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quinta-feira, maio 31, 2012

Lula está virando um peso para Dilma. Arthur Virgílio

O ambiente exige respeito, já dizia Billy Blanco referindo-se a gafieiras.

Aracy De Almeida - Palpite Infeliz. 1936

Rubem Alves. Crônica.

"Mesmo o mais corajoso entre nós só raramente tem coragem para aquilo que ele realmente conhece", observou Nietzsche.
É o meu caso.
Muitos pensamentos meus, eu guardei em segredo. Por medo.

Alberto Camus, leitor de Nietzsche, acrescentou um detalhe acerca da hora em que a coragem chega:
"Só tardiamente ganhamos a coragem de assumir aquilo que sabemos".
Tardiamente. Na velhice. Como estou velho, ganhei coragem.

Vou dizer aquilo sobre o que me calei:
"O povo unido jamais será vencido", é disso que eu tenho medo.

Em tempos passados, invocava-se o nome de Deus como fundamento da ordem política. Mas Deus foi exilado e o "povo" tomou o seu lugar: a democracia é o governo do povo.
Não sei se foi bom negócio; o fato é que a vontade do povo, além de não ser confiável, é de uma imensa mediocridade. Basta ver os programas de TV que o povo prefere.

A Teologia da Libertação sacralizou o povo como instrumento de libertação histórica.
Nada mais distante dos textos bíblicos.
Na Bíblia, o povo e Deus andam sempre em direções opostas.
Bastou que Moisés, líder, se distraísse na montanha para que o povo, na planície, se integrasse à adoração de um bezerro de ouro.
Voltando das alturas, Moisés ficou tão furioso que quebrou as tábuas com os Dez Mandamentos.

E a história do profeta Oséias, homem apaixonado!
Seu coração se derretia ao contemplar o rosto da mulher que amava!
Mas ela tinha outras ideias. Amava a prostituição. Pulava de amante e amante enquanto o amor de Oséias pulava de perdão a perdão.
Até que ela o abandonou.
Passado muito tempo, Oséias perambulava solitário pelo mercado de escravos. E o que foi que viu? Viu a sua amada sendo vendida como escrava. Oséias não teve dúvidas. Comprou-a e disse: "Agora você será minha para sempre.".
Pois o profeta transformou a sua desdita amorosa numa parábola do amor de Deus.
Deus era o amante apaixonado. O povo era a prostituta. Ele amava a prostituta, mas sabia que ela não era confiável.
O povo preferia os falsos profetas aos verdadeiros, porque os falsos profetas lhe contavam mentiras.
As mentiras são doces; a verdade é amarga.

Os políticos romanos sabiam que o povo se enrola com pão e circo.
No tempo dos romanos, o circo eram os cristãos sendo devorados pelos leões.
E como o povo gostava de ver o sangue e ouvir os gritos!
As coisas mudaram.
Os cristãos, de comida para os leões, se transformaram em donos do circo.
O circo cristão era diferente: judeus, bruxas e hereges sendo queimados em praças públicas.
As praças ficavam apinhadas com o povo em festa, se alegrando com o cheiro de churrasco e os gritos.

Reinhold Niebuhr, teólogo moral protestante, no seu livro "O Homem Moral e a Sociedade Imoral" observa que
os indivíduos, isolados, têm consciência. São seres morais.
Sentem-se "responsáveis" por aquilo que fazem.
Mas quando passam a pertencer a um grupo, a razão é silenciada pelas emoções coletivas.
Indivíduos que, isoladamente, são incapazes de fazer mal a uma borboleta, se incorporados a um grupo tornam-se capazes dos atos mais cruéis.
Participam de linchamentos, são capazes de pôr fogo num índio adormecido e de jogar uma bomba no meio da torcida do time rival.
Indivíduos são seres morais.
Mas o povo não é moral. O povo é uma prostituta que se vende a preço baixo.

Seria maravilhoso se o povo agisse de forma racional, segundo a verdade e segundo os interesses da coletividade.
É sobre esse pressuposto que se constrói a democracia.
Mas uma das características do povo é a facilidade com que ele é enganado.
O povo é movido pelo poder das imagens e não pelo poder da razão.
Quem decide as eleições e a democracia são os produtores de imagens.
Os votos, nas eleições, dizem quem é o artista que produz as imagens mais sedutoras.

O povo não pensa. Somente os indivíduos pensam.
Mas o povo detesta os indivíduos que se recusam a ser assimilados à coletividade.
Uma coisa é a massa de manobra sobre a qual os espertos trabalham.

Nem Freud, nem Nietzsche e nem Jesus Cristo confiavam no povo.
Jesus foi crucificado pelo voto popular, que elegeu Barrabás.
Durante a revolução cultural, na China de Mao-Tse-Tung, o povo queimava violinos em nome da verdade proletária.
Não sei que outras coisas o povo é capaz de queimar.
O nazismo era um movimento popular. O povo alemão amava o Führer.

O povo, unido, jamais será vencido!
Tenho vários gostos que não são populares. Alguns já me acusaram de gostos aristocráticos. Mas, que posso fazer?
Gosto de Bach, de Brahms, de Fernando Pessoa, de Nietzsche, de Saramago, de silêncio; não gosto de churrasco, não gosto de rock, não gosto de música sertaneja, não gosto de futebol.
Tenho medo de que, num eventual triunfo do gosto do povo, eu venha a ser obrigado a queimar os meus gostos e a engolir sapos e a brincar de "boca-de-forno", à semelhança do que aconteceu na China.
De vez em quando, raramente, o povo fica bonito.
Mas, para que esse acontecimento raro aconteça, é preciso que um poeta entoe uma canção e o povo escute:
"Caminhando e cantando e seguindo a canção.".
Isso é tarefa para os artistas e educadores.

O povo que amo não é uma realidade, é uma esperança.

Rubem Alves

Soneto. Fagundes Varela.

SONETO
Fagundes Varela

Desponta a estrela d'alva, a noite morre.
Pulam no mato alígeros cantores,
E doce a brisa no arraial das flores
Lânguidas queixas murmurando corre.

Volúvel tribo a solidão percorre
Das borboletas de brilhantes cores;
Soluça o arroio; diz a rola amores
Nas verdes balsas donde o orvalho escorre.

Tudo é luz e esplendor; tudo se esfuma
Às carícias da aurora, ao céu risonho,
Ao flóreo bafo que o sertão perfuma!

Porém minh'alma triste e sem um sonho
Repete olhando o prado, o rio, a espuma:
- Oh! mundo encantador, tu és medonho!

Olavo de Carvalho fala sobre Religião e Sociedades Secretas


Neste sexto bate-papo (lado A) com o escritor Yuri Vieira, o filósofo Olavo de Carvalho discorre sobre os seguintes temas: Islã, Frithjof Schuon, religião comparada, judaísmo/hinduísmo/budismo, Conceito de religião, revelação e doutrina, Cristianismo, o indiví­duo, fé e crença, a filosofia perene, Martin Heidegger, religião evolutiva?, Islã e terrorismo, queda do Império Romano, os feudos, a Igreja Católica, racionalismo e moral cristã, Emmanuel Swedenborg, a Bí­blia, ateus, sociedades secretas, Maçonaria, os Illuminati, René Guénon, o caos e a unidade do Islã, califado mundial, etc.

A perdição do salvador. Platoon Music Video - Adagio for Strings

Desejo

DESEJO
Charles Fonseca

Em minha mente, em meu ouvido interno
Vozes ressoam incessantemente
De não ao sim vindo de mim carente
Do eu profundo do desejo eterno.

Em minha mente eu a busco assim
Longe de mim embora estando perto
Corre o desejo e a vejo certo
Que só em sonho ela está em mim.

quarta-feira, maio 30, 2012

Dali: Persistência da Memória (1931) - Museu de Arte Moderna de Nova York. Pintura

Lembra-se do Mensalão e do murmurar da Cachoeira?

Assédio sexual dá em demissão no Palácio do Planalto. Ilimar Franco, O Globo Nunca antes na História deste país um funcionário do Palácio do Planalto foi demitido por assédio sexual. Aconteceu na gestão da presidente Dilma.

Quem fala muito...

Eclesiastes 12

Eclesiastes 12

Lembra-te também do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais venhas a dizer: Não tenho neles contentamento;
Antes que se escureçam o sol, e a luz, e a lua, e as estrelas, e tornem a vir as nuvens depois da chuva;
No dia em que tremerem os guardas da casa, e se encurvarem os homens fortes, e cessarem os moedores, por já serem poucos, e se escurecerem os que olham pelas janelas;
E as portas da rua se fecharem por causa do baixo ruído da moedura, e se levantar à voz das aves, e todas as filhas da música se abaterem.
Como também quando temerem o que é alto, e houver espantos no caminho, e florescer a amendoeira, e o gafanhoto for um peso, e perecer o apetite; porque o homem se vai à sua casa eterna, e os pranteadores andarão rodeando pela praça;
Antes que se rompa o cordão de prata, e se quebre o copo de ouro, e se despedace o cântaro junto à fonte, e se quebre a roda junto ao poço,
E o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu.
Vaidade de vaidades, diz o pregador, tudo é vaidade.
E, quanto mais sábio foi o pregador, tanto mais ensinou ao povo sabedoria; e atentando, e esquadrinhando, compôs muitos provérbios.
Procurou o pregador achar palavras agradáveis; e escreveu-as com retidão, palavras de verdade.
As palavras dos sábios são como aguilhões, e como pregos, bem fixados pelos mestres das assembléias, que nos foram dadas pelo único Pastor.
E, demais disto, filho meu, atenta: não há limite para fazer livros, e o muito estudar é enfado da carne.
De tudo o que se tem ouvido, o fim é: Teme a Deus, e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo o homem.
Porque Deus há de trazer a juízo toda a obra, e até tudo o que está encoberto, quer seja bom, quer seja mau.

A História das Coisas (versão brasileira)

Antonio Canova - Letizia Ramolino Bonaparte, 1804-1807

Andre Rieu - My way

Vestibular

VESTIBULAR
Charles Fonseca

Socorro, assim o amor por ela acaba
Ao cabo assim recolho a minha vela
No cais não quero mais a mim releva
O quanto que lhe quis ao fim o nada

O quanto lhe amei cheira a sargaço
Lasso ao seu enlaço eis-me à lamela
Onde está a amada onde ela
A me nutrir ao mel após transpasso

Do seu vestíbulo estive nos umbrais
E nos seus ais estive mais que louco
Silente aos seus pedidos fiz-me mouco
E aos seus gemidos rouco entrei bem mais.

Nossa princesa. Nossa alegria.

O povo é bom. A elite, a conferir.

terça-feira, maio 29, 2012

Ato médico


Escrito por Cláudio Balduíno Souto Franzen, 2º Secretário do CREMERS e conselheiro federal pelo Rio Grande do Sul

O ano termina com algumas notícias auspiciosas para a área da saúde, algo raro neste país em que as prioridades dos governantes não são exatamente as mesmas da sociedade. O ideal seria que pudéssemos comemorar um robusto incremento de recursos no orçamento da saúde para 2010, a aprovação da Emenda 29 sem ter a reboque mais um tributo, remuneração justa e um plano de carreira para os médicos do SUS. Por enquanto, só podemos sonhar com isso.
Mesmo assim, há uma conquista que merece ser saudada e festejada, quem sabe até com direito a um brinde de champanhe na virada do ano: é a aprovação da Lei do Ato Médico pela Câmara Federal, depois de exaustivos sete anos de muito trabalho, muita mobilização da classe médica.
Mobilização que se fez necessária, porque as demais profissões da saúde se uniram contra um anseio legítimo e inalienável dos médicos: ter a sua profissão regulamentada.

Agora, mesmo com a aprovação do projeto que foi amplamente debatido até que se chegasse a um consenso, voltamos a enfrentar a resistência de quem já conseguiu regulamentar sua atividade profissional há muito tempo. Uma reação injustificável, porque o PL 7703/06 apenas assegura as prerrogativas do médico, sem interferir nos atos já consolidados dos outros profissionais do setor.
A identificação e o tratamento de doenças exigem conhecimentos específicos e preparação que são conferidos apenas pelos cursos de medicina. Todas as demais profissões merecem nosso respeito, mas questionar o direito de a medicina ter sua atividade regulamentada por lei aponta para interesses corporativistas, com resultados prejudiciais à população.
O projeto não ofende nem pretende se sobrepor às outras profissões da saúde, e isso está muito claro. O Ato Médico é, acima de tudo, um escudo de proteção para a população.
Todo esse empenho das outras categorias da saúde poderia ser canalizado para uma luta de muito maior importância, esta sim de interesse da sociedade: a regulamentação da Emenda 29, que irá destinar pelo menos R$ 5 bilhões a mais para o Sistema Único de Saúde. Podemos atuar juntos na busca de mais recursos para a saúde. O SUS consome hoje 3,5% do PIB, enquanto os demais países com sistemas de saúde semelhante investem mais de 6% do PIB.
É exclusivamente com união que poderemos convencer o governo federal a colocar a saúde como prioridade, aumentando seus recursos e melhorando o gerenciamento do sistema. No País, as entidades médicas estão unidas. No Rio Grande do Sul, Cremers, Simers e Amrigs promoveram em novembro o Fórum Pró-SUS da Região Sul. Novas ações conjuntas serão realizadas, sempre em benefício do médico e da população.
A lamentar, neste final de ano, a ausência do companheiro de tantas lutas (inclusive esta pela regulamentação da medicina), Marco Antônio Becker, que nos deixou no dia 4 de dezembro de 2008, e o fato de os responsáveis pelo hediondo crime que abreviou a vida de tão expressiva liderança médica ainda permanecerem impunes.

Astor Piazzolla y su Quinteto Tango Nuevo - Adios Nonino

Soneto de Fidelidade. Vinicius de Moraes

Soneto de Fidelidade

Vinicius de Moraes


De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Como estimular bebês?

Cliquehttp://educarparacrescer.abril.com.br/aprendizagem/como-estimular-bebes-686479.shtml

Minhas sobrinhas netas


Minhas sobrinhas netas, upload feito originalmente por Charles Fonseca.

BARBER - ADAGIO FOR STRINGS - 9/11 TRIBUTE - (ALSO USED IN THE MOVIE "PL...


LEMBRE-SE O filme sobre um pelotão de soldados Estrelas Charlie Sheen ... AQUI ESTÁ A música que UTILIZADOS NO OLHAR desolado o campo de batalha de morte e destruição. esta peça não foi escrita para o filme, mas é uma peça clássica FAMOSO LENTO PARA STRINGS . Leonard Slatkin -. CONDUTOR última noite do PROMS NO Royal Albert Hall em INGLATERRA - 2001 que foi filmado, logo após 9/11 e usado como um tributo àqueles abatidos em toda a bacia NOS EUA, no Pentágono, EO MUNDO TRADE CENTER, ea bordo o avião FORTH.

Como parar a Alienação Parental? Família


Como parar a Alienação Parental? 


Busque e Divulgue Informações


A síndrome da alienação parental é um tema bastante discutido internacionalmente e, atualmente, no Brasil também é possível encontrar vários sites sobre o assunto [Sites Sobre SAP], bem como livros [Livros] e textos [Textos sobre SAP]. 
Tenha Atitude 
Como pai/mãe 
• Busque compreender seu filho e proteja-o de discussões ou situações tensas com o outro genitor. 
• Busque auxílio psicológico e jurídico para tratar o problema. Não espere que uma situação de SAP desapareça sozinha. 
Lembre-se
A informação sobre a SAP é muito importante para garantir às crianças e adolescentes o direito ao desenvolvimento saudável, ao convívio familiar e a participação de ambos os genitores em sua vida.
A Alienação Parental não é um problema somente dos genitores separados. É um problema social, que, silenciosamente, traz conseqüências nefastas para as gerações futuras. 
Pai e Mãe, os filhos precisam de ambos! 
Estatísticas sobre a Síndrome da Alienação Parental
• 80% dos filhos de pais divorciados já sofreram algum tipo de alienação parental. [1]
• Estima-se que mais de 20 milhões de crianças sofram este tipo de violência [2]

Referências
[1] CLAWA, S.S.; RIVIN, B.V. Children Held Hostage: Dealing with Programmed and Brainwashed Children. Chicago, American Bar Association, 1991. 

[2] Dados da organização SplitnTwo [www.splitntwo.org].
[3] Gardner R. Parental Alienation Syndrome vs. Parental Alienation: Which Diagnosis Should Evaluators Use in Child-Custody Disputes?. American Journal of Family Therapy. March 2002;30(2):93-115.

http://www.alienacaoparental.com.br/o-que-e#TOC-Como-parar-a-Aliena-o-Parental-

Klimt: Beethovenfries (1902) - Sezession, Wien

Bullying contra menores pode resultar em quatro anos de prisão. Família

Clique: http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2012-05-28/bullying-contra-menores-pode-resultar-em-quatro-anos-de-prisao

Triz

TRIZ
Charles Fonseca

Quando o perdeu para sempre
Pôs seus exércitos à frente
A seu lado e por trás
A cercá-lo, quem dá mais
Por um trapo, um zumbi,
Um molambo de cerviz
Coberta por uma canga
Em seus braços falsa dama
Entregou-lhe na bandeja
‘Ela é tua’, que assim seja,
Mais que cobra jararaca
Era um pico de jaca
Mas o destino não quis
Deu-lhe amada, por um triz.

Carleton E. Watkins (1829-1916)


Oremos

Governo vai revogar arsenal de medidas em caso de colapso global

segunda-feira, maio 28, 2012

"Pois é... A VEJA já merecia uma invasão pela Polícia Federal do PT. Como que publica um negócio desses contra o poder moderador, nosso imperador (!), o nosso farol ético, a nossa lanterna de popa, o nosso guia genial dos povos?" Maroog

Vicente Celestino - O Ébrio (1946)

Evangelho
Mc:10,17-27;

17. Tendo ele saído para se pôr a caminho, veio alguém correndo e, dobrando os joelhos diante dele, suplicou-lhe: "Bom Mestre, que farei para alcançara vida eterna?"
18. Jesus disse-lhe: "Por que me chamas bom? Só Deus é bom.
19. Conheces os mandamentos: não mates; não cometas adultério; não furtes; não digas falso testemunho; não cometas fraudes; honra pai e mãe."
20. Ele respondeu-lhe: "Mestre, tudo isto tenho observado desde a minha mocidade."
21. Jesus fixou nele o olhar, amou-o e disse-lhe: "Uma só coisa te falta; vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me.
22. Ele entristeceu-se com estas palavras e foi-se todo abatido, porque possuía muitos bens.
23. E, olhando Jesus em derredor, disse a seus discípulos: "Quão dificilmente entrarão no Reino de Deus os ricos!"
24. Os discípulos ficaram assombrados com suas palavras. Mas Jesus replicou: "Filhinhos, quão difícil é entrarem no Reino de Deus os que põem a sua confiança nas riquezas!
25. É mais fácil passar o camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar o rico no Reino de Deus."
26. Eles ainda mais se admiravam, dizendo a si próprios: "Quem pode então salvar-se?"
27. Olhando Jesus para eles, disse: "Aos homens isto é impossível, mas não a Deus; pois a Deus tudo é possível.

Pierre Le Gros, 1695-99 Religião Derrubar heresia e ódio Escultura

'Está errado', diz ministro sobre reunião de Mendes com Lula

Clique: http://www1.folha.uol.com.br/poder/1096512-esta-errado-diz-ministro-sobre-reuniao-de-mendes-com-lula.shtml

Ernst: Europa Depois da Chuva II (1942) - Sumner Collection, Hartford

Se ainda fosse presidente da República, esse comportamento seria passível de impeachment por configurar infração político-administrativa, em que seria um chefe de poder tentando interferir em outro. Celso de Melo, o ministro mais antigo do STF, sobre a conversa de Lula com o ministro Gilmar Mendes

A oratória do padre Antonio Vieira.

«É a guerra aquele monstro que se sustenta das fazendas, do sangue, das vidas, e, quanto mais come e consome, tanto menos se farta. É a guerra aquela tempestade terrestre que leva os campos, as casas, as vilas, os castelos, as cidades, e talvez em um momento sorve os reinos e monarquias inteiras. É a guerra aquela calamidade composta de todas as calamidades em que não há mal nenhum que ou se não padeça, ou se não tema, nem bem que seja próprio e seguro: — o pai não tem seguro o filho; o rico não tem segura a fazenda; o pobre não tem seguro o seu suor; o nobre não tem segura a honra; o eclesiástico não tem segura a imunidade; o religioso não tem segura a sua cela; e até Deus, nos templos e nos sacrários, não está seguro.»

Padre António Vieira , s.XVII

Um bom casamento. A maior dádiva que você pode desejar.

Symphony No. 9 (Ludwig van Beethoven)

Sabiá

SABIÁ
Charles Fonseca

Delicada sabiá laranjeira
Teu canto é tão triste que nem cabe
No peito as mágoas agora a mim trazes
Teu doce canto ouço vez primeira.

Quem sabe que lembranças em teu canto
Então tu me trazes já tão sofrida
De outros jardins, aqui tens querida
Outro teu par a te enxugar o pranto.

Também venho de outros pomares
De outros lugares foi triste o expulso
Tu chegas a mim e já não soluço
Chego-me a ti em ternos trinares.

domingo, maio 27, 2012

Coração Bobo - Alceu Valença e Zé Ramalho ao vivo

O que é científico? Rubem Alves.

O que é científico?
Rubem Alves

Era uma vez um jovem que amava xadrez. Sua vocação era o xadrez. Jogar xadrez lhe dava grande prazer. Queria passar a vida jogando xadrez. Nada mais lhe interessava. Só lia livros de xadrez. Estudava as partidas dos grandes mestres. Só conversava sobre xadrez. Quando era apresentado a uma pessoa sua primeira pergunta era: Você joga xadrez? Se a pessoa dizia que não ele imediatamente se despedia. Tornou-se um grande mestre. Mas o seu sonho era ser campeão.
Derrotar o computador. Até mesmo quando andava jogava xadrez. Por vezes, aos pulos para frente. Outras vezes, passinhos na diagonal. De vez em quando, dois pulos para frente e um para o lado. As pessoas normais fugiam dele porque ele era um chato. Só falava sobre xadrez. Nada sabia sobre as coisas do mundo como pombas, beijos e sambas. Não conseguia ter namoradas porque seu único assunto era xadrez. Suas cartas de amor só falavam de bispos, torres e roques. Na verdade ele não queria namoradas.
Queria adversárias. Essas coisas como jogo de damas, jogos de baralho, jogo de peteca, jogo de namoro eram inexistentes no seu mundo. Inclusive, entrou para uma ordem religiosa. Eu viajei ao lado dele, de avião, de São Paulo para Belo Horizonte. Cabeça raspada.
Durante toda a viagem rezou o terço. Não prestei atenção mas suspeito que as contas do seu terço eram peões, cavalos e bispos. Sua metafísica era quadriculada. Deus é o rei. A rainha é nossa senhora. O adversário são as hostes do inferno.
As pessoas normais brincam com muitos jogos de linguagem: jogos de amor, jogos de poder, jogos de saber, jogos de prazer. jogos de fazer, jogos de brincar. Porque a vida não é uma coisa só. A vida é uma multidão de jogos acontecendo ao mesmo tempo, uns colidindo com os outros, das colisões surgindo faiscas. Uma cabeça ligada com a vida é um festival de jogos. E é isso que faz a inteligência. Mas o nosso heroi, coitado, era cabeça de um jogo só. Jogava o tal jogo de maneira fantástica. Especializou-se. Sabia tudo sobre o assunto. E, de fato, sabia tudo sobre o mundo do xadrez. Mas o preço que pagou é que perdeu tudo sobre o mundo da vida. Virou um computador ambulante, computador de um disquete só. Disquetes são linguagens. O corpo humano, muito mais inteligente que os computadores, é capaz de usar muitos disquetes ao mesmo tempo. Ele passa de um programa para outro sem pedir licença e sem pensar. Simplesmente pula, alta.
Inteligência é isso: a capacidade de pular de um programa para outro, de dançar muitas danças ao mesmo tempo. O humor se nutre desses pulos. O riso aparece no momento preciso em que a piada faz a inteligência pular de uma lógica para uma outra. Há a piada dos dois velhinhos que foram ao gerontologista que, depois de examiná-los, prescreveu uma dieta de comidas e remédios a ser seguida por duas semanas. Passadas as duas semanas, voltaram. O resultado deixou o médico estupefato. A velhinha estava linda: sorridente, saltitante, toda maquiada. O velhinho, um caco, trêmulo, pernas bambas, dentadura frouxa, apoiado na mulher. Como explicar isso, que uma mesma receita tivesse produzido resultados tão diferentes? Depois de muito investigar o médico atinou com o acontecido. "- Mas eu mandei o senhor comer avêia três vezes por dia e o senhor comeu avéia três vezes por dia?" O riso aparece no jogo de ambiguidade entre avêia e avéia. O nosso heroi nunca ria de piadas porque ele só conhecia a lógica do xadrez, e o riso não está previsto no xadrez. A inteligência do nosso heroi não sabia pular. Ela só marchava. Faz muitos anos, um filósofo chamado Herbert Marcuse escreveu um livro ao qual deu o título de O homem unidimensional . O homem unidimensional é o homem que se especializou numa única linguagem e vê o mundo somente através dela. Para ele o mundo é só aquilo que as redes da sua linguagem pegam. O resto é irreal.

A ciência é um jogo. Um jogo com suas regras precisas. Como o xadrez. No jogo do xadrez não se admite o uso das regras do jogo de damas. Nem do xadrez chinês. Ou truco. Uma vez escolhido um jogo e suas regras, todos os demais são excluidos. As regras do jogo da ciência definem uma linguagem. Elas definem, primeiro, as entidades que existem dentro dele. As entidades do jogo de xadrez são um tabuleiro quadriculado e as peças. As entidades que existem dentro do jogo lingüístico da ciência são, segundo Carnap, "coisas-físicas", isso é, entidades que podem ser ditas por meio de números. Esses são os objetos do léxico da ciência. Mas a linguagem define também uma sintaxe, isso é, a forma como as suas entidades se movem. Os movimentos das peças do xadrez são definidos com rigor. E assim também são definidos os movimentos das coisas físicas do jogo da ciência.
Kuhn, no seu livro Estrutura das Revoluções Científicas, diz que os cientistas fazem ciência pelos mesmos motivos que os jogadores de xadrez jogam xadrez: querem todos provar-se "grandes mestres".
Para se atingir o nível de "grande mestre" no xadrez ou na ciência é necessária uma dedicação total. Conselho ao cientista que pretende ser "grande mestre": lembre-se de que, enquanto você gasta tempo com literatura, poesia, namoro, em conversas no bar DALI, há sempre um japonês trabalhando no laboratório noite adentro . É possível que ele esteja pesquisando o mesmo problema que você. Se ele publicar os resultados da pesquisa antes de você, ele, e não você, será o "grande mestre."
O pretendente ao título de "grande mestre" deve se dedicar de corpo e alma ao jogo da ciência. O cientista que assim procede ficará com conhecimentos cada vez mais refinados na sua área de especialização: ele conhecerá cada vez mais de cada vez menos. Mas, à medida que o seu "software" de linguagem científica se expande, os outros "softwares" vão se atrofiando. Por inatividade. O cientista se transforma num "homem uni-dimensional": vista apurada para explorar a sua caverna, denominada "área de especialização", mas cego em relação a tudo o que não seja aquilo previsto pelo jogo da ciência. Sua linguagem é extremamente eficaz para capturar objetos físicos. Totalmente incapaz de capturar relações afetivas. Se não houvesse homens no mundo, se o mundo fosse constituido apenas de objetos, então a linguagem da ciência seria completa. Acontece que os seres humanos amam, riem, têm medo, esperanças, sentem a beleza, apaixonam-se por ideais. Meteoros são objetos físicos. Podem ser ditos com a linguagem da ciência. A ciência os estuda e examina a possibilidade de que, eventualmente, um deles venha a colidir com a terra.
Dizem, inclusive, que foi um evento assim que pôs fim aos dinossauros. A paixão dos homens pelos ideais não é um objeto físico. Não pode ser dita com a linguagem da ciência. No entanto, ela é um não-objeto que têm poder para se apossar dos homens que, por causa dela se tornam heróis ou vilões, fazem guerra e fazem paz. Mas um projeto de pesquisa sobre a paixão dos homens pelos idéias não é admissível na linguagem da ciência. Não não seria aceito para ser publicado numa revista científica indexada internacional. Não é científico.
A ciência é muito boa - dentro dos seus precisos limites. Quando transformada na única linguagem para se conhecer o mundo, entretanto, ela pode produzir dogmatismo, cegueira e, eventualmente, emburrecimento.

Oscar Peterson - Hymn to Freedom

Uma Saudade... Mario Quintana.

Uma Saudade...
Mário Quintana

Sou do tempo em que ainda se faziam visitas. Lembro-me de minha mãe mandando a gente caprichar no banho porque a família toda iria visitar algum conhecido. Íamos todos juntos, família grande, todo mundo a pé. Geralmente, à noite.
Ninguém avisava nada, o costume era chegar de paraquedas mesmo. E os donos da casa recebiam alegres a visita. Aos poucos, os moradores iam se apresentando, um por um.
– Olha o compadre aqui, garoto! Cumprimenta a comadre.
E o garoto apertava a mão do meu pai, da minha mãe, a minha mão e a mão dos meus irmãos. Aí chegava outro menino. Repetia-se toda a diplomacia.
– Mas vamos nos assentar, gente. Que surpresa agradável!
A conversa rolava solta na sala. Meu pai conversando com o compadre e minha mãe de papo com a comadre. Eu e meus irmãos ficávamos assentados todos num mesmo sofá, entreolhando- nos e olhando a casa do tal compadre. Retratos na parede, duas imagens de santos numa cantoneira, flores na mesinha de centro... casa singela e acolhedora. A nossa também era assim.
Também eram assim as visitas, singelas e acolhedoras. Tão acolhedoras que era também costume servir um bom café aos visitantes. Como um anjo benfazejo, surgia alguém lá da cozinha – geralmente uma das filhas – e dizia:
– Gente, vem aqui pra dentro que o café está na mesa.
Tratava-se de uma metonímia gastronômica. O café era apenas uma parte: pães, bolo, broas, queijo fresco, manteiga, biscoitos, leite... tudo sobre a mesa.
Juntava todo mundo e as piadas pipocavam. As gargalhadas também. Pra que televisão? Pra que rua? Pra que droga? A vida estava ali, no riso, no café, na conversa, no abraço, na esperança... Era a vida respingando eternidade nos momentos que acabam.... era a vida transbordando simplicidade, alegria e amizade...
Quando saíamos, os donos da casa ficavam à porta até que virássemos a esquina. Ainda nos acenávamos. E voltávamos para casa, caminhada muitas vezes longa, sem carro, mas com o coração aquecido pela ternura e pela acolhida. Era assim também lá em casa. Recebíamos as visitas com o coração em festa.. A mesma alegria se repetia. Quando iam embora, t ambém ficávamos, a família toda, à porta. Olhávamos, olhávamos... até que sumissem no horizonte da noite.
O tempo passou e me formei em solidão. Tive bons professores: televisão, vídeo, DVD, e-mail... Cada um na sua e ninguém na de ninguém. Não se recebe mais em casa. Agora a gente combina encontros com os amigos fora de casa:
– Vamos marcar uma saída!... – ninguém quer entrar mais.
Assim, as casas vão se transformando em túmulos sem epitáfios, que escondem mortos anônimos e possibilidades enterradas. Cemitério urbano, onde perambulam zumbis e fantasmas mais assustados que assustadores.
Casas trancadas.. Pra que abrir? O ladrão pode entrar e roubar a lembrança do café, dos pães, do bolo, das broas, do queijo fresco, da manteiga, dos biscoitos do leite....

"Não deixe de fazer algo que gosta, devido á falta de tempo, pois a única falta que terá será esse tempo que, infelizmente, não voltará mais".

Desconhecido - Monumento de Luís XII e Anne de Bretagne Abbey Church - Saint-Denis

VEJA revela a ofensiva de Lula para subjugar o STF, por Augusto Nunes

Cliquehttp://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/

3. Salmos

Salmos, 3

1. Salmo de Davi, quando fugia de Absalão, seu filho.
2. Senhor, como são numerosos os meus perseguidores! É uma turba que se dirige contra mim.
3. Uma multidão inteira grita a meu respeito: Não, não há mais salvação para ele em seu Deus!
4. Mas vós sois, Senhor, para mim um escudo; vós sois minha glória, vós me levantais a cabeça.
5. Apenas elevei a voz para o Senhor, ele me responde de sua montanha santa.
6. Eu, que me tinha deitado e adormecido, levanto-me, porque o Senhor me sustenta.
7. Nada temo diante desta multidão de povo, que de todos os lados se dirige contra mim.
8. Levantai-vos, Senhor! Salvai-me, ó meu Deus! Feris no rosto todos os que me perseguem, quebrais os dentes dos pecadores.
9. Sim, Senhor, a salvação vem de vós. Desça a vossa bênção sobre vosso povo.

[José Dirceu está] desesperado. Lula, sobre o estado de ânimo do seu ex-auxiliar à medida em que se aproxima o julgamento do mensalão.

Eu te darei bem mais...- Moacir Franco

PÉTALA. Charles Fonseca,Poesia


PÉTALA
Charles Fonseca

Uma pétala que caia
Da corola que balouça
No ar sem que se ouça
De ti flor, ai, não me esvaia

Um ai em mim eu soluço
No incerto do destino
És flora não te vás indo
Imploro a ti convulso

Não te vás agora flor
Eu tristonho colibri
Sozinho adejo a ti
Se te vais esvaio em dor.

Michelangelo: Il Giudizio Universale / Universal Julgamento (1541) - Capela Sistina, Roma Pintura

Você acredita?


Jobim nega pressão de Lula sobre STF para adiar julgamento do mensalão

sábado, maio 26, 2012

Igreja do Bomfim no início. Cidade do Salvador, Bahia.

Caetano Veloso - Você é linda

"Não é mais possível separar o joio do joio, numa plantação em que não há trigo. Resta apenas o silêncio e o esvaziamento da CPI, promovido pela maioria governista. Transformar a CPI do Cachoeira numa cascata. É o que está em pauta. Ruy Fabiano

E agora?

Lula pressiona ministro do STF para adiar julgamento do mensalão

Clique: http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2012/05/26/lula-pressiona-ministro-do-stf-para-adiar-julgamento-do-mensalao-447325.asp
154. O ato de fé só é possível pela graça e pelos auxílios interiores do Espírito Santo. Mas não é menos verdade que crer é um acto autenticamente humano. Não é contrário nem à liberdade nem à inteligência do homem confiar em Deus e aderir às verdades por Ele reveladas. Mesmo nas relações humanas, não é contrário à nossa própria dignidade acreditar no que outras pessoas nos dizem acerca de si próprias e das suas intenções, e confiar nas suas promessas (como, por exemplo, quando um homem e uma mulher se casam), para assim entrarem em mútua comunhão. Por isso, é ainda menos contrário à nossa dignidade «prestar, pela fé, submissão plena da nossa inteligência e da nossa vontade a Deus revelador» (18) e entrar assim em comunhão intima com Ele.
Catecismo

Chega de PT. Senador Aécio Neves (PSDB-MG), assumindo o papel de candidato do partido à Presidência em 2014

Então


ENTÃO
Charles Fonseca

Não existe maior afeto
que o que se espera de um neto
nem o que nos dá um filho
até a adolescência em trilho
a não ser o de um cão pastor fiel
que te lambe a mão e é mel
mas ele é razão extinta
melhor será o de um filho aos trinta
ou então só aos quarenta
extinta a só razão, atenta,
onde à escura um coração
palpita por ele, então.

Pietro Tacca, 1608 - Monumento Equestre de Ferdinando I de Medici Piazza Santissima Annunziata, de Florença

Finalmente Pasárgada. Carlos Coqueijo. Prosa

Finalmente Pasárgada

Carlos Coqueijo



A morte ameaçava-o há bem uns cinqüenta anos. Só agora ganhou a parada. Enquanto ele folgou, nesse longo entremês para o último ato, continuou manipulando a matéria prima do seu pensamento, de onde sangrava os poemas.

E assim se fez rico, riquíssimo esse pernambucano ermitão, que acaba de desencarnar. Mas "almaticamente" — para usar do lindo neologismo recém criado por Tom Jobim — continua conosco, na cinza de todas as horas, até a consumação dos tempos.

Sua riqueza declarada são seus versos. O preço pago foi morrer, morrer sempre, sem parar, esvaindo-se, "dando à angústia de muitos uma palavra fraterna", como ele mesmo disse faz pouco tempo.

— "Eu faço versos como quem morre".

"Agora a morte pode vir — essa morte que espero desde os dezoito anos: tenho a impressão de que ela encontrará, como em Consoada está dito, a casa limpa, a mesa posta, com cada coisa em seu lugar".

Manuel Bandeira, poeta imenso, passou a limpo a história de sua vida nos poemas que cometeu. Sempre na mesma linguagem: a da poesia, em que se diz o que não se pode dizer.

Imagino que Bandeira nunca teve inimigos. Só implicava com as coisas absolutamente implicáveis.

— "Há três coisas que incompatibilizam a gente com uma pessoa. Uma é o esperanto. As outras duas são o positivismo e o xarope de groselha"!

Era um simples e um santo (há santos complicadíssimos). Seu Aqueronte seria assim: uma porção de diabinhos pregando o positivismo em esperanto e uma forte redolência de groselha, menu único em todas as refeições.

O poeta inventou a sua cidade, para onde se foi. Quem não sonha com a sua Pasárgada, numa Pérsia intangível, que a magia dos versos traz para tão perto de nós?

Lá, ele é amigo do rei. Aqui, seus milhões de herdeiros universais (basta que saibam a língua portuguesa) continuarão desfrutando o cabedal infinito da beleza que ele criou. À luz da sua poesia, espero purificar-me o suficiente para um dia merecer Pasárgada, ser amigo do rei, ter a mulher que eu quero, na cama que escolherei. E Joana a Louca da Espanha, rainha e falsa demente, virá a ser contraparente da nora que nunca tive".

Que lindo é ser Manuel Bandeira! Que eu seja amigo do amigo do Rei, é o quanto me basta.

Bosch: O Jardim das Delícias (1504) - Prado, Madrid

Não há saúde sem saúde mental. Jair de Jesus Mari.

NÃO HÁ SAÚDE SEM SAÚDE MENTAL
Folha de São Paulo

Adoecer psiquicamente não é prerrogativa da modernidade. É tão humano quanto nascer ou morrer, ter diabetes, hemorragia
Adoecer faz parte da condição humana. Quando alguém adoece, é natural que receba afeto, simpatia e compreensão para superar o problema. Mas o mesmo não acontece quando essa pessoa adoece por um transtorno mental.
A doença, nesse caso, pode ser interpretada como sinal de fraqueza, de autoflagelo, de covardia. Adoecer psiquicamente não é prerrogativa da modernidade. É tão humano quanto nascer ou morrer. O transtorno mental não escolhe nem cor de pele nem classe social. Quantos reis e rainhas fazem parte dessa lista? Quantos artistas consagrados que conseguiram realizar grandes obras apesar de seus tormentos? Que sofrimentos não experimentaram Van Gogh, Virginia Woolf e Vladimir Maiakóvski?
Estou tentando me lembrar de uma só família que tenha passado incólume por essa marca. Como convencer as pessoas de que adoecer mentalmente é tão normal quanto ter hipertensão arterial, diabetes ou hemorragia?
Em outubro de 2007, a tradicional publicação britânica "The Lancet", por obra de seu jovem e instigante editor, Richard Horton, decidiu abraçar a causa dos transtornos mentais (www.cepp.org.br/lancetconf/). A iniciativa do "Lancet" foi reforçada por um movimento intitulado "Global Mental Health Movement", que lançou um chamado para uma ação global pela ampliação dos serviços de saúde mental. Em 10 de outubro, Dia Mundial da Saúde Mental, a OMS está lançando um programa semelhante
em Genebra. A meta é que todo desvalido e marginalizado tenha seus direitos contemplados. Que todo sujeito com problema, independentemente de cor, classe e diagnóstico, tenha direito à liberdade, ao respeito e à dignidade que façam dele um semelhante, apenas diferente.
Adoecer de um transtorno mental é tão natural quanto os dizeres do verso do poeta Caetano Veloso, "de perto ninguém é normal". A estimativa é que 25% da nossa população adulta irá exigir algum tipo de cuidado de saúde mental no espaço de um ano. A magnitude dessa realidade provoca enorme descompasso entre demanda e disponibilidade de serviços, mesmo
nos países desenvolvidos.
O que dizer desse desequilíbrio nos países mais pobres? Nos últimos nos, vimos uma redução substancial dos leitos psiquiátricos no país e a introdução progressiva dos novos Caps (centros de atenção psicossocial).
Vários pacientes saíram da situação de confinamento e voltaram para casa. Os profissionais brigam entre si. Alguns defendem os hospitais, outros, o atendimento comunitário. O paciente fica no meio, à mercê da disputa.
O que mais importa é que as alternativas de tratamento, em hospitais ou em Caps, sejam humanizadas, condignas e efetivas, ou seja, compostas, de fato, de uma terapêutica especializada e de padrão internacional. Pode ser preciso estender o tratamento por toda a vida. Ah! Mas o tratamento escraviza, deixa a vítima dependente da pílula, dirão os críticos do uso
continuado, por exemplo, de medicação psicotrópica.
Sou defensor da interpretação antagônica: o tratamento liberta, deixa o sujeito em condição de respirar, de criar e até mesmo de sorrir e sonhar. O sistema de saúde mental atual tem muito a melhorar. A análise de todos os serviços e recursos humanos disponíveis por regiões do país, realizada por um grupo de trabalho recentemente, indicou várias recomendações a serem implementadas ( http://www.who.int/mental_health/who_aims_country_reports/en/index.html). Uma questão importante é a expansão do número de leitos psiquiátricos em unidades do hospital geral. Receber pessoas com transtornos mentais
em enfermarias de hospitais clínicos auxiliaria a reduzir o estigma enfrentado por pacientes e seus familiares. É também fundamental a continuidade do programa de desinstitucionalização progressiva dos pacientes remanescentes em situação asilar, sobretudo em hospitais reconhecidamente deficientes e com histórico de abuso dos direitos humanos.
Os transtornos mentais são responsáveis por 18% da sobrecarga global das doenças no país, mas contam com 2,5% do orçamento da saúde. Para um país que pretende reduzir a desigualdade social, é essencial cuidar de seus desprotegidos com dignidade. Que se amplie o financiamento à saúde em direção à oferta mais eqüitativa dos serviços destinados aos portadores de transtornos mentais, pois não há saúde sem saúde mental.

Por JAIR DE JESUS MARI
Folha de S.Paulo

sexta-feira, maio 25, 2012

Eu só quero chocolate

A sabedoria do chocolate quente

Um grupo de jovens formados e bem estabelecidos em suas carreiras, estavam conversando sobre suas vidas em uma reunião de ex-colegas.
Então decidiram que visitariam um velho professor do tempo de faculdade, agora aposentado, e que fora sempre uma inspiração para eles.
Durante a visita, o bate-papo se transformou em reclamação sobre o estresse em seus trabalhos, vidas e relacionamentos.
Ao oferecer chocolate quente aos seus visitantes, o professor foi na cozinha e retornou com uma jarra cheia de bebida e com uma variedade grande de canecos.
Alguns deles eram de porcelana, outros de vidro, outros de cristal... uns simples, outros bem caros e bonitos, e outros bem feios.
Então ele convidou cada um a se servir da bebida.
Quando todos eles já estavam com o chocolate quente em mãos, o professor compartilhou seu pensamento:
-"Percebam que todos os canecos caros e bonitos foram os escolhidos, e que os simples e baratos foram deixados na mesa?"
-"Embora vocês achem normal desejarem somente os melhores para si, é aí que está a fonte de seus problemas e estresse."
-"O caneco no qual está bebendo, não acrescenta nada à qualidade da bebida. Na maioria das vezes, ele é apenas mais caro. Às vezes, ele até esconde o que estamos bebendo."
-"O que cada um de vocês queria, na verdade, era chocolate quente. Vocês não queriam o caneco... mas vocês inconscientemente escolheram os melhores."
-"E logo vocês começaram a olhar uns para os canecos dos outros."
_"Agora amigos, por favor, considerem o seguinte:
-"A vida é o chocolate quente. Seu emprego, seu dinheiro, e sua posição na sociedade são os canecos."
_"Eles são apenas ferramentas que fazem parte da vida."
-"Os canecos que vocês tem em mãos, não definem nem mudam a qualidade de vida que vocês vivem."
-"Às vezes, ao nos concentrarmos somente no caneco, deixamos de saborear o chocolate quente que Deus tem nos ofertado."
-"Lembrem-se sempre disto: - Deus provê o chocolate. Ele não escolhe o caneco."

-"As pessoas mais felizes não são as que tem o melhor de tudo.
Mas simplesmente as que fazem o melhor de tudo que têm!
Vivam simplesmente. Amem generosamente. Cuidem-se imensamente.
Falem bondosamente.
Deixem o resto com Deus.
E lembrem-se:
- Os mais ricos não são os que têm mais,mas os que precisam de menos.

Aproveitem seu chocolate quente!!!
(autor desconhecido)

Also Sprach Zarathustra - Tone Poem for Large Orchestra, Op.

Clique: http://grooveshark.com/#!/s/Also+Sprach+Zarathustra+Tone+Poem+For+Large+Orchestra+Op/2CLXey?src=5

A queda de Collor

Clique:  http://blogs.estadao.com.br/radar-politico/2012/05/25/ha-20-anos-denuncia-explosiva-abria-caminho-para-o-impeachment-de-fernando-collor/

Ninguém pode ser obrigado a cavar o túmulo de sua própria imagem. Charles Fonseca.

Cidade do alaga a dor da baia de todos os prantos

2. Salmo

Salmos, 2

1. Por que tumultuam as nações? Por que tramam os povos vãs conspirações?
2. Erguem-se, juntos, os reis da terra, e os príncipes se unem para conspirar contra o Senhor e contra seu Cristo.
3. Quebremos seu jugo, disseram eles, e sacudamos para longe de nós as suas cadeias!
4. Aquele, porém, que mora nos céus, se ri, o Senhor os reduz ao ridículo.
5. Dirigindo-se a eles em cólera, ele os aterra com o seu furor:
6. Sou eu, diz, quem me sagrei um rei em Sião, minha montanha santa.
7. Vou publicar o decreto do Senhor. Disse-me o Senhor: Tu és meu filho, eu hoje te gerei.
8. Pede-me; dar-te-ei por herança todas as nações; tu possuirás os confins do mundo.
9. Tu as governarás com cetro de ferro, tu as pulverizarás como um vaso de argila.
10. Agora, ó reis, compreendei isto; instruí-vos, ó juízes da terra.
11. Servi ao Senhor com respeito e exultai em sua presença; prestai-lhe homenagem com tremor, para que não se irrite e não pereçais quando, em breve, se acender sua cólera. Felizes, entretanto, todos os que nele confiam.

A Primeira Vez - Orlando Silva. 1936

Brincando de brigar. Laranjeiras, Sergipe, 10.01.2010

Aprenda a navegar pelo acervo do "Estado"

Alessandro Algardi, 1634-44 Monumento do Papa Leão XI

A meu pai morto. Augusto dos Anjos.

A MEU PAI MORTO 
Augusto dos Anjos 

Madrugada de Treze de janeiro. 
Rezo, sonhando, o ofício da agonia. 
Meu Pai nessa hora junto a mim morria 
Sem um gemido, assim como um cordeiro! 

E eu nem lhe ouvi o alento derradeiro! 
Quando acordei, cuidei que ele dormia, 
E disse à minha Mãe que me dizia: 
«Acorda-o»! deixa-o, Mãe, dormir primeiro! 

E saí para ver a Natureza! 
Em tudo o mesmo abismo de beleza, 
Nem uma névoa no estrelado véu... 

Mas pareceu-me, entre as estrelas flóreas, 
Como Elias, num carro azul de glórias, 
Ver a alma de meu Pai subindo ao Céu!

Lucho Gatica - La barca

Escarlate


ESCARLATE
Charles Fonseca

Uma corda uma barca um porto
Os une um fio escarlate
Da corda que em extensão faz parte
Minha vida com a tua corpo.

Um escuro a vela inflama
Penetra a barca no escuro
Do mar em teu corpo procuro
Porto seguro, uma velha chama.

Na cabeça

Se eles não temem, porque não vêm? Se eles não vierem, é porque temem e se eles temem, é preciso que sejam chamados. Senador Cristovam Buarque (PDT-DF) a propósito de uma possível convocação dos governadores de Goiás, Brasília e Rio para depor na CPI do Cachoeira

quinta-feira, maio 24, 2012

Eu e meu filho. 1981


A família crescendo.jpg, upload feito originalmente por Charles Fonseca.

No Quarto da Valdirene. Fernando Sabino

No Quarto da Valdirene

Fernando Sabino


Mal ele entrou em casa, a mulher o tomou pelas mãos, ansiosa:

- Estava aflita para você chegar.

E sussurrou, apontando dramaticamente para os lados da cozinha:

- Tem um homem no quarto da Valdirene.

Sacudiu a cabeça com irritação:

- Desde o primeiro dia eu achei que essa menina não era boa coisa. Ela nunca me enganou.

Valdirene, a jovem empregada, uma mulata de olhos grandes, não faria feio num palco.

- Como e que você sabe? - perguntou ele, para ganhar tempo. Não partilhava da opinião da mulher: desde o primeiro dia achou que a Valdirene era ótima.

- Sei porque vi. Escutei um ruído qualquer ai fora no corredor, olhei pelo olho mágico, e vi quando ela punha ele para dentro pela porta de serviço.

- Ele quem?

- O homem. Não sei quem é, só sei que é um homem. Deve ser o namorado dela, ou o amante, tanto faz. O certo e que os dois estão trancados lá no quarto faz um tempão.

- Vai ver que já saiu.

- Não saiu não, que eu não sou boba, fiquei de olho. Esta lá dentro com ela até agora.

- E o que e que você quer que eu faça?

- Quero que bote ele pra fora, essa e boa.

- Por quê?

Ela botou as mãos na cintura:

- Por quê? Você ainda pergunta por que? Então tem cabimento a gente deixar que a empregada receba homens no quarto dela? O que e que essa menina está pensando que minha casa é? Um motel? Se você não for lá, eu mesma vou.

- Espera ai, vamos com calma, mulher. Você tem razão, mas deixa a gente raciocinar um pouco. Não podemos é perder a cabeça. Pode ser perigoso. Como é que ele é?

- Não cheguei a ver direito. Só vi que era um homem. Para mim, basta.

- Não posso ir lá no quarto dela sem mais nem menos. Quem sabe é algum parente? Um irmão, talvez...

- Um irmão, talvez... Você tem cada uma! Pior ainda: que é que um irmão tem de ficar fazendo trancado no quarto com a irmã como eles dois estão? Você tem de pôr esse homem pra fora.

- E se estiver armado? Ele pode muito bem estar armado.

- Já que você está com medo...

- Não estou com medo. Só que temos de agir com calma. Vamos ver como a gente sai dessa. Deixa comigo.

Ele respirou fundo e se meteu pela cozinha, ganhou a área de serviço, ficou à escuta. Nada, tudo quieto e às escuras no quarto da Valdirene. Bateu de leve na porta:

- Valdirene.

Via-se pelas frestas da veneziana na própria porta que o quarto continuava no escuro. Ele bateu de novo:

- Valdirene, está me ouvindo? Valdirene!

Escutou alguém se mexendo lá dentro e a voz estremunhada da moça:

- Senhor?

- Tem alguém com você ai dentro, Valdirene?

- Tem não senhor.

- Abra um instante, por favor.

Em pouco ela abria a porta, furtivamente, e o encarava sem piscar. Vestia um baby-doll pequenino e transparente que, sob a luz mortiça vinda da área, deixava quase todo seu corpo à mostra.

- Acenda essa luz, minha filha.

Mais para vê-la melhor do que para olhar o quarto, pois mesmo no escuro podia-se verificar que ali dentro não havia mais ninguém. Luz acesa, ela se protegia discretamente com os braços, enquanto ele dava uma olhada rápida por cima do seu ombro:

- Tudo bem. Desculpe o incômodo. Boa noite.

Voltou para a sala, onde a mulher o aguardava, tensa de expectativa. - E então?

- Não tem ninguém.

- Como não tem ninguém? Pois se eu vi o homem entrando!

- Se viu entrando, não viu saindo. O certo é que não tem ninguém no quarto da Valdirene, além dela própria. Vamos dormir.

- Como é que eu posso ir dormir sabendo que tem um estranho dentro de casa? Você vai voltar lá e olhar direito.

- Eu olhei direito. Se não acredita, vai lá e olha você.

- Quem e o homem nesta casa? Se você não for olhar eu não fico aqui dentro nem mais um minuto. Vou direto à polícia.

Ele ergueu os braços e os deixou cair, com um suspiro resignado:

- Essa mulher, meu Deus. Agora é você que está com medo. Direto à polícia. Como se fosse um crime... Tudo bem, eu vou lá olhar direito.

Voltou a bater na porta da empregada:

- Valdirene.

Desta vez ela respondeu logo:

- Senhor?

- Abra ai um instante, por favor.

- Sim senhor.

Ela abriu e foi logo acendendo a luz. Estimulado pela nova oportunidade de vê-la tão de perto, ele perdeu a cerimônia e entrou no quarto. Sempre de olho nela e ouvido atento à mulher lá na sala. Ali dentro só cabia a cama e o armariozinho com uma cortina, atrás da qual ninguém poderia se esconder. Ainda assim ergueu o pano para se certificar. Satisfeito, voltou-se para a moça que, ao sentir seus olhos tão próximos, abaixara modestamente os dela:

- Desculpe, minha filha. É que minha mulher, você sabe, quando ela cisma uma coisa... Mas pode dormir sossegada. Boa noite.

Na sala, a mulher voltou a questioná-lo:

- Você olhou direito desta vez?

- Não há como olhar errado. Um quarto deste tamaninho! Olhei o que tinha para olhar: a Valdirene e a cama.

- A Valdirene e a cama? O que você quer dizer com isso?

- Não quero dizer coisa nenhuma. É que ali dentro não cabe mais nada além da Valdirene e da cama.

- Não é isso que parece estar insinuando, com essa sua cara.

- Que é que tem minha cara? Você é que insinuou que tinha um homem lá dentro, não fui eu. Não me admiraria nada. Mas acontece que não tem. Só faltou olhar debaixo da cama.

- Não admiraria nada - ela o imitou, com um trejeito. E ordenou, braço estendido:

- Pois então vai olhar debaixo da cama.

- Essa não! - relutou ele: - Já disse que não cabe ninguém...

Mas acabou indo. Pobre da menina, de novo importunada:

- Me desculpe, Valdirene, mas é preciso que você abra aí outra vez. '

Ela acendeu a luz, abriu a porta e deu-lhe passagem. Seus olhos o acompanharam impassíveis, quando ele entrou e se agachou para olhar debaixo da cama. De quatro, sentindo-se ridículo naquela postura, ele baixou a cabeça até que a ponta do queixo tocasse o chão, e enfiou-a sob o estrado. Seu nariz esbarrou de cheio em algo branco e macio - era nada menos que o traseiro de um homem.

- Oi - assustou-se, recuando.

- Oi - fez o homem, como um eco, encolhendo-se ainda mais.

Ele se ergueu. perturbado, limpou a garganta, procurando dar firmeza à voz:

- O senhor tem um minuto pra sair deste quarto.

Um último olhar para Valdirene, como a dizer que sentia muito mas não podia deixar de cumprir o seu dever, e foi ter com a mulher na sala:

- Tinha sim. Tinha um homem debaixo da cama. Está satisfeita?

- Eu não disse? E o que é que você fez?

- Mandei que ele se pusesse pra fora. É o tempo de se vestir.

- Meu Deus, ele estava nu?

- Que é que você queria? Não sei é como ele pôde caber lá debaixo. Imagino o susto dele. E o da Valdirene, coitadinha.

No dia seguinte, mal amanheceu, ela despedia a Valdirene, coitadinha.

André Rieu - Love theme from Romeo and Juliet

153. Quando Pedro confessa que Jesus é o Cristo, o Filho do Deus vivo, Jesus declara-lhe que esta revelação não lhe veio «da carne nem do sangue, mas do seu Pai que está nos Céus» (Mt 16, 17) (16). A fé é um dom de Deus, uma virtude sobrenatural infundida por Ele. «Para prestar esta adesão da fé, são necessários a prévia e concomitante ajuda da graça divina e os interiores auxílios do Espírito Santo, o qual move e converte o coração para Deus, abre os olhos do entendimento, e dá "a todos a suavidade em aceitar e crer a verdade"» (17).
Catecismo

Exército entrega obra no Aeroporto de Guarulhos antes do prazo ...


PROTEÇÃO
Charles Fonseca

Valei-me meu São Francisco!
- O de Assis ou o de Pádua?
- Não, o protetor das águas
Do povo bom, do Velho Chico!

Heinrich Dannecker, c.1812 - 14 - Ariadne na Pantera

No ponto de ônibus

No Ponto de Ônibus

Steve foi ver meu filho treinar natação. Foram juntos tomar o ônibus.
- Hey you, Big Johnny, it’s very longe daqui?
- Não, Steve, é pertinho.
Subiram e sentaram. Quando duas senhoras entraram no coletivo, ambos levantaram aguardando que elas atravessassem o corredor para dar o lugar. Dois rapazes rapidamente tomaram conta e fingiram que nada havia acontecido.
- Sorry, mas eu levantar para as ladies ali...
- Foi ao vento, perdeu o assento, gringo veado.
Com as duas enormes mãos Steve carregou o sujeito para cima e antes que o outro algo fizesse, João Mário o bloqueou. O motorista parou o carro. Diante do tamanho de ambos ele temeu pela saúde dos dois mal-educados e atrevidos. Desceram xingando.
- Veado bicho bravo e bonito, mas no Brasil eu sei o que é. Eu não ligo, mas senhora é ser humano, tem que andar sentada.

JB Alencastro

quarta-feira, maio 23, 2012

7 Maravilhas do Mundo.

"Enquanto se cria uma comissão da verdade para apurar crimes do passado, o presente é deformado por mentiras e trapaças patrocinadas por um ex-ministro da Justiça que se especializou em impedir que se faça justiça."..."Agora, a comissão segue cachoeira abaixo." Augusto Nunes.

Caetano Veloso. Vaca profana.

VACA PROFANA
Caetano Veloso

Respeito muito minhas lágrimas, mas ainda mais minha risada
Escrevo assim minhas palavras na voz de uma mulher sagrada
Vaca profana põe teus cornos prá fora e acima da manada

Ê, dona de divinas tetas, derrama o leite bom na minha cara
E o leite mau na cara dos caretas
Segue a "movida Madrileña", também te mata Barcelona
Napoli Pino, Pí, Pau, punks, picassos movem-se por Londres
Bahia onipresentemente, Rio e belíssimo horizonte

Ê, vaca de divinas tetas, la leche buena toda em mi garganta
La mala leche para los "puretas"
Quero que pinte amor Bethânia, Stevie Wonder, Andaluz
Mais do que tive em Tel Aviv, perto do mar, longe da cruz
Mas em composição cubista, meu mundo Thelonius Monk's blues

Ê, dona das divinas tetas, quero teu leite todo em minha alma
Nada de leite mau para os caretas
Sou tímido e espalhafatoso, torre traçada por Gaudi
São Paulo é como um mundo todo, no mundo um grande amor perdi
Caretas de Paris e New York, sem mágoas estamos aí

Ê, vaca das divinas tetas, teu bom só para o oco, minha falta
E o resto inunde as almas dos caretas
Mas eu também sei ser careta, de perto ninguém é normal
Às vezes segue em linha reta, a vida que é meu bem, meu mal
No mais, as "ramblas" do planeta, "Orchata de chufa, si us plau"

Ê, deusa de assombrosas tetas, gotas de leite bom na minha cara
Chuva do mesmo bom sobre os caretas, la mala leche para los "puretas"
Nada de leite mau para os caretas, e o leite mal na cara dos caretas
Chuva do mesmo bom sobre os caretas, e o resto inunde as almas dos caretas

A preocupação olha em volta, A tristeza olha para trás, A fé olha para cima.

Amigo sem igual. Freud.


 

Bruno Lichtenstein. Rubem Braga

Bruno Lichtenstein

Rubem Braga

18 de Julho de 1939


Foi preso o menino Bruno Lichtenstein, que arrombou a Faculdade de Medicina. O menino Bruno Lichtenstein não é arrombador profissional. Apenas acontece que o menino Bruno Lichtenstein tem um amigo, e esse amigo é um cachorro, e esse cachorro ia ser trucidado cientificamente, para estudos, na Faculdade de Medicina. O poeta mineiro Djalma Andrade tem um soneto que acaba mais ou menos assim:

"se entre os amigos encontrei cachorros,
entre os cachorros encontrei-te, amigo".


Mas com toda a certeza o menino Bruno Lichtenstein jamais leu esses versos. Também com certeza nunca lhe explicaram o que é vivissecção, nem lhe disseram que seu cão ia ser vivisseccionado. Tudo o que ele sabia é que lhe haviam carregado o cachorro e que iam matá-lo. Se fosse pedi-lo, naturalmente, não o dariam. Quem, neste mundo, haveria de se preocupar com o pobre menino Bruno Lichtenstein e o seu pobre cão? Mas o cachorro era seu amigo — e estava lá, metido em um porão, esperando a hora de morrer. E só uma pessoa no mundo podia salvá-lo: um menino pobre chamado Bruno Lichtenstein. Com esse sobrenome de principado, Bruno Lichtenstein é um garoto sem dinheiro. Não pagará a licença de seu amigo. Mas Bruno Lichtenstein havia de salvar a vida de seu amigo — de qualquer jeito. E jeito só havia um: ir lá e tirar o cachorro. De longe, Bruno Lichtenstein chorava, pensando ouvir o ganido triste de um condenado à morte. Via homens cruéis metendo o bisturi na carne quente de seu amigo: via sangue derramado. Horrível, horrível. Bruno Lichtenstein sentiu que seria o último dos infames se não agisse imediatamente.

Agiu. Escalou uma janela, arrebentou um vidro, saltou. Estava dentro do edifício. Andando pelas salas desertas, foi até onde estava o seu amigo. Sentiu que o seu coração batia mais depressa. Deu um assovio, um velho assovio de amizade.

Um vulto se destacou em um salto - e um focinho quente e úmido lambeu a mão de Bruno Lichtenstein. Agora era fugir para a rua, para a liberdade, para a vida...

Bruno Lichtenstein, da cabeça aos pés, tremia de susto e de alegria. Foi aí que ele ouviu uma voz áspera e espantada de homem. Era o dr. Loforte. O dr. Loforte surpreendeu o menino. Um menino pobre, que tremia, que havia arrombado a Faculdade. Só podia ser um ladrão! Bruno Lichtenstein não explicou nada — e fez bem. Para o dr. Loforte um cachorro não é um cachorro — é um material de estudo como outro qualquer.

Na polícia apareceu o pai do menino. O pai, o professor e o delegado conversaram longamente — e Bruno Lichtenstein não ouvia nada. Só ouvia, lá longe, o ganir de um condenado à morte.

Já te entregaram o cachorro, Bruno Lichtenstein. Tu o mereceste, porque tu foste amigo. Não te deram nem te darão medalha nenhuma — porque não há medalha nenhuma para distinguir a amizade. Mas te entregaram o teu cachorro, o cachorro que reivindicaste como um pequeno herói. Tu és um homem, Bruno Lichtenstein — um homem no sentido decente da palavra, muito mais homem que muito homem. Um aperto de mão, Bruno Lichtenstein.