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domingo, maio 11, 2014

Porque estigmatizam o psiquiatra. Marcelo Ferreira Caixeta. Medicina

PORQUE SEU PACIENTE ( e você também ) ESTIGMATIZAM O PSIQUIATRA ( "todo paciente que eu encaminho me diz : "você está me encaminhando para médico de "doidos"?)
Marcelo Ferreira Caixeta

1) Não pensem que vou "puxar a sardinha" pro meu lado. A culpa, primeiramente, é de nós psiquiatras mesmos. 1.a. ) Durante muitos anos, no Brasil, ficamos "ganhando dinheiro" em hospícios superlotados, "depósitos de gente", "queimando nosso filme" e dando grana para "empresários da saúde". 1.b.) Ainda hoje, mantemos a postura de "frios", "pouco sensíveis". 1.c ) truculentos : "só sabem tacar remédio na gente", "só sabem dopar", "ele me disse : eu não converso sobre isto, vou lhe encaminhar para a psicóloga". 1.d. ) inaptos para as necessidades dos pacientes : "aquele médico que o senhor me encaminhou, doutor, me mandou uns comprimidos que eu capotei três dias e tres noites seguidos. 1.e) desinteressados pelo que é "humano" : já me recebe com a receita na mão, após 3 minutos de conversa. 1.d.) Ainda agora, no Governo, aceitamos , nos Caps, sermos os "apêndices prescritores" dos paramédicos, estes os verdadeiros "humanos" ( nós só aparecemos para "dopar quem tá doido"). 1.f. ) aceitamos empregos, em hospitais, governos, empresas, que não nos dão o menor tempo para "conversar com o paciente", somos "tocadores de serviço" e, mais uma vez, "dopadores".
2) Portanto, antes de encaminhar , procure conhecer um médico psiquiatra que não "dope", não seja "frio", que converse, que não "pese a mão" . É claro que , pelo SUS, você não vai ter isto, mas vá educando seu paciente de que tudo que é bom demanda custos.
3) Explique que está encaminhando para um médico especialista em problemas "emocionais", "problemas psicológicos", "problemas psicossomáticos", " problemas psicoterápicos", "medicina psicológica", "psicologia médica" , médico psicoterapeuta, médico especialista em problemas psicológicos, problemas de comportamento( repito, para isto, você, de FATO, tem de encaminhar para um psiquiatra que preste, senão, além de propaganda enganosa, você vai queimar seu filme com o paciente).
4) Procure também colegas que trabalhem em ambientes "não-psiquiátricos", ou seja, lugares sem estigma, limpos, alegres, sem "loucos babando pelo chão", sem "loucos presos em celas". Há muitos psiquiatras, eu inclusive, que trabalham em locais que em nada diferem de outros consultórios e de outros hospitais, inclusive, no local onde trabalho, evito que se tenha o nome "psiquiatra" ou "psiquiatria" escrito em qualquer lugar, pois reconheço que o estigma é enorme.
4) Se o paciente perguntar se você está encaminhando para médicos de doidos, diga que o " especialista médico em problemas psicológicos" lida , na maioria das vezes, com pessoas normais, que não tem nada de "doido", lida com depressões, ansiedades, fobias, problemas emocionais que não têm nada de doido.
5) Se o paciente ainda bater o pé contra, pode dizer que, "queira ou não, agradando ou não, é o tipo de médico que está mais capacitado, na teoria e na prática, para lidar com problemas do tipo do que você está apresentando". "Eu poderia encaminhar você para um médico que não é psiquiatra, mas não iria resolver seu problema".
6) Como reconhecer um bom psiquiatra ? a) que seja humano, paciente, calmo, goste de conversar, de preferencia alegre, de bom-humor, camarada, simples, amigo, sincero. b) que não seja um tarado que vai sair cantando todo mundo ( há muitos "colegas" que se aproveitam das fragilidades emocionais-sexuais dos pacientes ). c) que não seja um mercenário, pois estes geralmente são ou frios ou falsos. d) que não seja mão-pesada e goste de dopar. e) que tenha tido uma boa formação, o que inclui no mínimo dois anos de estágio hospitalar psiquiátrico ( só ambulatório não forma psiquiatras competentes, pois os casos graves só baixam no hospital ). f) que faça psicoterapia com seus pacientes ( isto implica que, quando um paciente queira conversar com ele , o psiquiatra não o "mande falar com a psicóloga").
7) É importante notar-se que ninguém gosta de ser chamado ou tido como "doido", isto diminui a pessoa, discrimina, estigmatiza, é um "xingamento". Por isto é importante informar que o "médico especialista em problemas emocionais para quem eu lhe estou encaminhando lida com pessoas , pacientes, que não são doidos, não tem nada a ver com loucura".
8 ) Caso não haja psiquiatras suficientes, há maneiras muito fáceis de formá-los, basta que façam estágios hospitalares em locais adequados. Isto gera um grande problema, que eu vivo na pele. Médicos recém-formados que me pedem estágio vão um dia ou dois, mas depois, movidos pela proverbial ganância médica, começam a ganhar dinheiro em Caps ou em plantões ou em hospitais e locais sem orientação , e abandonam qualquer formação mais séria ( repito, demanda no minimo dois anos de prática hospitalar pesada ). Estes eu os encontro depois de 6 anos, "fazem a prova-de-título da Assoc.Bras.Psiquiatria" , que é uma "manha" ( pelo menos tem sido até hoje, inclusive prova puramente teórica ) , e acabam "virando psiquiatras" sem a menor formação adequada.

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