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segunda-feira, abril 30, 2012

Juntos


Arte de Antonio Lucena

"A falha". Falhou...


Composição gráfica de Mário Milton de Araujo. Salvador. Bahia.

Quellin, Artus I

144. Obedecer (ob-audire) na fé é submeter-se livremente à palavra escutada, por a sua verdade ser garantida por Deus, que é a própria verdade. Desta obediência, o modelo que a Sagrada Escritura nos propõe é Abraão. A sua realização mais perfeita é a da Virgem Maria.
Catecismo

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Às vezes

ÀS VEZES
Charles Fonseca

Tenho saudade às vezes, outras odeio,
Às vezes peno sozinho, outras gozo,
Às vezes eu sorrio, outras eu choro,
Sempre a te amar, tua imagem beijo.

Às vezes tu me procuras, sempre atendo,
Tantas vezes te busco e há silêncio,
Quantas vezes, ainda, neste proscênio
Vivo estarei, mas meu amor morrendo!

domingo, abril 29, 2012

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"Amar é um deserto e seus temores"

Oceano Djavan

A Bahia tem um jeito. Nizan Guanaes.


                                  A Bahia Tem um Jeito
Nizan Guanaes

Quando eu conheci Jorge Amado em Paris, ele me levou para almoçar num bistrô perto do seu apartamento no Marias. Ao longo do caminho, fiquei pensando em algo bem inteligente para impressionar o grande escritor. Ao sentarmos à mesa ele disparou:
-"Nizan, você já reparou como a bunda da Mãe Cleusa é grande?".
A Bahia é assim. Desconcertante.
Pense num absurdo, multiplique por dois: na Bahia já aconteceu. Há em Salvador uma casa funerária que se chama Decorativa e uma companhia de táxi aéreo que se chama BATA (Bahia Táxi Aéreo). É dentro deste espírito esportivo que a Bahia surpreende desde 1500.
Caetano Veloso me disse rindo que os baianos e os judeus se julgam raças eleitas e (sic) que ambos têm razão...
Se somos ou não raça eleita, há controvérsias. Mas que é uma raça privilegiada não há dúvida. Castro Alves, Rui Barbosa, Jorge Amado, Assis Valente, João Gilberto, Caetano, Gal, Gil, Bethânia, Daniela Mercury, Glauber Rocha, Dorival e Nana Caymmi, Raul Seixas, Ivete Sangalo e agora Piti. Não pode ser coincidência. Não é.
É fruto da energia que o índio enterrou, que o português descobriu misturado com o axé que o negro trouxe. É essa energia que buscam os cansados, os estressados, os sem esperança, os de alma ou cadeira dura.
E a Bahia os acolhe com sua graça e sua benção.
Dianne Vreeland diz na peça Full Gallop, grande sucesso na Broadway, que o azul mais bonito é o céu da Bahia. Tudo na Bahia tem luz, sobretudo as pessoas. Que em sua simplicidade, com sua fé, com suas peles negras e dentes alvos, dançam, cantam e iluminam um mundo rico, mas cada vez mais pobre.
Um desses endinheirados, mas pobres de espírito, certa vez resolveu pegar no meu pé, numa festa, e me perguntou: "Se a Bahia é tão boa, porque você não mora lá?". O Orixá me ajudou e eu respondi na lata:
"Porque lá eu não me destaco, são todos baianos".

Susanne Vertel

Correntina

CORRENTINA
Charles Fonseca

Sobre as águas Correntina
Metade de minha herança
Tem no peito a esperança
Uma cruz de madeirinha

O que corre sob as águas
Desse rio que é o amor
Correm risos correm mágoas
Corre o gozo e a dor.

CASCATINHA E INHANA - ÍNDIA

Correntina. 28.03.2009



sábado, abril 28, 2012

Don Quixote, de Pablo Picasso


Inimigos na trincheira

Clique: http://www.istoe.com.br/reportagens/202600_INIMIGOS+NA+TRINCHEIRA?pathImagens=&path=&actualArea=internalPage

Homenagem a Seu Dodô, 90 anos.


Alvin Langdon Coburn


GAIOLAS. Charles Fonseca. Poesia

GAIOLAS
Charles Fonseca


Canta triste a sabiá laranjeira
Na gaiola toda em lágrima os tempos
Perdidos já tão distantes, seus tormentos,
Saudosa das matas virgens, brasileiras.


Conto os tempos perdidos na gaiola
Das minhas ilusões perdidas e busco
A alegria de outros momentos. Fusco
De minha vida agora que vai-se embora.

sexta-feira, abril 27, 2012

A Grande Onda de Hokusai


Delírio

DELÍRIO 
Olavo Bilac 

Nua, mas para o amor não cabe o pejo 
Na minha a sua boca eu comprimia. 
E, em frêmitos carnais, ela dizia: 
- Mais abaixo, meu bem, quero o teu beijo! 

Na inconsciência bruta do meu desejo 
Fremente, a minha boca obedecia, 
E os seus seios, tão rígidos mordia, 
Fazendo-a arrepiar em doce arpejo. 

Em suspiros de gozos infinitos 
Disse-me ela, ainda quase em grito: 
- Mais abaixo, meu bem! - num frenesi. 

No seu ventre pousei a minha boca, 
- Mais abaixo, meu bem! - disse ela, louca, 
Moralistas, perdoai! Obedeci...

62. Chico Buarque - Ole Ola

Ferdinand Preiss


142. Pela sua revelação, «Deus invisível, na riqueza do seu amor, fala aos homens como amigos e convive com eles, para os convidar e admitir à comunhão com Ele» (1). A resposta adequada a este convite é a fé.

143. Pela fé, o homem submete completamente a Deus a inteligência e a vontade; com todo o seu ser, o homem dá assentimento a Deus revelador (2). A Sagrada Escritura chama «obediência da fé» a esta resposta do homem a Deus revelador (3).
Catecismo

Eugène Atget


Velho olhando o mar. Affonso Romano de Sant'Anna

Velho olhando o mar

Affonso Romano de Sant'Anna


Meu carro pára numa esquina da praia de Copacabana às 9h30m e vejo um velho vestido de branco numa cadeira de rodas olhando o mar à distância. Por ele passam pernas portentosas, reluzentes cabeleiras adolescentes e os bíceps de jovens surfistas. Mas ele permanece sentado olhando o mar à distância.

O carro continua parado, o sinal fechado e o estupendo calor da vida batia de frente sobre mim. Tudo em torno era uma ávida solicitação dos sentidos. Por isto, paradoxalmente, fixei-me por um instante naquele corpo que parecia ancorado do outro lado das coisas. E sem fazer qualquer esforço comecei a imaginá-lo quando jovem. É um exercício estranho esse de começar a remoçar um corpo na imaginação, injetar movimento e desejo nos seus músculos, acelerando nele, de novo, a avareza de viver cada instante.

A gente tem a leviandade de achar que os velhos nasceram velhos, que estão ali apenas para assistir ao nosso crescimento. Me lembro que menino ao ver um velho parente relatar fotos de sua juventude tinha sempre a sensação de que ele estava inventando uma estória para me convencer de alguma coisa.

No entanto, aquele velho que vejo na esquina da praia de Copacabana deve ter sido jovem algum dia, em alguma outra praia, nos braços de algum amor, bebendo e farreando irresponsavelmente e achando que o estoque da vida era ilimitado.

Teria ele algum desejo ao olhar as coxas das banhistas que passam? Olhando alguma delas teria se posto a lembrar de outros corpos que conheceu? Os que por ele passam poderiam supor que ele fazia maravilhas na cama ou nas pistas de dança?

Me lembra ter lido em algum lugar que o inconsciente não tem idade. Ah, sim, foi no livro de Simone de Beauvoir sobre "A velhice". E ali ela também apresentava uma estatística segundo a qual por volta dos 60 anos poucos se declaram velhos; depois dos 80 anos, só 53% se consideram velhos, 36% acham que são de meia-idade e 11% se julgam jovens.

Não sei porque, mas toda vez que vejo um senhor de cabelos brancos andando pela praia penso que ele é um almirante aposentado. Às vezes, concedo e admito que ele pode ser também da Aeronáutica. Por causa disto, durante muito tempo, vendo esses senhores passeando pela areia e calçada, sempre achava que toda a Marinha e Aeronáutica havia se aposentado entre Leblon e Copacabana.

Mas esses senhores de short e boné branco que passam às vezes em dupla pelo calçadão, são mais atléticos que aquele que denominei de velho e, sentado na cadeira, olha o mar.

Ele está ali, eu no meu carro, e me dou conta que um número crescente de amigos e conhecidos tem me pronunciado a palavra "aposentadoria" ultimamente. Isto é uma síndrome grave. Em breve estarei cercado de aposentados e forçosamente me aposentarão. Então, imagino, vou passear de short branco e boné pelo calçadão da praia, fingindo ser um almirante aposentado, aproveitando o sol mais ameno das 9h30m até cair sentado numa cadeira e ficar olhando o mar.

Me lembra ter lido naquele estudo de Simone de Beauvoir sobre a velhice algo neste sentido: "Morrer, prematuramente, ou envelhecer: não há outra alternativa." E, entretanto, como escreveu Goethe: "A idade apodera-se de nós de surpresa." Cada um é, para si mesmo, o sujeito único, e muitas vezes nos espantamos quando o destino comum se torno o nosso: doença, ruptura, luto. Lembro-me de meu assombro quando, seriamente doente pela primeira vez na vida, eu me dizia: "Essa mulher que está sendo transportada numa padiola sou eu." Entretanto, os acidentes contingentes integram-se facilmente à nossa história, porque nos atingem em nossa singularidade: velhice é um destino, e quando ela se apodera de nossa própria vida, deixa-nos estupefatos. "O que se passou, então? A vida, e eu estou velho", escreve Aragon.

Meu carro, no entanto, continua parado no sinal da praia de Copacabana. O carro apenas, porque a imaginação, entre o sinal vermelho e o verde, viajou intensamente. Vou ter de deixar ali o velho e sua acompanhante olhando o mar por mim. Vou viver a vida por ele, me iludir que no escritório transformo o mundo com telefonemas, projetos e papéis. Um dia, talvez, esteja naquela cadeira olhando mar à distância, a vida distante.

Mas que ao olhar para dentro eu tenha muito que rever e contemplar. Neste caso não me importarei que o moço que estiver no seu carro parado no sinal imagine coisas sobre mim. Estarei olhando o mar, o mar interior e terei alegrias de nenhum passante compreenderá.

Mar, quando te quebras na praia, oh grande amar!


quinta-feira, abril 26, 2012

Sublime Amor

"A palavra branda desvia o furor mas a palavra dura suscita a ira"

Carta a um chefe irascível

O que acontece com você? Por que de um bom tempo para cá você se transformou numa pessoa irascível e grosseira com seus colegas de diretoria e com os demais executivos da empresa?

Por favor, não me diga que você sempre foi assim. Até pode ser verdade. Mas você não tinha o poder que tem hoje. E desde que o obteve só fez piorar. Respiramos aqui dentro um ar envenenado.

Não tenho procuração para falar em nome de ninguém, a não ser no meu, mas lhe garanto que é crescente o clima de insatisfação com o seu comportamento. E como você mete medo nas pessoas, elas não ousam dizer o que pensam.

Vou lhe dizer o que penso. Aprendi em cursos de gerência que essa é a melhor forma de contribuir para o sucesso de um negócio.

Você centraliza em excesso a administração. Quer saber de tudo, dar palpite em tudo, decidir tudo ou quase tudo. Como tal coisa é impossível mesmo para um executivo em tempo integral, o que é o seu caso,

• o processo de tomada de decisões tem a agilidade de um elefante em férias. Você não tem tempo para despachar com ninguém. Aliás, você só gostaria de despachar com meia dúzia de pessoas. Tem diretor que despachou com você uma só vez em 15 meses;

• e todos aguardam seu pronunciamento. E evitam agir com receio de que você os desautorize. O que ocorre com freqüência, você sabe. Isso produz paralisia – e você também sabe. O espantoso é que parece não ligar.

A centralização em excesso emburrece as pessoas, diminui sua criatividade e conspira contra inovações. Elas se tornam mais medrosas. Confundem medo com cautela, medo com prudência, mas o que sentem é medo.

Quem gosta de ser admoestado aos gritos na frente dos outros? Quem gosta de ver os outros sendo admoestados? Quantas secretárias já não pediram para ser transferidas? Quantas não choraram depois que você lhes deu as costas?

Sucedem-se as pequenas/grandes crises. Você se tornou um administrador de crises. Crises que você mesmo provoca com irritante assiduidade.

Quer saber?

Penso que você perdeu o ponto de equilíbrio entre ser o executivo de pulso forte, que sabe o que quer e que empurra a empresa na direção desejável, e o executivo autoritário que demonstra enorme dificuldade para enfrentar divergências e conviver em ambiente democrático.

Você reage mal quando as pessoas expressam opiniões contrárias às suas. Por mais que tente disfarçar nessas ocasiões, é visível o seu desconforto. Todos notam. Como temem o desemprego e a humilhação, simplesmente emudecem.

Em viagem recente, lembra como reagiu ao desembarcar para conhecer uma sucursal da empresa? Você gritou: “Não quero seguranças comigo. Nem mesmo fotógrafo”. Você tinha o direito de dispensar quem quisesse. Mas aos gritos?

O que você faz de bom ou de mal, de simpático ou de desagradável, acaba atingindo o cargo que exerce. Você precisava ver o assombro dos formandos que o escolheram recentemente para paraninfo.

Seu discurso não foi brilhante. Mesmo assim você se sai melhor lendo do que improvisando. Mas é de praxe que o paraninfo pose para uma fotografia com seus afilhados. Você foi embora! Inacreditável! Você simplesmente foi embora.

Autoridade nada tem a ver com autoritarismo. Afirmação nada tem a ver com maus modos. Nem sempre há que se endurecer. Mas quando lhe parecer de todo impossível não fazê-lo, lembre-se de ser terno ao mesmo tempo.

Funciona. Acredite.

Ricardo Noblat

É por isto que não desisto. Amarei eternamente e mais além.

Carlos Drummond de Andrade. O Fazendeiro do Ar

Dois Entendidos. Fernando Sabino

Dois Entendidos

Fernando Sabino


Dizem que tem uma memória extraordinária e sabe tudo sobre futebol. Suas lembranças desafiam contestação.}

Um dia, porém, viu-se numa reunião em que se achava outro com igual prestígio. E os dois acabaram se defrontando:

— Você se lembra da primeira Copa Roca disputada no Brasil? - perguntou-lhe o outro.

— Se me lembro.

E disse o dia, o mês e o ano.

— Fazia um calor danado.

— Isso mesmo: um calor danado. Lembra-se da formação do time brasileiro?

— Quem é que não se lembra?

Cantou para o outro o time todo. O outro ia confirmando com a cabeça. Fez apenas uma ressalva quanto ao extrema-esquerda.

— Eu sei: mas estou falando o time titular. Agora vou lhe dizer os reservas.
Declamou a lista dos reservas, e sugeriu, por sua vez:

— Você naturalmente se lembra da formação do time argentino.
O outro embatucou: o time argentino? Não, isso ninguém era capaz de dizer.

— Pois então tome lá.
E recitou o time argentino. O outro, meio ressabiado, procurou recuperar o terreno perdido:

— Para nomes não sou muito bom. Mas me lembro que o goleiro argentino segurou um pênalti. - Um pênalti mal cobrado, foi por isso: faltavam sete minutos para acabar o jogo.

O outro, como que ocasionalmente, disse quem cobrara o pênalti, fazendo nova investida:

— E lhe digo mais: o juiz apitou quinze "fouls" contra nós no primeiro tempo, dezessete contra eles. No segundo tempo...

— Está aí; isso eu não sou capaz de garantir. Tudo mais sobre o jogo eu lhe digo. Aliás, sobre esse jogo, ou qualquer outro que você quiser, de 1929 para cá. Mas essa história de número de "fouls". . Como é que você sabe disso com tanta certeza?

— Sei — tornou o outro, triunfante — porque fui o juiz da partida.
Com essa ele não contava. O juiz da partida.

— Como é mesmo o seu nome?
Ficou a rolar na língua o nome do outro.

— Você tinha algum apelido?
O outro deu uma gargalhada:

— Juiz, com apelido? Naquele tempo eu já me fazia respeitar.

— Sei, sei — e ele sacudiu a cabeça, pensativo.

— Engraçado, me lembro perfeitamente do juiz, não se parecia com você. Chamava-se... Espera aí: se não me falha a memória...

— Ela costuma falhar, meu velho.
Ao redor a expectativa dos circunstantes crescia, ante o duelo dos dois entendidos.

—...o juiz era grande, pesadão, anulou um gol nosso, houve um começo de sururu...

— Emagreci muito desde então. E anulei o gol porque já tinha apitado quando ele chutou. Houve realmente um ligeiro incidente, mas fiz valer minha autoridade e o jogo prosseguiu.

— Você já tinha apitado...

— Já tinha apitado.

Os dois se olharam em silêncio.

— Quer dizer que quem apitou aquele jogo foi você - recomeçou ele, intrigado.

— Fui eu. E lhe digo mais: quando Fausto fez aquele gol de fora da área...

— Já na prorrogação.

— Na prorrogação: quiseram protestar dizendo que ele estava impedido...

— Não estava impedido.

— Eu sei que não estava. Tanto assim que não anulei. Mesmo porque, a regra naquele tempo era diferente.

— Nem naquele tempo nem hoje nem nunca aquilo seria impedimento. Se o juiz me anula aquele gol...

—...teria que anular também o primeiro gol dos argentinos...

—...que foi feito exatamente nas mesmas condições.

Calaram-se um instante, medindo forças. Mas o outro teve a infelicidade de acrescentar:

— Mesmo que o bandeirinha tivesse assinalado...
Ele saltou de súbito, brandindo o dedo no ar:

— Já sei! isso mesmo! Você não foi juiz coisa nenhuma! Você era o bandeirinha! Me lembro muito bem de você: era mais gordo mesmo, todo agitadinho, corria se requebrando... Tinha o apelido de Zuzú.

O outro não teve forças para negar e se rendeu à memória do adversário. Mesmo porque, encafifado, fazia uma cara de Zuzú.

Moça com Brinco de Pérola por Jan Vermeer




A interpretação das Escrituras. Igreja. Cristianismo

137. A interpretação das Escrituras inspiradas deve, antes de mais nada, estar atenta ao que Deus quer revelar, por meio dos autores sagrados, para nossa salvação. O que vem do Espírito não é plenamente entendido senão pela ação do Espírito (118).

138. A Igreja recebe e venera, como inspirados, os 46 livros do Antigo e os 27 do Novo Testamento.

139. Os quatro evangelhos ocupam um lugar central, dado que Jesus Cristo é o seu centro.

140. A unidade dos dois Testamentos deriva da unidade do plano de Deus e da sua Revelação. O Antigo Testamento prepara o Novo, ao passo que o Novo dá cumprimento ao Antigo. Os dois esclarecem-se mutuamente; ambos são verdadeira Palavra de Deus.

141. «A Igreja sempre venerou as Divinas Escrituras, tal como o próprio Corpo do Senhor» ambos alimentam e regem toda a vida cristã. «A vossa Palavra é farol para os meus passos e luz para os meus caminhos» (Sl 119, 105)(120).

Catecismo

Andrea Pisano

À solta.

À SOLTA
Charles Fonseca.

Sentada em seus pensamentos, absorta,
A mulher também vê outros, seus, passar
Doridos, aflitos, cheios de pesar,
Lembranças de antanho, fantasmas à solta.

São pensamentos a cavalgar vassoura
De bruxa, são gritos parados na alma,
Não ditos, malditos, a alma apenada,
Do ego clivado, o não dito ecoa. 

quarta-feira, abril 25, 2012

Sinfonia. Mozart. Violino e viola. Música

Chico Caruso

A triste partida. Patativa do Assaré.

A consciência.

“A especulação psicanalítica toma como ponto de partida a impressão, derivada do exame dos processos inconscientes, de que a consciência pode ser, não o atributo mais universal dos processos mentais, mas apenas uma função especial deles.” Freud.

Almoço Mineiro. Rubem Braga.

Almoço Mineiro

Rubem Braga


Éramos dezesseis, incluindo quatro automóveis, uma charrete, três diplomatas, dois jornalistas, um capitão-tenente da Marinha, um tenente-coronel da Força Pública, um empresário do cassino, um prefeito, uma senhora loura e três morenas, dois oficiais de gabinete, uma criança de colo e outra de fita cor-de-rosa que se fazia acompanhar de uma boneca.

Falamos de vários assuntos inconfessáveis. Depois de alguns minutos de debates ficou assentado que Poços de Caldas é uma linda cidade. Também se deliberou, depois de ouvidos vários oradores, que estava um dia muito bonito. A palestra foi decaindo então, para assuntos muitos escabrosos: discutiu-se até política. Depois que uma senhora paulista e outra carioca trocaram idéias a respeito do separatismo, um cavalheiro ergueu um brinde ao Brasil. Logo se levantaram outros, que, infelizmente, não nos foi possível anotar, em vista de estarmos situados na extremidade da mesa. Pelo entusiasmo reinante supomos que foram brindados o soldado desconhecido, as tardes de outono, as flores dos vergéis, os proletários armênios e as pessoas presentes. O certo é que um preto fazia funcionar a sua harmônica, ou talvez a sua concertina, com bastante sentimento. Seu Nhonhô cantou ao violão com a pureza e a operosidade inerentes a um velho funcionário municipal.

Mas nós todos sentíamos, no fundo do coração, que nada tinha importância, nem a Força Pública , nem o violão de seu Nhonhô, nem mesmo as águas sulfurosas. Acima de tudo pairava o divino lombo de porco com tutu de feijão. O lombo era macio e tão suave que todos imaginamos que o seu primitivo dono devia ser um porco extremamente gentil, expoente da mais fina flor da espiritualidade suína. O tutu era um tutu honesto, forte, poderoso, saudável.

É inútil dizer qualquer coisa a respeito dos torresmos. Eram torresmos trigueiros como a doce amada de Salomão, alguns louros, outros mulatos. Uns estavam molinhos, quase simples gordura. Outros eram duros e enroscados, com dois ou três fios.

Havia arroz sem colorau, couve e pão. Sobre a toalha havia também copos cheios de vinho ou de água mineral, sorrisos, manchas de sol e a frescura do vento que sussurrava nas árvores. E no fim de tudo houve fotografias. É possível que nesse intervalo tenhamos esquecido uma encantadora lingüiça de porco e talvez um pouco de farofa. Que importa? O lombo era o essencial, e a sua essência era sublime. Por fora era escuro, com tons de ouro. A faca penetrava nele tão docemente como a alma de uma virgem pura entra no céu. A polpa se abria, levemente enfibrada, muito branquinha, desse branco leitoso e doce que têm certas nuvens às quatro e meia da tarde, na primavera. O gosto era de um salgado distante e de uma ternura quase musical. Era um gosto indefinível e puríssimo, como se o lombo fosse lombinho da orelha de um anjo ouro. Os torresmos davam uma nota marítima, salgados e excitantes da saliva. O tutu tinha o sabor que deve ter, para uma criança que fosse gourmet de todas as terras, a terra virgem recolhida muito longe do solo, sob um prado cheio de flores, terra com um perfume vegetal diluído mas uniforme. E do prato inteiro, onde havia um ameno jogo de cores cuja nota mais viva era o verde molhado da couve — do prato inteiro, que fumegava suavemente, subia para a nossa alma um encanto abençoado de coisas simples e boas.

Era o encanto de Minas.

Giacomo Filippo Parodi

134. Toda a Escritura divina é um só livro, e esse livro único é Cristo, «porque toda a Escritura divina fala de Cristo e toda a Escritura divina se cumpre em Cristo» (115).

135. «As Sagradas Escrituras contêm a Palavra de Deus; e, pelo facto de serem inspiradas, são verdadeiramente a Palavra de Deus» (116).

136. Deus é o autor da Sagrada Escritura, ao inspirar os seus autores humanos: age neles e por eles. E assim nos dá a garantia de que os seus escritos ensinam, sem erro, a verdade da salvação (117).
Catecismo

Guernica de Picasso


Edelweiss


Edelweiss é uma pequena flor dos Alpes

Edelweiss, edelweiss, toda manhã você me recebe
pequena e branca,
clara e brilhante,
você parece feliz ao me me encontrar
botão de neve
que você floresça e cresça,
que floresça e creça para sempre
edelweiss, edelweiss, abençoe minha terra natal para sempre

Nhem-nhem-nhem

NHEM-NHEM-NHEM
Charles Fonseca

Um poema nhem-nhem-nhem 
De um poeta bó-bó-bó
A cantar có-có-ri-có
Pro amor de quem, de quem?

Ou quem sabe prum be be
Ou então só quer, quer só,
Roçar língua a pão de Ló
Numa musa em haver, a ver.

terça-feira, abril 24, 2012

Jacques Augustin Pajou


131. «É tão grande a força e a virtude da Palavra de Deus, que ela se torna para a Igreja apoio e vigor e, para os filhos da Igreja, solidez da fé, alimento da alma, fonte pura e perene de vida espiritual» (111). É necessário que «os fiéis tenham largo acesso à Sagrada Escritura» (112).

132. «O estudo das Páginas sagradas deve ser como que a "alma" da sagrada teologia. Também o ministério da Palavra, isto é, a pregação pastoral, a catequese, e toda a espécie de instrução cristã, na qual a homilia litúrgica deve ter um lugar principal, com proveito se alimenta e santamente se revigora com a palavra da Escritura» (113).

133. A Igreja «exorta com ardor e insistência todos os fiéis [...] a que aprendam "a sublime ciência de Jesus Cristo" (Fl. 3, 8) na leitura frequente da Sagrada Escritura. Porque "a ignorância das Escrituras é ignorância de Cristo"» (114).
Catecismo

Baco e Ariadne. Ticiano. Pintura


Mulher dama


MULHER DAMA
Charles Fonseca

Eu era quando a vi
Só folha na viração
Só seixo no aluvião
Ela hera a fingir

Uma paixão tresloucada
Um faz de conta a sorrir
Eu mais outro a carpir
Saudade do sonho nada.

Quando quebrei a redoma
Pus no chão em estilhaços
A imagem de palhaço
E a dela pois que não dama.

segunda-feira, abril 23, 2012

Peter Henry Emerson. Fotografia


Não Comerei da Alface a Verde Pétala

Não Comerei da Alface a Verde Pétala
Vinicius de Moraes


Não comerei da alface a verde pétala
Nem da cenoura as hóstias desbotadas
Deixarei as pastagens às manadas
E a quem maior aprouver fazer dieta.

Cajus hei de chupar, mangas-espadas
Talvez pouco elegantes para um poeta
Mas peras e maçãs, deixo-as ao esteta
Que acredita no cromo das saladas.

Não nasci ruminante como os bois
Nem como os coelhos, roedor; nasci
Omnívoro: dêem-me feijão com arroz

E um bife, e um queijo forte, e parati
E eu morrerei feliz, do coração
De ter vivido sem comer em vão.

Venho Como Estou

128. A Igreja, já nos tempos apostólicos (107), e depois constantemente na sua Tradição, pôs em evidência a unidade, do plano divino nos dois Testamentos, graças à tipologia. Esta descobre nas obras de Deus, na Antiga Aliança, prefigurações do que o mesmo Deus realizou na plenitude dos tempos, na pessoa do seu Filho encarnado.

129. Os cristãos lêem, pois, o Antigo Testamento à luz de Cristo morto e ressuscitado. Esta leitura tipológica manifesta o conteúdo inesgotável do Antigo Testamento. Mas não deve fazer-nos esquecer de que ele mantém o seu valor próprio de Revelação, reafirmado pelo próprio Jesus, nosso Senhor (108). Aliás, também o Novo Testamento requer ser lido à luz do Antigo. A catequese cristã primitiva recorreu constantemente a este método (109). Segundo um velho adágio, o Novo Testamento está oculto no Antigo, enquanto o Antigo é desvendado no Novo: «O Novo está oculto no Antigo, e o Antigo está patente no Novo» (110).

130. A tipologia significa o dinamismo em ordem ao cumprimento do plano divino, quando «Deus for tudo em todos» (1 Cor 15, 28). Assim, a vocação dos patriarcas e o êxodo do Egipto, por exemplo, não perdem o seu valor próprio no plano de Deus pelo facto de, ao mesmo tempo, serem etapas intermédias desse mesmo plano.
Catecismo

O Promenade por Marc Chagall


No meio do caminho

NO MEIO DO CAMINHO 
Carlos Drummond de Andrade 

No meio do caminho tinha uma pedra 
tinha uma pedra no meio do caminho 
tinha uma pedra 
no meio do caminho tinha uma pedra. 

Nunca me esquecerei desse acontecimento 
na vida de minhas retinas tão fatigadas. 
Nunca me esquecerei que no meio do caminho 
tinha uma pedra 
Tinha uma pedra no meio do caminho 
no meio do caminho tinha uma pedra.

Michelangelo



Charles Fonseca

Sonhei estavas chorando
No berço mãos gradeado
Que foi? perguntei eu, coitado
Tu me disseste dengando


Mamãe, quero mamãe,
- Saiu, volta mais tarde
Aqui tens papai meia idade,
- Não quero, tu só amanhã

Quando tu fores avô
Só quero bem a vovó,
- Não chore, pequeno, tão só
Então acordei, vô sonhou...

domingo, abril 22, 2012

Uma empresa de um novo Brasil

Clique: http://oglobo.globo.com/pais/noblat/post.asp?cod_post=441474&ch=n

Laranjeiras, Sergipe, 10.01.2010.


Laranjeiras, Sergipe, 10.01.2010., upload feito originalmente por Charles Fonseca.

Néo Correia

Les Demoiselles d'Avignon , de Pablo Picasso


Acarajé

ACARAJÉ
Charles Fonseca

Do perfume tabuleiro
Cheiro a mim sobe, mulher,
Do teu sorriso matreiro
Dás um gosto pois que é

Um tanto apimentado
Mistura feijão fradinho
Azeite dendê não pouquinho
Carurú vens do quiabo

´Inda mais que tu lhe dás
Do aroma camarão
Que seco molhas ao pão
Ai, que cheiro vatapás

Do caju pões a castanha
Também leite sabor coco
Tu lhe dás pra muita chama
Amendoim em reforço.

sábado, abril 21, 2012

"Separação, sabe-se como começa, nunca como termina". Família

Capivarol "faz engordar e faz crescer"...


Dilma Implanta a Sua Tese, em Menos de 15 Meses

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Família é pra sempre!

A Maja Nude de Goya


Emilio Santiago- Saigon ( Ao Vivo )

127. O Evangelho quadriforme ocupa na Igreja um lugar único, de que são testemunhas a veneração de que a Liturgia o rodeia e o atractivo incomparável que em todos os tempos exerceu sobre os santos:

«Não há doutrina melhor, mais preciosa e esplêndida do que o texto do Evangelho. Vede e retende o que nosso Senhor e Mestre, Cristo, ensinou pelas suas palavras e realizou pelos seus atos» (105).

«É sobretudo o Evangelho que me ocupa durante as minhas orações. Nele encontro tudo o que é necessário à minha pobre alma. Nele descubro sempre novas luzes, sentidos escondidos e misteriosos» (106).
Catecismo

Ao espelho

AO ESPELHO
Charles Fonseca

Quando a amada foi embora
A outra me olhou à espreita
Disse-me o que te estreita
O peito então nesta hora?

É a saudade que fica
No meu peito a toda hora
Quero que vá sendo agora
Quero que fique e me agita

Este amar que é a mim mesmo
Que é o desejo de outra
Vez abraçar a garota,
O meu renovo, oh espelho!

Antonio Lucena

sexta-feira, abril 20, 2012

A separação. Crítica do filme.

Cliquehttp://globotv.globo.com/globo-news/jornal-globo-news/v/cristina-aragao-comenta-filme-iraniano-a-separacao/1797400/

142. Ao Deus de Abraão Louvai

Alfred Stieglitz

O quereres. Caetano Veloso

O quereres
Caetano Veloso


Onde queres revólver sou coqueiro
E onde queres dinheiro sou paixão
Onde queres descanso sou desejo
E onde sou só desejo queres não
E onde não queres nada, nada falta
E onde voas bem alto eu sou o chão
E onde pisas o chão minha alma salta
E ganha liberdade na amplidão
Onde queres família sou maluco
E onde queres romântico, burguês
Onde queres Leblon sou Pernambuco
E onde queres eunuco, garanhão
Onde queres o sim e o não, talvez
E onde vês eu não vislumbro razão
Onde queres o lobo eu sou o irmão
E onde queres cowboy eu sou chinês
Ah! bruta flor do querer
Ah! bruta flor, bruta flor
Onde queres o ato eu sou espírito
E onde queres ternura eu sou tesão
Onde queres o livre decassílabo
E onde buscas o anjo sou mulher
Onde queres prazer sou o que dói
E onde queres tortura, mansidão
Onde queres um lar, revolução
E onde queres bandido sou herói
Eu queria querer-te e amar o amor
Construir-nos dulcíssima prisão
Encontrar a mais justa adequação
Tudo métrica e rima e nunca dor
Mas a vida é real e de viés
E vê só que cilada o amor me armou
eu te quero (e não queres) como sou
Não te quero (e não queres) como és
Ah! bruta flor do querer
Ah! bruta flor, bruta flor
Onde queres comício, flipper-vídeo
E onde queres romance, rock'n'roll
Onde quers a lua eu sou o sol
E onde a pura natura, o inseticídio
Onde queres mistério eu sou a luz
E onde queres um canto, o mundo inteiro
Onde queres quaresma, fevereiro
E onde queres coqueiro sou obus
O quereres e o estares sempre a fim
Do que em mim é de mim tão desigual
Faz-me querer-te bem, querer-te mal
bem a ti, mal ao quereres assim
Infinitivamente pessoal
e eu querendo querer-te sem ter fim
E querendo-te aprender o total
Do querer que há e do que não há em mim

Tahitian Mulheres por Paul Gauguin


126. Na formação dos evangelhos podemos distinguir três etapas:

1. A vida e os ensinamentos de Jesus. A Igreja sustenta firmemente que os quatro evangelhos, «cuja historicidade afirma sem hesitações, transmitem fielmente as coisas que Jesus, Filho de Deus, realmente operou e ensinou para salvação eterna dos homens, durante a sua vida terrena, até ao dia em que subiu ao Céu».

2. A tradição oral. «Na verdade, após a Ascensão do Senhor, os Apóstolos transmitiram aos seus ouvintes (com aquela compreensão mais plena de que gozavam, uma vez instruídos pelos acontecimentos gloriosos de Cristo e iluminados pelo Espírito de verdade) as coisas que Ele tinha dito e feito».

3. Os evangelhos escritos. «Os autores sagrados, porém, escreveram os quatro evangelhos, escolhendo algumas coisas, entre as muitas transmitidas por palavra ou por escrito, sintetizando umas, desenvolvendo outras, segundo o estado das Igrejas, conservando, finalmente, o carácter de pregação, mas sempre de maneira a comunicar-nos coisas verdadeiras e sinceras acerca de Jesus» (104).
Catecismo

Jean-Antoine Houdon

LEMBRANÇAS DO SÃO JOÃO 
Charles Fonseca. 


Nas noites do São João 
No quarto da lua nova 
Há uma estrela que chora 
Pendências do coração 


Da virgem desenganada 
Do promotor da paixão 
Do douto em desilusão 
Da que foi na enxurrada 


Do que bebia nas águas 
Ardentes paixões vazias 
Ninguém sabe em que bacias 
Boiavam as suas mágoas 


Nas noites luares vazios 
O velho Chico contava 
Mil contos e provocava 
Risos soltavam assobios 


Eram assim eles irmãos 
De contas feito o balaio 
Mil contas, adeus a Sampaio 
A Zé, a Lelê, Chico então!

quinta-feira, abril 19, 2012

Most romantic I ever seen

Mozart - Requiem

O mensalão que não acabou

"Inocente deve ser declarado inocente (não creio em “inocências” naquele processo quilométrico) e culpado deve ser declarado culpado. Inaceitável seria a não-decisão, o não-voto, a não-deliberação, a não-sentença."
Arthur Virgílio é diplomata e foi líder do PSDB no Senado

Chico Anysio (1969) - Show no Roquete Pinto

Lula constrange Dilma com CPI, por Ricardo Noblat

Lula constrange Dilma com CPI
Ricardo Noblat


Sabe de uma coisa? Se o presidente da República mais popular da História não se constrange em atropelar seu sucessor e inventa uma CPI para atrasar o julgamento dos acusados pelo mais espetacular escândalo do seu governo, às favas, pois, com todos os escrúpulos.

Sigamos o líder. Copiemos seus exemplos. Exaltemos sua sabedoria. Por que não?

Afinal, a maioria de nós não parece se constranger com mais nada. Desde que a economia vá bem, os titulares do poder podem se comportar como quiser.

Por velha, sem essa de que somos necessariamente vítimas dos malfeitos que eles cometem. Alheios ou acomodados, antes talvez sejamos cúmplices. De resto – e nunca se sabe! - sempre pode sobrar algum...

Sem renunciar ao sorriso, a etérea Ana de Hollanda, ministra da Cultura, garantiu na semana passada que seu ministério não se sente nem um pouco constrangido em ter de gastar R$ 14,4 milhões com a construção do Museu do Trabalho e do Trabalhador em São Bernardo do Campo. Imagina!

A prefeitura entrará com mais quase R$ 4 milhões.

O museu servirá para quê? Na teoria para oferecer todo tipo de informação a respeito da luta no final do século passado dos operários das fábricas instaladas na região do ABC paulista. Foi um período de muitas greves por melhores salários e de forte repressão militar. A ditadura agonizava.

Ao fim e ao cabo, o museu incensará o papel de Lula como líder sindical.

Você vê algum problema no uso do dinheiro público para isso? Certamente que não vê. Você gosta de Lula, não é?

Mas você vê problema no uso de dinheiro público para manter o memorial de Sarney instalado num convento antigo de São Luís do Maranhão, não vê? Ali estão os documentos referentes ao seu governo. Você não gosta de Sarney. E assim caminha a humanidade...

A se acreditar no que dizem, ninguém sabia que Carlos Cachoeira era contraventor. Que explorava jogos eletrônicos.

Nem sabiam os governadores Marconi Perillo (PSDB), de Goiás, e Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, nem os deputados ajudados por Cachoeira com dinheiro ou favores para suas campanhas eleitorais. Foi o que disseram. E sem o mais tênue sinal de constrangimento.

No passado remoto, sim, Cachoeira havia sido contraventor. Mais especificamente, bicheiro.

Marconi e Agnelo se reuniram com ele quando Cachoeira era um homem regenerado. Pelo menos assim pensavam. Pelo menos assim afirmam que pensavam. Não só regenerado: um empresário ligado à Delta, a dona das maiores obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), presente em todos os Estados brasileiros. Coisa de empresa idônea.

Responda com sinceridade: que governador poderia se dar ao luxo de desprezar um empresário interessado em fazer negócios no seu Estado? E que deputado, empenhado em ganhar um novo mandato, poderia meter o dedo no nariz de um ex-contraventor e ordenar categórico: “Ofereça seu dinheiro para meus adversários. Não confio em você. E não preciso dele”.

Não preciso dele? Dele, o dinheiro? Dinheiro de graça em troca apenas de um voto aqui favorável a certo projeto de interesse do doador, uma embaixadinha ali para ajudar o doador junto a algum burocrata?

Eleição custa caro. Político detesta meter a mão no bolso para pagar despesas com seu próprio dinheiro.

Empresário está aí para isso mesmo. E sem nenhum constrangimento. É do jogo.

Constrangimento, constrangimento de verdade sofreu a presidente Dilma Rousseff. Lula não a consultou para sugerir ao PT a criação da CPI do Cachoeira.

O PT aproveitou uma viagem internacional dela para aprovar a sugestão de Lula. O Caso Cachoeira poderia se resumir à ação da Justiça contra ele – e a do Senado contra Demóstenes Torres. Para Dilma estaria de bom tamanho.

Ela não queria uma CPI – terá que engoli-la constrangida. Ela continua sendo contra a CPI, mas não poderá admitir sem se constranger.

Afinal, onde já se viu a fundadora de “um padrão mundial de combate à corrupção”, como observou Hillary Clinton, secretária de Estado norte-americana, desautorizar ou enfraquecer uma CPI destinada a combater a bandidagem?

http://oglobo.globo.com/pais/noblat/

Eadweard Muybridge


Como Dizia Meu Pai. Fernando Sabino.

Como Dizia Meu Pai

Fernando Sabino


Já se tornou hábito meu em meio a uma conversa, preceder algum comentário por uma introdução:

— Como dizia meu pai...

Nem sempre me reporto a algo que ele realmente dizia, sendo apenas uma maneira coloquial de dar ênfase a alguma opinião.

De uns tempos para cá, porém, comecei a perceber que a opinião, sem ser de caso pensado, parece de fato corresponder a alguma coisa que Seu Domingos costumava dizer. Isso significará talvez — Deus queira — insensivelmente vou me tornando com o correr dos anos cada vez mais parecido com ele. Ou, pelo menos, me identificando com a herança espiritual que dele recebi.

Não raro me surpreendo, antes de agir, tentando descobrir como ele agiria em semelhantes circunstâncias, repetindo uma atitude sua, até mesmo esboçando um gesto seu. Ao formular uma idéia, percebo que estou concebendo, para nortear meu pensamento, um princípio que se não foi enunciado por ele, só pode ter sido inspirado por sua presença dentro de mim.

— No fim tudo dá certo...

Ainda ontem eu tranqüilizava um de meus filhos com esta frase, sem reparar que repetia literalmente o que ele costumava dizer, sempre concluindo com olhar travesso:

— Se não deu certo, é porque ainda não chegou no fim.

Gosto de evocar a figura mansa de Seu Domingos, a quem chamávamos paizinho, a subir pausadamente a escada da varanda de nossa casa, todos os dias, ao cair da tarde, egresso do escritório situado no porão. Ou depois do jantar, sentado com minha mãe no sofá de palhinha da varanda, como namorados, trocando notícias do dia. Os filhos guardavam zelosa distância, até que ela ia aos seus afazeres e ele se punha à disposição de cada um, para ouvir nossos problemas e ajudar a resolvê-los. Finda a última audiência, passava a mão no chapéu e na bengala e saía para uma volta, um encontro eventual com algum amigo. Regressava religiosamente uma hora depois, e tendo descido a pé até o centro, subia sempre de bonde. Se acaso ainda estávamos acordados, podíamos contar com o saquinho de balas que o paizinho nunca deixava de trazer.

Costumava se distrair realizando pequenos consertos domésticos: uma bóia de descarga, a bucha de uma torneira, um fusível queimado. Dispunha para isso da necessária habilidade e de uma preciosa caixa de ferramentas em que ninguém mais podia tocar. Aprendi com ele como é indispensável, para a boa ordem da casa, ter à mão pelo menos um alicate e uma chave de fenda. Durante algum tempo andou às voltas com o velho relógio de parede que fora de seu pai, hoje me pertence e amanhã será de meu filho: estava atrasando. Depois de remexer durante vários dias em suas entranhas, deu por findo o trabalho, embora ao remontá-lo houvesse sobrado umas pecinhas, que alegou não fazerem falta. O relógio passou a funcionar sem atrasos, e as batidas a soar em horas desencontradas. Como, aliás, acontece até hoje.

Tinha por hábito emitir um pequeno sopro de assovio, que tanto podia ser indício de paz de espírito como do esforço para controlar a perturbação diante de algum aborrecimento.

— As coisas são como são e não como deviam ser. Ou como gostaríamos que fossem.

Este pronunciamento se fazia ouvir em geral quando diante de uma fatalidade a que não se poderia fugir. Queria dizer que devemos nos conformar com o fato de nossa vontade não poder prevalecer sobre a vontade de Deus - embora jamais fosse assim eloqüente em suas conclusões. Estas quase sempre eram, mesmo, eivadas de certo ceticismo preventivo ante as esperanças vãs:

— O que não tem solução, solucionado está.

E tudo que acontece é bom — talvez não chegasse ao cúmulo do otimismo de afirmar isso, como seu filho Gerson, mas não vacilava em sustentar que toda mudança é para melhor: se mudou, é porque não estava dando certo. E se quiser que mude, não podendo fazer nada para isso, espere, que mudará por si.

Às vezes seus princípios pareciam confundir-se com os da própria sabedoria mineira: esperar pela cor da fumaça, não dar passo maior do que as pernas, dormir no chão para não cair da cama. Os dele eram mais singelos:

— Mais vale um apertinho agora que um apertão o resto da vida.

— Negócio demorado acaba não saindo.

— Dinheiro bom em coisa boa.

— Antes de entrar, veja por onde vai sair.

Um dia me disse, ao me surpreender tentando armar um brinquedo qualquer com mãos desajeitadas:

— Meu filho, tudo que é bem feito se faz com os dedos, não com as mãos.

Tenho tido ocasião ao longo da vida de observar como é procedente este seu ensinamento. A mão é grossa, pesada, insensível. Se não fossem os dedos de nada serviria, a não ser para dar bofetadas. Os dedos são refinados, sensitivos, e a eles devemos tudo o que é bem feito e acabado: do mais requintado trabalho manual às mais complicadas operações, da mais fina sensação do tacto à mais terna das carícias.

— Se o cafezinho foi bom, melhor não aceitar o segundo: será sempre pior que o primeiro.

Como tudo mais nessa vida: uma viagem, uma mulher: não repetir, pois a emoção jamais será a mesma da primeira vez. E não desanimar, pois se nascemos nus e estamos vestidos, já estamos no lucro. Nada neste mundo é cem por cento perfeito. Se contamos com mais de cinqüenta por cento, também já estamos no lucro. Quando conseguimos o que é apenas bom, naturalmente devemos continuar aspirando o melhor, se possível - mas perfeição absoluta, só Deus. E creio que Seu Domingos, homem íntegro, reto e temente a Deus, hoje em Sua companhia, não consideraria sacrilégio comentar, naquele seu jeito ladino:

— E assim mesmo, olhe lá...

Seus conselhos eram de tamanha simplicidade que tinham a força de provérbios nascidos da voz do povo: nada como um dia depois do outro, um lugar para cada coisa e cada coisa em seu lugar, tudo tem seu tempo. Fosse ele influenciado por leituras piedosas, poderíamos mesmo detectar, aqui e ali, vestígios de inspiração bíblica: tempo de semear, tempo de colher...

— É o que nos acontece.

Há uma diferença sutil entre admitir que as coisas são como são, não como deviam ser, e reconhecer que é o que nos acontece. Aqui, o comentário não pretendia refletir a impossibilidade de modelar (com os dedos) os fatos de acordo com a nossa vontade, mesmo que esta esteja certa. Exprime antes a humilde aceitação da nossa precária condição humana, como frágeis criaturas de Deus. Procura se solidarizar com a desgraça alheia, como a dizer que também estamos sujeitos a ela, somos todos irmãos na mesma atribulação. É o que nos acontece.

Portanto, alegremo-nos! Uma amiga minha, que não o conheceu, busca nele se inspirar quando afirma, sempre que se vê diante de algum contratempo:

— Antes de mais nada, fica estabelecido que ninguém vai tirar o meu bom humor.

Acabei levando esta disposição de minha amiga às últimas conseqüências: o mais importante é não perder a capacidade de rir de mim mesmo. Como Cartola e Carlos Cachaça naquele samba, às vezes dou gargalhadas pensando no meu passado.. . E cada vez acredito mais no ensinamento recebido não sei se de meu pai ou diretamente de Confúcio, segundo o qual há várias maneiras de realizar um desejo, sendo uma delas renunciar a ele. Como adverte outro sábio, se desejamos obstinadamente alguma coisa, é melhor tomar cuidado, porque pode nos suceder a infelicidade de consegui-la.

Tudo isso que de uns tempos para cá vem me vem ocorrendo, às vezes inconscientemente, como legado de meu pai, teve seu coroamento há poucos dias, quando eu ia caminhando distraído pela praia. Revirava na cabeça, não sei a que propósito, uma frase ouvida desde a infância e que fazia parte de sua filosofia: não se deve aumentar a aflição dos aflitos. Esta máxima me conduziu a outra, enunciada por Carlos Drummond de Andrade no filme que fiz sobre ele, a qual certamente Seu Domingos perfilharia: não devemos exigir das pessoas mais do que elas podem dar. De repente fui fulminado por uma verdade tão absoluta que tive de parar, completamente zonzo, fechando os olhos para entender melhor. No entanto era uma verdade evangélica, de clareza cintilante como um raio de sol, cheguei a fazer uma vênia de gratidão a Seu Domingos por me havê-la enviado:

Só há um meio de resolver qualquer problema nosso: é resolver primeiro o do outro.

Com o tempo, a cidade foi tomando conhecimento do seu bom senso, da experiência adquirida ao longo de uma vida sem maiores ambições: Seu Domingos, além de representante de umas firmas inglesas, era procurador de partes — solene designação para uma atividade que hoje talvez fosse referida como a de um despachante. A princípio os amigos, conhecidos, e depois até desconhecidos passaram a procurá-lo para ouvir um conselho ou receber dele uma orientação. Era de se ver a romaria no seu escritório todas as manhãs: um funcionário que dera desfalque, uma mulher abandonada pelo marido, um pai agoniado com problemas do filho — era gente assim que vinha buscar com ele alívio para a sua dúvida, o seu medo, a sua aflição. O próprio Governador, que não o conhecia pessoalmente, certa vez o consultou através de um secretário, sobre questão administrativa que o atormentava. Não se falando nos filhos: mesmo depois de ter saído de casa, mais de uma vez tomei trem ou avião e fui colher uma palavra sua que hoje tanta falta me faz.

Resta apenas evocá-la, como faço agora, para me servir de consolo nas horas más. No momento, ele próprio está aqui a meu lado, com o seu sorriso bom