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quinta-feira, julho 31, 2014

Vivre Bahia c'est beaucoup plus. Turismo

CARDEAL. Charles Fonseca. Poesia

CARDEAL
Charles Fonseca

Ele tem uma vermelha
Cobertura encarnada
Depois um colo nevada
O resto tem base preta

Assim é a alegria
De onde ele faz ninho
Há gorjeios há carinho
Cardinalícia folia

Dos homens e das mulheres
Sensíveis espanta o mal
Só o bem faz cardeal
Um canto pra mil misteres.

Oriente Médio | Conflitos na Palestina - Prof. Arlene Clemesha. Política

Por que amo Paris. Vinicius de Moraes. Prosa

POR QUE AMO PARIS
Vinicius de Moraes

Em dezembro de 1938, um jovem bolsista brasileiro para a Universidade de Oxford (com perdão do estilo Time Magazine...) tiritava num quarto de pensão em Londres, a que nada, nem mesmo seu coração apaixonado, conseguia aquecer. Tratava-se, segundo as manchetes, de um dos mais terríveis invernos do século e era impossível sair por muito tempo à rua sem que as orelhas do malfadado se descolassem e seu nariz saísse batendo as asinhas.

O jovem bolsista, envolto em mil cobertores, lia sem parar os seus primeiros autores ingleses de sustância e que, por essa razão, associam-se até hoje, em sua mente, à idéia de frio: John Bunyan e Jane Austin. Um tal enfurnamento, passado usualmente em posição horizontal, determinou, é claro, uma reviravolta completa em seus horários. Ia dormir quando a neve colada aos vidros de sua janela (sua primeira neve!) começava a fazer-se mais alva com a luz da madrugada; e acordava à tarde, com o café da manhã a olhá-lo de mau humor com o seu negro olhar gelado. Sua inapetência era tal e seu frio tão grande que data daí um respeito britânico pelo uísque como agente calefator; cujo uísque, vazado a princípio em poções preventivas, provou ser tão útil que começou a ser ingerido em doses federais; e a verdade é que o jovem bolsista ainda não estava preparado para tanto. Seu temperamento imprudente e sua impaciência entraram em ação e uma noite ele saiu. O resfriado que apanhou resultou tão recalcitrante que, juntando umas poucas libras, resolveu ir curá-lo em Paris.

Em boa hora! Nunca mais lhe sairia da memória sua chegada, sem dinheiro e sem orientação, a essa cidade amanhecente que teria um papel tão decisivo em sua vida. O táxi que tomou na estação devia ser um remanescente da grande corrida para o Marne, na Guerra de 14, e o chofer bigodudo um velho poilu, a quem por certo não faltaria uma cicatriz de baioneta no flanco. Era tudo azul e cinza-azul, como no soneto de Rubem Braga: uma coisa indescritível de beleza. E como a beleza está no homem e não nas coisas, esse seria o seu instante de estesia máxima diante de Paris, para a qual, desembarcando muitas vezes depois, em circunstâncias parecidas, deitaria um olhar apenas amigo ou conivente.

O jovem bolsista lembra-se de haver pedido ao chofer que o levasse a um hotel qualquer bem barato. O velho olhou-o por sobre o ombro com uma severidade não isenta de simpatia, ubicou-se por uma ponte, deu voltas num labirinto de pequenas ruas e afinal parou diante de uma fachada très vieux Paris, onde havia escrito: Hotel St. Thomas d'Aquin. Era na rue Près-aux-Clercs, no coração do Quartier Latin. Lembras-te, Di?

Lembras-te, Di
Cavalcanti, Di
Amante da noite
Di superior
Ao dia, diante
Do amor, ante
Rior ao México
Anterior a tudo
Di sem hora de
Boina se rindo
Se rindo de
Consuelo de
Saint-Exupéry
E do sargento
Tirso Di de
Madrugada chegando
Da Rádio Di
De la Coupole
Bebendo champagne
Dez francos a taça
Diagrama de Di
Mi sol si ré lá
Bordão que eu vi
Ébrio de seios
Ventre coxas Di
Di de Montparnasse
Di de Paris.


Lá vai ele, o jovem bolsista brasileiro para Oxford, sem um franco no bolso e um argueiro no olho que não o deixa ver Paris pela primeira vez. Dinheiro, o amigo Cícero (1) lhe emprestará algum, se for preciso. O argueiro é que são elas! É terrível estar alegre assim e ver Paris através de lágrimas.

- Monsieur, voulez-vous m'enlever cette vache de dans mon oeil?

O farmacêutico espia. O la-la!

- Ça doit vous faire du mal, mon p'tit.
- Ça m'empêche de voir Paris. C'est mon premier voyage. J'ai pas d'argent sur moi. Je vous payerai demain.

Ah, eis que a visão do Louvre se enfoca. Que maravilha! O jovem bolsista pega o Pont des Arts, o lenço enxugando o olho esquerdo, o passo rápido, ao assalto da Beleza.

- Hey, Milreis!

Não é possível...!

- Half-a-crown!

São seus amigos Reginaldo Maudling (2) e Charles Steward (3), o primeiro de Merton College, o segundo de Bailliol, em Oxford. Seus melhores companheiros na Universidade. Gente cem por cento.

- You, buggards!
- Why the hell are you crying?

O jovem bolsista explica. Maudling ri a sua boa risada:

- Bloody hell! I think we sould have a beer and celebrate!

Adeus, Palais du Louvre. Rios de cerveja correrão. Eu conheço Maudling, e sobretudo Steward. Menino danado! Para agüentar tanto líquido, algum tem de escapar pelo ladrão...

Três meses depois, em março de 1939, o jovem bolsista, de volta a Paris, foi apresentado a uma menina de 17 anos, fina de corpo, séria de semblante e com uns olhos fugidios de corça. A querida amiga que nos apresentou disse apenas:

- Você conhece minha sobrinha...

Mas, em sua distração e volubilidade usuais, esqueceu-se de acrescentar:

- Você vai se enamorar dela daqui a 18 anos, numa festa em casa de um arquiteto amigo seu, no Rio. Cerca de um ano depois vocês irão se reencontrar aqui em Paris, e você ficará irremediavelmente apaixonado por ela, e há de sofrer como um possesso todas as dores de sua paixão, e na Quarta-feira de Cinzas de 1959 você terá um desastre de automóvel cerca de Petrópolis, onde ela estará veraneando, e você, coberto de sangue, ao se sentir ir morrendo, ela tão perto, olhará a sua morte com um infinito sentimento de pena porque tudo poderia ter sido e não foi; mas você preferirá morrer a ter de viver sem ela, sobretudo depois de lhe ter dito, como disse, numa noite de Sexta-feira da Paixão, no Club St. Florentin, 15 rue St. Florentin, que você a tinha dentro de você sem saber desde a mocidade, desde aquele dia, 19 anos antes, em que eu a apresentei a você, como estou fazendo agora. E você escreverá para ela a "Elegia de Sexta-Feira da Paixão", que dirá o seguinte:

Amiga, deixa que a noite escolha hoje o teu vestido
Em vez de Dior, Dessès ou Givanchy. Não te esqueças
É Sexta-Feira da Paixão. Os castanheiros
Estão apenas acordando do longo inverno que passaste
Ao sol, longe de mim. Se vires a Tour Eiffel como uma doida
Declamando Éluard, não te impressiones:
Hoje tudo é possível. Lembra-te
É Sexta-Feira da Paixão. Provavelmente
Se formos até Pont Mirabeau, encontraremos
O sargento Appolinaire debruçado mirando o Sena
Na esperança de alguma afogada. Ah
As afogadas do Sena! Sinto-as
Deslizando no meu peito… Mas
Não te impressiones tampouco com as loucuras que eu disser.
Olha antes minhas mãos. São
Como pássaros sem ninho, precisam tanto, tanto
Ser aquecidas… Vem, amiga, vestida de noite; conta
A Fábula da Mãe-que-não-Veio. "- Olhe, meu anjo
Não se constranja, mas se você não puder sair sozinha
Comigo (figa! diz que pode, diz que pode!) eu compreendo…"
Amor! e já te amava tanto antes de amar-te... "- Lembro
Tão bem de você, era março de 39, nós vínhamos
Pelo Boulervard des Italiens, você teria o quê? uns 16
17 anos..." (como uma jovem corça arisca
Ela era, olhava-me de lado, sorria
Apenas com as comissuras, era linda
Como um Maillol). "Não, eu posso sim, acho que posso
Não há mal nenhum, isso é Paris, você não acha?"
(Acho, meu anjo. Acho tudo o que você quiser. Acho que hoje
É Sexta-Feira da Paixão, e o Cristo não poderia ter escolhido melhor dia
Para morrer de amor por nós.)
"- É, é isso mesmo. Afinal de contas
Eu sou um velho amigo da família"... (Coisa linda
Vestida de noite, eu vou te amar tanto
Mas tanto que o meu amor será captado
Por todos os radares, e os radioamadores
De todo o mundo permanecerão em vigília
Para ouvir, banhados em lágrimas, pulsar o meu coração.) Amada!
Vamos comer camarões no "Stresa","sauce tartare"? Depois
Pediremos "fraises du bois" que cobriremos com todo o açúcar
Que houver no açucareiro. "- Você gosta muito de açúcar?
De música? De ver cinema bem na frente? De
Filhinho? De silêncio?" (Então por que não saímos daqui agora mesmo
E convolamos?) Ah, meu amor
Que vontade de beijar as árvores noturnas! (enquanto busco
Acertar o meu passo pelo teu: coisa difícil
Porque te moves num mínimo de espaço). Amiga
Que te moves num mínimo de espaço, que graça
A tua! Como pode uma coisa tão pequena
Ser tão grande? Onde vão ter esses imensos infinitos
Que partem dos teus olhos? E qual é o nome
Do ar que te circunda? "Sous le Vent" de
Guerlain? Ah, não seja esta a dúvida…Virarei armador
Irei escolher sementes, flores, resinas
Nas mais inacessíveis ilhas, de cujo extrato
Criarei perfumes capazes de te matar de amor por mim. "- Você
Gostaria de ouvir um bom jazzinho num clube privativo
De que sou sócio? É simpático… gente moça, boa música
Borboletas nas paredes. Há uma caixa
Só de espécimes do Brasil…Vamos?" (figa!)
"- É, podemos ir um instantinho, só não quero
Chegar tarde demais…" Amor!
Ao dançar senti teu rosto roçar o meu, minha boca
Aflorou tua pele, o meu beijo
Veio de longe, e o meu amor despenhou-se do vácuo
Corno um negro sol incendido, varando milênios
De solidão e desencontro, recuperando
Infinitos perdidos, espaços
Abandonados, arrastando no seu vórtice
Astros sem luz, estrelas moribundas
Mundos sem amanhã.


*


Por isso, porque és só minha e eu sou só teu
É que eu não sou mais eu.
Foi bem mais que um milagre, vida minha...
Foi como a própria vida:

ACONTECEU.


Uma noite, dois anos antes, bêbado e desesperado, eu fora ter a Pont Mirabeau...

Uma noite, em Pont Mirabeau
Fui me encontrar com Appolinaire
Como falamos de mulher
Como falamos de Rimbaud!
Não sei, mas alguém que me viu diz
Que eu tinha tomado muito uísque.
Sob a ponte corria o Sena
Como no poema do poeta
A água corria negra e inquieta
Como a vazar da minha pena.
Amar? Melhor morrer... Appo-
Linaire, pálido, concordou.

Merda! Merda! Três vezes Merda!
Vociferei para a cidade
Enquanto a réplica de pedra
Da Estátua da Liberdade
Perscrutava com um olhar frio
Paris à escuta em torno, e o rio.

- T'es dans un bien sâle état
Mon pauvre vieux. - Appolinaire
Disse para me consolar
Assim com um ar de quem não quer.
- Va te efaire foutre! Tu m'emmerdes!
Respondi - e ele ficou verde.

E vomitei dentro do rio
A gargalhar do caporal
Que, os punhos cerrados, partiu
Num duro passo marcial
Enquanto duas mulheres, defronte
Vinham andando pela ponte.

*


Uma outra noite, perdido em Menilmontant, eu tivera a visão da miséria. Era um beco sem saída, um impasse, um cul-de-sac estreito, fétido e perfeitamente comme il faut.

Un cul-de-sac aux murs étroits,
Un p'tit chat noir que se promène,
Un vieux soulard que a de le veine
De se trouver coincé comme ça;
Une fenêtre qui s'entr'ouvre,
Une main qui sort et qui vide
Un jules tout plein dans le vide
Juste sur la tête du clochard.

Un chien qui fouille dans la poubelle,
Un chien qui aurait suivi Prévert,
Une putain qu'sent Ia vaisselle
Et qui aimerait prendre un verre;
Des voix de gens qui font l'amour
Et qui vachement en profitent,
Un monsieur du XVlème qui a peur
Et dont les pas s'en vont bien vite...
O cul-de-sac aux murs étroits
Combien des gens ressemblent à toi...
Combien y en a-t-il dans la rue
Qui sont des culs-de-sac qui puent...
Combien de grands dames aux grands airs
Combien de riches et gros bourgeois
Combien de hauts fonctionnaires
O cul-de-sac ressemblent à toi!

Mas uma tarde, reencontrado em Paris, as mais fundas feridas cicatrizando nos óleos do amor, eu tive a visão da Beleza. Era ela, Notre Dame de Paris, a grande catedral, a cuja porta eu aguardava a minha amada, e que com braços maternais nos abrigava da multidão, isolava-nos no nosso mundo de ternura e tristeza. Ali, a dois passos, ficava a rue St. Julien-le-Pauvre. Havia uma casa de chá de tipo inglês chamada The Tea-Cady:

Eu te levei ao "Tea-Cady"
Na Rue St. Julien-le-Pauvre
Very British o "Tea-Cady"
Na Rue St. Julien-le-Pauvre...
Veio tea, toast and marmelade
O my sweet Lady!

Um mês ocultamos ali
O nosso mágico impossível
Era tão belo tudo ali
Que parecia irremovível
Mas, ai, chegava sempre a hora
De ires embora.

Hoje, embora incréu, não me assombra
Saber que ter-te e ser feliz
Deve-se a havermos estado à sombra
De Notre Dame de Paris
E a meu amor ter dez no exame
De Notre Dame.

*


Eis por que não quero fechar esta reportagem lírica sobre a bem-amada cidade sem recitar-lhe uma oração a ela, a gloriosa Nossa Senhora de Paris, que Xangô meu pai há de proteger, são Jorge meu padrinho há de defender, e que há de viver para sempre na sua floresta gótica para abençoar os namorados de todo o mundo que se encontram em Paris e que vão ocultar na sua sombra a angústia de não poderem viver o próprio amor.


1 Cícero Dias, imigrado para Paris dois anos antes
2 O ex-Paymaster General do Gabinete Macmillan.
3 Oficial aviador, morto em combate na Batalha de Londres. Maudling me chamava "Mil-réis" e eu o chamava "Half-a-crown", pelas moedas de nossos países.

quarta-feira, julho 30, 2014

terça-feira, julho 29, 2014

FUCK FUCK. Charles Fonseca. Poesia

FUCK FUCK
Charles Fonseca

Eu aqui esperando.
Técnico avaliar.
Vontade de compartilhar.
Um espartilho voando.

Esse tal de Facebook,
é um caso, um xodó.
Um rabicho que dá dó.
Um chamego, fuck fuck.

01 - Palestra - Liturgia da Santa Missa - Padre Paulo Ricardo. Cristianismo. Igreja.

LARÁPIO. Charles Fonseca. Poesia

LARÁPIO
Charles Fonseca

Que pena se chama Rose
Uma rosa encarnada
Uma pilantra safada
Corrupta que fez pose

De mulher que manda lula
Pro cardápio mal cozido
Estragado corrompido
E a patuleia pula

Mande chamar o chefe
Do restaurante o cardápio
Lúcio Augusto Rufo Ápio
Larápio, íntimos, blefe.

No bandeijão. Fotografia. Cristianismo. Igreja.

segunda-feira, julho 28, 2014

Maravilhosa graça. Música. Igreja. Cristianismo.

A comunhão entre a Igreja do céu e a da terra. Igreja. Cristianismo

II. A comunhão entre a Igreja do céu e a da terra

954. Os três estados da Igreja. «Até que o Senhor venha na sua majestade e todos os seus anjos com Ele e, vencida a morte, tudo Lhe seja submetido, dos seus discípulos uns peregrinam na terra, outros, passada esta vida, são purificados, e outros, finalmente, são glorificados e contemplam "claramente Deus trino e uno, como Ele é"» (513):

«Todos, porém, comungamos, embora de modo e grau diversos, no mesmo amor de Deus e do próximo, e todos entoamos ao nosso Deus o mesmo hino de glória. Com efeito, todos os que são de Cristo e têm o seu Espírito, formam uma só Igreja e n'Ele estão unidos uns aos outros») (514).

955. «E assim, de modo nenhum se interrompe a união dos que ainda caminham sobre a terra com os irmãos que adormeceram na paz de Cristo: mas antes, segundo a constante fé da Igreja, essa união é reforçada pela comunicação dos bens espirituais» (515).

956. A intercessão dos santos. «Os bem-aventurados, estando mais intimamente unidos com Cristo, consolidam mais firmemente a Igreja na santidade [...]. Eles não cessam de interceder a nosso favor, diante do Pai, apresentando os méritos que na terra alcançaram, graças ao Mediador único entre Deus e os homens, Jesus Cristo [...]. A nossa fraqueza é assim grandemente ajudada pela sua solicitude fraterna» (516):

«Não choreis, que eu vos serei mais útil depois da morte e vos ajudarei mais eficazmente que durante a vida» (515).

«Quero passar o meu céu a fazer o bem sobre a terra» (518)

957. A comunhão com os santos. «Não é só por causa do seu exemplo que veneramos a memória dos bem-aventurados, mas ainda mais para que a união de toda a Igreja no Espírito aumente com o exercício da caridade fraterna. Pois, assim como a comunhão cristã entre os cristãos ainda peregrinos nos aproxima mais de Cristo, assim também a comunhão com os santos nos une a Cristo, de quem procedem, como de fonte e Cabeça, toda a graça e a própria vida do povo de Deus» (519).

«A Cristo, nós O adoramos, porque Ele é o Filho de Deus; quanto aos mártires, nós os amamos como a discípulos e imitadores do Senhor: e isso é justo, por causa da sua devoção incomparável para com o seu Rei e Mestre. Assim nós possamos também ser seus companheiros e condiscípulos!» (520).

958. A comunhão com os defuntos. «Reconhecendo claramente esta comunicação de todo o Corpo místico de Cristo, a Igreja dos que ainda peregrinam venerou, com muita piedade, desde os primeiros tempos do cristianismo, a memória dos defuntos; e, "porque é um pensamento santo e salutar rezar pelos mortos, para que sejam livres de seus pecados" (2 Mac 12, 46), por eles ofereceu também sufrágios» (521). A nossa oração por eles pode não só ajudá-los, mas também tornar mais eficaz a sua intercessão em nosso favor.

959. Na única família de Deus. «Todos os que somos filhos de Deus e formamos em Cristo uma família, ao comunicarmos uns com os outros na caridade mútua e no comum louvor da Santíssima Trindade, correspondemos à íntima vocação da Igreja» (522).

Catecismo

Symphony No. 9 ~ Beethoven. Música.

quinta-feira, julho 24, 2014

Cada macaco no seu galho. Medicina

Clique: http://www.fatimanews.com.br/policial/iridologista-e-preso-por-exercicio-ilegal-da-medicina-em-gloria-de-dou/160433/

Tudo o que sei é que devo morrer em breve; mas o que mais ignoro é essa mesma morte, que não saberei evitar. Blaise Pascal. Prosa

O gato e o galo. Esopo. Fábula. Prosa.

Um gato, ao capturar um galo, ficou imaginando como achar uma desculpa, qualquer que fosse, para justificar o seu desejo de devorá-lo. Acusou ele então de causar aborrecimentos aos homens, já que cantava à noite e não deixava ninguém dormir. O galo se defendeu dizendo que fazia isso em benefício dos homens, e assim eles podiam acordar cedo para não perder a hora do trabalho. O gato respondeu; "Apesar de você ter uma boa desculpa eu não posso ficar sem jantar." E assim comeu o galo. (Esopo)

Autor do blog e sua amada. Charles Fonseca. Fotografia

Como o Brasil se compara à Noruega no IDH da ONU. Brasil. Política

Clique: http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/brasil-esta-no-meio-do-caminho-do-idh-veja-porque

quarta-feira, julho 23, 2014

ENCONTROS. Vinicius de Moraes. Prosa

ENCONTROS
Vinicius de Moraes

Meu primeiro encontro, em Poesia, depois das inelutáveis influências da juventude, foi o de Murilo Mendes. A fase da imitação declinava lentamente, à medida que os poetas melhoravam.

Discípulo ardente de Júlio Dantas, tendo escrito aos 14 anos um poema chamado "Os três amores", passei por Guerra Junqueiro em branco. Julgava-o um grande filósofo mais que um poeta, e temia-lhe o tom blasfemo. É que não lera ainda Os simples, onde está o melhor do seu lirismo. Nessa ocasião, fiz do sr. João Lira Filho mentor espiritual. Dei-lhe Foederis arca para ler. A Arca em aspas era um livrão de capa preta onde ia pondo os versos que me pareciam razoáveis. O sr. João Lira Filho não se agradou da poesia. Deu-me uns conselhos: que eu deixasse daquilo, que poesia era "frescura" e "abandono", que meus sonetos eram "muito ruins" e só as trovinhas "onde você procura imitar Adelmar é que são mais ou menos". A palavra "abandono" que interpretei mal, feriu-me a suscetibilidade juvenil. Larguei do sr. João Lira Filho e do seu mestre da Academia e dei com Guilherme de Almeida. Aquilo é que era poeta! Como é que o homem fazia aquelas coisas, que perfeição!

O relógio de mogno, grave, enorme
Dorme

Meu olhar se concentrava sobre a magia da palavra "mogno". Se me perguntassem o que era Poesia, eu diria que era aquela palavra feiticeira. Lembro-me que fiz um verso onde falava "em teus seios de mogno e teus lábios de écran". Meus poemas redundavam em diálogos sutilíssimos entre a amada e eu, passavam-se sempre numa casa de chá elegante ou num ônibus de luxo, tinham de Toi et moi, que felizmente só vim a ler mais tarde.

Castro Alves e Bilac não me fizeram grande impressão. Li-os apressadamente, sem que me tivessem marcado muito. A poesia paterna, que encontrara numa gaveta velha em casa, foi a minha grande decisiva influência. Desejei imenso fazer versos assim, versos de amor, despidos das idéias grandiloqüentes que assustavam no vate baiano e do brilho de joalheria que cegava no artífice da "Via Láctea".

Junto de ti, ó minha amada
Passam-se os dias a voar
Se longe estou, como apressada
Minha alma à tua quer chegar!

Posso citá-los ainda de cor. Causaram-me inveja e me fizeram sofrer. Pensei que nunca poderia ser poeta.

Chorei. Cheguei ao furto. Uma vez mostrei a alguns conhecidos um que me parecia o melhor, como se fora meu. Assinei meu nome embaixo. Na noite desse dia tive uma das maiores crises por que já passei neste meu fadário. Pensei pela primeira vez em me suicidar.

Depois, fui crescendo, como acontece na vida. Na Faculdade de Direito entrei em pasmo contacto com os grandes do CAJU, o centro da elite da escola. Era garoto e andava fardado de aspirante a oficial da reserva. Foi uma época rica e dolorosa, de lutas íntimas, de descobertas gloriosas, de ânsia e aspiração infindáveis. Otávio de Faria e San Thiago Dantas, dois dos nomes de maior projeção acadêmica, discutiam problemas de Poesia no Café do Areal. Ouvia quieto, mas com um ouvido gigante, as sentenças misteriosas, ditadas sabe Deus por que demônio, que na boca de San Thiago se prestigiavam de uma claridade que para mim tinha algo de sobrenatural, e que Otávio de Faria fazia sombrias, dilacerantes. A um devo uma amizade que através de tanta coisa vivida tem se mostrado sempre boa e generosa, amável no cotidiano mas atenta nos momentos difíceis. Ao outro devo a Amizade.

Foram esses dois homens que me iniciaram nos mistérios da Poesia. Falavam em Murilo Mendes e Augusto Frederico Schmidt. San Thiago Dantas lembrava-se às vezes do derradeiro:

O filósofo é como o galinho branco, pequenino, dormindo...

Eu pensava. Que não seria aquilo tudo? Filósofo... galinho branco... Realmente, uma sugestão qualquer, branca, assim como um idéia branca, a idéia branca de um filósofo, Platão, sei lá. Palmo a palmo conquistava a compreensão do incompreensível. Um dia ouvi um nome: Baudelaire. Outro: Rimbaud. Mais outro: Mallarmé. Outro ainda: Verlaine. E pus-me a ler.

Mas isso não vem ao caso. Com Murilo Mendes a coisa foi assim: achava-me passeando com Otávio de Faria pela Praia do Flamengo. De repente ele produziu uma brochura branca, quase quadrada, com o título Poemas em caracteres negros. Era Murilo Mendes. Minhas mãos estavam virgens ainda de qualquer nova poesia brasileira. Minha emoção foi grande.

Fiz perguntas, como era, como não era. Lemos alguns poemas juntos. Otávio criticava, de dentro da admiração real pelo poeta. Travei conhecimento com a questão do "sublime" e do "cotidiano" em Poesia. Ponderei coisas. Coisas me foram ponderadas.

Em casa li o livro até de manhã. Achei-o magistral em tudo, até no que tinha de artifício. A primeira impressão que o poeta me deu é de que vivia num espaço cristalizado em ângulos onde anjos cubistas salmodiavam ao som de saxofones. Todas essas adolescentes burguesas geométricas, essas meninas em eterna projeção e prolongamento, movia-as o poeta, transformado em mágico, como a novos títeres, através de versos como fios metálicos, num cenário fantástico de metrópoles cônicas, paisagens elásticas, ao som de melodias penetrantes.

Mais tarde, já com o primeiro livro publicado, conheci o poeta na Avenida, por intermédio de Otávio. Vinha deblaterando, o dedo em riste, uma gravata vermelha, o rosto azul de entalhe magro dignificado por uma testa vasta e dolorosa. Pôs-me a mão no ombro, depois me abraçou com longos braços dançarinos. Senti a imediata cordialidade do artista, a sua ânsia de comunhão. Disse-me palavras reconfortantes, de longe ainda me gritava coisas, escandalosamente.

Via-o depois em concertos, em conferências, ora mergulhado na música, ora apontando ondulante de uma multidão, a me enviar mensagens periódicas de fraternidade com a mão espantosa, quebradiça e exangue. E desde sempre Murilo Mendes foi um amigo. Ouço muito falar mal dele, de seu espírito fantástico, da teatralidade com que vive. Eu próprio já tenho sentido certa má-vontade - a minha má vontade de animal razoável - contra o poeta nos seus momentos de irrisão declamatória. Mas que me deixem dizer: a par de ser um grande poeta brasileiro, com um modo pessoalíssimo para a Poesia, Murilo Mendes é um puro e um coração bom, não direi como a água, de que não gosto, mas como o uísque.

Com Augusto Frederico Schmidt foi diferente. Já em meio à primeira experiência poética, juntando os poemas que iriam dar O caminho para a distância, li Navio perdido. Tinha do poeta uma idéia que me perturbava um pouco. Ouvia falar dele como se fala dos gênios. Alguém sem pé nem cabeça, a quem não se leva muito a sério no que diz, uma pessoa variável, inconstante, passeando pela vida uma grande alma insatisfeita, ferida de Poesia. Dizia-se que o poeta era assim e o homem assado, que a vida do homem não traduzia a obra do poeta, a sua extraordinária mensagem lírica. Mensagem... o termo me pegou em cheio. Achei que mensagem é que era. Adotei mensagem. Quando Aporelli mexia com o bardo, aproveitando-se das suas levitações poéticas, eu me enfezava, achava um desrespeito, embora bem que risse. Navio perdido passou a ser o meu livro. Sentimentos comuns em face da Poesia, a vocação do "sublime", causa de que me fizera paladino, me aproximavam muito de Schmidt. Contudo, não gostei quando os críticos acharam grande semelhança de tons entre as duas poesias. Eu queria era ser pessoal, tinha uma vaidade danada disso. Pensava que ficar como continuador do lirismo schmidtiano era muita honra, mas não para mim. Minha extrema mocidade não admitia senão uma linha de frente geral. Todo mundo junto.

Um artigo de Manuel Bandeira me deixou louco. Hoje, pensando nessas coisas, dá-me uma grande ternura por mim mesmo. Que menino esplêndido eu era! Manuel Bandeira (isto é, o inimigo de então, o chefe da poesia do "cotidiano") ousava escrever, colocando meu livro do lado de vários outros, que eu realmente tinha vocação poética, mas que precisava muito abandonar o "tom schmidtiano", metrificar minhas linhas, deixar de muitas facilidades com o verso livre, que só é bom na mão dos mestres.

Como fiquei queimado! Achei que você não entendia nada de Poesia, Manuel, que você não era o Grande Poeta, vivendo a vida inefável dos símbolos misteriosos, dos rios loucos, das luas assexuadas, das mulheres trágicas e dos caminhos de Deus.

Mas, voltando a Schmidt. Uma noite vinha com Otávio de Faria pela rua Sachet. Ia ver meu livro que acabava de sair e que a Schmidt Editora distribuíra. À porta da famosa livraria, onde tanta coisa confusa já teve lugar, encontrava-se o poeta. Achei-o irreal, à primeira vista. Apertou-me a mão com um gesto que eu não soube se era de simpatia ou de zanga, porque ao mesmo tempo que me prendia fortemente, me mantinha a distância. Houve falta de jeito. Schmidt exclamou: "Ah, é esse!" Depois falou em Gilberto Amado, o qual teria dito que eu era "um alto". Ficou tudo meio atrapalhado, meio confuso. Eu queria ir-me embora, Otávio também, que não sabia como casar aqueles dois poetas. De volta, creio que fiz observações pouco gentis sobre o que ficara.

Durante um certo tempo, Schmidt passou a ser uma presença incômoda. Não havia crítica, notinha de jornal onde se mencionasse meu livro, que não falasse nos poetas irmãos, um prosseguindo no caminho que o outro abrira. A coisa para mim tomou um ar de pendenga, de corrida rasa, com Schmidt à frente, e eu em segundo, fazendo força para emparelhar.

Quando todas essas coisas passaram e a minha vaidade trancada começou a dar mofo, algumas saídas juntos, algumas conversas foram dissipando a impressão de ceci tuera celà que a presença de Schmidt me causava. Ia gostando dele, compreendendo-lhe o método lírico dentro do desarranjo formal, amando-lhe a inteligência de vôo tão largo. Hoje em dia vemo-nos menos, mas nos gostamos mais. Às vezes dá-me uma saudade do poeta, e eu tomo a iniciativa de ir visitá-lo no seu décimo andar sobre Copacabana. Mesmo porque, ele não me procura. Schmidt tolera pouco os intelectuais, e embora eu nunca converse "inteligente" com ele, creio que o poeta descansa mais o espírito britando pedra, por assim dizer, na companhia dos seus amigos homens de negócio, onde o troco inocente de idéias deixa às vezes saldo para uma das partes. Eu que, em companhia do poeta, já tive oportunidade de assistir a algumas dessas reuniões, acho que talvez ele é que esteja com a razão. Há um mistério agradável nesses homens de ar vagamente entendiado que vivem do gozo rápido das tiradas, que andam muito de táxi e percorrem numa noite vários ambientes, resolvendo uma mesma questão que nunca entre em jogo.

O encontro de Manuel Bandeira, que coisa excelente foi! Eu ainda tinha várias dificuldades em relação à poesia do poeta, mas intimamente mudara muito. Se no princípio me quisessem levar a ele, talvez tivesse relutado. Depois, não. Manuel me escrevera um cartão agradecendo a remessa de Forma e exegese, que me remexeu por dentro. Lia-o às vezes, a Manuel, invejando-lhe secretamente a sobriedade perfeita do verso, mas sempre em oposição ao modo de sua poesia. No fundo, achava que não se podia transigir assim com o Espírito, com a Fome metafisica, com a Visão. Mas, ai de mim, já amava o poeta. Meu coração de mulher da vida já batia por ele. Andava dando um jeito para encontrá-lo.

Anah e Carlos Chagas Filho deram-me o ensejo. Esses caros amigos, cuja casa da rua Jardim Botânico era para mim uma coisa perfeita de gosto e intimidade, providenciaram o encontro. O próprio Manuel, diziam eles, achava que a idéia de um jantar tinha seus pontos. E uma lagartixa resolveu a questão.

Eu havia chegado e esperava na sala, quando vi uma lagartixa branca. Parti a caçá-la, o que fiz com o maior cuidado para não magoar o bichinho frágil. E Manuel me pegou assim, com a lagartixa na concha da mão e aderiu imediatamente a ela. Dei-lhe um aperto de canhota, porque tinha a lagartixa na direita. O poeta esticou o pescoço, ficou observando o animalzinho com o seu perfil de pássaro, depois riu à-toa, um riso que mal parecia vir daquele siso sério. O riso me venceu. A ternura pelo poeta foi imediata. Um segundo depois estávamos conversando no sofá, eu brilhando discretamente para não chocar o amigo em perspectiva. Falou-se dos Mello Moraes, de poesia, de violão. Eu trouxera o violão, que era assim uma espécie de prato forte meu (nem tão forte, na verdade...) e que hoje em dia considero uma cruz. Cantei umas modas. Manuel parece que gostou.

Vi-o pela segunda vez no Salão de Belas-Artes. Foi quando me apresentou a Mário de Andrade. Fez-me as mesmas festas, perguntou pelo violão, falou vagamente em se marcar qualquer coisa. Mário de Andrade conservou-se "onézimo", segundo a gnomonia ovalleana, que é um modo sui generis de imparticipação.

Uma noite saímos juntos. Grande noite para mim, e Manuel, paternal, me levou ao cinema, me levou à Americana para tomarmos um malted milk, depois me levou ao Beco, onde subi sete andares num elevador vermelho, que pia feito gavião quando chega. Conheci seu quarto, esse quarto que às vezes tem sido para o poeta um lugar de tristezas; e que para mim tem sido tantas vezes um lugar de sossego. E banhei-me do verso exemplar de Estrela da manhã, ainda inédito, que o poeta leu para mim, ou melhor, que me jogou em cima, com aquele seu modo brusco de ler poesia.

Manuel é hoje em dia um ser à parte para mim. Todo o mundo tem seus dias de antipatia do amigo, suas brigas, suas caturrices. Chega-se mesmo a enjoar da pessoa, da presença, do modo de ser, de certos pequenos hábitos irritantes. Fica-se mesmo com uma tendência vaga a partir a cara, sem prejuízo grande para a amizade. Com Manuel, jamais! Nunca a menor bulha, mesmo dentro de um ou dois pontos de vista diferentes. Manuel aceita o amigo e se impõe a ele. É fiel, mas não intervém; presto, sem se fazer sentir. Parece Ronald Colman.

Mas eu tinha falado em Mário de Andrade. Mário foi uma conquista minha. O poeta, a princípio, não quis nada comigo. Fui-lhe mesmo apresentado umas duas ou três vezes, sem resultado. Fazia um ar, meu Deus, vaguíssimo, de ombros um pouco levantados.

Mas em São Paulo, que é sua casa, eu fui um dia à casa dele com Armandinho Sales de Oliveira, Mário de Andrade tinha dirigido um recital colosso, de modinhas do Império, de modo que estava no céu com o pé de fora. À saída, não me lembro mais por que, a uma pergunta de Armandinho eu respondi: "Tomara!" Mário de Andrade me pegou vivamente pelo braço. "Você também vem. Uma pessoa que fala tomara, tomara, meu Deus! - que gostosura! - tem direito a beber minha caninha. Ah, não! você vem!"

E eu fui. E eis como venci Mário de Andrade, pela linguagem. Em casa dele bebemos toda a garrafa de caninha. Houve grandes confraternizações. E hoje em dia, mal acabo de escrever um livro, corro para Mário de Andrade. Ele critica impiedosamente, inefavelmente. Anota as margens. Sinto que gosta de meus poemas, mas tem uma "diferença" qualquer com minha poesia. Eu o acho uma criatura esplêndida, com todas as suas manias. E que bom poeta! Poucos literatos no Brasil terão uma figura tão vasta e universal, apesar do seu fanático regionalismo. Conheço gente que o acha fiteiro. Mas a esses eu direi - lede-o para entendê-lo:

Muito de indústria me fiz careca
Abri salão nos meus pensamentos.

Ou ainda:

Danço para não chorar.

Também em São Paulo conheci Oswald, também de Andrade. Achava-me no Hotel Esplanada, no quarto de Manuel Bandeira, que deveria ir jantar com o poeta de Pau-Brasil. Ao saber quem eu era, prorrompeu em gargalhadas positivamente obscenas: "Então é esse menino, com esse ar esportivo, o autor daqueles versos compridos como um iole-a-8! Mas você não tem medo de fazer tanta força nessa regata desigual, seu poeta?"

Eu me abespinhei um pouco, mas não fiz má cara à piada. Dei uma em troca. E logo a cordialidade se estabeleceu. Saímos os três e jantamos em boa camaradagem. Oswald estava brilhantíssimo.

Procurava-o sempre que ia a São Paulo. Gostava de seu jeito e de sua casa. Boa casa para a gente se sentir à vontade, entre originais até de Picasso, vendo Oswald construir de um lado e arrasar de outro. O poeta tem a paixão da literatura. É um demolidor, rnas é, por outro lado, um espírito altamente construtivo. Gosto dos homens assim, mutáveis mas intransigentes enquanto crêem, bem raciados, os homens que gostam da sua casa e da sua mulher, não os femininos, os impotentes ou os fracos. Oswald tem essa grande qualidade macha que lhe dá sumo à vida. Quase todo o mundo o teme. Temo-lhe o destabocamento e a sátira irresponsável. Compreendo que não gostem dele. Mas no fundo é um homem fácil de se gostar, com um grande complexo sentimental de paternidade, um homem de coração gordo e violento.

Homem que vi estranho foi o poeta Carlos Drummond de Andrade. Conheci-o para lhe pedir um favor e desde então nunca mais fiz outra coisa. Mas já tenho ido lá para pedir-lhe o simples favor de vê-lo um pouco. Achei-o intratável a primeira vez, parecia um estilete e não um chefe de gabinete. Saí impressionado, pensando comigo que nunca poderia ser amigo de um sujeito assim.

Não sei se ele gosta de mim ou não, não me interessa. Eu o tenho em especial carinho. Invejo-lhe a poesia descarnada e lúcida, e como que iluminada por um sol fluido de aurora. Tenho em alta conta sua figura humana, seca e vibrátil, laminar. Não tem importância o modo como ele lhe trate, às vezes desconhecendo a sua ilustre pessoa. O que importa é que, uma noite, num bar, depois de uns chopes, a máscara do poeta esgarça-se num riso silencioso, que lhe vem de uma paisagem casta e longínqua na alma, e sua cabeça baixa se levanta, suas mãos mortas se reencarnam, e ele tamborila na mesa uma alegria rápida e extraordinária. E então se sabe que o poeta ama perdidamente:

Amor, a quanto me obrigas.

O poeta louco Jayme Ovalle, ou melhor, "o místico", como o chamou Manuel Bandeira, foi na minha vida um encontro de que não me esqueço. Conheci-o três dias depois de sua chegada da Europa, em casa de Schmidt. Tinha uma curiosidade enorme em vê-lo. Soube que andava fechado, não querendo receber ninguém, sofrendo as agruras da dor-sem-nome, roído de saudade da Inglaterra. Mas combinei uma tramóia com Schmidt e fui, com um ar de quem não quer. Encontrei o poeta no meio da sua garrafa de uísque, rodeado pelo grupo familial atento e respeitoso. Seu monóculo me recebeu mal, enquanto seu olho de águia me considerava com ar pouco amigável. Calei-me e fiquei quietinho, espiando passear o gênio.

Passado um tempo Ovalle sentou-se. Todos se voltaram para ele. Alguma coisa ia suceder. Mas ele limitou-se a falar fanhosamente para Schmidt: "Põe um Bachzinho aí na vitrola pra mim, põe?"

Só então se virou para o meu lado. Ficou me olhando um pouco, eu gelado mas firme, sorrindo um riso covarde. Ao fim de um tempo sorriu também.

- Ele é muito bonzinho - disse, apontando-me com o dedo. - Ele é tão bonzinho que um dia... que um dia ele é capaz de sair correndo assim, compreende, sair correndo assim, e aí...

Mas não cheguei a saber o que ia acontecer comigo no fim da corrida. Schmidt voltava com um livro de poemas do poeta, poemas ingleses, feitos na sua amada Londres. Ovalle relutou um pouco, mas acabou lendo quase tudo. Eu fiquei ouvindo sem compreender muita coisa, mas compreendo muita coisa do homem a que ouvia. Ovalle chorou, ajoelhou-se, às vezes se curvava até o chão para em seguida saltar como um calunga doido, falava música, fazia gestos tão patéticos que parecia querer se agarrar ao xale invisível de Nossa Senhora.

Juro que fiquei fisicamente cansado da emoção. Quando resolvi sair, o poeta quis vir comigo. E fomos juntos por Copacabana afora. Depois entramos num táxi para a cidade. Na cidade pusemo-nos a beber - e bebemos tanto que nem as estrelas do céu ou os peixinhos do mar fariam conta do que bebemos. A madrugada nos encontrou na Lapa, comendo um filé à moda com vinho verde. A expressão do poeta sossegara muito, e ele agora me contava sobre as coisas do mistério, num tom simples e persuasivo. Ouvi de sua boca a explicação integral da famosa Gnomonia. Ouvi-o falar de Bach e Beethoven. Ouvi-o exaltar as mulheres da vida. Mais tarde, às sete horas da manhã, assisti ao seu encontro com Manuel Bandeira, encontro emocionante, depois de quatro anos de ausência, e um pequena rusga. Do quarto de Manuel fui para a Censura Cinematográfica, onde dormi durante a projeção um sono de duas horas e liberei todas as fitas.

Até hoje, quando nos encontramos, sinto entre nós a fidelidade a esse primeiro encontro. Descobrimos coisas, fazemos caso de tudo, nunca há silêncio entre nós.

Meu amigo Pedro Nava, ou melhor, o dr. Pedro Nava, é um grande poeta brasileiro que também é médico. Um olho clínico, como dizem seus colegas. E eu digo amém, porque Pedro Nava é o meu médico. Já me diagnosticou uma apendicite, e guardo bem a lembrança - a última lembrança ao ser anestesiado - de seu olho clínico posto em tristeza diante da possibilidade de um trespasse meu. Pedro Nava, sendo como é meu amigo, contou-me mais tarde o medo que tivera que eu morresse, não tanto porque fosse eu paciente, mas porque era seu amigo. É verdade que se morre muito nesse negócio de operação, por mais que o cirurgião seja hábil, como era no meu caso. Tive um medo póstumo, quando o poeta me fez ver essa possibilidade.

Mas já que se falou em morrer, em se tratando de Morte o poeta Pedro Nava comparece e fica triste. Porque se trata de um ser votado à Morte, tanto em sua profissão, onde luta exemplarmente contra ela, como em sua poesia, onde é todo dela. Pedro Nava é o criador da idéia sinistra do defunto que todos nós carregamos conosco, a quem damos de comer e beber e para quem arranjamos mulher; defunto que se senta, se levanta, anda na rua, vai ao cinema, escova os dentes e, no fim da noite, se deita imóvel para imitar o descanso eterno.

Como se pode deduzir, Pedro Nava é um ser terrível, um perturbador da ordem, um russo. É o poeta russo Pedro, o grande. Só se sente bem ou no seu hospital, onde combate, com uma prudência de conhecedor a fundo, todos os candidatos à Morte; ou perturbando a alma alheia com sua grande tristeza - e por que não dizer dor-de-corno? - sua ternura úmida e animal de mastim fiel, e sua poesia lancinante.

É um grande Pedro! Travei relações com ele em casa de Rodrigo Mello Franco de Andrade - esse Rodrigo cuja amizade é para mim uma coisa extrema na vida - e o poeta batalhou para me manter a distância. Não queria mais saber de amigos, que são criaturas que atrapalham muito, sofrem, adoecem, morrem, é o diabo!

Mas pouco a pouco venci o poeta. Hoje ele é um desses quatro ou cinco que já não distingo mais em meu sentimento. É um homem espantosamente rico e inteligente. Não há balda, como se diz em Minas, que lhe passe. Sua capacidade inventiva, no domínio da psicologia lírica, é assombrosa. Marca não importa quem, com dois ou três traços essenciais. Sua poesia bissexta, como se diz, segundo a expressão de Prudente de Morais Neto - porque vem de raro em raro -, é excelente. Quem não leu "O defunto" não sabe o que é sugestão de morte. É o poema mais "incômodo" que há. Perturba o tempo todo, irremediavelmente.

Quando morto estiver meu corpo
Evitem os inúteis disfarces...

E por fim meu primo, meu amado primo, que também é Pedro e é o anjo dos "Dantas" - Prudente de Morais Neto. É preciso concentrar-se muito para dizer a menor das suas qualidades. Sua poesia - que ele chama bissexta - é o próprio lirismo. É um canto japonês. É o saquê. E fica-se sem saber o que admirar mais nesse homem: se essa alma que aninha tudo com o mesmo amor, o bem e o mal, o puro e o impuro; ou o seu espírito lógico, que separa com precisão matemática o justo do injusto, embora justificando a ambos.

Quem o vê a primeira vez pode bem achá-lo bobo - e muitos bobos têm caído nessa esparrela. Se eu tivesse que "procurar-lhe o bicho", diria talvez que Prudente parece um bom chantecler, com seu topete, seu olho azul, sua cabeça que lhe movimenta todo o corpo ao se voltar, e esse corpão genial, terne, terno, túmulo ideal para as confidências, os segredos, os sentimentos mais íntimos, as paixões mais puras, as contemplações mais extáticas.

Porque esse homem, de aparência burguesa e de inteligência prática, é um contemplativo. Não se irrita, não quer mal a ninguém, perdoa a injustiça que lhe fazem. Mas é justo e preciso como a luz elétrica. Não fica escaninho que lhe passe despercebido quando se volta para o julgamento de alguém ou de alguma coisa. Não tolera a mentira ou o engano. Prefere sofrer os males de uma verdade desnecessária que o remorso de uma mentira generosa. E isso não porque se ache demasiado íntegro diante da vida. Porque o erro o nauseia e desequilibra. Seu caminho é um doce movimento para a frente, um doce movimento de braços abertos.

Eu vos incito a amá-lo muito, vós que o não conheceis ou o admirais apenas. Não importa a posição em que estejais, direita, esquerda, centro avante, ou retaguarda. É preciso amá-lo com o maior carinho, com maior doçura e deixar que ele vos ame também, porque a glória desse mundo é pouca e o amor desse homem é uma grande glória.

Mas estou me tornando patético. Ou não estou? Não sei. Sei de uma coisa: que Prudente de Morais Neto, o criador da Cachorra, sobrinho de Manuel Bandeira e meu primo pelo coração, foi o homem mais exato que já vi até hoje. E a propósito disto, cabe uma consideração.

Que grupo excelente fazem todos esses homens! Olhem que estive viajando, conhecendo gente nova, tive contato com grandes poetas ingleses, ouvi-os falarem, vi outros grupos de homens de espírito; mas nada assim como eles. Essa força lírica, essa poesia magistral que estão criando para o Brasil, esse impacto de ternura e sordidez, essa coragem diante da vida, essa modéstia real, esse socorro mútuo, essa discrição e esse escândalo com que vivem, só os encontrei neles, aqui entre nós, nesses pequenos grupos dentro do grande Grupo. E faz um bem terrível pensar nisso. Que onde quase todos esperam recompensas, esses homens não esperam nada, apenas a fidelidade mútua. Que onde quase todos usam de processos turvos, muitas vezes inconfessáveis, esses homens agem limpamente, sem sequer se dar conta disso. Vivem em meio à ganância geral com armas desiguais, senão desarmados.

São almas caríssimas, perfeitas de sentimento. Quando se queixam o fazem na melhor poesia, mas porque o fazem assim se queixam pouco. Não transigem com a má literatura: sabem esperar o amadurecimento da palavra a fim de que ela não traga engano. E são homens que se iludem, sujeitos às mesmas tentações e às mesmas quedas, com a mesma sensação da própria fraqueza e da própria sordidez.

Mas neles até a sordidez é inefável. Eis o que os diferença. Neles a sordidez se transforma em poesia e a poesia em canto. E não é essa a maior grandeza do poeta? É possível ser-se poeta sem ser sórdido?

Uma bênção em Praga

Adicionar legenda

É difícil perder a aparência da falsa riqueza. Charles Fonseca

domingo, julho 20, 2014

A comunhão dos bens espirituais. Igreja. Cristianismo

I. A comunhão dos bens espirituais

949. Na comunidade primitiva de Jerusalém, os discípulos «eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à comunhão fraterna, à fracção do pão e às orações» (Act 2, 42).

A comunhão na fé. A fé dos fiéis é a fé da Igreja recebida dos Apóstolos, tesouro de vida que se enriquece na medida em que é partilhada.

950. A comunhão nos sacramentos. «O fruto de todos os sacramentos pertence a todos. Os sacramentos, e sobretudo o Batismo, que é como que a porta por onde os homens entram na Igreja, são outros tantos vínculos sagrados que os unem todos e os ligam a Jesus Cristo. A comunhão dos santos é a comunhão dos sacramentos [...];o nome de comunhão pode aplicar-se a cada um deles, porque cada um deles nos une a Deus [...]. Mas este nome convém mais à Eucaristia do que a qualquer outro, porque é principalmente ela que consuma esta comunhão» (508).

951. A comunhão dos carismas: na comunhão da Igreja, o Espírito Santo «distribui também graças especiais entre os fiéis de todas as ordens» para a edificação da Igreja (509). Ora, em cada um se manifestam os dons do Espírito, para o bem comum» (1 Cor 12, 7).

952. «Eles punham tudo em comum» (At 4, 32): «Tudo o que o verdadeiro cristão possui, deve olhá-lo como um bem que lhe é comum com os demais, e deve estar sempre pronto e ser diligente para ir em socorro do pobre e da miséria do próximo» (510). O cristão é um administrador dos bens do Senhor (511).

953. A comunhão da caridade: na sanctorum communio, «nenhum de nós vive para si mesmo, e nenhum de nós morre para si mesmo» (Rm 14, 7). «Se um membro sofre, todos os membros sofrem com ele; se um membro for honrado por alguém, todos os membros se alegram com ele. Vós sois Corpo de Cristo e seus membros, cada um na parte que lhe diz respeito» (1 Cor 12, 26-27). «A caridade não é interesseira» (1 Cor 13, 5) (512). O mais insignificante dos nossos atos, realizado na caridade, reverte em proveito de todos, numa solidariedade com todos os homens, vivos ou defuntos, que se funda na comunhão dos santos. Pelo contrário, todo o pecado prejudica esta comunhão.

Catecismo

sexta-feira, julho 18, 2014

Veit Stoss, 1516 - Tobias and the Angel Germanishes National Museum, Nuremberg, Germany. E41. Escultura

BOM JESUS DA LAPA Charles Fonseca. 01.13. Poesia

BOM JESUS DA LAPA
Charles Fonseca

Uma corrente de amor
Nos levou a Correntina
Lembro-me como hoje ainda
Me foi com misto de dor

Ver ali o ser amado
Minha mulher em apoio
Só trigo sem nem um joio
Só afeto ao bem amado

Que aos cuidados deixei eu
Ao meu Bom Jesus da Lapa
Saudade quase me mata
‘Stou vivo, o amor venceu.

O autor do blog. Charles Fonseca. Fotografia


quinta-feira, julho 17, 2014

O dedo na ferida. Reinaldo Azevedo. Medicina

Aécio põe o dedo na ferida do programa “Mais Submédicos”. Ou: Os apalpadores e a redução dos leitos hospitalares

O candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, fez, entendo, a coisa certa nesta quarta ao afirmar que o programa “Mais Médicos” continua — e nunca ninguém pediu que acabasse, é bom que fique claro —, mas que não aceitará as imposições do governo cubano. Segundo os contratos hoje em vigor, os médicos oriundos da ilha recebem apenas de 25% a 30% do que custam aos cofres públicos: R$ 10 mil. O resto vai parar na ditadura de Fidel Castro. Transformou-se uma fonte de renda. Estimam-se em 11.400 os médicos cubanos que atuam no programa no Brasil. Cuba recebe mais ou menos R$ 79,8 milhões por mês — ou R$ 957,6 milhões por ano. Em suma, a exportação de carne humana rende à tirania dos irmãos Castro quase R$ 1 bilhão. Não custa desconfiar: como a ilha não é, assim, um exemplo de transparência, em tese ao menos, o dinheiro que vai pode voltar, não é mesmo? Em ano eleitoral, pode ser a chamada mão na roda — ou no cofre.

É claro que, se eleito, Aécio não vai conseguir mudar o contrato da noite para o dia. O importante é começar a rever essa imoralidade. Ele também prometeu que vai criar as condições para que os médicos estrangeiros façam o “Revalida”, o exame que permite a quem tem formação fora do país clinicar em terras nativas. Que fique claro: o programa hoje em vigor poderia ser chamado “Mais Submédicos”. Os profissionais são autorizados a trabalhar só ali e, em razão de não terem o “Revalida”, estão proibidos de executar uma série de procedimentos. Dilma falando certa feita sobre o Mais Médicos refletiu, com a profundidade característica: as pessoas precisam de médicos que as apalpem. Então tá. Eu acho que pobres e ricos precisam de médicos que possam fazer o diagnóstico de suas doenças.

Sim, quem quer que venha a assumir o governo terá uma bela herança maldita na área da saúde, que não se resolve com apalpadelas. Entre 2002, último ano do governo FHC, e 2005, terceiro ano já do governo Lula, o número total de leitos hospitalares havia sofrido uma redução de 5,9%. Era, atenção!, O MAIS MAIS BAIXO EM TRINTA ANOS! Números fornecidos pelo PSDB? Não! Por outra sigla: o IBGE. Em 2002, havia 2,7 leitos por mil habitantes. Em 2005, havia caído para 2,4. “Ah, Reinaldo, de 2005 para cá, algo deve ter mudado, né?” Sim, mudou muito!

O quadro piorou enormemente: a taxa, em 2012, era de 2,3 — caiu ainda mais. E caiu não só porque aumentou a população, mas porque houve efetiva redução do número de leitos púbicos e privados disponíveis: só entre 2007 e 2012, caíram de 453.724 para 448.954 (4.770 a menos). Ou por outra: entre 2002 e 2012, o número leitos hospitalares por mil habitantes teve uma redução de 15%. Entre 2008 e 2013, foram fechados 284 hospitais privados. Segundo o Conselho Federal de Medicina, entre 2005 e 2012, fecharam-se 41.713 leitos do SUS. Isso sob as barbas do grupo político que vai repassar quase R$ 1 bilhão a Cuba por ano.

Isso tem de mudar, com Aécio, Dilma Rousseff ou Eduardo Campos na Presidência. Segundo a lógica, se ela vencer, fica como está porque o que se tem também é obra sua. Campos, até agora, não se pronunciou, mas deve pensar algo a respeito. Aécio está dizendo que, se eleito, assim não fica.

Presidente padrão Felipão e técnico padrão Dilma no mundo de Lula. Augusto Nunes. Política

Clique: http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/direto-ao-ponto/o-palavrorio-delirante-sobre-a-goleada-por-7-a-1-sofrida-pela-economia-mostra-que-como-felipao-dilma-vive-no-mundo-de-lula-2/

quarta-feira, julho 16, 2014

Gerard ter Borch. Pintura. B

A ratificação do Tratado de MünsterA ratificação do Tratado de Münster

"O que parece conversa de quem vive no mundo da Lua é vigarice de quem vive no mundo de Lula." Augusto Nunes

Como a floresta secular. Olavo Bilac. Poesia

Como a floresta secular
Olavo Bilac

IV

Como a floresta secular, sombria,
Virgem do passo humano e do machado,
Onde apenas, horrendo, ecoa o brado
Do tigre, e cuja agreste ramaria

Não atravessa nunca a luz do dia,
Assim também, da luz do amor privado,
Tinhas o coração ermo e fechado,
Como a floresta secular, sombria...

Hoje, entre os ramos, a canção sonora
Soltam festivamente os passarinhos.
Tinge o cimo das árvores a aurora...

Palpitam flores, estremecem ninhos,
E o sol do amor, que não entrava outrora,
Entra dourando a areia dos caminhos.

segunda-feira, julho 14, 2014

A comunhão dos santos. Igreja. Cristianismo

A COMUNHÃO DOS SANTOS

946. Depois de ter confessado «a santa Igreja Católica», o Símbolo dos Apóstolos acrescenta «a comunhão dos santos». Este artigo é, em certo sentido, uma explicitação do anterior: pois «que é a Igreja senão a assembleia de todos os santos?» (505). A comunhão dos santos é precisamente a Igreja.

947. «Uma vez que todos os crentes formam um só corpo, o bem duns é comunicado aos outros [...]. E assim, deve-se acreditar que existe uma comunhão de bens na Igreja. [...] Mas o membro mais importante é Cristo, que é a Cabeça [...]. Assim, o bem de Cristo é comunicado a todos os membros, comunicação que se faz através dos sacramentos da Igreja» (506). «Como a Igreja é governada por um só e mesmo Espírito, todos os bens por ela recebidos tornam-se necessariamente um fundo comum» (507).

948. A expressão «comunhão dos santos» tem, portanto, dois significados estreitamente ligados: «comunhão nas coisas santas, sancta», e «comunhão entre as pessoas santas, sancti».

«Sancta sanctis! (O que é santo, para aqueles que são santos)». Assim proclama o celebrante na maior parte das liturgias orientais, no momento da elevação dos santos Dons antes do serviço da comunhão. Os fiéis (sancti) são alimentados pelo Corpo e Sangue de Cristo (sancta), para crescerem na comunhão do Espírito Santo (Koinônia) e a comunicarem ao mundo.

Catecismo

O cão pastor alemão. Cinofilia

Clique: http://www2.uol.com.br/au/pastoralemao.htm

Nosferatu - Uma Sinfonia do Horror 1922 (Completo e legendado) F. W. Murnau. Cinema

sábado, julho 12, 2014

HERDADE. Charles Fonseca. Poesia

HERDADE
Charles Fonseca

Há um amor a ser curtido
Um ódio a ser curado
Num amante ser amado
Por amado a ser remido

Por soluço a ser chorado
Por beijo quem sabe tido
De alguém já tão sofrido
Deste alguém lá do passado

Que é terno como eu vivo
A morrer só de saudade
A deixar-lhe por herdade
Este amor que há comigo

As leis são um freio para os crimes públicos - a religião para os crimes secretos. Rui Barbosa

sexta-feira, julho 11, 2014

Nunca antes na história “destepaiz”, a possibilidade de reeleição do governo foi encarada como um risco. Reinaldo Azevedo

Lifting de sangue pode causar câncer. Medicina

Lifting de sangue pode causar câncer.

Um tratamento que usa injeções de sangue do próprio paciente para acabar com rugas conhecido como Vampire Facelift (lifiting do Vampiro) pode ativar celular cancerígenas. Proibida no Brasil, a técnica é bastante usada nos Estados Unidos e promete acabar com rugas pouco profundas da pele, usando o plasma do sangue do paciente separado em uma centrífuga.

Adotada por celebridades como a socialite norte-americana Kim Kardashian, pela apresentadora Luciana Gimenez e pela modelo israelense Bar Refaeli, a técnica é proibida pelo Conselho Federal de Medicina (CFM)) e condenada por médicos que acreditam que ela pode ativar células cancerosas no organismo.

"O plasma rico em plaquetas vem sendo utilizado por alguns médicos com resultados diversos. Em virtude da variedade de tais resultados, ainda não é possível se definir o grau de utilidade nem aprovar em definitivo seu uso na prática terapêutica, tratando-se de procedimento experimental", diz um parecer do CFM de 2011. Nos Estados Unidos e na Europa o procedimento é legal.

Ciência não comprova efeitos
Segundo o hematologista Dante Langhi Jr, diretor da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH) a técnica não é autorizada no Brasil porque ainda não há comprovação científica da eficácia. "Esse não é um procedimento médico padrão, pois tem sido feito de forma experimental. Faltam evidências científicas que comprovem seus resultados", diz.

Para a dermatologista Denise Steiner, presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) o mau uso da técnica que usa o sangue pode ainda causar infecções pelo uso de sangue contaminado e até ativar células cancerosas. "Embora se use muito a técnica na Europa, não há trabalhos científicos suficientes que comprovem a sua segurança em longo prazo. Da mesma forma que poderia estimular uma célula que produz colágeno, poderia estimular uma célula cancerosa", diz Steiner.

Para a dermatologista, as já consagradas injeções de ácido hialurônico e de toxina botulínica (botox) são indicadas no combate às rugas e são autorizadas pelo CFM.

"O botox e o preenchimento contêm substâncias que têm um tempo de duração no corpo. Já no plasma rico em plaquetas, você está injetando uma substância que vai estimular o colágeno de uma pessoa, sem precisão de quanto tempo ela vai agir no corpo. Falta objetividade", diz.

Técnica ativa produção de colágeno

Na infusão de plasma rico em plaquetas, ou PRP, como o procedimento é conhecido no Brasil, o sangue é retirado do braço do paciente e levado a uma centrífuga onde se separa o plasma (líquido amarelado) dos glóbulos vermelhos (líquido vermelho). Feito isso, o médico injeta a parte amarelada nas partes do rosto onde há sinais de expressão.

É no plasma onde se concentram as plaquetas, que são fragmentos do sangue capazes de estimular células que ativam a produção de colágeno, proteína responsável por manter a pele firme. O efeito na pele surgiria após três semanas e duraria 15 meses, em média.

No vídeo postado na internet, Gimenez aparece gemendo de dor enquanto recebe algumas injeções do sangue próximo à boca e da testa. Já Kardashian postou fotos em que aparece com o rosto cheio de picadas e repleto de sangue, assim como a modelo israelense.

http://www.bemparana.com.br/noticia/335989/nova-moda-entre-celebridades-lifiting-de-sangue-pode-causar-cancer

quinta-feira, julho 10, 2014

Ô partidinho seca-pimenteira este PT!!!

Quer mais? Os petistas estão aliados a Paulo Maluf, a José Sarney, a Jader Barbalho e a Fernando Collor, entre outros.

A pessoa deve procurar saber o nome do médico, e assim, consultar seu cadastro no site do Conselho Regional ou Federal de Medicina

JC Debate sobre os Mitos dos Alimentos. Medicina, Biologia

APASCENTANDO LOBINHOS. Charles Fonseca. Poesia

APASCENTANDO LOBINHOS
Charles Fonseca

Antevejo pernas belas
Um sorriso juvenil
Uma mulher do Brasil
Sentada sobre uma pedra

De que é seu coração
Uma laje sobre o eito
Pisa ela no meu peito
De poeta não sei não

Mais ficar eu em silêncio
Uma chinela rasteira
Porta ela que à beira
Sabe bela no proscênio

Esta mulher representa
Todas as mulheres mil
Em cada homem de anil,
Um céu, um lobo apascenta.

A viúva egípcia. Pintura


quarta-feira, julho 09, 2014

Espera um pouco mais, domina esta paixão.

Clique: http://veja.abril.com.br/blog/radar-on-line/judiciario/joaquim-barbosa-pede-ferias/

Comece assim: como era seu pai?

Novo Telecurso - Ensino Médio - Filosofia.

A LAGARTIXA. Alvares de Azevedo. Poesia

A LAGARTIXA
Alvares de Azevedo

A lagartixa ao sol ardente vive
E fazendo verão o corpo espicha:
O clarão de teus olhos me dá vida,
Tu és o sol e eu sou a lagartixa.

Amo-te como o vinho e como o sono,
Tu és meu copo e amoroso leito...
Mas teu néctar de amor jamais se esgota,
Travesseiro não há como teu peito.

Posso agora viver: para coroas
Não preciso no prado colher flores;
Engrinaldo melhor a minha fronte
Nas rosas mais gentis de teus amores

Vale todo um harém a minha bela,
Em fazer-me ditoso ela capricha...
Vivo ao sol de seus olhos namorados,
Como ao sol de verão a lagartixa.

Senso de humor é o sentimento que faz você rir daquilo que o deixaria louco de raiva se acontecesse com você. Barão de Itararé

Petrus Scheemaekers, the elder - Memorial of the van Delft and Keurlinckx Families O.L. Vrouwekatedraal, Antwerp, Belgium. E41. Escultura

Governo gasta em média R$ 3,05 ao dia na saúde de cada habitante. Medicina

Clique: http://www.jornaldiadia.com.br/news/noticia.php?Id=32601#.U71vCfldXUU

Desastre histórico 13 – A derrota da Seleção Brasileira e a do PT. Ou: É TOIS, DILMA!. Reinaldo de Azevedo

Desastre histórico 13 – A derrota da Seleção Brasileira e a do PT. Ou: É TOIS, DILMA!

Nunca achei, e os leitores sabem disto, que a vitória ou a derrota da Seleção Brasileira teria uma tradução imediata nas urnas. Tratei do assunto na minha coluna na Folha na sexta-feira passada, intitulada “A derrota da Seleção e a de Dilma”. “A derrota da Seleção e a de Dilma”. Escrevi então:
“A vigarice intelectual tenta transformar o tal ‘pessimismo com a Copa’ numa espécie de metáfora –ou metonímia– do suposto ‘pessimismo com o Brasil’. Também as críticas ao governo e o legítimo esforço para apeá-lo do poder segundo as regras do jogo seriam obra de pessoas de maus bofes, que saem por aí a espalhar o rancor e a amargura –coisa, enfim, de quem deveria deixar ‘estepaiz’, já que se mostra incapaz de amá-lo… Com todo o respeito, a tese de que o Brasil precisa perder a Copa para Dilma perder a eleição é só uma trapaça intelectual de quem quer que Dilma vença a eleição, ainda que o Brasil perca a Copa.”

O desastre a que assistimos no campo, nesta terça, ele sim, é simbólico de certo estado de coisas no Brasil. Reparem que foram muito poucas as críticas contundentes ao desempenho pífio da Seleção Brasileira nos cinco jogos anteriores. Aqui e ali se apontou o descompasso entre a realidade e os fatos, mas nada com a dureza e com a clareza que a ruindade do time estava a pedir. Por quê? Porque também o jornalismo — com raras exceções — vivia e vive sob uma espécie de tutela, com receio de ser acusado de falta de patriotismo.

O governo federal decidiu, infelizmente, fazer politicagem com a Copa do Mundo. A máquina publicitária oficial não teve pudor nem mesmo de pegar carona na contusão de Neymar, tentando transformá-lo numa espécie de herói nacional. Dilma Rousseff resolveu bater um papinho com Dilma Bolada no Facebook, de sorte que não dava para saber se a Bolada era a Rousseff ou a Rousseff, a Bolada. A presidente encontrou tempo para atacar os “urubus do pessimismo”. Referia-se, em princípio, àqueles que previam que o torneio seria um desastre organizacional, o que, é sabido, não foi. Mas não só a eles: os tais “pessimistas” estariam interessados na derrota do Brasil só para o PT perder as eleições…

Há, ainda, uma fatia dos políticos brasileiros que está convicta de que pode manipular a vontade popular a seu gosto. Sim, muitas críticas infundadas foram feitas à realização da Copa no Brasil, mas é evidente que parte delas procedia e procede — como procedentes são milhares de restrições outras que se fazem ao governo de turno, o que é normal numa democracia.

A máquina publicitária oficial, no entanto, incapaz de fazer a exploração rasteira do torneio — como esquecer as vaias do Itaquerão? —, decidiu “monitorar” às avessas o debate: tolhendo as críticas, intimidando os críticos, tentando silenciar as vozes discordantes, colando a pecha de sabotadores naqueles que dissentem. Não custa lembrar que o PT, com o apoio de setores comprados da imprensa — comprados pela publicidade oficial —, criou até uma lista negra de jornalistas, sobre a qual muita gente que chegou a me parecer séria um dia fez um silêncio cúmplice, preferindo olhar para o outro lado. Críticos do governo foram tachados de “jornalistas da oposição” e de “adversários da realização da Copa no Brasil”.

Pois é… Nos últimos dias, especialmente depois que veio a público uma pesquisa Datafolha em que Dilma havia oscilado quatro pontos para cima, na margem de erro, o Planalto se assanhou de novo em pegar carona na Copa. Dilma anunciou na sua conversa no Facebook que vai ao Maracanã, no domingo, entregar a taça ao vencedor — ocasião, então, em que “Maracanaço” talvez passe a ter outro sentido.

Qual é a última torcida que cabe à presidente? Por razões que o técnico argentino chamou nesta terça de “culturais” — ele se referia ao fato de que a imprensa de seu país comemorava o desastre brasileiro —, resta à nossa governanta torcer desde já para que seja a Holanda ou a Alemanha a vitoriosa. Ou lhe caberá a honra, depois de ter esconjurado os urubus, de entregar o troféu ao capitão da Seleção da Argentina.

Eu não acho que a derrota da Seleção fará o eleitor votar dessa ou daquela maneira. Não o subestimo assim. Isso não nega o fato de que o PT tinha planos para tentar fazer da eventual vitória uma arma para esmagar os adversários. Seria ineficaz porque, reitero, não é assim que se dão as coisas. Mas o Brasil ficaria um pouquinho mais incivilizado, matéria em que essa gente é craque.

É TOIS, DILMA!

Por Reinaldo Azevedo

Reflexão sobre o Brasil. Saulo de Almeida. Futebol. Brasil

"REFLEXÃO SOBRE A COPA DO BRASIL
Saulo de Almeida

Acompanhei essa copa com certo distanciamento, ate porque na primeira parte dela estive em turnê na Coreia do Sul e nessa ultima semana estive lutando contra uma pedra no meu rim direito que me fez sofrer muito! Ainda um pouco dolorido mas bem melhor.
A verdade e que pela primeira vez me deu uma certa agonia ver um povo historicamente apático a questões básicas no que diz respeito ao desenvolvimento do pais demonstrar tanta paixão por um simples esporte. Me deu realmente vergonha e tristeza ver que isso de fato acontece. Não tenho a menor vergonha de perder para a Alemanha por 7x1 ou pra quem seja. E somente um jogo de futebol!!! E todo mundo ali esta ganhando milhões!!! Ninguém e voluntario. Torci pelo Brasil sim, mas, não envolvi minhas emoções nisso. Acabou o jogo, acabou. Verdade que fiquei com peninha de Anna Clara minha primogênita que ficou muito triste com a eliminação mas ela tem somente 11 anos!
Ao ver as lagrimas sinceras do nosso grande zagueiro Davi Luiz fiquei a pensar. Porque ele sente a necessidade de pedir desculpas a nação? Ele só perdeu um jogo de futebol! Também o técnico Luis Felipe Scolari, grande técnico que nos deu aquela quinta estrela no peito que ninguém mais no mundo tem (e dai!). Porque Felipão teve que pedir desculpas ao povo brasileiro???
Porque então que os nossos políticos chegam ao final dos seus mandatos e não pedem desculpas? Pelo contrario, sempre com dura cerviz vão a se gloriar dos seus feitos enquanto estiveram no poder? Quais mesmos? Eles não pedem desculpas porque nos não estamos nem ai! Educação, saúde, segurança, economia, desenvolvimento, etc, na verdade não importa! Contanto que se ganhe no futebol! Porque se importasse chegava o final do mandato e eles estariam pedindo no minimo desculpas. Já pensou, a Dilma em lagrimas pedindo desculpas ao povo brasileiro por não ter controlado a inflação? O Mantega se debulhando em lagrimas dizendo que ia se apegar aos seus filhos, a família para superar esse momento tao terrível na sua vida? Seria cômico se não fosse trágico! Isso não vai acontecer. No final do mandato a Dilma vai pra televisão dizer quão maravilhosa ela foi para o pais nos últimos 4 anos e vai se reeleger. Verdade? É a Dilma agora, poderia ser o Fernando Henrique, o Lula ou qualquer outro. A verdade e que sempre faltou aos nossos lideres um projeto de nação! Eles só querem o poder! Enquanto isso, as raposas fazem a festa enquanto vão atras dos seus próprios projetos individuais.
Estive na Coreia do Sul recentemente, notei que sempre ao lado de sua bandeira (vista com frequência) havia uma outra bandeira com as cores verde e amarela. Me chamou atenção pelas cores logicamente. Perguntei ao meu amigo coreano o que ela significava. A resposta foi: "Essa bandeira foi o simbolo da reconstrução do pais que se encontrava totalmente destruído depois da guerra da Coreia (1955). Foi uma bandeira que os nossos lideres criaram para simbolizar o movimento pela reconstrução do nosso pais!" Ate hoje essa bandeira e vista em todo o território nacional como simbolo de vitoria de um pais que soube emergir das cinzas em menos de 50 anos.
Logo o Brasil, pais cheio de recursos, de espaço, assentado na mais bela província da terra (como diria Darcy Ribeiro), com um povo criativo, mais feliz porque também mais sofrido. Logo o Brasil não consegue sair desta cilada histórica e engajar o seu povo em um projeto de pais que venha construir um futuro melhor para os seus filhos e filhas.
Brasil, agora e hora de pensar nas coisas que realmente fazem diferença.
Alemanha, parabéns pela vitória! Que domingo vença o melhor!"

segunda-feira, julho 07, 2014

Meio ambiente. Preservação da água

A política vigarista já está de olho em Neymar, o nosso saudável herói picaresco que está sendo transformado em herói dramático. Futebol

A política vigarista já está de olho em Neymar, o nosso saudável herói picaresco que está sendo transformado em herói dramático

Neymar Jr. é, sem dúvida, talentoso, como reconhece o mundo. É um garoto sorridente, alegre, meio largadão, mas sempre com grife, é claro!, já que o Neymar pai não é do tipo que brinca em serviço. O rapaz pode tirar a cueca de graça, mas recebe sei lá quanto para vestir uma. Transporte de helicóptero, de ambulância, tudo é devidamente patrocinado — e, se querem saber, não vejo mal nenhum nisso. Se o rapaz não vendesse, não haveria tanta gente querendo patrociná-lo. O negócio não para nem quando um troglodita lhe acerta uma joelhada nas costas. Felizmente, nada de muito grave aconteceu. O show e os negócios têm de continuar. Reitero: não escrevo este texto em tom de censura. Eu gostava daquele Caetano que cantava “a força da grana que ergue e destrói coisas belas”… Depois o compositor baiano resolveu embrulhar os próprios pensamentos num pano preto e mergulhar no obscurantismo. Mas sigamos com Neymar.

Ele está, ou estava, e isto também me parecia saudável, mais para o herói picaresco: ardiloso, serelepe, esperto, ladino… Não tinha, felizmente, a têmpera do herói dramático, que convoca o povo para a resistência e para a guerra — porque, afinal, por mais que o esporte seja uma metáfora da luta, trata-se de exercício lúdico. E assim tem de ser encarado. Mas aí veio Zúñiga e acertou aquela joelhada criminosa nas costas do menino sorridente — que já vinha sendo caçado em campo de maneira meio covarde, sob o olhar complacente de juízes, que pareciam querer dizer: “Não vamos cair de novo no conto do pênalti cavado por Fred no jogo contra a Croácia”. Sim, aí veio Zúñiga, que já havia acertado um chute doloso no joelho de Hulk, e tirou da Copa o melhor jogador brasileiro — que nos fazia esquecer o péssimo futebol jogado pela Seleção até então, excetuando-se o primeiro tempo contra a própria Colômbia.

E pronto! O nosso herói saudavelmente picaresco se foi. E tomou o seu lugar o herói de apelo dramático, quase trágico. A brutalidade impune de Zúñiga está sendo encarada como um agravo ao país. Agora, sim! Feriram o nosso “homem”! É preciso que seus companheiros e toda a nação se unam para mostrar que, na adversidade, este povo cresce ainda mais. Neymar está a um passo de virar suco nacionalista, quase tão verde-e-amarelo como a sua nova cueca, pronto a ser digerido como símbolo de um povo que não se entrega e que cresce na adversidade. Se tudo sair pelo melhor, e a Seleção sagrar-se campeã, será a hora de anunciar ao mundo que “ninguém segura este país”. Caso não consigamos passar pela Alemanha ou pelo vitorioso do confronto entre Holanda e Argentina, já se tem a desculpa perfeita: “Não fosse Neymar estar fora…”.

O gesto criminoso de Zúñiga forneceu tanto a causa para a gesta como, eventualmente, a explicação para a derrota. Ainda que a Seleção e o futebol percam muito sem Neymar, há uma possibilidade razoável de ele ser mais útil machucado do que em plenas condições de jogo. Apareceu, finalmente, um bom motivo para vencer, com sangue, suor e lágrimas, e uma justificativa verossímil caso o pior aconteça, apesar do sangue, suor e lágrimas… Já uma explicação honrada para a vitória e para a derrota.

Vamos ver qual será o saldo político da apropriação do herói que virou suco. E que resposta dará a plateia de eleitores.

Texto publicado originalmente às 4h11

Por Reinaldo Azevedo

domingo, julho 06, 2014

427 - Mais Perto Quero Estar. Igreja Cristianismo

Os fiéis de Cristo: hierarquia, leigos, vida consagrada. Igreja. Cristianismo

Resumindo

934. «Por instituição divina, há na Igreja, entre os fiéis, ministros sagrados, também chamados, em direito, clérigos, sendo os outros chamados leigos». E há fiéis que, pertencendo a uma ou a outra destas duas categorias, se consagraram a Deus pela profissão dos conselhos evangélicos e servem assim a missão da Igreja (498).

935. Para anunciar a fé e implantar o seu Reino, Cristo envia os Apóstolos e respectivos sucessores. Fá-los participantes da sua missão. É d'Ele que uns e outros recebem o poder de agir em seu nome.

936. 0 Senhor fez de Pedro o fundamento visível da sua Igreja. Deu-lhe as chaves dela. O bispo da Igreja de Roma, sucessor de S. Pedro, é «a cabeça do colégio dos bispos, vigário de Cristo e pastor da Igreja universal neste mundo» (499).

937. 0 Papa «está revestido, por instituição divina, do poder supremo, plenário, imediato e universal para o governo das almas» (500).

938. Os bispos, estabelecidos pelo Espírito Santo, sucedem aos Apóstolos. São, «cada um por sua parte, princípio visível e fundamento da unidade nas suas Igrejas particulares» (501).

939. Ajudados pelos presbíteros seus cooperadores e pelos diáconos, os bispos têm o encargo de ensinar autenticamente a fé, celebrar o culto divino, sobretudo a Eucaristia, e governar a sua Igreja como verdadeiros pastores. Incumbe-lhes também o cuidado de todas as Igrejas, com e sob a orientação do Papa.

940. «Sendo próprio do estado dos leigos viverem a sua vida no meio do mundo e dos assuntos profanos, eles são chamados por Deus a exercer o seu apostolado no mundo à maneira de fermento, graças ao vigor do seu espírito cristão» (502).

941. Os leigos participam do sacerdócio de Cristo: cada vez mais unidos a Ele, desenvolvem a graça do Baptismo e da Confirmação em todas as dimensões da vida pessoal, familiar, social e eclesial, e assim realizam a vocação à santidade dirigida a todos os baptizados.

942. Graças à sua missão profética, os leigos «são também chamados a ser, em todas as circunstâncias e no próprio coração da comunidade humana, testemunhas de Cristo» (503).

943. Graças à sua missão real, os leigos têm o poder de vencer em si mesmos e no mundo o império do pecado, mediante a abnegação e a santidade de vida (504).

944. A vida consagrada a Deus caracteriza-se pela profissão pública dos conselhos evangélicos de pobreza, castidade e obediência, num estado de vida estável reconhecido pela Igreja.

945. Entregue a Deus, amado sobre todas as coisas, aquele que o Baptismo já a Ele tinha destinado, encontra-se, no estado de vida consagrada, mais intimamente votado ao serviço divino e dedicado ao bem de toda a Igreja.

Catecismo

Fernand Fonssagrives. Fotografia

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sábado, julho 05, 2014

O homem pobre e a cobra. Esopo. Fábula. Prosa

O homem pobre e a cobra
Esopo

Um homem pobre costumava afagar e dar de comer a uma Cobra, que em sua casa trazia; e enquanto assim o fez, tudo lhe ia por diante. Depois, por certa agastadura, fez-lhe uma grande ferida. E vendo que tomava a empobrecer, com muitas palavras e humildade lhe pediu perdão.
Respondeu a Cobra:
- Eu de boa mente te perdoo, mas não te há de isto prestar para deixares de ser pobre; que esta ferida sempre me há de doer, e sempre há de estar pedindo vingança de ti.

Avercamp. Pintura


sexta-feira, julho 04, 2014

Qual é a relação entre transtorno bipolar e criatividade? Medicina

Qual é a relação entre transtorno bipolar e criatividade?
http://www.medicina.ufmg.br/noticias/?p=40427

Programa de rádio apresenta a série Bipolaridade Hoje e revela algumas curiosidades sobre o tema
marca-scc1A arte de Van Gogh faz parte desse contexto, assim como as atuações de Jim Carrey, Ben Stiller e Cássia Kis, e a música de Rita Lee e Britney Spears. A lista de artistas diagnosticados com o transtorno bipolar é extensa e, talvez por isso, a doença já foi relacionada à maior capacidade criativa do indivíduo.
Existem dois tipos clássicos da doença: no tipo 1, mais grave, a característica central são os episódios de mania, caracterizados por períodos semanais em que a pessoa fica completamente eufórica e impulsiva, com hábitos de grandeza e delírios constantes. Já no tipo 2, o paciente apresenta episódios de hipomania que, apesar de serem mais leves, são, em geral, mais difíceis de serem diagnosticados.
Segundo o professor do Departamento de Saúde Mental (SAM) da Faculdade de Medicina da UFMG, Fernando Neves, durante episódios hipomaníacos, ou seja, a mania mais branda, a pessoa pode ter novas ideias e se tornar mais produtiva. “Recentemente, também se descobriu que as pessoas com transtorno bipolar teriam algumas capacidades suprassensoriais, ou seja, sentem as coisas de um jeito diferente. Por exemplo, o sabor de algo, uma estimulação maior pra dar respostas corretas no momento correto”, revela.
Foto: Reprodução
Foto: Reprodução
Neves acrescenta que o artista, ao desenvolver uma obra importante, pode ter uma percepção melhor da realidade, juntamente com uma confiança maior de apresentar aquele trabalho para o público. Pensando na doença como um todo, porém, ele faz uma ressalva: “A tendência é a pessoa ir perdendo essas capacidades cognitivas, então a gente vê que a maioria desses artistas, apesar de obras geniais, teve uma vida curta. Um exemplo disso é o próprio Van Gogh, que não viveu tempo suficiente para colher os frutos do seu trabalho”.
Algumas dificuldades do diagnóstico também são citadas pelo especialista. Como ele é baseado em estudos retrospectivos, com uma entrevista do histórico de vida do paciente, é comum o indivíduo associar o início dos seus sintomas aos 12 ou 13 anos. “O que acontece é que esses sintomas não são iguais aos que são apresentados em adultos, então é muito difícil você conhecer uma criança que tenha sintomas típicos do transtorno”, conta.
Além disso, os episódios de euforia já citados não são o que predomina na bipolaridade – a fase depressiva é a mais duradoura em ambos os tipos. “A cada quatro episódios de depressão no tipo 1, nós temos um episódio de mania. No tipo 2, a cada 37 episódios de depressão, nós temos só um de hipomania,” contabiliza Fernando Neves.
Como é uma doença ligada ao cérebro, órgão bastante complexo, o transtorno bipolar ainda não foi totalmente mapeado. Sobre suas causas, por exemplo, é sabido que fatores ambientais, como abusos na infância, e genéticos – parentes mais próximos de pessoas com a doença têm mais chances de desenvolvê-la –, influenciam no seu desenvolvimento.
Por isso, a professora Tatiana Mourão, também do SAM, , indica como o transtorno bipolar e outros transtornos mentais devem ser observados: “Nós ainda sabemos muito pouco, mas sempre que formos estudar essas doenças não podemos ficar com uma visão somente dos sintomas. Temos que entender como funciona o cérebro e de que forma esse funcionamento está causando ou não os sintomas mentais, por exemplo, dos transtornos bipolares”, finaliza.

"Quando não se tem a coragem de viver como se pensa, acaba-se por pensar como se vive." Victória Ocampo

Não tenho inveja. Just Jumpy the dog. Cinofilia

“Vou flutuar como uma borboleta e picar como uma abelha”. Muhammad Ali. 1974

Petrobras prevê perda de US$ 15 bilhões com suspensão de contratos. Política. Economia

Clique: http://veja.abril.com.br/noticia/economia/petrobras-preve-perda-de-us-15-bilhoes-com-suspensao-de-contratos

Conselho de Medicina se posiciona contra liberação do uso recreativo da maconha. Medicina

Clique: http://www.bonde.com.br/?id_bonde=1-27--46-20140606

Amor no Lar. Hino. Igreja. Cristianismo

Petralhada. Política

Clique: http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,adequar-pasadena-custa-us-2-bilhoes-afirma-relatorio-imp-,1523303

quinta-feira, julho 03, 2014

O desgoverno Dilma antes do sol posto

Clique: http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/aecio-comemora-datafolha-e-ve-garantia-de-segundo-turno

Salvador, Bahia. Antonello Veneri. Fotografia


Sabe o que você é? Política

http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/sabe-o-que-voce-e-um-sem-direitos-um-sem-constituicao-um-sem-codigo-penal-um-sem-poder-publico-um-sem-ong-um-sem-movimento-social/

Projeto Caixa-Preta da Saúde continua recebendo denúncias. Medicina

http://www.amb.org.br/Site/Home/NOT%C3%8DCIAS/Projeto-Caixa-Preta-da-Sa%C3%BAde-continua-recebendo-den%C3%BAncias%2037570.cnt

LULA CRITICA PLANO REAL, DILMA ELOGIA!!!

BEIRA MURO. Charles Fonseca. Poesia

BEIRA MURO
Charles Fonseca

Uma foto lambe lambe
Chapa como era chamada
Ficou em minh’alma gravada
Memória lembrança sangue

Foi lá no Monte Serrat
Da antiga Salvador
Morena tirou-me a dor
Do que foi, do é, que será

Ali é um lugar mágico
Namoros em fila muro
Descendo subindo duro
Embate, longe o trágico,

Tantos casais namorados
Todos de pé ao luar
A beira o quebra mar
Ondas de beijos molhados

Não havia então motel
Era um ajuntamento
De corpos ais de lamentos
De ânsias às vezes batel

Servia do que faltava
Um marulhar sobre as ondas
Maré amar longe Roma
Bairro distante espiava

Acalentava a lua
Vez em quando um cotovelo
De encontrão, chega nêgo
Pra lá, fica na tua!

Johann Baptist Straub, 1762 - St. Barbara Public Collection. E41. Escultura

Consagração e missão. Anunciar o Rei que vem. Igreja. Cristianismo

CONSAGRAÇÃO E MISSÃO: ANUNCIAR O REI QUE VEM

931. Entregando-se a Deus amado sobre todas as coisas, aquele que pelo Batismo já Lhe estava devotado, encontra-se, assim, mais intimamente consagrado ao serviço divino e dedicado ao bem da Igreja. Pelo estado de consagração a Deus, a Igreja manifesta Cristo e mostra como o Espírito Santo nela atua de modo admirável. Aqueles que pro­fessam os conselhos evangélicos têm, pois, por missão, antes de mais, viver a sua consagração. «Visto estarem dedicados, em virtude da sua consagração, ao serviço da Igreja, têm obrigação de trabalhar, de modo especial, segundo a índole própria do instituto, na ação missionária» (495).

932. Na Igreja, que é como o sacramento, isto é, o sinal e o instrumento da vida de Deus, a vida consagrada surge como um sinal particular do mistério da Redenção. Seguir e imitar Cristo «mais de perto», manifestar «mais claramente» o seu aniquilamento, é entrar «mais profundamente» presente, no coração de Cristo, aos seus contemporâneos. Quem segue este caminho «mais estreito» estimula os seus irmãos pelo seu exemplo e «dá este esplêndido e sublime testemunho: o mundo não pode ser transfigurado e oferecido a Deus sem o espírito das bem-aventuranças» (496).

933. Quer este testemunho seja público, como no estado religioso, quer seja mais discreto ou mesmo secreto, a vinda de Cristo é, para todos os consagrados, a origem e a meta das suas vidas:

«Como o povo de Deus não tem na terra cidade permanente [...], o estado religioso [...] manifesta a todos os crentes a presença, já neste mundo, dos bens celestes; dá testemunho da vida nova e eterna adquirida pela redenção de Cristo e anuncia a ressurreição futura e a glória celeste» (497).

Catecismo

Steen. Pintura


Pesquisa Datafolha. Vamos ao segundo turno. Política

http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/datafolha-segundo-turno-ja-e-uma-realidade-diferenca-de-dilma-para-aecio-vai-a-apenas-7-pontos-46-a-39-presidente-segue-a-mais-rejeitada-pesquisa-de-ha-um-mes-era-melhor-para-a-petista/

quarta-feira, julho 02, 2014

Anjos do Inferno - O Cordão dos Puxa-Saco (Roberto Martins & Frazão). Música

ENCONTRO Vinicius de Moraes. Prosa

ENCONTRO
Vinicius de Moraes

Meu primeiro encontro, em Poesia, depois das inelutáveis influências da juventude, foi o de Murilo Mendes. A fase da imitação declinava lentamente, à medida que os poetas melhoravam.

Discípulo ardente de Júlio Dantas, tendo escrito aos 14 anos um poema chamado "Os três amores", passei por Guerra Junqueiro em branco. Julgava-o um grande filósofo mais que um poeta, e temia-lhe o tom blasfemo. É que não lera ainda Os simples, onde está o melhor do seu lirismo. Nessa ocasião, fiz do sr. João Lira Filho mentor espiritual. Dei-lhe Foederis arca para ler. A Arca em aspas era um livrão de capa preta onde ia pondo os versos que me pareciam razoáveis. O sr. João Lira Filho não se agradou da poesia. Deu-me uns conselhos: que eu deixasse daquilo, que poesia era "frescura" e "abandono", que meus sonetos eram "muito ruins" e só as trovinhas "onde você procura imitar Adelmar é que são mais ou menos". A palavra "abandono" que interpretei mal, feriu-me a suscetibilidade juvenil. Larguei do sr. João Lira Filho e do seu mestre da Academia e dei com Guilherme de Almeida. Aquilo é que era poeta! Como é que o homem fazia aquelas coisas, que perfeição!

O relógio de mogno, grave, enorme
Dorme

Meu olhar se concentrava sobre a magia da palavra "mogno". Se me perguntassem o que era Poesia, eu diria que era aquela palavra feiticeira. Lembro-me que fiz um verso onde falava "em teus seios de mogno e teus lábios de écran". Meus poemas redundavam em diálogos sutilíssimos entre a amada e eu, passavam-se sempre numa casa de chá elegante ou num ônibus de luxo, tinham de Toi et moi, que felizmente só vim a ler mais tarde.

Castro Alves e Bilac não me fizeram grande impressão. Li-os apressadamente, sem que me tivessem marcado muito. A poesia paterna, que encontrara numa gaveta velha em casa, foi a minha grande decisiva influência. Desejei imenso fazer versos assim, versos de amor, despidos das idéias grandiloqüentes que assustavam no vate baiano e do brilho de joalheria que cegava no artífice da "Via Láctea".

Junto de ti, ó minha amada
Passam-se os dias a voar
Se longe estou, como apressada
Minha alma à tua quer chegar!

Posso citá-los ainda de cor. Causaram-me inveja e me fizeram sofrer. Pensei que nunca poderia ser poeta.

Chorei. Cheguei ao furto. Uma vez mostrei a alguns conhecidos um que me parecia o melhor, como se fora meu. Assinei meu nome embaixo. Na noite desse dia tive uma das maiores crises por que já passei neste meu fadário. Pensei pela primeira vez em me suicidar.

Depois, fui crescendo, como acontece na vida. Na Faculdade de Direito entrei em pasmo contacto com os grandes do CAJU, o centro da elite da escola. Era garoto e andava fardado de aspirante a oficial da reserva. Foi uma época rica e dolorosa, de lutas íntimas, de descobertas gloriosas, de ânsia e aspiração infindáveis. Otávio de Faria e San Thiago Dantas, dois dos nomes de maior projeção acadêmica, discutiam problemas de Poesia no Café do Areal. Ouvia quieto, mas com um ouvido gigante, as sentenças misteriosas, ditadas sabe Deus por que demônio, que na boca de San Thiago se prestigiavam de uma claridade que para mim tinha algo de sobrenatural, e que Otávio de Faria fazia sombrias, dilacerantes. A um devo uma amizade que através de tanta coisa vivida tem se mostrado sempre boa e generosa, amável no cotidiano mas atenta nos momentos difíceis. Ao outro devo a Amizade.

Foram esses dois homens que me iniciaram nos mistérios da Poesia. Falavam em Murilo Mendes e Augusto Frederico Schmidt. San Thiago Dantas lembrava-se às vezes do derradeiro:

O filósofo é como o galinho branco, pequenino, dormindo...

Eu pensava. Que não seria aquilo tudo? Filósofo... galinho branco... Realmente, uma sugestão qualquer, branca, assim como um idéia branca, a idéia branca de um filósofo, Platão, sei lá. Palmo a palmo conquistava a compreensão do incompreensível. Um dia ouvi um nome: Baudelaire. Outro: Rimbaud. Mais outro: Mallarmé. Outro ainda: Verlaine. E pus-me a ler.

Mas isso não vem ao caso. Com Murilo Mendes a coisa foi assim: achava-me passeando com Otávio de Faria pela Praia do Flamengo. De repente ele produziu uma brochura branca, quase quadrada, com o título Poemas em caracteres negros. Era Murilo Mendes. Minhas mãos estavam virgens ainda de qualquer nova poesia brasileira. Minha emoção foi grande.

Fiz perguntas, como era, como não era. Lemos alguns poemas juntos. Otávio criticava, de dentro da admiração real pelo poeta. Travei conhecimento com a questão do "sublime" e do "cotidiano" em Poesia. Ponderei coisas. Coisas me foram ponderadas.

Em casa li o livro até de manhã. Achei-o magistral em tudo, até no que tinha de artifício. A primeira impressão que o poeta me deu é de que vivia num espaço cristalizado em ângulos onde anjos cubistas salmodiavam ao som de saxofones. Todas essas adolescentes burguesas geométricas, essas meninas em eterna projeção e prolongamento, movia-as o poeta, transformado em mágico, como a novos títeres, através de versos como fios metálicos, num cenário fantástico de metrópoles cônicas, paisagens elásticas, ao som de melodias penetrantes.

Mais tarde, já com o primeiro livro publicado, conheci o poeta na Avenida, por intermédio de Otávio. Vinha deblaterando, o dedo em riste, uma gravata vermelha, o rosto azul de entalhe magro dignificado por uma testa vasta e dolorosa. Pôs-me a mão no ombro, depois me abraçou com longos braços dançarinos. Senti a imediata cordialidade do artista, a sua ânsia de comunhão. Disse-me palavras reconfortantes, de longe ainda me gritava coisas, escandalosamente.

Via-o depois em concertos, em conferências, ora mergulhado na música, ora apontando ondulante de uma multidão, a me enviar mensagens periódicas de fraternidade com a mão espantosa, quebradiça e exangue. E desde sempre Murilo Mendes foi um amigo. Ouço muito falar mal dele, de seu espírito fantástico, da teatralidade com que vive. Eu próprio já tenho sentido certa má-vontade - a minha má vontade de animal razoável - contra o poeta nos seus momentos de irrisão declamatória. Mas que me deixem dizer: a par de ser um grande poeta brasileiro, com um modo pessoalíssimo para a Poesia, Murilo Mendes é um puro e um coração bom, não direi como a água, de que não gosto, mas como o uísque.

Com Augusto Frederico Schmidt foi diferente. Já em meio à primeira experiência poética, juntando os poemas que iriam dar O caminho para a distância, li Navio perdido. Tinha do poeta uma idéia que me perturbava um pouco. Ouvia falar dele como se fala dos gênios. Alguém sem pé nem cabeça, a quem não se leva muito a sério no que diz, uma pessoa variável, inconstante, passeando pela vida uma grande alma insatisfeita, ferida de Poesia. Dizia-se que o poeta era assim e o homem assado, que a vida do homem não traduzia a obra do poeta, a sua extraordinária mensagem lírica. Mensagem... o termo me pegou em cheio. Achei que mensagem é que era. Adotei mensagem. Quando Aporelli mexia com o bardo, aproveitando-se das suas levitações poéticas, eu me enfezava, achava um desrespeito, embora bem que risse. Navio perdido passou a ser o meu livro. Sentimentos comuns em face da Poesia, a vocação do "sublime", causa de que me fizera paladino, me aproximavam muito de Schmidt. Contudo, não gostei quando os críticos acharam grande semelhança de tons entre as duas poesias. Eu queria era ser pessoal, tinha uma vaidade danada disso. Pensava que ficar como continuador do lirismo schmidtiano era muita honra, mas não para mim. Minha extrema mocidade não admitia senão uma linha de frente geral. Todo mundo junto.

Um artigo de Manuel Bandeira me deixou louco. Hoje, pensando nessas coisas, dá-me uma grande ternura por mim mesmo. Que menino esplêndido eu era! Manuel Bandeira (isto é, o inimigo de então, o chefe da poesia do "cotidiano") ousava escrever, colocando meu livro do lado de vários outros, que eu realmente tinha vocação poética, mas que precisava muito abandonar o "tom schmidtiano", metrificar minhas linhas, deixar de muitas facilidades com o verso livre, que só é bom na mão dos mestres.

Como fiquei queimado! Achei que você não entendia nada de Poesia, Manuel, que você não era o Grande Poeta, vivendo a vida inefável dos símbolos misteriosos, dos rios loucos, das luas assexuadas, das mulheres trágicas e dos caminhos de Deus.

Mas, voltando a Schmidt. Uma noite vinha com Otávio de Faria pela rua Sachet. Ia ver meu livro que acabava de sair e que a Schmidt Editora distribuíra. À porta da famosa livraria, onde tanta coisa confusa já teve lugar, encontrava-se o poeta. Achei-o irreal, à primeira vista. Apertou-me a mão com um gesto que eu não soube se era de simpatia ou de zanga, porque ao mesmo tempo que me prendia fortemente, me mantinha a distância. Houve falta de jeito. Schmidt exclamou: "Ah, é esse!" Depois falou em Gilberto Amado, o qual teria dito que eu era "um alto". Ficou tudo meio atrapalhado, meio confuso. Eu queria ir-me embora, Otávio também, que não sabia como casar aqueles dois poetas. De volta, creio que fiz observações pouco gentis sobre o que ficara.

Durante um certo tempo, Schmidt passou a ser uma presença incômoda. Não havia crítica, notinha de jornal onde se mencionasse meu livro, que não falasse nos poetas irmãos, um prosseguindo no caminho que o outro abrira. A coisa para mim tomou um ar de pendenga, de corrida rasa, com Schmidt à frente, e eu em segundo, fazendo força para emparelhar.

Quando todas essas coisas passaram e a minha vaidade trancada começou a dar mofo, algumas saídas juntos, algumas conversas foram dissipando a impressão de ceci tuera celà que a presença de Schmidt me causava. Ia gostando dele, compreendendo-lhe o método lírico dentro do desarranjo formal, amando-lhe a inteligência de vôo tão largo. Hoje em dia vemo-nos menos, mas nos gostamos mais. Às vezes dá-me uma saudade do poeta, e eu tomo a iniciativa de ir visitá-lo no seu décimo andar sobre Copacabana. Mesmo porque, ele não me procura. Schmidt tolera pouco os intelectuais, e embora eu nunca converse "inteligente" com ele, creio que o poeta descansa mais o espírito britando pedra, por assim dizer, na companhia dos seus amigos homens de negócio, onde o troco inocente de idéias deixa às vezes saldo para uma das partes. Eu que, em companhia do poeta, já tive oportunidade de assistir a algumas dessas reuniões, acho que talvez ele é que esteja com a razão. Há um mistério agradável nesses homens de ar vagamente entendiado que vivem do gozo rápido das tiradas, que andam muito de táxi e percorrem numa noite vários ambientes, resolvendo uma mesma questão que nunca entre em jogo.

O encontro de Manuel Bandeira, que coisa excelente foi! Eu ainda tinha várias dificuldades em relação à poesia do poeta, mas intimamente mudara muito. Se no princípio me quisessem levar a ele, talvez tivesse relutado. Depois, não. Manuel me escrevera um cartão agradecendo a remessa de Forma e exegese, que me remexeu por dentro. Lia-o às vezes, a Manuel, invejando-lhe secretamente a sobriedade perfeita do verso, mas sempre em oposição ao modo de sua poesia. No fundo, achava que não se podia transigir assim com o Espírito, com a Fome metafisica, com a Visão. Mas, ai de mim, já amava o poeta. Meu coração de mulher da vida já batia por ele. Andava dando um jeito para encontrá-lo.

Anah e Carlos Chagas Filho deram-me o ensejo. Esses caros amigos, cuja casa da rua Jardim Botânico era para mim uma coisa perfeita de gosto e intimidade, providenciaram o encontro. O próprio Manuel, diziam eles, achava que a idéia de um jantar tinha seus pontos. E uma lagartixa resolveu a questão.

Eu havia chegado e esperava na sala, quando vi uma lagartixa branca. Parti a caçá-la, o que fiz com o maior cuidado para não magoar o bichinho frágil. E Manuel me pegou assim, com a lagartixa na concha da mão e aderiu imediatamente a ela. Dei-lhe um aperto de canhota, porque tinha a lagartixa na direita. O poeta esticou o pescoço, ficou observando o animalzinho com o seu perfil de pássaro, depois riu à-toa, um riso que mal parecia vir daquele siso sério. O riso me venceu. A ternura pelo poeta foi imediata. Um segundo depois estávamos conversando no sofá, eu brilhando discretamente para não chocar o amigo em perspectiva. Falou-se dos Mello Moraes, de poesia, de violão. Eu trouxera o violão, que era assim uma espécie de prato forte meu (nem tão forte, na verdade...) e que hoje em dia considero uma cruz. Cantei umas modas. Manuel parece que gostou.

Vi-o pela segunda vez no Salão de Belas-Artes. Foi quando me apresentou a Mário de Andrade. Fez-me as mesmas festas, perguntou pelo violão, falou vagamente em se marcar qualquer coisa. Mário de Andrade conservou-se "onézimo", segundo a gnomonia ovalleana, que é um modo sui generis de imparticipação.

Uma noite saímos juntos. Grande noite para mim, e Manuel, paternal, me levou ao cinema, me levou à Americana para tomarmos um malted milk, depois me levou ao Beco, onde subi sete andares num elevador vermelho, que pia feito gavião quando chega. Conheci seu quarto, esse quarto que às vezes tem sido para o poeta um lugar de tristezas; e que para mim tem sido tantas vezes um lugar de sossego. E banhei-me do verso exemplar de Estrela da manhã, ainda inédito, que o poeta leu para mim, ou melhor, que me jogou em cima, com aquele seu modo brusco de ler poesia.

Manuel é hoje em dia um ser à parte para mim. Todo o mundo tem seus dias de antipatia do amigo, suas brigas, suas caturrices. Chega-se mesmo a enjoar da pessoa, da presença, do modo de ser, de certos pequenos hábitos irritantes. Fica-se mesmo com uma tendência vaga a partir a cara, sem prejuízo grande para a amizade. Com Manuel, jamais! Nunca a menor bulha, mesmo dentro de um ou dois pontos de vista diferentes. Manuel aceita o amigo e se impõe a ele. É fiel, mas não intervém; presto, sem se fazer sentir. Parece Ronald Colman.

Mas eu tinha falado em Mário de Andrade. Mário foi uma conquista minha. O poeta, a princípio, não quis nada comigo. Fui-lhe mesmo apresentado umas duas ou três vezes, sem resultado. Fazia um ar, meu Deus, vaguíssimo, de ombros um pouco levantados.

Mas em São Paulo, que é sua casa, eu fui um dia à casa dele com Armandinho Sales de Oliveira, Mário de Andrade tinha dirigido um recital colosso, de modinhas do Império, de modo que estava no céu com o pé de fora. À saída, não me lembro mais por que, a uma pergunta de Armandinho eu respondi: "Tomara!" Mário de Andrade me pegou vivamente pelo braço. "Você também vem. Uma pessoa que fala tomara, tomara, meu Deus! - que gostosura! - tem direito a beber minha caninha. Ah, não! você vem!"

E eu fui. E eis como venci Mário de Andrade, pela linguagem. Em casa dele bebemos toda a garrafa de caninha. Houve grandes confraternizações. E hoje em dia, mal acabo de escrever um livro, corro para Mário de Andrade. Ele critica impiedosamente, inefavelmente. Anota as margens. Sinto que gosta de meus poemas, mas tem uma "diferença" qualquer com minha poesia. Eu o acho uma criatura esplêndida, com todas as suas manias. E que bom poeta! Poucos literatos no Brasil terão uma figura tão vasta e universal, apesar do seu fanático regionalismo. Conheço gente que o acha fiteiro. Mas a esses eu direi - lede-o para entendê-lo:

Muito de indústria me fiz careca
Abri salão nos meus pensamentos.

Ou ainda:

Danço para não chorar.

Também em São Paulo conheci Oswald, também de Andrade. Achava-me no Hotel Esplanada, no quarto de Manuel Bandeira, que deveria ir jantar com o poeta de Pau-Brasil. Ao saber quem eu era, prorrompeu em gargalhadas positivamente obscenas: "Então é esse menino, com esse ar esportivo, o autor daqueles versos compridos como um iole-a-8! Mas você não tem medo de fazer tanta força nessa regata desigual, seu poeta?"

Eu me abespinhei um pouco, mas não fiz má cara à piada. Dei uma em troca. E logo a cordialidade se estabeleceu. Saímos os três e jantamos em boa camaradagem. Oswald estava brilhantíssimo.

Procurava-o sempre que ia a São Paulo. Gostava de seu jeito e de sua casa. Boa casa para a gente se sentir à vontade, entre originais até de Picasso, vendo Oswald construir de um lado e arrasar de outro. O poeta tem a paixão da literatura. É um demolidor, rnas é, por outro lado, um espírito altamente construtivo. Gosto dos homens assim, mutáveis mas intransigentes enquanto crêem, bem raciados, os homens que gostam da sua casa e da sua mulher, não os femininos, os impotentes ou os fracos. Oswald tem essa grande qualidade macha que lhe dá sumo à vida. Quase todo o mundo o teme. Temo-lhe o destabocamento e a sátira irresponsável. Compreendo que não gostem dele. Mas no fundo é um homem fácil de se gostar, com um grande complexo sentimental de paternidade, um homem de coração gordo e violento.

Homem que vi estranho foi o poeta Carlos Drummond de Andrade. Conheci-o para lhe pedir um favor e desde então nunca mais fiz outra coisa. Mas já tenho ido lá para pedir-lhe o simples favor de vê-lo um pouco. Achei-o intratável a primeira vez, parecia um estilete e não um chefe de gabinete. Saí impressionado, pensando comigo que nunca poderia ser amigo de um sujeito assim.

Não sei se ele gosta de mim ou não, não me interessa. Eu o tenho em especial carinho. Invejo-lhe a poesia descarnada e lúcida, e como que iluminada por um sol fluido de aurora. Tenho em alta conta sua figura humana, seca e vibrátil, laminar. Não tem importância o modo como ele lhe trate, às vezes desconhecendo a sua ilustre pessoa. O que importa é que, uma noite, num bar, depois de uns chopes, a máscara do poeta esgarça-se num riso silencioso, que lhe vem de uma paisagem casta e longínqua na alma, e sua cabeça baixa se levanta, suas mãos mortas se reencarnam, e ele tamborila na mesa uma alegria rápida e extraordinária. E então se sabe que o poeta ama perdidamente:

Amor, a quanto me obrigas.

O poeta louco Jayme Ovalle, ou melhor, "o místico", como o chamou Manuel Bandeira, foi na minha vida um encontro de que não me esqueço. Conheci-o três dias depois de sua chegada da Europa, em casa de Schmidt. Tinha uma curiosidade enorme em vê-lo. Soube que andava fechado, não querendo receber ninguém, sofrendo as agruras da dor-sem-nome, roído de saudade da Inglaterra. Mas combinei uma tramóia com Schmidt e fui, com um ar de quem não quer. Encontrei o poeta no meio da sua garrafa de uísque, rodeado pelo grupo familial atento e respeitoso. Seu monóculo me recebeu mal, enquanto seu olho de águia me considerava com ar pouco amigável. Calei-me e fiquei quietinho, espiando passear o gênio.

Passado um tempo Ovalle sentou-se. Todos se voltaram para ele. Alguma coisa ia suceder. Mas ele limitou-se a falar fanhosamente para Schmidt: "Põe um Bachzinho aí na vitrola pra mim, põe?"

Só então se virou para o meu lado. Ficou me olhando um pouco, eu gelado mas firme, sorrindo um riso covarde. Ao fim de um tempo sorriu também.

- Ele é muito bonzinho - disse, apontando-me com o dedo. - Ele é tão bonzinho que um dia... que um dia ele é capaz de sair correndo assim, compreende, sair correndo assim, e aí...

Mas não cheguei a saber o que ia acontecer comigo no fim da corrida. Schmidt voltava com um livro de poemas do poeta, poemas ingleses, feitos na sua amada Londres. Ovalle relutou um pouco, mas acabou lendo quase tudo. Eu fiquei ouvindo sem compreender muita coisa, mas compreendo muita coisa do homem a que ouvia. Ovalle chorou, ajoelhou-se, às vezes se curvava até o chão para em seguida saltar como um calunga doido, falava música, fazia gestos tão patéticos que parecia querer se agarrar ao xale invisível de Nossa Senhora.

Juro que fiquei fisicamente cansado da emoção. Quando resolvi sair, o poeta quis vir comigo. E fomos juntos por Copacabana afora. Depois entramos num táxi para a cidade. Na cidade pusemo-nos a beber - e bebemos tanto que nem as estrelas do céu ou os peixinhos do mar fariam conta do que bebemos. A madrugada nos encontrou na Lapa, comendo um filé à moda com vinho verde. A expressão do poeta sossegara muito, e ele agora me contava sobre as coisas do mistério, num tom simples e persuasivo. Ouvi de sua boca a explicação integral da famosa Gnomonia. Ouvi-o falar de Bach e Beethoven. Ouvi-o exaltar as mulheres da vida. Mais tarde, às sete horas da manhã, assisti ao seu encontro com Manuel Bandeira, encontro emocionante, depois de quatro anos de ausência, e um pequena rusga. Do quarto de Manuel fui para a Censura Cinematográfica, onde dormi durante a projeção um sono de duas horas e liberei todas as fitas.

Até hoje, quando nos encontramos, sinto entre nós a fidelidade a esse primeiro encontro. Descobrimos coisas, fazemos caso de tudo, nunca há silêncio entre nós.

Meu amigo Pedro Nava, ou melhor, o dr. Pedro Nava, é um grande poeta brasileiro que também é médico. Um olho clínico, como dizem seus colegas. E eu digo amém, porque Pedro Nava é o meu médico. Já me diagnosticou uma apendicite, e guardo bem a lembrança - a última lembrança ao ser anestesiado - de seu olho clínico posto em tristeza diante da possibilidade de um trespasse meu. Pedro Nava, sendo como é meu amigo, contou-me mais tarde o medo que tivera que eu morresse, não tanto porque fosse eu paciente, mas porque era seu amigo. É verdade que se morre muito nesse negócio de operação, por mais que o cirurgião seja hábil, como era no meu caso. Tive um medo póstumo, quando o poeta me fez ver essa possibilidade.

Mas já que se falou em morrer, em se tratando de Morte o poeta Pedro Nava comparece e fica triste. Porque se trata de um ser votado à Morte, tanto em sua profissão, onde luta exemplarmente contra ela, como em sua poesia, onde é todo dela. Pedro Nava é o criador da idéia sinistra do defunto que todos nós carregamos conosco, a quem damos de comer e beber e para quem arranjamos mulher; defunto que se senta, se levanta, anda na rua, vai ao cinema, escova os dentes e, no fim da noite, se deita imóvel para imitar o descanso eterno.

Como se pode deduzir, Pedro Nava é um ser terrível, um perturbador da ordem, um russo. É o poeta russo Pedro, o grande. Só se sente bem ou no seu hospital, onde combate, com uma prudência de conhecedor a fundo, todos os candidatos à Morte; ou perturbando a alma alheia com sua grande tristeza - e por que não dizer dor-de-corno? - sua ternura úmida e animal de mastim fiel, e sua poesia lancinante.

É um grande Pedro! Travei relações com ele em casa de Rodrigo Mello Franco de Andrade - esse Rodrigo cuja amizade é para mim uma coisa extrema na vida - e o poeta batalhou para me manter a distância. Não queria mais saber de amigos, que são criaturas que atrapalham muito, sofrem, adoecem, morrem, é o diabo!

Mas pouco a pouco venci o poeta. Hoje ele é um desses quatro ou cinco que já não distingo mais em meu sentimento. É um homem espantosamente rico e inteligente. Não há balda, como se diz em Minas, que lhe passe. Sua capacidade inventiva, no domínio da psicologia lírica, é assombrosa. Marca não importa quem, com dois ou três traços essenciais. Sua poesia bissexta, como se diz, segundo a expressão de Prudente de Morais Neto - porque vem de raro em raro -, é excelente. Quem não leu "O defunto" não sabe o que é sugestão de morte. É o poema mais "incômodo" que há. Perturba o tempo todo, irremediavelmente.

Quando morto estiver meu corpo
Evitem os inúteis disfarces...

E por fim meu primo, meu amado primo, que também é Pedro e é o anjo dos "Dantas" - Prudente de Morais Neto. É preciso concentrar-se muito para dizer a menor das suas qualidades. Sua poesia - que ele chama bissexta - é o próprio lirismo. É um canto japonês. É o saquê. E fica-se sem saber o que admirar mais nesse homem: se essa alma que aninha tudo com o mesmo amor, o bem e o mal, o puro e o impuro; ou o seu espírito lógico, que separa com precisão matemática o justo do injusto, embora justificando a ambos.

Quem o vê a primeira vez pode bem achá-lo bobo - e muitos bobos têm caído nessa esparrela. Se eu tivesse que "procurar-lhe o bicho", diria talvez que Prudente parece um bom chantecler, com seu topete, seu olho azul, sua cabeça que lhe movimenta todo o corpo ao se voltar, e esse corpão genial, terne, terno, túmulo ideal para as confidências, os segredos, os sentimentos mais íntimos, as paixões mais puras, as contemplações mais extáticas.

Porque esse homem, de aparência burguesa e de inteligência prática, é um contemplativo. Não se irrita, não quer mal a ninguém, perdoa a injustiça que lhe fazem. Mas é justo e preciso como a luz elétrica. Não fica escaninho que lhe passe despercebido quando se volta para o julgamento de alguém ou de alguma coisa. Não tolera a mentira ou o engano. Prefere sofrer os males de uma verdade desnecessária que o remorso de uma mentira generosa. E isso não porque se ache demasiado íntegro diante da vida. Porque o erro o nauseia e desequilibra. Seu caminho é um doce movimento para a frente, um doce movimento de braços abertos.

Eu vos incito a amá-lo muito, vós que o não conheceis ou o admirais apenas. Não importa a posição em que estejais, direita, esquerda, centro avante, ou retaguarda. É preciso amá-lo com o maior carinho, com maior doçura e deixar que ele vos ame também, porque a glória desse mundo é pouca e o amor desse homem é uma grande glória.

Mas estou me tornando patético. Ou não estou? Não sei. Sei de uma coisa: que Prudente de Morais Neto, o criador da Cachorra, sobrinho de Manuel Bandeira e meu primo pelo coração, foi o homem mais exato que já vi até hoje. E a propósito disto, cabe uma consideração.

Que grupo excelente fazem todos esses homens! Olhem que estive viajando, conhecendo gente nova, tive contato com grandes poetas ingleses, ouvi-os falarem, vi outros grupos de homens de espírito; mas nada assim como eles. Essa força lírica, essa poesia magistral que estão criando para o Brasil, esse impacto de ternura e sordidez, essa coragem diante da vida, essa modéstia real, esse socorro mútuo, essa discrição e esse escândalo com que vivem, só os encontrei neles, aqui entre nós, nesses pequenos grupos dentro do grande Grupo. E faz um bem terrível pensar nisso. Que onde quase todos esperam recompensas, esses homens não esperam nada, apenas a fidelidade mútua. Que onde quase todos usam de processos turvos, muitas vezes inconfessáveis, esses homens agem limpamente, sem sequer se dar conta disso. Vivem em meio à ganância geral com armas desiguais, senão desarmados.

São almas caríssimas, perfeitas de sentimento. Quando se queixam o fazem na melhor poesia, mas porque o fazem assim se queixam pouco. Não transigem com a má literatura: sabem esperar o amadurecimento da palavra a fim de que ela não traga engano. E são homens que se iludem, sujeitos às mesmas tentações e às mesmas quedas, com a mesma sensação da própria fraqueza e da própria sordidez.

Mas neles até a sordidez é inefável. Eis o que os diferença. Neles a sordidez se transforma em poesia e a poesia em canto. E não é essa a maior grandeza do poeta? É possível ser-se poeta sem ser sórdido?