma análise psiquiátrica ). Marcelo Caixeta. Prosa

Roger Abdelmassih : O MÉDICO - este "sempre monstro" - E A SOCIEDADE ( uma análise psiquiátrica )

Eis, no Brasil, de hoje, o "homem" que nos Representa. Não estávamos loucos em busca de um "representante"? Pois é, aí está, "eis o Homem". O cara é um zero mesmo, ninguém duvida, pervertido, tarado, ganancioso, psicopata, etc, etc, mas virou o "protótipo nacional" do "Médico-e-Monstro" que todo o País necessita ( e o PT alimenta ). Socialites ( que o procuraram por causa das "colunas sociais" e não por ser "ético" ) agora aparecem como "tietes-anti-médicas" dizendo ( genericamente, vejam o alcance inconsciente disto ) que o "médico é o monstro". Todo médico conhece isto : a Sociedade não procura quem é bom tecnicamente, quem é ético; procura, sim, quem "aparece", tem poder, tem dinheiro, tem glamour. E depois reclama desta escolha errada que ela mesma fez ? Em todo lugar, e nós sabemos disto, há médicos poderosíssimos, riquíssimos, glamourosíssimos- mas tarados - do naipe de Abdelmassih ( ou piores ?) que estão no topo da "Society". Praticamente todos sabem dos "atributos" dos tais "rapazes", mas até a hipocrisia explodir na mídia todos vão nele... Esta hipocrisia, esta valoração mundana do que é chique, em detrimento do que é ético, humano e competente, será um dos mecanismos inconscientes que levará à culpa protelatória e à intimidação silenciosa de grande parte desta High Society quando confrontada com a monstruosidade de seu "escolhido". Várias coisas, extremamente complexas, acontecem nesta "geléia geral". Várias denúncias são, de fato, anuladas, porque tais médicos posicionam-se, pelo seu poder, pelo seu dinheiro, na "boca do caixa", ou seja, cercam , nas "instituições-chave", todo tipo de denúncia. Seu poder também cala os colegas que sabem de tudo. A vergonha, humilhação e a intimidação truculenta do poder também calam uma parte da High Society. Outra parte é calada porque deixa-se levar, em sua , fragilidade, perturbação emocional, leveza caracterial , pelo gosto do proibido, da aventura , da "fantasia" de "um caso com o médico". Depois, ao arrependerem-se amargamente, passam a ter o clássico "nojo do próprio corpo". Outras, como as crianças, vítimas de uma sensorialidade puramente física, involuntária, das regiões venéreas, "acordam" ( literalmente ou metaforicamente ) compungidas e esmagadas pela ilicitude ressentida dentro do próprio prazer, cena primária paradoxal que, pela ambiguidade moral, não as abandonará jamais ( "como eu pude ser tão suja?", "como meu corpo pode ter tido algum tipo de sensação prazerosa numa situação daquelas?"). O "monstro-médico-tarado" é tão pérfido que joga com esta própria ambiguidade inconsciente do paciente, agindo como o pedófilo : "eu vi que ela estava gostando". A perfídia do "monstro-médico" é tão maior quanto "raciocinada, calculada, trabalhada". "Quem deveria cuidar, curar, proteger, é o Lúcifer decaído de jaleco branco, aquele que existe não para o outro, mas só para o usufruto do próprio bel-prazer". O "médico e o monstro" revela todo ódio dormente da Humanidade contra o "hiper-racional" que usa de seu gênio para dominar, auferir, beneficiar-se, curtir e destruir. O ódio liberado, quando o "coletivo" vence tais monstros é da ordem de uma Bomba H : vários megatons. A assimilação entre a "perfídia, o poder, a racionalidade, a ciência" é inconsciente, reflexa, imediata e muito poderosa. Explode e vem à tona toda luta "libertária" contra os "poderosos de branco", contra os "frios", os "cientistas", os "modernos Hitlers de jaleco". Passa-se daí a uma "luta civilizatória" contra a "autoridade", luta esta cujo maior visado, como se vê com Abdelmassih, o médico é o alvo preferencial.

The Complete Citizen Kane - Documentary

Separação... Mônica Klein. Prosa

Separação...
Mônica Klein

A dor de uma separação é, na verdade, um conjunto de dores...é a dor do fracasso por ter investido tanto sentimento, tempo e esperança em uma relação que chegou ao fim. É a dor de ter que se desfazer de tantos planos e sonhos imaginados juntos e ter que aceitar que agora cada um vai para um lado...é a dor do desapego, ou da tentativa do desapego, afinal, não se deixa de amar de uma hora pra outra. É a dor de saber que, apesar de não ter mais que lidar com os defeitos do outro, que tanto machucavam, também não haverá mais aqueles momentos que tornavam tudo especial. É a dor da ausência, ausência de tudo, do corpo e do espírito, das risadas, dos xingamentos, das piadas particulares, dos significados de olhares que só vocês entendiam... é a dor da lembrança, que permanece em todos os cantos que vocês já passaram, em todos os restaurantes em que vocês já jantaram, em todas as musicas que vocês já cantaram ou escutaram juntos...

O que mais dói na separação é aquela sensação de impotência, de vazio, de desgaste emocional... é como se um imenso aspirador tivesse sugado toda a sua alma e não houvesse mais energia pra continuar. É uma sensação de culpa que fica, e que por mais que a gente racionalmente acredite que fez o que pôde, sempre vai nos cutucar com um “e se?”, porque no fundo acreditamos que não existe um único culpado na história. É a dor da preocupação com o outro... de querer saber como ele está passando sem você, e ao mesmo tempo a dor da vaidade, do medo de descobrir que ele está melhor do que você imagina. É a dor da contradição, de querer que o tempo apague tudo o mais rápido possível, de querer se afastar de tudo de uma vez, mas ficar checando a caixa de e-mail, o MSN, o celular a cada minuto, esperando um sinal, a menor desculpa pra dar uma segunda chance.

Às vezes,no entanto, a separação é necessária, porque por mais dolorosa que seja, pode ser ainda menos dolorosa que a decisão de continuar. Às vezes, é preciso ouvir um pouco menos o coração e colocar tudo numa balança. Tudo mesmo. Se possível, fazer um gráfico, medindo o seu grau de felicidade, satisfação, desde o início do relacionamento. Se a balança pesar mais pro lado negativo ou se o gráfico for nitidamente descendente, algo está obviamente errado. A menos que você seja um daqueles que acreditam que o amor é sofrimento, não se conforme com menos do que merece. Procure ver se o problema é algo passageiro, ou se é questão de formas diferentes de ver o mundo, objetivos de vida muito distintos, valores e princípios incompatíveis etc. Não caia na conversa de que opostos se atraem. Isso não é regra. É preciso uma liga entre os dois, algo que nutra admiração e que sirva como base sólida para construir algo juntos... e acredite, por melhor que seja o sexo, isso nunca vai sustentar nenhum romance por muito tempo.

Não caia no erro de apoiar sua felicidade no futuro próximo, na idéia de que as coisas irão mudar e de que as transformações irão acontecer mais cedo ou mais tarde. Ou você se conforma com a idéia de que talvez ele nunca pare de fumar, de que seu temperamento difícil faz parte de sua personalidade e de que sua mania de organização não é um T.O.C e sim motivo de orgulho pra ele, ou você vai ficar sempre adiando sua felicidade, se sentindo frustrada e decepcionada com o agora. É um grande engano ficar idealizando um futuro perfeito para os dois, se o próprio presente não está agradando. É mais fácil que as coisas piorem que o contrário. Pelo menos o melhor é acreditar nisso, pois assim o que vier de melhora é lucro. Acreditar que o outro tem que mudar pra você ser feliz, além de ser burrice é egoísta, pois parte do pressuposto de que você não aceita a pessoa como ela é.

Amar significa, antes de tudo, estar bem. O amor tem que representar tranqüilidade e ser um porto seguro. A paixão é adrenalina, é aquele frio na barriga antes de se encontrar, é o medo de não ser tão boa, tão gostosa ou tão inteligente a ponto de ele te querer... é a insegurança, medo, a sensação de que tudo depende de você e de que você está sendo testada o tempo todo. É colocar o outro no centro das atenções, é atribuir ao outro a própria felicidade, é ser exagerada, incontida, impulsiva. Isso é maravilhoso, mas cá pra nós, ninguém consegue viver nessa montanha russa o tempo todo, nessa rotina frenética e intensa...daí vem o Amor, que é um suspiro de alívio, uma sensação de paz que traz consigo uma certa dose de maturidade, cumplicidade... é o Amor que te dá segurança emocional, que faz você perceber que ele estará ao seu lado, ainda que você acorde mal humorada, fique doente ou use pijamas de flanela. É o Amor que faz você se sentir compreendida e que te dá suporte, caso todo o resto esteja indo mal. É o Amor que te dá amparo pra enfrentar qualquer coisa, qualquer problema. Amar alguém e ser amado é isso. É confiar no outro e ser correspondida. É não se sentir sozinha. É saber que sua felicidade é prioridade pra ele e vice-versa.

Se o amor não for capaz de te dar isso, então não vale a pena continuar. Se além de todas as preocupações que temos no dia-a-dia, o relacionamento for mais uma constante preocupação e mais um motivo de estresse, então o Amor perde o seu sentido, a sua razão de ser. Não adianta continuar por medo de ficar sozinha. A solidão independe de estar ou não com alguém. Não viva acumulando mágoas, guardando ressentimentos, trocando ofensas... isso não é bom pra nenhum dos dois. E não pense que você deve bancar a Madre Teresa de Calcutá pra ser altruísta nessas horas. Se vc ama, então merece ser amada. Se não está sendo correspondida, seja corajosa e saia desse relacionamento. Talvez o problema não seja necessariamente ele ou você, em particular. Talvez vocês simplesmente não combinem. Talvez uma amizade seja a melhor saída. Só não saia acreditando que ele é o ultimo biscoito do pacote. Simples assim... bom, talvez nem tanto... Dói? Dói. Você vai chorar, vai ficar arrasada, vai achar que talvez nunca mais encontre alguém mais interessante e blá blá blás...mas no final das contas, o que sobrevive pra contar a história é a experiência, a sabedoria e a certeza de que nem mesmo os poetas morrem literalmente de amor.



Mônica M. Klein

quinta-feira, agosto 21, 2014

Rembrandt. Pintura


Creio na remissão dos pecados. Igreja. Cristianismo

«CREIO NA REMISSÃO DOS PECADOS»

976. O Símbolo dos Apóstolos liga a fé no perdão dos pecados à fé no Espírito Santo, mas também à fé na Igreja e na comunhão dos santos. Foi ao dar o Espírito Santo aos Apóstolos que Cristo ressuscitado lhes transmitiu o seu próprio poder divino de perdoar os pecados: «Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos» (Jo 20, 22-23).

(A segunda parte do Catecismo tratará expressamente do perdão dos pecados por meio do Baptismo, do sacramento da Penitência e dos outros sacramentos, sobretudo da Eucaristia. Por isso, basta evocar aqui brevemente alguns dados fundamentais).

I. Um só Baptismo para a remissão dos pecados

977. Nosso Senhor ligou o perdão dos pecados à fé e ao Baptismo: «Ide por todo o mundo e proclamai a Boa-Nova a todas as criaturas. Quem acreditar e for baptizado será salvo» (Mc 16, 15-16). O Baptismo é o primeiro e principal sacramento do perdão dos pecados, porque nos une a Cristo, que morreu pelos nossos pecados e ressuscitou para a nossa justificação (546), a fim de que «também nós vivamos numa vida nova» (Rm 6, 4).

978. «No momento em que fazemos a nossa primeira profissão de fé, ao receber o santo Baptismo que nos purifica, o perdão que recebemos é tão pleno e total que não fica absolutamente nada por apagar, quer da falta original, quer das faltas cometidas de própria vontade por acção ou omissão; nem qualquer pena a suportar para as expiar [...]. Mas apesar disso, a graça do Baptismo não isenta ninguém de nenhuma das enfermidades da natureza. Pelo contrário, resta-nos ainda combater os movimentos da concupiscência, que não cessam de nos arrastar para o mal» (547).

979. Neste combate contra a inclinação para o mal, quem seria suficientemente forte e vigilante para evitar todas as feridas do pecado? «Portanto, se era necessário que a Igreja tivesse o poder de perdoar os pecados, era também necessário que o Baptismo não fosse para ela o único meio de se servir destas chaves do Reino dos céus que tinha recebido de Jesus Cristo; era necessário que fosse capaz de perdoar as faltas a todos os penitentes que tivessem pecado, até mesmo ao último dia da sua vida» (548).

980. É pelo sacramento da Penitência que o baptizado pode ser reconciliado com Deus e com a Igreja:

«Os Santos Padres tiveram razão quando chamaram à Penitência um "baptismo laborioso" (549). Este sacramento da Penitência é necessário para a salvação daqueles que caíram depois do Baptismo, tal como o próprio Baptismo o é para os que ainda não foram regenerados» (550).

Catecismo

Nelson Freire plays Beethoven Moonlight Sonata (Complete). Música

O VENTO. Charles Fonseca. Prosa

O VENTO
Charles Fonseca

Foi ditada uma verdade mentirosa durante anos, à socapa. Um matraquear de oitiva lento, incessante. Sucesso absolutamente relativo. A ditadura enterrada. As prisões portas abertas. Os detentos capengantes. Do exílio, pouco a pouco, chegam pedaços de novo vir a ser. O tempo corre, o vento leva.

O que é depressão?

Randolph Rogers, Ruth Gleaning Private Collection. E42. Escultura

Ahasverus e o gênio. Castro Alves. Poesia

Ahasverus e o gênio
Castro Alves


Sabes quem foi Ahasverus?...— o precito,
O mísero Judeu, que tinha escrito
Na fronte o selo atroz!
Eterno viajor de eterna senda...
Espantado a fugir de tenda em tenda,
Fugindo embalde à vingadora voz!

Misérrimo! Correu o mundo inteiro,
E no mundo tão grande... o forasteiro
Não teve onde... pousar.
Co'a mão vazia — viu a terra cheia.
O deserto negou-lhe — o grão de areia,
A gota d'água — rejeitou-lhe o mar.

D'Ásia as florestas — lhe negaram sombra
A savana sem fim — negou-lhe alfombra.
O chão negou-lhe o pó!...
Tabas, serralhos, tendas e solares...
Ninguém lhe abriu a porta de seus lares
E o triste seguiu só.

Viu povos de mil climas, viu mil raças,
E não pôde entre tantas populaças
Beijar uma só mão ...
Desde a virgem do Norte à de Sevilhas,
Desde a inglesa à crioula das Antilhas
Não teve um coração! ...

E caminhou!... E as tribos se afastavam
E as mulheres tremendo murmuravam
Com respeito e pavor.
Ai! Fazia tremer do vale à serra...
Ele que só pedia sobre a terra
— Silêncio, paz e amor! —

No entanto à noite, se o Hebreu passava,
Um murmúrio de inveja se elevava,
Desde a flor da campina ao colibri.
"Ele não morre", a multidão dizia...
E o precito consigo respondia:
— "Ai! mas nunca vivi!" —

O Gênio é como Ahasverus... solitário
A marchar, a marchar no itinerário
Sem termo do existir.
Invejado! a invejar os invejosos.
Vendo a sombra dos álamos frondosos...
E sempre a caminhar... sempre a seguir...

Pede u'a mão de amigo — dão-lhe palmas:
Pede um beijo de amor — e as outras almas
Fogem pasmas de si.
E o mísero de glória em glória corre...
Mas quando a terra diz: — "Ele não morre"
Responde o desgraçado: — "Eu não vivi!..."

quarta-feira, agosto 20, 2014

Arcangelo Corelli: Christmas Concerto, Adagio Op. 6 No. 8 Voices of Music

Parábola do homem rico. Vinicius de Moraes. Prosa

PARÁBOLA DO HOMEM RICO
Vinicius de Moraes

Rio de Janeiro, Jornal do Brasil, 31/12/1969

Todos são poetas à sua maneira, mas é bem possível que, se todos o fossem realmente, não houvesse mais lugar para a poesia. Porque a poesia é a amante espiritual dos homens, aquela com quem eles traem a rotina do cotidiano. A poesia restitui-lhes o que a vida prática lhes subtrai: a capacidade de sonhar. O desgaste físico e moral imposto pelo exercício das profissões, em que o ser humano deve despersonalizar-se ao máximo para atingir um índice ideal de eficiência - eis a grande arma da poesia. Depois que o banqueiro passa o dia manipulando o jogo de interesses do seu banco, vem a poesia e, na forma de um beijo de mulher, diz-lhe que o amor é menos convencional que o dinheiro. Ou o bancário, que passa o dia depositando e calculando o dinheiro alheio, ao ver chegar a depositária grã-fina, linda e sofisticada, sonha em tornar-se um dia banqueiro. E fazendo-o, invade o campo da poesia. Pois tudo é fantasia. Cada ação provoca um sonho que lhe é imediatamente contrário. Tal é a dinâmica da vida, e sem ela a poesia não teria vez.

Isso me faz lembrar certa noite em Paris, num jantar com meus amigos Marie-Paule e Jean-Georges Rueff, em companhia de um grande comerciante francês, um homem super-rico, dono de um dos maiores supermercados da França, superviajado, superlindo e casado com uma mulher superlinda. Nós nos havíamos conhecido alguns anos antes, em Estrasburgo, onde ele e os Rueff então moravam, e um pilequinho em comum nos havia aproximado, depois de um papo de coração aberto que nos levou até a madrugada. O assunto agora era o mesmo, a poesia, e o nosso prezado homem rico, depois de discutirmos um pouco a extraordinária vida desse jovem gênio que foi o poeta Jean-Arthur Rimbaud, fez-nos ver que não há casamento possível entre o Grande Lírico e o Grande Empresário: ou se é uma coisa, ou se é outra. O verdadeiro homem de empresa ao mesmo tempo inveja e despreza o poeta, uma vez que não se pode preocupar além dos limites com as palavras da poesia. Elas são, para ele, o reverso da medalha: o ouro impalpável. E como as mulheres - dizia-me ele ao lado da sua - são seres devorados de lirismo, sobretudo no amor, o capitalista tinha que pagar seu preço ao artista: e esse preço, via de regra, era a própria mulher.

- Elas ficam conosco porque nós representamos poder aquisitivo, podemos dar-lhes as coisas de que necessitam para ficarem mais sedutoras, terem mais disponibilidade para cuidar da própria beleza. Mas essa beleza, elas a entregam a vocês, os artistas. No fundo, as mulheres nos odeiam. O que não impede que vocês sejam todos gigolôs do capitalismo.

Ponderei-lhe que já conheci vários homens de empresa que tinham passado na cara mulheres de artistas, mas o nosso prezado homem rico não se deixou perturbar e me disse assim:

- É porque não se tratava de artistas verdadeiramente grandes e puros. Seriam, provavelmente, contrafações. As mulheres sentem. As mulheres só abandonam um iate em Saint-Tropez por um apartamentozinho na Rive Gauche à base do amor integral. E esse amor, só o artista verdadeiramente puro pode dar. Nós, os grandes empresários, temos um outro tipo de pureza. O nosso maior amor é o dinheiro e, através do dinheiro, o poder. A mulher vem na onda.

- Eu conheci e era amigo - ponderei-lhe - de um grande poeta que foi também um grande homem de negócios.

- Grande mesmo? Duvido. Esse tipo de dualidade cria uma profunda infelicidade pessoal. Não se serve ao Deus e ao Diabo ao mesmo tempo.

Admirei-lhe, não sem uma certa sensação de desconforto, a franqueza e honestidade - ele, um belo homem, em plena força de seus quarenta anos, ao lado de sua mulher extraordinariamente linda, com um solitário no anular quase tão grande quanto um ovo de codorna, a nos escutar com uma atenção diligente. Fechado o restaurante, resolvemos esticar na boate New Jimmy's. O nosso prezado homem rico fez uma grande volta para passar diante do seu empório, a fim de ministrar-me uma aula: todo um quarteirão de supermercado, com três pavimentos servidos por escadas rolantes e centenas de vendedores e vendedoras com ordens expressas de serem simpáticos, mas impessoalmente, nunca além do limite, de modo a não retardar com conversas ou excessos de cortesia o fluxo incessante das compras.

- Eu tenho uma média de três a cinco pessoas que são presas diariamente pela minha polícia, por furto de objetos. Em geral, depois de pregar-lhes um susto, eu os deixo ir.

Depois, na direção do seu Rolls-Royce, cujo chofer dispensara, tirou do bolso do paletó a cigarreira da prata e com gestos precisos acendeu um cigarro e, olhando-me pelo espelhinho da direção, me perguntou com uma voz que não permitia réplica:

- Não é uma beleza, poeta?

Direção Espiritual: A importância do perdão. Igreja. Cristianismo

O teatro da política. Marcelo Madureira. Prosa

O TEATRO DA POLÍTICA
Marcelo Madureira

Política é teatro: tem drama, tem comédia (de erros), vários canastrões em cena e, pior, muitas vezes acaba em tragédia. Política tem pathos, conflito. Na maior parte das vezes, conflitos de interesses, quando deveria ser de ideias.

Nós, o populacho, somos a plateia: assistimos, torcemos, procuramos nos identificar com algum personagem e, principalmente, torcemos pelo retorno do “herói”, que vem para nos redimir.

Não me canso de dizer que a grande “contribuição” dos governos do PT ao Brasil foi consolidar na sociedade o descrédito na atividade política. Por isso mesmo, os eleitores não se mostravam muito motivados com as eleições de outubro próximo. O espetáculo estava chato. Um fracasso de público e de crítica. Espectadores entediados abandonavam a sala de espetáculo em busca de algo mais interessante para fazer.

Mas eis que surge o inesperado. Tal e qual um Deus Ex-Machina, o jato tenta um pouso, arremete e, qual um bólido, despedaça a candidatura de Eduardo Campos, propondo uma virada radical no enredo eleitoral.

Marina Silva, com todas as suas particularidades e idiossincrasias, vem à boca de cena para ocupar o papel de protagonista na trama. Marina é um personagem interessante. De origem muito humilde, educou-se, estudou, lutou muito e tem um ar de madona renascentista, sem deixar de ser cabocla. Marina é uma espécie de Madre Teresa de Calcutá, acriana, difícil não despertar a simpatia de uma boa parte do eleitorado. Confesso que admiro muito a pessoa Marina e, apesar de discordar de boa parte de suas posições políticas, acredito que sua candidatura só engrandece a disputa eleitoral.

As primeiras pesquisas indicam um ponto positivo em toda esta tragédia. O resgate de milhões de eleitores que não pretendiam votar ou votariam em branco ou, ainda pior, votariam nulo. Os fatos reaproximaram os eleitores do teatro político e isso é bom.

Um dos aspectos positivos da democracia são as eleições. Não pela simples disputa de quem perde e de quem ganha, mas pelo debate político que uma eleição enseja.

O processo eleitoral desperta a conversa política entre a população: entre amigos, parentes, colegas de trabalho, na fila do banco e na sala de espera do hospital. As eleições estimulam o debate, o confronto de pontos de vista, elevando o nível de politização da sociedade e, independente do resultado das urnas, a democracia sai fortalecida.

Neste sentido, o trágico sacrifício de Eduardo Campos não terá sido em vão.

E tenho dito.

Pintura holandesa


Fogo-fátuo. Olavo Bilac. Poesia

Fogo-fátuo
Olavo Bilac

Cabelos brancos! dai-me, enfim, a calma
A esta tortura de homem e de artista:
Desdém pelo que encerra a minha palma,
E ambição pelo mais que não exista;

Esta febre, que o espírito me encalma
E logo me enregela; esta conquista
De idéias, ao nascer, morrendo na alma,
De mundos, ao raiar, murchando à vista:

Esta melancolia sem remédio,
Saudade sem razão, louca esperança
Ardendo em choros e findando em tédio;

Esta ansiedade absurda, esta corrida
Para fugir o que o meu sonho alcança,
Para querer o que não há na vida!

terça-feira, agosto 19, 2014

24 horas de Caatinga em 120 segundos. Brasil

“Dize-me com quem andas, e te direi quem és”

LIVRO. Charles Fonseca. Prosa

LIVRO
Charles Fonseca

Minha vida é um livro aberto. Tudo o que sou a nível consciente está exposto no meu blog desde 2006 e no facebook mais recentemente. E eu com isso? Podem folhear à vontade. São páginas explícitas, muitas medíocres, umas líricas, aqui ou acolá uma dor, uma flor beira caminho, um passarinho, um criador incriado, uma fé aqui ta fundo aqui ta raso. Não tenho grandes posses, umas roupinhas, objetos de toucador. Um carrinho, símbolo de poder pequeno. Uma mulher, símbolo de grande virtude, sua filha, uma joia preciosa que fica na ostra o mais das vezes mas que quando sai brilha ao luar, as estrelas luzentes competem com ela. Dois filhos meus, a minha herança são eles, já recebi em vida, um privilégio. Por enquanto um netinho ao longe, distante, ainda bebê. Mas que fazer? O ninho vazio, um dia chega pra uns de um modo, pra outros de modo semelhante. É só esperar. Eu não pude esperar tanto. Mas minha casa é um novo ninho, a porta aberta, o que mais resta? Escrever o que não sei dizer às claras nem porta travessa. Que meu nome está errado, meu nome é Amorildo do Amor Divino, sem os sobrenomes Orleans e Bragança nem os algarves de castela e aragão. Pra que brazão?

Recordar é viver. Também. Charles Fonseca. Fotografia.


Macacos, sexo e Michelangelo. Diogo Mainardi

Macacos, sexo e Michelangelo
Diogo Mainardi

Gorila e Juízo final - Jared Diamond vislumbra o apocalipse ecológico e nuclear. Isso também está no Velho Testamento, ilustrado na Capela Sistina, no Juízo Final. Sim: em 40 000 anos, nós, chimpanzés superdotados, conseguimos fazer a Capela Sistina. Mas chegará o dia em que voltaremos a comer larvas de cupim

O pênis ereto de um gorila mede 4 centímetros. Foi por isso que nós fizemos a Capela Sistina, enquanto os gorilas só aprenderam a comer larvas de cupim.

A teoria é do americano Jared Diamond, autor de O Terceiro Chimpanzé, que chegará no próximo dia 18 às livrarias brasileiras, publicado pela Editora Record. Jared Diamond é um misto de Charles Darwin com Carrie Bradshaw, a protagonista de Sex and the City. Se Carrie Bradshaw fosse uma gorila, ela poderia anotar em seu computador, como anotou Jared Diamond:

— Por que os humanos copulam privadamente, se todos os outros animais sociais copulam em público?

Segundo Jared Diamond, a espécie humana evoluiu a partir de seu comportamento sexual. Mais importante do que o tamanho de nosso cérebro — que é 10% menor do que o do homem de Neandertal — é o tamanho de nosso apetite e, principalmente, de nosso aparato sexual. De fato, se Carrie Bradshaw fosse uma gorila, ela jamais encontraria um Mr. Big.

Em O Terceiro Chimpanzé, Jared Diamond trata de outros temas, além da Teoria do Tamanho do Pênis. Ele trata também da Teoria do Tamanho dos Testículos, da Teoria do Tamanho dos Mamilos e, por fim, da Teoria da Ruiva Peituda.

Nas últimas décadas, a biologia se transformou numa Galápagos intelectual, em que darwinistas das mais variadas espécies competem entre si, apresentando teorias extravagantes para se adaptar ao ambiente editorial e televisivo. Os mais bem-sucedidos divulgadores do darwinismo vendem livros como se fossem larvas de cupim e ganham documentários produzidos pela National Geographic Society. Foi exatamente o que ocorreu com Jared Diamond. Se Stephen Jay Gould e Richard Dawkins podem ser considerados o albatroz e a tartaruga-gigante da Galápagos darwinista, Jared Diamond posiciona-se imediatamente abaixo deles, como uma iguana do evolucionismo.

Jared Diamond estudou medicina. Depois de uma viagem a Papua-Nova Guiné, em que conheceu os membros de uma tribo de homens da Idade da Pedra, ele converteu-se em ecologista, em pacifista e em autor de ensaios sobre a origem da humanidade.

O Terceiro Chimpanzé foi publicado nos Estados Unidos em 1991. Foi o primeiro livro de Jared Diamond. Nele se encontram praticamente todas as ideias que seriam desenvolvidas em seus trabalhos seguintes. Em Why Is Sex Fun?, de 1997, Jared Diamond ampliou sua Teoria do Tamanho do Pênis, constrangendo novamente os gorilas. Em Armas, Germes e Aço, também de 1997, ele tentou explicar por que, em nossa história, um povo sempre procurou exterminar o outro — tema da parte final de O Terceiro Chimpanzé.

Nosso DNA é 98,8% igual ao de um chimpanzé. Geneticamente, um chimpanzé é mais próximo de um homem do que de um gorila. Há o chimpanzé comum. Há o chimpanzé pigmeu. Para Jared Diamond, o homem é uma terceira espécie de chimpanzé. Somos ligados como Tarzan e Chita. Como foi que Chita conseguiu fazer a Capela Sistina? Qual foi o elemento que, em apenas 40.000 anos, possibilitou que a humanidade abandonasse as cavernas e desse seu “Grande Salto para a Frente”?

A resposta, segundo Jared Diamond, é a linguagem falada. O aparelho vocal humano, em algum momento de nosso caminho evolutivo, transformou-se, diferenciando-se do de outros primatas e permitindo que nossos antepassados pronunciassem e articulassem uma série de novos sons. Esses novos sons deram origem a uma língua comum, extremamente rudimentar, cuja raiz sobrevive até hoje, em particular na fala de Dilma Rousseff. Através dessa língua comum, passamos a transmitir uns aos outros conhecimentos que possibilitaram o desenvolvimento da agricultura, do pastoreio, da roda e do adestramento de cavalos.

Nada disso teria ocorrido, porém, se nossas necessidades sexuais fossem iguais às de um chimpanzé ou às de um gorila. Contrariamente ao que acontece com os outros primatas, “os pais humanos oferecem às suas parceiras muito mais do que o esperma”. De fato, eles cuidam de seus filhos e se responsabilizam por eles, a fim de garantir a disponibilidade sexual de suas mulheres. A linguagem falada, de acordo com Jared Diamond, desenvolveu-se no ambiente familiar. Em primeiro lugar, para determinar o papel de cada um de seus membros. Em segundo, para estabelecer normas e leis que assegurassem aos homens que seus filhos eram seus, e que eles herdariam seus bens.

Os evolucionistas debocham dos criacionistas, mas o Velho Testamento, ilustrado na Capela Sistina, já contou essa história. Veja o Pecado Original. Veja nossos antepassados sendo expulsos do Jardim do Éden e dando origem à sociedade humana. Veja Noé nu e embriagado. No fim de O Terceiro Chimpanzé, Jared Diamond vislumbra o apocalipse ecológico e nuclear. Isso também está no Velho Testamento, ilustrado na Capela Sistina, no Juízo Final. Sim: em 40.000 anos, nós, chimpanzés superdotados, conseguimos fazer a Capela Sistina. Mas chegará o dia em que voltaremos a comer larvas de cupim.

Por Diogo Mainardi

Bach: Brandenburg Concerto No. 3 BWV 1048, Third movement: Allegro, Voi...

segunda-feira, agosto 18, 2014

A boca que mudou o mundo. Arnaldo Jabor. Política

A boca que mudou o mundo
Arnaldo Jabor

Na minha opinião, quem deflagrou este tempo de tráfi Bush, nossa besta do apocalipse

Estamos vivendo um suspense histórico, numa situação de trágicos conflitos descentralizados no mundo todo, principalmente no Oriente Médio. Como isso começou? Alguma coisa ou alguém deflagrou este tempo. Na minha opinião foi o George W. Bush, nossa besta do apocalipse.

É impressionante como ninguém fala mais do Bush. Ele é culpado por tudo que acontece no mundo atual e ninguém fala nele. Devia estar preso, como o Mubarak. Bush está pintando quadros em sua fazenda do Texas enquanto o mundo que ele armou se destroça. Bush iniciou uma linha de erros em linha reta para um futuro apavorante.

Tudo começou com a derrota de Al Gore, seu adversário em 2000. Bill Clinton tinha sido humilhado como poucos em 1997, quando teve um caso com Monica Lewinsky, aquela estagiária gorda que morava no edifício Watergate em Washington (agourento lugar, ainda com cheiro de Nixon). Monica fez-lhe um “blow job” na cozinha da Casa Branca, entre pizzas, enquanto a Hillary dormia. O procurador da república Ken Starr quase levou o Clinton as galés, obrigando-o a mentir na TV, declarando que nunca tinha tido relações sexuais com Monica, pois não considerava aquilo ato sexual. Mas Monica guardara um vestido marcado por esperma do presidente, cujo DNA provava sua atuação. Muito bem. Vexame total para Clinton e quase um impeachment, pois ele tinha mentido, crime inafiançável para americanos hipócritas.

Muito bem, de novo.

Aí, o Al Gore, democrata candidato contra o Bush, ficou com medo de defender o Clinton na campanha, porque podia ser considerado cúmplice de adultério diante até de sua esposa. Gore medrou. Aí, Bush deitou e rolou, além de ter tramado uma roubalheira na votação, principalmente na Flórida por seu irmão Jeb, apoiada pelo Tribunal Supremo, que ignorou a roubalheira. E Bush foi eleito.

Foi o pior presidente americano de todos os tempos, uma espécie de Forrest Gump no poder, ignorante, alcoólatra e mau estudante, coisa de que se orgulhava. Até que um dia, para seu azar e sorte, o Osama Bin Laden derrubou as torres gêmeas no evento mais espantoso do século 21 (até agora...) e deflorou os Estados Unidos, nunca atacados dentro de casa. Não me esqueço da cara do Bush quando lhe contaram no ouvido a tragédia, enquanto ele dava uma palestrinha para meninos de um colégio. A cara do Bush foi de gesso, paralisada, sem uma rala emoção, sob o olhar das criancinhas em volta. A partir daí, ele ganhou a sorte grande de ser chamado de Presidente de Guerra, o que é um título que justifica tudo, como foi o caso do Truman quando derreteu Hiroshima e Nagasaki às gargalhadas, no show de som e luz para espantar a União Soviética na Guerra Fria. A América queria vingança. E Bush invadiu o Afeganistão atrás do Osama. Em seguida, aconselhado por seu vice-papai Dick Cheney, resolveu mentir que o Iraque tinha que ser conquistado porque teria “armas de destruição em massa”. Qualquer ser pensante sabia que a invasão do Iraque seria um erro tão grave quanto atacar o México como retaliação ao Japão pelo bombardeio a Pearl Harbour. Assim como usou os aviões para derrubar o WTC, Osama usou o presidente dos USA contra os USA e o mundo. Bush cumpriu todos os desejos de Osama, como um lugar-tenente. Osama morreu, mas sua obra foi bem-sucedida. Ele semeou o terrorismo e Bush legitimou-o para sempre. Bush veio para acabar com todas as conquistas liberais dos anos 60. Só faltava um pretexto; Osama deu-o.

Aí derrubaram o Saddam Hussein, um ditador sunita filho da p*#a, que servia ao menos para segurar o Oriente Médio com sua intrincada geopolítica fanática, sectária e religiosa. Aí, todo o ódio ancestral contra os USA cresceu como nunca. Isso fortaleceu não só a al-Qaeda como seus filhotes, e os homens-bomba floresceram como papoulas, iniciando a série de atentados na Espanha, Inglaterra, Índia, Bali, Boston e outros que vieram e virão.

A América jogou no Iraque dois trilhões de dólares para uma guerra sem vitórias, porque os inimigos eram e são invisíveis e moram fora da História. Mataram milhares de americanos jovens e fortes e arrasaram um país que hoje já é dominado pelo tal do Califado Islâmico, o Isis, perto do qual a al-Qaeda é uma ONG beneficente. Somou-se a essa (perdão...) cagada a crise econômica de 2008, provocada pela desregulação total das finanças de Wall Street por Bush, precedido aliás burramente por Clinton.

Depois começou a era que chamávamos de Primavera Árabe, ridícula ilusão do Ocidente que achou que o mundo árabe estava obcecado pela democracia dos Estados Unidos. Rs rs rs...

Obama conseguiu então matar o Osama, o que o ajudou na reeleição, pela qual devemos agradecer a Deus, pois se fosse o “bushiano” Mitt Romney estaríamos “fucked up”. Mas a morte de Osama no Paquistão indispôs mais ainda o Oriente Médio contra nós e fragilizou muito a liderança dos Estados Unidos como potência. Daí, Irã e bombas atômicas, Egito, Líbia, guerra da Síria contra seu povo, apoiada claro, pela China e, oba!, pela Rússia da KGB. E hoje estamos nessa inana, nessa briga de foice em quarto escuro, estamos no massacre de Gaza por Israel, estamos na alvorada de novos horrores além do Hamas e suas criancinhas-escudo. Ambos querem mostrar ao mundo que são vítimas um do outro; um quer jogar Israel no mar e o outro manter Gaza como um gueto faminto de palestinos.

Se não tivessem invadido o Iraque, o mundo seria outro. A História encontrou em Bush o instrumento ideal para seu desejo de autodestruição (a História quer sossego). Mas o “se” não existe na História. Foi o que foi. A História é intempestiva e ilógica e as tentativas de dominá-la em geral dão em totalitarismo e ditaduras. Talvez eu esteja procurando uma “razão” para o caos atual. Pode ser. Mas creio, assim mesmo, que George W. Bush foi o principal responsável por tudo que nos acontece hoje.

E antes dele, mais atrás, na era Clinton, tivemos o mais devastador “boquete” da história humana. Um boquete que mudou o mundo. E que pode destruí-lo, um dia.



Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/cultura/a-boca-que-mudou-mundo-13568413#ixzz3Am6jyIYZ
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Guerreiros de Selva - 24 horas de treinamento em 120 segundos

Poema da amante. Adalgisa Nery. Poesia

Poema da amante
Adalgisa Nery

Eu te amo
Antes e depois de todos os acontecimentos,
Na profunda imensidade do vazio
E a cada lágrima dos meus pensamentos.
Eu te amo
Em todos os ventos que cantam,
Em todas as sombras que choram,
Na extensão infinita dos tempos
Até a região onde os silêncios moram.
Eu te amo
Em todas as transformações da vida,
Em todos os caminhos do medo,
Na angústia da vontade perdida
E na dor que se veste em segredo.
Eu te amo
Em tudo que estás presente,
No olhar dos astros que te alcançam
E em tudo que ainda estás ausente.
Eu te amo
Desde a criação das águas,
desde a idéia do fogo
E antes do primeiro riso e da primeira mágoa.
Eu te amo perdidamente
Desde a grande nebulosa
Até depois que o universo cair sobre mim
Suavemente.

domingo, agosto 17, 2014

Air on the G String (Suite No. 3, BWV 1068) J. S. Bach, original instrum...

AMORILDO. Charles Fonseca. Prosa

AMORILDO
Charles Fonseca

Meu nome é amorildo do amor divino. Aqui o que não falta é amor. Muito sentimento, muita emoção, pouco a quem distribuir, os de minha preferência distantes, distanciados, distanciantes. Que fazer? Encontrar alternativas vicárias. O fato é que tenho que andar no por e pelo amor. Assim, o mais lógico é que encontre irmãos mais perto, quem sabe estejam ao meu lado e eu sem lhes ver. Primo pelo bom belo e justo mas sou tão cego, surdo e mudo... Onde os primos?. E filhos por perto onde os achar sem nunca esquecer os meus distantes? Até uns netinhos que bom seria se estivessem por aqui por perto, biológicos, sim, de preferência. Mas se distantes, vicariamente tenho que olhar em torno, transbordar para os próximos que surgirem e compartilhar com estes também, esse sentimento que é o que me faz viver em paz, na fé e na esperança de dias melhores.

Tô Vendo Tudo - Lula - Brasil - Zé Ramalho

Como os Advogados "se arranjaram na Vida" mas estão detonando com o Brasil ( inclusive com os médicos ). Marcelo Caixeta.

Como os Advogados "se arranjaram na Vida" mas estão detonando com o Brasil ( inclusive com os médicos ).

Na figura abaixo, num mesmo concurso, vemos o salário de um Advogado do Governo ganhando 20 mil reais, enquanto o médico do Governo ganha 2 mil reais. Será que as diferenças técnicas entre um advogado e um médico são tantas assim ? Um recem-formado ( 5 anos de Direito ) pode já começar ganhando 20 mil do Governo, ao passo que um médico especialista ( 6 anos de Medicina + 5 anos de residência = 11 anos ), com estresses e responsabilidades enormes, conhecimento científico e técnico enorme, começa ganhando 2 mil e poucos reais... Por que a classe advocatícia conseguiu tão altos salários, tantas benesses, enquanto a maioria dos brasileiros padece na ralação ? É claro, eles fazem as Leis, eles detêm os mecanismos de "ajeitarem as Leis" para os eventuais clientes contraventores, detêm a maioria das cadeiras legislativas, "julgam as Leis", são os "guardiões" da Lei. Isto é que é estar com a "faca e o queijo" nas mãos. Os "mecanismos do Estado" estão todos nas mãos advocatícias, e, neste sentido, podemos dizer que "são um pouco responsáveis ( só um pouco ?) pelo "afundamento" da nação ?" Uma nação não pode ficar nas mãos de uma única categoria profissional como acontece no Brasil, sem nenhum controle externo, nenhuma avaliação externa. O burocratismo excessivo no Brasil é uma das facetas disto. "Muitas Leis" para cobrir a falta de aplicação das Leis. Uma burocracia que já virou o elemento-fim e não o elemento-meio. Um Estado que já vive de alimentar a própria burocracia. Eu trabalho num hospital do SUS que padece disto : está cheio de advogado "encaminhando" pacientes para mim, é Juiz, é Promotor, é Defensor, é Procurador, é Desembargador, é "Advogado da União", é presidente de Casa Legislativa, etc, e só eu para atender a todos , é só um hospitalzinho do SUS, com 340 mil de dívidas, que recebe 32 mil por mês ( o salário de apenas um dos "bacanas" ) para atender a todos. É muito cacique prá pouco índio... Índio, não, um palhaço que ganha seis reais por dia, por cada paciente, para atender os ilustres encaminhamentos de quem ganha de 20 a 30 mil por mês.... Ainda encaminham dizendo que É PARA INTERNAR, que É PARA DAR ALTA só depois de três meses, É PARA ARRANJAR vaga, É PARA FAZER laudo, É PARA RESPONDER QUESITOS, etc. Sob pena de "crime de desobediência". Nesta hora a Lei funciona, pois é aplicada no lombo do pobre, do fraco. Quando é para ser aplicada no ombro do forte, daquele que pode pagá-la, a própria Lei Brasileira oferece múltiplos subterfúgios, subterfúgios estes que faz a alegria da galera de gravata. Recursos e mais recursos, meandros e mais meandros é a alegria da garotada, é o sorriso da OAB. Ou seja, eu, que ganho uns 2.500 reais por mês para fazer este trabalho, tenho de me escravizar para atender os barões do Engenho... Assim como eu estão os 200 milhões de brasileiros, dobrados sob o peso esmagador de um Estado Legislador e de seus nobres Executores.
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Marcelo Caixeta, médico psiquiatra.


William Wetmore Story, 1765 - Medea Private Collection. E42. Escultura

sábado, agosto 16, 2014

A Copa da elite vermelha. Guilherme Fiuza. Prosa

A Copa da elite vermelha
Os mensaleiros acabaram presos pelo maior representante da elite branca: Joaquim Barbosa

GUILHERME FIUZA

A elite branca insultou Dilma Rousseff na abertura da Copa do Mundo. É sempre assim: os companheiros fazem tudo conforme o manual, aí vem a elite branca com grosseria. Como alertou nosso Delúbio, o mensalão era uma conspiração da direita contra o governo popular. Deu no que deu: os mensaleiros acabaram presos pelo representante máximo da elite branca, Joaquim Barbosa. Ao criticar a preparação do Brasil para a Copa, o ex-jogador Ronaldo vocalizava a conspiração da elite branca. O roubo do juiz a favor do Brasil contra a Croácia não foi nada diante do roubo na construção dos estádios da Copa, disse o humorista Helio de la Peña. É um branco azedo.
Isso não vai ficar assim, não. A elite vermelha já iniciou sua reação. A primeira medida de impacto foi tirar Dilma e Lula de lugares públicos, pelo menos durante a Copa. Sábia medida. Como se sabe, os lugares públicos no Brasil estão completamente tomados pela elite branca – e ela é malcriada. A enteada e o filho do Brasil devem circular, nesse período perigoso, apenas pelos espaços democráticos: as assembleias do PT, os gabinetes do Planalto (evitar os corredores) e as cadeias obrigatórias de rádio e TV, lugares seguros, de onde não se ouvem os impropérios da elite branca.
O Supremo Tribunal Federal também está se tornando um lugar democrático e seguro, com a chegada à presidência de Ricardo Lewandowski, gladiador do PT no processo do mensalão. Um presidente amigo é tudo. O clima no STF não poderia ficar melhor com a ascensão de Luís Roberto Barroso à relatoria desse processo inventado pela elite branca. Barroso foi quem decidiu que a quadrilha petista não é uma quadrilha. Ele recebeu a relatoria declarando que “quem está preso tem pressa”. É bonita a preocupação de Barroso com os companheiros da Papuda. Apressemos esse infortúnio. O Brasil e sua elite branca podem esperar sentados pela devolução do dinheiro que os apressados desviaram.
O Tribunal Superior Eleitoral também se tornou um lugar aconchegante para Dilma e Lula. Quem assumiu a presidência do TSE, logo na corrida presidencial? O menino prodígio Dias Toffoli, que compôs, com Lewandow­ski, a dupla de capa e espada do PT no julgamento do mensalão. Será que o comício eleitoral de Dilma em cadeia obrigatória de rádio e TV na véspera da Copa suscitará alguma punição à presidente?
Santa ingenuidade, Batman... O juiz do jogo foi advogado do PT em três campanhas presidenciais. Só essa elite branca desmiolada não entende para que serve a inoculação de um militante disciplinado no aparelho de Estado. Vá em frente, companheira Dilma! Os pronunciamentos oficiais foram criados justamente para a senhora vender o peixe do seu pessoal, sem ter de ouvir essa burguesia indócil, que infesta os estádios de futebol e as praças públicas.
O Brasil é um país injusto. Lula e Dilma abriram os cofres da nação para a orgia da Copa. Agora têm de ficar se escondendo por aí, acuados pela elite branca. Mas não há de ser nada. Apesar do derrame bilionário nos estádios (superior à soma dos gastos nas Copas da Alemanha e África do Sul), apesar de trocar a chance de investimento sério em transportes por remendos de última hora, que darão para o gasto, o governo popular triunfará. Com sua famosa honestidade intelectual, os companheiros dirão que os pessimistas duvidaram da Copa no Brasil, mas ela aconteceu mesmo assim. A história suja da preparação dessa Copa sumirá sob um brado triunfal qualquer, tipo “somos brasileiros e não desistimos nunca”. O prontuário não deixa dúvidas de que eles não desistem mesmo.
E lá vem notícia ruim na imprensa burguesa golpista: o país volta a cair no ranking de investimento estrangeiro direto. Mas por que, afinal, os investidores fogem do Brasil? Engana-se quem pensa que seja por causa das intervenções populistas desastrosas, do setor elétrico à política econômica (contabilidade criativa), passando pela Petrobras e pelo grande elenco de vítimas do chavismo brasileiro, vizinho de porta do calote argentino. Nada disso.
Os investidores fogem do Brasil com medo da elite branca. Se o dinheiro continuar a ir embora, o jeito será pedir emprestado aos tesoureiros ricos da elite vermelha