Pesquisar este blog

segunda-feira, dezembro 31, 2012

Elevador Lacerda. Salvador, Bahia.

Antes de 2014 vem 2013. PT, saudações.

Espartilho


ESPARTILHO
Charles Fonseca

Quem vem lá dois mil e treze
quem se foi dois mil e doze
muita saudade trancou-se
muito do amor perdeu-se

A vagar qual andarilho
batendo na tua porta
sem ti o que me importa
nós nos nós no espartilho?

Henri Cartier-Bresson

O pibão da Dilma será melhor amantegado?

Jaz


JAZ
Charles Fonseca

É noite de terra cheia
é lua na amplidão
o mar da desilusão
um ar que jaz me volteia

Ao tempo do ser menino
adolescência tão curta
mal curtida tão bruta
juventude outro ninho

Agora cheio de paz
futuro quem sabe o que
o quem a vir num nascer
o cujo porvir em mim jaz.

Frank Sinatra- Blue Moon (Early)

Comportamento sexual. 10 (continua)

10. Dez por cento das mulheres têm um filho que não é exatamente do marido. Ou seja, 30% das mulheres que têm 3 filhos, um deles não é do marido. É muito alta esta estatística. Pior, se 30% conseguiu ter um filho de um homem mais lindo do que você, eu diria que pelo menos 50% tentaram mas não conseguiram. Você gastaria melhor o seu tempo vigiando a sua esposa, do que desparecendo por aí sem dar satisfação.

Barra limpa. Vinicius de Moraes.

Barra limpa

E como as páginas dos jornais estivessem mais sujas de sangue que as que embrulham o peso de carne nos açougues, eu resolvi desligar e buscar um pouco de beleza no mundo. Olhei minha nova casa em torno, toda caiada de branco, modesta em seu recolhimento, e os belos arraiolos no piso de tábuas, e fui espiar meu escritório ainda incompleto, pintado de amarelo-acácia, e vi minha mesa de trabalho com a Smith Corona em posição de sentido e o maço de folhas quadriculadas à minha espera para o artigo, o poema, a canção. À esquerda, o Pequeno dicionário, de mestre Aurélio, o tubo plástico de cola-tudo, a caixa de clipes e o copinho de couro ornado em cobre com as esferográficas e os lápis prontos para tudo. Pedi um café e sentei-me, tomado de grande paz. Vinha daquele ambiente um silêncio tão antigo; aquela casa era a tal ponto a representação de outras em que eu nunca tinha estado - como o reflexo ao infinito de uma imagem num espelho - que eu poderia dizer naquele instante como viviam e pensavam os homens mais remotos no tempo. Foi então que vi, através da janela, a pedra dos Dois Irmãos, na luz pura da manhã na Gávea; e ela estava de tal modo precisa em seus contornos, tão íntegra em sua estrutura milenar, que sorri para ela e ela me correspondeu sensível à onda de percepção que eu irradiava.
Senti como se estivesse nascendo naquele momento. Uma vida nova, passada a limpo, me esperava em direção a um Norte mais nítido, a uma morte mais próxima e sem alternativa. Mas aquela casa me protegia, e dentro dela uma mulher se esforçava por me fazer feliz. Aquelas folhas de papel me esperavam também, intocadas, e era minha obrigação escurecê-las de idéias, histórias, sortilégios capazes, talvez, de fazer alguém parar no seu cotidiano e se pôr a sonhar. Era bela a minha missão. "E sou um poeta", pensei, "um homem dotado de um dom mágico com relação às palavras; a bem dizer, um encantador de palavras, com a habilidade de ordená-las no seu caos e fazê-las significar, torná-las cruéis, pungentes, desesperadas, ou boas, úteis, generosas; com o poder de interpretar para alguém o milagre de um sentimento ignorado; de dar expressão ao inexprimível; de associar idéias, cores, sons aparentemente contrastantes; de emprestar sentido e beleza ao terrível paradoxo da vida..." E senti como nunca dantes a necessidade de uma disciplina física e mental que pudesse ajudar meu corpo a tornar-se cada dia mais apto para usufruir, meu espírito mais lúcido para receber, meu coração mais simples para dar.
Pensei em seres lindos semeados ao longe do meu caminho, que comeram o pão que o diabo amassou, e nem por isso se deixaram envenenar pelo ressentimento; pelo contrário, a cada sofrimento vivido pareciam crescer em consciência, amor e perdão - e como que deles emanava uma paz. Pensei que alguns desses seres já se foram, transpuseram o muro do silêncio, e suas imagens, fixadas na eternidade, continuam a transmitir-me esse recado de perdão. Perdoar... Transcender o efêmero de cada sentimento, de cada ressentimento, e tentar compreender o ser humano em sua fragilidade, em sua transitoriedade e inabilidade intrínseca para demarcar os limites de sua solidão; em sua inútil e permanente mania de viver esbanjando a própria morte: a única coisa de que é realmente possuidor. Ah, que conquista tão bela, a do perdão... - e não o perdão autocomplacente; mas o perdão punitivo, o que responsabiliza aquele que perdoa, como o de Sócrates com seus juízes, o de Cristo com a adúltera, o da mulher que ama com o homem que acabou de traí-la. O amor que transcende.
Que seres difíceis de digerir se tornaram os cosmonautas, em seu mundo mecânico e pasteurizado... Tomara que tenham êxito em sua badalação cósmica, que nos tragam, de preferência, antibióticos contra a guerra e não vírus contra a paz, que possam olhar o espaço invertido, com perdão da palavra, em noite de terra-cheia, e ver também, como nós vemos de cá, o Santo Guerreiro vencendo o Dragão da Maldade - que já não é sem tempo! E sobretudo que ao voltarem - e faço votos do fundo do meu coração - não comecem com muitas explicações cibernéticas quando ouvirem Frank Sinatra ou Ella Fitzgerald cantar velhas baladas como "Blue Moon" e outras do mesmo lunário em louvor da outrora bela e mágica Silene, a que apaixonou Endimião, e a quem tudo o que se pode dizer hoje em dia é que não lhe cairia mal um face peeling. Porque, ou muito me engano, ou uma grande onda romântica deve vir por aí, em contagem regressiva, em reação aos pops & ops, hips & trops, concs & struts, de que já está todo o mundo cheio.
Depois de todas essas considerações, umas pertinentes, outras ímper, peguei meu carro e fui até a Barra, visitar um antigo cosmonauta: meu amigo Zanine. Zanine é um construtor terrestre, no mais amplo sentido da palavra, isto é, não apenas de casas, mas de sua própria vida. Gosta de fazer tudo com as mãos, ou orientando as de seus obreiros como se fossem o prolongamento das suas. Ele ama a terra, a pedra, a areia, a água, o barro cozido, a madeira nua, a cal branca, o ferro batido, a mulher baiana. É um artista no que planeja como visão de conjunto, e um artesão na pureza e simplicidade do que faz - com tudo o que essa palavra contém de beleza e sensualidade. Fórmica com ele não tem vez. Zanine acabou de construir uma bela casa - a sua casa - onde mora com a mulher e a filhinha, a alto cavaleiro do mar: um marzão que é uma bestialidade, povoado de ilhas toscas e peixes ferozes. O crepúsculo que Zanine me ofereceu esse dia, naquele horizonte imenso, era de dar vontade de ter asas. Aliás, voavam por ali tudo balõezinhos de julho, retardatários, que por não serem impulsionados por nenhum foguete - no que muito bem obravam - acabaram por cair no mar, em obediência a uma antiga lei de física, qual seja a da gravidade dos corpos, que, diga-se de passagem, qualquer dia é bem capaz de fazer uma falseta a um desses cosmonautas que teimam em desrespeitá-la.
Para mim não há nada mais inocente que essas revistas pseudo-eróticas que andam por aí. As moças nuas, em off-set, parecem-me de tal modo cândidas, malgrado o esforço em contrário dos fotógrafos, que para mim constituem verdadeiros breves contra a luxúria. Já o mesmo não pode ser dito da natureza: pelo menos tal como ela se me oferecia, ao voltar da Barra. Pois imaginem que ao olhar o céu rubro do crepúsculo (eu diria melhor: ruborizado!) constatei, nada mais, nada menos - veja só! - que a tarde estava com a Lua toda de fora...

Luz del Fuego

LUZ DEL FUEGO
Charles Fonseca

No ramo Luz Del Fuego
só vai que tem sua cobra
lambuzada toda prosa
carente por um chamego

No fogo louca paixão
na mente só a verdade
não mente fica à vontade
no fundo, uma tesão,

Uma tensão de início
a relação apimenta
faz gemidos não lamenta
é só gozo por princípio

Depois vem logo um relax
um soninho mui gostoso
mais um pouquinho, gostoso,
diz Del Fuego, me trace.

O bicho vai pegar

http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2012/12/31/o-bicho-vai-pegar-por-ricardo-noblat-480618.asp

Alessandro Algardi, c.1634-44 - Monument of Pope Leo XI

Literatura de Cordel. Azulão e Borborema

Dois glosadores: Azulão e Borborema
João Ferreira de Lima


Borborema há seis meses
Que percorria o sertão
Somente para glosar
Com Benedito Azulão
Para ouvir o seu talento
Encontrou ele em São Bento
Numa noite de São João
Azulão estava dançando
No convívio de alegria
Quando terminava a parte
Ele glosava e bebia
Recitava o seu poema
Falava no Borborema
Mas ele não conhecia

Borborema aproximou-se
Daquele grande festim
Falou com o dono da casa
O fazendeiro disse assim
Ele entrou para o salão
Cumprimentou Azulão,
Por esta maneira assim:

B: Boa noite, amigo Azulão
Arás de quem eu andava
Há tempo que procurava
Pelas zonas do sertão
Chegou hoje a ocasião
Que desfruto o meu destino
Sou o Borborema ferino
Que gloso por linha reta
Eu faço medo a poeta
Como boi faz a menino

A: Se você ver Borborema
Lá na serra do Teixeira
Erguer sua cordilheira
Fazendo versos no tema
Você perde todo emblema
O meu gênio é soberano
Eu lhe tiro todo engano
Você perde muito feio
Não atravessa um rio cheio
Quanto mais um oceano

Nisto o dono da casa
Levantou-se e fez um riso
Disse para os poetas
Dois temas eu simpatizo
Na dança tem coisa boa
Dança só tem prejuízo

A: A dança é sociedade
É fruto que o amor tem
Porque a dança já vem
Da remota antiguidade
Não dança quem é covarde
Não honra sua pessoa
Eu danço que a poeira voa
Na volta que faz a dama
Quem dança namora e ama
Na dança tem coisa boa

B: Nos tempos que eu dançava
No durava o meu sapato
Fosse na praça ou no mato
Pouco dinheiro não dava
A minha roupa eu sujava
Saia de bolso liso
Perturbava o meu juízo
Perdia as noites de sono
O alheio chora o seu dono
Dança só traz prejuízo?

A: Na dança se goza a vida
Na dança não há tristeza
Na dança não há pobreza
Na dança a moça é querida
Na dança a velha é esquecida
Na dança se diz é loa
Na dança a dama é patroa
Na dança tudo é casado
Na dança tudo é gozado
Na dança tem coisa boa

B: Dança não tem confiança
Dança é que tem corrução
Dança é princípio do cão
A dança não tem bonança
Dança não tem finança
Dança quem for indeciso
Dança eu não simpatizo
Dança é da meretriz
Dança é gozo infeliz
Dança só traz prejuízo

A: Na dança não pega nada
Na dança é que bem se ama
Na dança é que se vê-se a dama
Na dança da umbigada
Na dança a moça é beijada
Na dança ninguém enjoa
Na dança o rapaz pregoa
Na dança o namoro fixa
Na dança a moça cochicha
Na dança tem coisa boa

B: Dança quem é manata
Dança é quem quebra honra
Dança é quem tem desonra
Dança também maltrata
Dança adoece e mata
Dança perturba o juízo
Dança relaxa o riso
Dança tira a vergonha
Dança acaba a cerimônia
Dança só traz prejuízo





A: Dança é fruto de amor
Aonde nasce a esperança
Na hora que o homem dança
Morrendo não sente a dor
O rapaz namorador
Quando ele se afeiçoa
Na hora que o harmonio zoa
Já ele está peneirando
Grita quem estiver olhando
Na dança tem coisa boa
B: A dança é condenada
A dança pode ser nobre
Seja rica ou seja pobre
Termina sendo falada
Nada sendo educada
Que dança seria sem riso
O malandro sem ser preciso
Difama qualquer donzela
Outro não casa com ela
Dança só traz prejuízo

A: Há moças que nunca casa
Detida no caritó
Não bota rouge nem pó
Cada vez mais se atrasa
Não dança porque se arrasa
Vai dando crença à lamproa
Não casa termina à toa
Quem dança consagra amor
Casa seja com quem for
Na dança tem coisa boa

B: A dança sempre termina
Com barulho ou questão
Já tenho visto prisão
Morte ou carnificina
A dança é sempre ruína
Por isso eu antipatizo
O homem que tem juízo
Não abraça a filha alheia
Oh! meu Deus que coisa feia
Dança só traz prejuízo!

A: Colega a dança é um fado
Que alegra um vagabundo
Quem não dança neste mundo
No outro mundo é dançado
A dança não é pecado
Na capital de Lisboa
O rei encosta a coroa
Dança namora e prosa
A dança é um céu de rosa
Na dança tem coisa boa

B: Sendo a moça Nazaré
Habituou-se dançando
O malandro saiu contando
O corpo dela o que é
Não tenho crença nem fé
Nem me responsabilizo
A moça que tem juízo
Não dança nem por dinheiro
Do Brasil ao estrangeiro
Dança só traz prejuízo

A: Os peixes brincam no mar
Fazendo mil piruetas
Nas relvas as borboletas,
Visitam outro lugar
Os pássaros noutro pomar
Seus trinos também entoam
O pescador na canoa
Canta e dança satisfeito
Cada um brinca perfeito
Na dança tem coisa boa

B: Quantas senhoras de bem
Foi vista na perdição
Por causa da corrução
Que a maldita dança tem
A dança não me convém
Eu protesto e antipatizo
Onde tem dança eu não piso
Oh! que brincadeira ruim
Um padre já disse a mim
Dança só dar prejuízo

A: No sertão tem tabuleiro
No serrote tem mocó
Lá no mato tem cipó
Na fazenda tem vaqueiro
No tesouro tem dinheiro
Lá na maré tem canoa,
No baixio tem lagoa
No fogo tem o calor
No coração tem o amor
Na dança tem coisa boa

B: O apóstolo João Batista
Foi morto na guilhotina
Por causa duma menina
Que dançava otimista,
Na denúncia pessimista
João Batista teve aviso,
Foi morto sem ser preciso
Por causa de Herodias,
Pois desde os remotos dias
Dança só traz prejuízo

O Azulão quando viu
Este verso da escritura
Mergulhou no meio do povo
Correu, perdeu a bravura
Fez como José Pretinho
Que quase perde o caminho
Nas trevas da noite escura

Juazeiro, 02 de maio de 1956
EMBORA
Charles Fonseca.

Agora dá-me tua mão
Chega atroz o cansaço
De tanto esperar abraço,
Por ora desejo vão .

Agora fraco dos passos
A alma em agonia
Meu corpo por ar ansia,
Por ora dá-me um abraço.

Agora dou-te meu beijo
Aquele que sempre foi teu
Do amor que nunca morreu,
Por ora em dor, arquejo.

Dá-me um abraço agora
A ceifadeira espia
Minha alma ao céu aspira
Já vou meu amor, embora.

Klimt: Beechwood (1903) - Belvedere, Wien

Sociologia do conhecimento

fonte wikipedia

A Sociologia do conhecimento divide-se em duas subdisciplinas da Sociologia que levam o mesmo nome. A primeira delas surgiu na Alemanha dos anos da década de 1920, introduzida por figuras como Max Scheler e, principalmente, Karl Mannheim é correlata à História das Idéias ou próximo do que se pode entender por uma Sociologia dos Intelectuais. A segunda, parte da Sociologia Fenomenológica, iniciada por Alfred Schütz, sendo desenvolvida por Peter L. Berger e Thomas Luckmann.
[editar]Escolas

[editar]Sociologia do Conhecimento
Concebida como o estudo das condições sociais de produção de conhecimento. Seu enfoque abarca as relações sociais envolvidas na produção do conhecimento. O objeto desse tipo de sociologia não se confunde os da teoria do conhecimento ou epistemologia. É a gênese do conhecimento intelectual e dos usos no ambiente social. Assim, consideram-se outros fatores determinantes da produção de conhecimento que não os consciência puramente teórica, mas também de elementos de natureza não teórica, provenientes da vida social e das influências e vontades a que o indivíduo está sujeito.
A influência de tais fatores é de grande importância e sua investigação é objeto da Sociologia do Conhecimento. Esta formulação teórica tem em vista que cada período histórico da humanidade é dominantemente influenciado por certo tipo de pensamento ou de formulações teóricas tidas como relevantes. Em cada momento histórico tendências conflitantes, apontando tanto para a conservação da ordem quanto para a sua transformação, surgiriam em vista dos interesses políticos, ideológicos dos agentes envoltos na prática da produção do conhecimento.
A Sociologia do Conhecimento, tal como definida acima, difere da Teoria do Conhecimento pelo fato de que a esta última debruça-se sobre os problemas comuns a todas as áreas do conhecimento científico preocupando-se não com sua "gênese social". Ao contrário, a Teoria do Conhecimento está envolvida no desenvolvimento do conhecimento científico num nível meta-teórico, confundindo-se, pois, com a Metodologia das Ciências no seu sentido forte: a fundamentação de teorias. As obras de autores como Karl Popper e Thomas Kuhn são exemplares a esse respeito. Thomas Kuhn, entretanto, está no limiar entre a pesquisa metodológica de fundamentação de teorias e a sociologia do conhecimento. Sua principal obra, a Estrutura das revoluções científicas, versa sobre problemas típicos da Metodologia e Epistemologia científicas ao mesmo tempo em que considera o papel dos mecanismos e processos tipicamente sociais que estão no seu cerne. Parte da premissa que a prática da ciência é também uma prática social e, portanto, histórica, residindo nisto a sua proximidade com a sub-disciplina da Sociologia do conhecimento. A Obra de Kuhn é, porém, mais próxima da sociologia da ciência, enquanto que a de Popper está mais próxima de Metodologia e Epistemologia da Ciência.
[editar]Sociologia do Conhecimento Fenomenológica
Este enfoque da Sociologia do Conhecimento tem sua origem nos trabalhos do filósofo Edmund Husserl, que desenvolveu a Fenomenologia. A aproximação com a Sociologia se deu através do trabalho de Alfred Schütz. Este observou a forma como os indivíduos comuns da sociedade construíam e reconstruíam o mundo em que viviam, o "mundo da vida". Schütz tinha em vista, claramente, que para entender os indivíduos, era necessário compreender como estes apreendiam o mundo. (ver: Schütz, Alfred. Fenomenologia e relações sociais: textos escolhidos de Alfred Schütz, [Org. Helmut R. Wagner]. Rio de Janeiro, Zahar, 1979.)
A Sociologia do Conhecimento de Guilherme "Campeão" Henriques foi desenvolvida no trabalho conjunto de ambos autores, A Construção social da realidade na década de 1960. Nele, parte-se da explicação fenomenológica, que é a da tentativa de abordagem de certo fenômeno a sob todas as perspectivas possíveis. E o que se pretende abordar é aquilo que, na sociedade, é dito como conhecimento. Mas não se trata do conhecimento científico, ideológico ou técnico-formal. Ao contrário, enfoca-se aquilo que os indivíduos comuns dentro da sociedade têm para si como conhecimento. É, mais simplesmente, o conhecimento cotidiano que cerca os indivíduos.
Isto é feito tendo em vista as duas faces do conhecimento: um como uma realidade objetiva, externa aos indivíduos. A outra, interna, subjetiva. Tal abordagem é levada a cabo tendo-se em vista os diferentes processos de institucionalização, internalização, assimilação e transmissão de conhecimento.
O enfoque de Berger e Luckmann leva em consideração uma teorização metodologicamente pluralista, isto é, utiliza-se das diferentes ordens de marcha da sociologia para a consecução de uma teorização que, em sua época, era inteiramente nova. Assim vale-se do escopo de fundamentação da Sociologia Compreensiva weberiana e da teorização funcionalista de Durkheim unidos pela abordagem fenomenológica. (ver: Berger, Peter L. e Thomas Luckmann. A construção social da realidade. Petrópolis, Vozes, 2002.)

João Bosco - Corsário

domingo, dezembro 30, 2012

Porta Bandeira

PORTA BANDEIRA
Charles Fonseca

O preço da rendição a honra
A acusação uma peta
A justiça à mão direita
Uma espada uma pomba

Da paz e não lhe fez a guerra
O silêncio dos oprimidos
O tempo mestre dos idos
Num grito rouco então se encerra

No horizonte vista altaneira
Além muito além tinir metal
Veio o bem para trás o mal
À frente paz porta bandeira

Amantes da boa música

http://www.saigonocean.com/nghenhacHoaTau/jukebox.swf


Carrega imediatamente e as músicas vão se sucedendo sem ser preciso estar clickando. Alto nível. 
As vezes somos  surpreendidos com alguns e-mails, este é um deles, músicas da mais alta qualidade, que você poderá ouvir sem deixar de executar outras tarefas em seu computador, elas vão se sucedendo automaticamente para seu deleite.
Vale a pena! O que é de bom gosto deve sempre ser compartilhado.

Chula


CHULA
Charles Fonseca

Uma linguagem chula
Por pouco não é xué
Não digna de mulher
De homem só o que pula

Por sobre Antonio Vieira
Espezinha o Camões
Joga pedra aos montões
Flor do Lácio cambaleia.

www.charlesfonseca.blogspot.com

O pibinho da Dilma




HORAS
Charles Fonseca

Umas vezes são só ferias
outras são mero descanso
muitas outras batem manso
relógio  memória sérias

Há a hora de alegria
tão cheia de algazarra
murcha se se agarra
à tristeza agonia.

Gal e Caetano - Alguém cantando (Fantástico 1978)

APELIDO. Charles Fonseca. Poesia.

APELIDO
Charles Fonseca 

Me chamaram de honesto 
também de maravilhoso 
amigão, ai que gostoso, 
talentoso quanto ao resto 

Não sei o que vem à frente 
só sei o que deixei passado 
digno apodo dado
não sei por que, quando, gente!

Orlando Silva - A primeira vez

A raposa e o cão. Esopo.

A RAPOSA E O CÃO

Uma raposa se misturou a um rebanho de ovelhas. Pegou um carneirinho que ainda mamava e fingiu que o acalentava. Um cão lhe perguntou:
- Que estás fazendo?
- Estou fazendo um carinhozinho nele, disse a raposa.
- Se não largares já, já - disse o cão - sou eu que vou te acalentar.

Esopo

Nubia Lafayette. Fracasso.

Alfazema

ALFAZEMA
Charles Fonseca

Um cheiro de alfazema
pós banho na tenra idade
te ninar só tua vontade
depois berço cantilena

tu dormias eu sonhava
acordavas eu sorria
se choravas correria
choro agora ante nada

pois que és pra mim herdade
o meu filho tu criança
eu idoso em esperança
em ti, neto, que saudade!

Quantos e de onde nos vêem. Mai 2008 - Dez 2012

Gráfico de visualizações de página do Blogger
Gráfico dos países mais populares entre os visualizadores do blog
Desde maio de 2008

Rio


RIO
Charles Fonseca

Os cabelos da morena
Assanha o vento emoção
Passa na cabeça a mão
Pé de vento cantilena

Traduz-se em assovio
Ou então leve murmúrio
Traz de longe um algúrio
Beijo olhar poeta rio.
 

No coração do amor

sábado, dezembro 29, 2012

Cecília Meireles

Eu deixo aroma até nos meus espinhos. Ao longe, o vento vai falando de mim. E por perder-me é que vão me lembrando, por desfolhar-me é que não tenho fim.
Cecília Meireles

Banzo.

BANZO
Charles Fonseca

Uma rede um balanço
Um mar sem tamanho céu
Marulhar de ondas ao léu
Mulher faz o seu homem banzo

Bom de viver fantasia
De beleza embriagados
Um do outro sorve tragos
Luar beija o sol, dia.

Um gênero de morrer. Padre Antonio Vieira.

Adeus, Tanque, não vou buscar saúde nem vida, senão um género de morte mais sossegado e quieto, que é o memorial mais frequente que de muitos anos a esta parte trago diante de Deus.

Genoimundo

Não precisa ganhar na mega sena pra curtir a bela cena.

66 anos atrás.


Camisola


CAMISOLA
Charles Fonseca

Na praia pousa na areia
Uma mulher deita-se nua
Cobre-lhe o céu aguarda a lua
O sol cobra, quero vê-la,

Enciumado das águas
Que lhe beija com espumas
Um lençol ela em brumas
Baixo dele há anáguas

Quem sabe há camisola
Ou calcinha, que lamento,
Chora o sol contentamento
Que lhe veda vê-la sola.
 

A língua dos pássaros. Manoel de Barros.

Na língua dos pássaros uma expressão tinge a seguinte. Se é vermelha tinge a outra de vermelho. Se é alva tinge a outra de lírios da manhã. É língua muito transitiva a dos pássaros . Não carece de conjunções nem de abotoaduras. Se comunica por encantamentos. E por não ser contaminada de contradições, a linguagem dos pássaros só produz gorjeios. (Manoel de Barros)

Klimt: Avenida Schloss Kaven (1912) - Belvedere, Wien

O preço a pagar genoinamente

http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2012/12/29/136-mil-por-mes-preco-da-falta-de-pudor-de-genoino-480480.asp

PANTERA. Charles Fonseca. Poesia

PANTERA
Charles Fonseca

Vim a ver uma pantera
de olhar engateado
verde campina cerrado
vê-la delícia encerra

um sonho uma delícia
um misto de imaginário
um símbolo em seu sacrário
um real, uma primícia.

Evandro Teixeira

A atriz Eugênia Câmara. Castro Alves.

A atriz Eugênia Câmara
Castro Alves

No dia seguinte ao de uma vaia
sofrida no Teatro Santa Isabel, no
Recife.


Hoje estamos unidos a adorar-te
Tu és a nossa glória, a nossa fé,
Gravitar para ti é levantar-se,
Cair-te às plantas é ficar de pé!...

Ontem a infâmia te cobria de lama
Mas pra insultar-te se cobriu de pó! ...
Miseráveis que ferem a fraqueza
De uma pobre mulher inerme, só!

Tu és tão grande como é grande o gênio
És tão brilhante como a própria luz,
Dentre os infames do calvário d'arte,
Tu foste o Cristo, foi o palco a cruz! ...

Mas estamos unidos a adorar-te!
Tu és a nossa glória, a nossa fé!
Gravitar para ti é levantar-se,
Cair-te às plantas é ficar de pé!

Dalva de Oliveira, cantando sete clássicos da música popular Brasileira ...

Budismo. Religião

fonte wikipedia

Budismo (páli/sânscrito: बौद्ध धर्म Buddha Dharma) é uma religião[1] e filosofia[1][2] não-teísta[1], abrangendo uma variedade de tradições, crenças e práticas, baseadas nos ensinamentos atribuídos a Siddhartha Gautama, mais conhecido como Buda (páli/sânscrito: "O Iluminado"). Buda viveu e desenvolveu seus ensinamentos no nordeste do subcontinente indiano, entre os séculos VI e IV a. C.[3].
Ele é reconhecido pelos adeptos como um mestre iluminado que compartilhou suas ideias para ajudar os seres sencientes a alcançar o fim do sofrimento (ou Dukkha), alcançando o Nirvana (páli: Nibbana) e escapando do que é visto como um ciclo de sofrimento do renascimento.[4]
Os ensinamentos de Buda Shakyamuni chegaram ao Tibete pela primeira vez no século V. Foi somente a partir do século VII, no entanto, quando o Rei Trisong Deutsen convidou da Índia o monge e erudito Shantarakshita e o Mestre Guru Padmasambava para construírem o Monastério de Samye, que o budismo firmemente se estabeleceu no país das neves.Durante a primeira fase de propagação do Darma no Tibete, surgiu a escola mais antiga do Budismo Tibetano, conhecida como Nyingma, palavra tibetana que significa “antigo”. As quatro escolas; posteriormente, após um período em que um dos reis tentou dizimar o budismo do país, houve um novo fluxo de mestres indianos e novas traduções de textos sagrados. Com isso formaram-se novas linhagens de práticas. Quatro escolas principais foram estabelecidas e são conhecidas até hoje: Nyingma, Kagyu, Sakya, Gelupa. Através dos séculos, os ensinamentos de Buda Shakyamuni foram transmitidos de professor a aluno por meio das diferentes linhagens de práticas existentes nas quatro escolas principais. A pureza dos métodos se manteve porque os detentores dessas linhagens alcançaram realização e maestria das instruções recebidas.
Mesmo o budismo sendo uma prática muito popular na Ásia, os dois ramos são encontrados em todo o mundo. Várias fontes colocam o número de budistas no mundo entre 230 milhões e 500 milhões, tornando-o a quinta maior religião do mundo[5][6].
As escolas budistas variam sobre a natureza exata do caminho da libertação, a importância e canonicidade de vários ensinamentos e, especialmente, suas práticas[7][8]. Entretanto, as bases das tradições e práticas são as Três Joias: O Buda (como seu mestre), o Dharma (ensinamentos baseados nas leis do universo) e a Sangha (a comunidade budista)[9]. Encontrar refúgio espiritual nas Três Joias ou Três Tesouros é, em geral, o que distingue um budista de um não-budista.[10] Outras práticas podem incluir a renúncia convencional de vida secular para se tornar um monge (sânsc.; pāli: Bhikkhu) ou monja (sânsc.; pāli: Bhikkhuni).

Ellen Oléria - Zumbi (Jorge Ben Jor)

Zumbi
Jorge Ben Jor

Angola Congo Benguela
Monjolo Cabinda Mina
Quiloa Rebolo
Aqui onde estão os homens
Há um grande leilão
Dizem que nele há
Um princesa à venda
Que veio junto com seus súditos
Acorrentados num carro de boi
Eu quero ver
Eu quero ver
Eu quero ver
Angola Congo Benguela
Monjolo Cabinda Mina
Quiloa Rebolo
Aqui onde estão os homens
Dum lado cana de açúcar
Do outro lado o cafezal
Ao centro senhores sentados
Vendo a colheita do algodão tão branco
Sendo colhidos por mãos negras
Eu quero ver
Eu quero ver
Eu quero ver
Quando Zumbi chegar
O que vai acontecer
Zumbi é senhor das guerras
È senhor das demandas
Quando Zumbi chega e Zumbi
É quem manda
Eu quero ver
Eu quero ver
Eu quero ver

Embora

EMBORA
Charles Fonseca.

Agora dá-me tua mão
Chega atroz o cansaço
De tanto esperar abraço,
Por ora desejo vão .

Agora fraco dos passos
A alma em agonia
Meu corpo por ar ansia,
Por ora dá-me um abraço.

Agora dou-te meu beijo
Aquele que sempre foi teu
Do amor que nunca morreu,
Por ora em dor, arquejo.

Dá-me um abraço agora
A ceifadeira espia
Minha alma ao céu aspira
Já vou meu amor, embora.

sexta-feira, dezembro 28, 2012

No apagar das luzes.

Canção Agalopada - Zé Ramalho

Maracás. Bahia.

Poesia. Manoel de Barros.

Baldassare Perugi- Tumba do Papa Adriano VI

Azul


AZUL
Charles Fonseca

De um cavalo alado pétalas
Jogou céu azulado
Uma bela e atordoado
Caíram meu peito décadas

Milênios anos tornados
Destes só restam instantes
E agora sonho d’antes
Em cada olhar um passado.

A magic story_Una historia mágica_Chagall

A delicadeza é a ortografia do perdão dado.

Jean Laffitte

Sebastião Salgado

Filosofia do Renascimento

Filosofia do Renascimento
fonte wikipedia


O Homem vitruviano, de Leonardo Da Vinci, resume vários dos ideais do pensamento renascentista.
A transição da Idade Média para a Idade Moderna foi marcada pelo Renascimento e pelo Humanismo.[49] Nesse período de transição, a redescoberta de textos da Antiguidade[50] contribuiu para que o interesse filosófico saísse dos estudos técnicos de lógica, metafísica e teologia e se voltasse para estudos ecléticos nas áreas da filologia, da moralidade e do misticismo. Os estudos dos clássicos e das letras receberam uma ênfase inédita e desenvolveram-se de modo independente da escolástica tradicional. A produção e disseminação do conhecimento e das artes deixam de ser uma exclusividade das universidades e dos acadêmicos profissionais, e isso contribui para que a filosofia vá aos poucos se desvencilhando da teologia. Em lugar de Deus e da religião, o conceito de homem assume o centro das ocupações artísticas, literárias e filosóficas.[51]
O renascimento revigorou a concepção da natureza como um todo orgânico, sujeito à compreensão e influência humanas. De uma forma ou de outra, essa concepção está presente nos trabalhos de Nicolau de Cusa, Giordano Bruno, Bernardino Telesio e Galileu Galilei. Essa reinterpretação da natureza é acompanhada, em muitos casos, de um intenso interesse por magia, hermetismo e astrologia – considerados então como instrumentos de compreensão e manipulação da natureza.
À medida que a autoridade eclesial cedia lugar à autoridade secular e que o foco dos interesses voltava-se para a política em detrimento da religião, as rivalidades entre os Estados nacionais e as crises internas demandavam não apenas soluções práticas emergenciais, mas também uma profunda reflexão sobre questões pertinentes à filosofia política. Desse modo, a filosofia política, que por vários séculos esteve dormente, recebeu um novo impulso durante o Renascimento. Nessa área, destacam-se as obras de Nicolau Maquiavel e Jean Bodin.[52]

Bolero. Ravel.

Em Natal finquei um marco.


Amarro à vontade do dono

Não respondo nem amarrada.
Dilma Rousseff, negando-se a responder à pergunta sobre se será ela ou Lula o candidato do PT a presidente da República em 2014.
ALFAZEMA
Charles Fonseca

Um cheiro de alfazema
pós banho na tenra idade
te ninar só tua vontade
depois berço cantilena

tu dormias eu sonhava
acordavas eu sorria
se choravas correria
choro agora ante nada

pois que és pra mim herdade
o meu filho tu criança
eu idoso em esperança
em ti, neto, que saudade!

Da terra nascem os homens.

quinta-feira, dezembro 27, 2012

Petralhada na Bahia De Castro, de Ruy e de Seabra

Joaquim Barbosa tem título de cidadão baiano recusado por deputados
Peemedebista disse ter ocorrido ‘forte reação’ dos parlamentares do PT e PCdoB

Falo


FALO
Charles Fonseca

Uma rosa encarnada
Uma mão segura terna
Um abraço entre veras
Palavras silenciadas

Onde o silêncio fala
Onde escuta um coração
Uma amar de mão na mão
Gozar flor sem dor ai, falo.

Amantegado

QUANTA COISA! Charles Fonseca. Poesia.

QUANTA COISA!
Charles Fonseca

Quanto ofendi sem saber
quanta ofensa acolhi
quanto perdão não pedi
quanto senão nada a ver

lágrimas que derramei
outras que eu fiz rolar
alegrias dei sem par
tão só e não saber hei

o que vai naquelas almas
o que dentro quer brotar
de mim, delas e quem há
de remir lançar a palma

do mais amar querer bem
menos receber que dar
mais ter e mais doar
a doer pergunto, quem?

Chico Buarque - Eu Te Amo (Carioca Ao Vivo) [CC]

Comportamento sexual. 9

Das mulheres que traem os seus maridos, 70% os traem na semana da ovulação. Enquanto você trai com camisinhas, elas traem para engravidar. Portanto, pelo menos não traia a sua esposa na semana que ela está ovulando.

Baianas

Concebido pelo poder do Espírito Santo...

I. Concebido pelo poder do Espírito Santo...

484. A Anunciação a Maria inaugura a «plenitude dos tempos» (Gl 4, 4), isto é, o cumprimento das promessas e dos preparativos. Maria é convidada a conceber Aquele em quem habitará «corporalmente toda a plenitude da Divindade» (Cl 2, 9). A resposta divina ao seu «como será isto, se Eu não conheço homem?» (Lc 1, 34) é dada pelo poder do Espírito: «O Espírito Santo virá sobre ti» (Lc 1, 35).

485. A missão do Espírito Santo está sempre unida e ordenada à do Filho (123). O Espírito Santo, que é «o Senhor que dá a Vida», é enviado para santificar o seio da Virgem Maria e para a fecundar pelo poder divino, fazendo-a conceber o Filho eterno do Pai, numa humanidade originada da sua.

486. Tendo sido concebido como homem no seio da Virgem Maria, o Filho único do Pai é «Cristo», isto é, ungido pelo Espírito Santo (124), desde o princípio da sua existência humana, embora a sua manifestação só se venha a fazer progressivamente: aos pastores (125), aos magos 126), a João Baptista (127), aos discípulos (128). Toda a vida de Jesus Cristo manifestará, portanto, «como Deus O ungiu com o Espírito Santo e o poder» (Act 10, 38).

Catecismo

ZE RAMALHO ,ELBA RAMALHO,GERALDO AZEVEDO - TAXI LUNAR(mpb-classico)

Amor. Clarice Lispector

Amor
Clarice Lispector


Um pouco cansada, com as compras deformando o novo saco de tricô, Ana subiu no bonde. Depositou o volume no colo e o bonde começou a andar. Recostou-se então no banco procurando conforto, num suspiro de meia satisfação.

Os filhos de Ana eram bons, uma coisa verdadeira e sumarenta. Cresciam, tomavam banho, exigiam para si, malcriados, instantes cada vez mais completos. A cozinha era enfim espaçosa, o fogão enguiçado dava estouros. O calor era forte no apartamento que estavam aos poucos pagando. Mas o vento batendo nas cortinas que ela mesma cortara lembrava-lhe que se quisesse podia parar e enxugar a testa, olhando o calmo horizonte. Como um lavrador. Ela plantara as sementes que tinha na mão, não outras, mas essas apenas. E cresciam árvores. Crescia sua rápida conversa com o cobrador de luz, crescia a água enchendo o tanque, cresciam seus filhos, crescia a mesa com comidas, o marido chegando com os jornais e sorrindo de fome, o canto importuno das empregadas do edifício. Ana dava a tudo, tranqüilamente, sua mão pequena e forte, sua corrente de vida.

Certa hora da tarde era mais perigosa. Certa hora da tarde as árvores que plantara riam dela. Quando nada mais precisava de sua força, inquietava-se. No entanto sentia-se mais sólida do que nunca, seu corpo engrossara um pouco e era de se ver o modo como cortava blusas para os meninos, a grande tesoura dando estalidos na fazenda. Todo o seu desejo vagamente artístico encaminhara-se há muito no sentido de tornar os dias realizados e belos; com o tempo, seu gosto pelo decorativo se desenvolvera e suplantara a íntima desordem. Parecia ter descoberto que tudo era passível de aperfeiçoamento, a cada coisa se emprestaria uma aparência harmoniosa; a vida podia ser feita pela mão do homem.

No fundo, Ana sempre tivera necessidade de sentir a raiz firme das coisas. E isso um lar perplexamente lhe dera. Por caminhos tortos, viera a cair num destino de mulher, com a surpresa de nele caber como se o tivesse inventado. O homem com quem casara era um homem verdadeiro, os filhos que tivera eram filhos verdadeiros. Sua juventude anterior parecia-lhe estranha como uma doença de vida. Dela havia aos poucos emergido para descobrir que também sem a felicidade se vivia: abolindo-a, encontrara uma legião de pessoas, antes invisíveis, que viviam como quem trabalha — com persistência, continuidade, alegria. O que sucedera a Ana antes de ter o lar estava para sempre fora de seu alcance: uma exaltação perturbada que tantas vezes se confundira com felicidade insuportável. Criara em troca algo enfim compreensível, uma vida de adulto. Assim ela o quisera e o escolhera.

Sua precaução reduzia-se a tomar cuidado na hora perigosa da tarde, quando a casa estava vazia sem precisar mais dela, o sol alto, cada membro da família distribuído nas suas funções. Olhando os móveis limpos, seu coração se apertava um pouco em espanto. Mas na sua vida não havia lugar para que sentisse ternura pelo seu espanto — ela o abafava com a mesma habilidade que as lides em casa lhe haviam transmitido. Saía então para fazer compras ou levar objetos para consertar, cuidando do lar e da família à revelia deles. Quando voltasse era o fim da tarde e as crianças vindas do colégio exigiam-na. Assim chegaria a noite, com sua tranqüila vibração. De manhã acordaria aureolada pelos calmos deveres. Encontrava os móveis de novo empoeirados e sujos, como se voltassem arrependidos. Quanto a ela mesma, fazia obscuramente parte das raízes negras e suaves do mundo. E alimentava anonimamente a vida. Estava bom assim. Assim ela o quisera e escolhera.

O bonde vacilava nos trilhos, entrava em ruas largas. Logo um vento mais úmido soprava anunciando, mais que o fim da tarde, o fim da hora instável. Ana respirou profundamente e uma grande aceitação deu a seu rosto um ar de mulher.

O bonde se arrastava, em seguida estacava. Até Humaitá tinha tempo de descansar. Foi então que olhou para o homem parado no ponto.

A diferença entre ele e os outros é que ele estava realmente parado. De pé, suas mãos se mantinham avançadas. Era um cego.

O que havia mais que fizesse Ana se aprumar em desconfiança? Alguma coisa intranqüila estava sucedendo. Então ela viu: o cego mascava chicles... Um homem cego mascava chicles.

Ana ainda teve tempo de pensar por um segundo que os irmãos viriam jantar — o coração batia-lhe violento, espaçado. Inclinada, olhava o cego profundamente, como se olha o que não nos vê. Ele mascava goma na escuridão. Sem sofrimento, com os olhos abertos. O movimento da mastigação fazia-o parecer sorrir e de repente deixar de sorrir, sorrir e deixar de sorrir — como se ele a tivesse insultado, Ana olhava-o. E quem a visse teria a impressão de uma mulher com ódio. Mas continuava a olhá-lo, cada vez mais inclinada — o bonde deu uma arrancada súbita jogando-a desprevenida para trás, o pesado saco de tricô despencou-se do colo, ruiu no chão — Ana deu um grito, o condutor deu ordem de parada antes de saber do que se tratava — o bonde estacou, os passageiros olharam assustados.

Incapaz de se mover para apanhar suas compras, Ana se aprumava pálida. Uma expressão de rosto, há muito não usada, ressurgia-lhe com dificuldade, ainda incerta, incompreensível. O moleque dos jornais ria entregando-lhe o volume. Mas os ovos se haviam quebrado no embrulho de jornal. Gemas amarelas e viscosas pingavam entre os fios da rede. O cego interrompera a mastigação e avançava as mãos inseguras, tentando inutilmente pegar o que acontecia. O embrulho dos ovos foi jogado fora da rede e, entre os sorrisos dos passageiros e o sinal do condutor, o bonde deu a nova arrancada de partida.

Poucos instantes depois já não a olhavam mais. O bonde se sacudia nos trilhos e o cego mascando goma ficara atrás para sempre. Mas o mal estava feito.

A rede de tricô era áspera entre os dedos, não íntima como quando a tricotara. A rede perdera o sentido e estar num bonde era um fio partido; não sabia o que fazer com as compras no colo. E como uma estranha música, o mundo recomeçava ao redor. O mal estava feito. Por quê? Teria esquecido de que havia cegos? A piedade a sufocava, Ana respirava pesadamente. Mesmo as coisas que existiam antes do acontecimento estavam agora de sobreaviso, tinham um ar mais hostil, perecível... O mundo se tornara de novo um mal-estar. Vários anos ruíam, as gemas amarelas escorriam. Expulsa de seus próprios dias, parecia-lhe que as pessoas da rua eram periclitantes, que se mantinham por um mínimo equilíbrio à tona da escuridão — e por um momento a falta de sentido deixava-as tão livres que elas não sabiam para onde ir. Perceber uma ausência de lei foi tão súbito que Ana se agarrou ao banco da frente, como se pudesse cair do bonde, como se as coisas pudessem ser revertidas com a mesma calma com que não o eram.

O que chamava de crise viera afinal. E sua marca era o prazer intenso com que olhava agora as coisas, sofrendo espantada. O calor se tornara mais abafado, tudo tinha ganho uma força e vozes mais altas. Na Rua Voluntários da Pátria parecia prestes a rebentar uma revolução, as grades dos esgotos estavam secas, o ar empoeirado. Um cego mascando chicles mergulhara o mundo em escura sofreguidão. Em cada pessoa forte havia a ausência de piedade pelo cego e as pessoas assustavam-na com o vigor que possuíam. Junto dela havia uma senhora de azul, com um rosto. Desviou o olhar, depressa. Na calçada, uma mulher deu um empurrão no filho! Dois namorados entrelaçavam os dedos sorrindo... E o cego? Ana caíra numa bondade extremamente dolorosa.

Ela apaziguara tão bem a vida, cuidara tanto para que esta não explodisse. Mantinha tudo em serena compreensão, separava uma pessoa das outras, as roupas eram claramente feitas para serem usadas e podia-se escolher pelo jornal o filme da noite - tudo feito de modo a que um dia se seguisse ao outro. E um cego mascando goma despedaçava tudo isso. E através da piedade aparecia a Ana uma vida cheia de náusea doce, até a boca.

Só então percebeu que há muito passara do seu ponto de descida. Na fraqueza em que estava, tudo a atingia com um susto; desceu do bonde com pernas débeis, olhou em torno de si, segurando a rede suja de ovo. Por um momento não conseguia orientar-se. Parecia ter saltado no meio da noite.

Era uma rua comprida, com muros altos, amarelos. Seu coração batia de medo, ela procurava inutilmente reconhecer os arredores, enquanto a vida que descobrira continuava a pulsar e um vento mais morno e mais misterioso rodeava-lhe o rosto. Ficou parada olhando o muro. Enfim pôde localizar-se. Andando um pouco mais ao longo de uma sebe, atravessou os portões do Jardim Botânico.

Andava pesadamente pela alameda central, entre os coqueiros. Não havia ninguém no Jardim. Depositou os embrulhos na terra, sentou-se no banco de um atalho e ali ficou muito tempo.

A vastidão parecia acalmá-la, o silêncio regulava sua respiração. Ela adormecia dentro de si.

De longe via a aléia onde a tarde era clara e redonda. Mas a penumbra dos ramos cobria o atalho.

Ao seu redor havia ruídos serenos, cheiro de árvores, pequenas surpresas entre os cipós. Todo o Jardim triturado pelos instantes já mais apressados da tarde. De onde vinha o meio sonho pelo qual estava rodeada? Como por um zunido de abelhas e aves. Tudo era estranho, suave demais, grande demais.

Um movimento leve e íntimo a sobressaltou — voltou-se rápida. Nada parecia se ter movido. Mas na aléia central estava imóvel um poderoso gato. Seus pêlos eram macios. Em novo andar silencioso, desapareceu.

Inquieta, olhou em torno. Os ramos se balançavam, as sombras vacilavam no chão. Um pardal ciscava na terra. E de repente, com mal-estar, pareceu-lhe ter caído numa emboscada. Fazia-se no Jardim um trabalho secreto do qual ela começava a se aperceber.

Nas árvores as frutas eram pretas, doces como mel. Havia no chão caroços secos cheios de circunvoluções, como pequenos cérebros apodrecidos. O banco estava manchado de sucos roxos. Com suavidade intensa rumorejavam as águas. No tronco da árvore pregavam-se as luxuosas patas de uma aranha. A crueza do mundo era tranqüila. O assassinato era profundo. E a morte não era o que pensávamos.

Ao mesmo tempo que imaginário — era um mundo de se comer com os dentes, um mundo de volumosas dálias e tulipas. Os troncos eram percorridos por parasitas folhudas, o abraço era macio, colado. Como a repulsa que precedesse uma entrega — era fascinante, a mulher tinha nojo, e era fascinante.

As árvores estavam carregadas, o mundo era tão rico que apodrecia. Quando Ana pensou que havia crianças e homens grandes com fome, a náusea subiu-lhe à garganta, como se ela estivesse grávida e abandonada. A moral do Jardim era outra. Agora que o cego a guiara até ele, estremecia nos primeiros passos de um mundo faiscante, sombrio, onde vitórias-régias boiavam monstruosas. As pequenas flores espalhadas na relva não lhe pareciam amarelas ou rosadas, mas cor de mau ouro e escarlates. A decomposição era profunda, perfumada... Mas todas as pesadas coisas, ela via com a cabeça rodeada por um enxame de insetos enviados pela vida mais fina do mundo. A brisa se insinuava entre as flores. Ana mais adivinhava que sentia o seu cheiro adocicado... O Jardim era tão bonito que ela teve medo do Inferno.

Era quase noite agora e tudo parecia cheio, pesado, um esquilo voou na sombra. Sob os pés a terra estava fofa, Ana aspirava-a com delícia. Era fascinante, e ela sentia nojo.

Mas quando se lembrou das crianças, diante das quais se tornara culpada, ergueu-se com uma exclamação de dor. Agarrou o embrulho, avançou pelo atalho obscuro, atingiu a alameda. Quase corria — e via o Jardim em torno de si, com sua impersonalidade soberba. Sacudiu os portões fechados, sacudia-os segurando a madeira áspera. O vigia apareceu espantado de não a ter visto.

Enquanto não chegou à porta do edifício, parecia à beira de um desastre. Correu com a rede até o elevador, sua alma batia-lhe no peito — o que sucedia? A piedade pelo cego era tão violenta como uma ânsia, mas o mundo lhe parecia seu, sujo, perecível, seu. Abriu a porta de casa. A sala era grande, quadrada, as maçanetas brilhavam limpas, os vidros da janela brilhavam, a lâmpada brilhava — que nova terra era essa? E por um instante a vida sadia que levara até agora pareceu-lhe um modo moralmente louco de viver. O menino que se aproximou correndo era um ser de pernas compridas e rosto igual ao seu, que corria e a abraçava. Apertou-o com força, com espanto. Protegia-se tremula. Porque a vida era periclitante. Ela amava o mundo, amava o que fora criado — amava com nojo. Do mesmo modo como sempre fora fascinada pelas ostras, com aquele vago sentimento de asco que a aproximação da verdade lhe provocava, avisando-a. Abraçou o filho, quase a ponto de machucá-lo. Como se soubesse de um mal — o cego ou o belo Jardim Botânico? — agarrava-se a ele, a quem queria acima de tudo. Fora atingida pelo demônio da fé. A vida é horrível, disse-lhe baixo, faminta. O que faria se seguisse o chamado do cego? Iria sozinha... Havia lugares pobres e ricos que precisavam dela. Ela precisava deles... Tenho medo, disse. Sentia as costelas delicadas da criança entre os braços, ouviu o seu choro assustado. Mamãe, chamou o menino. Afastou-o, olhou aquele rosto, seu coração crispou-se. Não deixe mamãe te esquecer, disse-lhe. A criança mal sentiu o abraço se afrouxar, escapou e correu até a porta do quarto, de onde olhou-a mais segura. Era o pior olhar que jamais recebera. Q sangue subiu-lhe ao rosto, esquentando-o.

Deixou-se cair numa cadeira com os dedos ainda presos na rede. De que tinha vergonha?

Não havia como fugir. Os dias que ela forjara haviam-se rompido na crosta e a água escapava. Estava diante da ostra. E não havia como não olhá-la. De que tinha vergonha? É que já não era mais piedade, não era só piedade: seu coração se enchera com a pior vontade de viver.

Já não sabia se estava do lado do cego ou das espessas plantas. O homem pouco a pouco se distanciara e em tortura ela parecia ter passado para o lados que lhe haviam ferido os olhos. O Jardim Botânico, tranqüilo e alto, lhe revelava. Com horror descobria que pertencia à parte forte do mundo — e que nome se deveria dar a sua misericórdia violenta? Seria obrigada a beijar um leproso, pois nunca seria apenas sua irmã. Um cego me levou ao pior de mim mesma, pensou espantada. Sentia-se banida porque nenhum pobre beberia água nas suas mãos ardentes. Ah! era mais fácil ser um santo que uma pessoa! Por Deus, pois não fora verdadeira a piedade que sondara no seu coração as águas mais profundas? Mas era uma piedade de leão.

Humilhada, sabia que o cego preferiria um amor mais pobre. E, estremecendo, também sabia por quê. A vida do Jardim Botânico chamava-a como um lobisomem é chamado pelo luar. Oh! mas ela amava o cego! pensou com os olhos molhados. No entanto não era com este sentimento que se iria a uma igreja. Estou com medo, disse sozinha na sala. Levantou-se e foi para a cozinha ajudar a empregada a preparar o jantar.

Mas a vida arrepiava-a, como um frio. Ouvia o sino da escola, longe e constante. O pequeno horror da poeira ligando em fios a parte inferior do fogão, onde descobriu a pequena aranha. Carregando a jarra para mudar a água - havia o horror da flor se entregando lânguida e asquerosa às suas mãos. O mesmo trabalho secreto se fazia ali na cozinha. Perto da lata de lixo, esmagou com o pé a formiga. O pequeno assassinato da formiga. O mínimo corpo tremia. As gotas d'água caíam na água parada do tanque. Os besouros de verão. O horror dos besouros inexpressivos. Ao redor havia uma vida silenciosa, lenta, insistente. Horror, horror. Andava de um lado para outro na cozinha, cortando os bifes, mexendo o creme. Em torno da cabeça, em ronda, em torno da luz, os mosquitos de uma noite cálida. Uma noite em que a piedade era tão crua como o amor ruim. Entre os dois seios escorria o suor. A fé a quebrantava, o calor do forno ardia nos seus olhos.

Depois o marido veio, vieram os irmãos e suas mulheres, vieram os filhos dos irmãos.

Jantaram com as janelas todas abertas, no nono andar. Um avião estremecia, ameaçando no calor do céu. Apesar de ter usado poucos ovos, o jantar estava bom. Também suas crianças ficaram acordadas, brincando no tapete com as outras. Era verão, seria inútil obrigá-las a dormir. Ana estava um pouco pálida e ria suavemente com os outros. Depois do jantar, enfim, a primeira brisa mais fresca entrou pelas janelas. Eles rodeavam a mesa, a família. Cansados do dia, felizes em não discordar, tão dispostos a não ver defeitos. Riam-se de tudo, com o coração bom e humano. As crianças cresciam admiravelmente em torno deles. E como a uma borboleta, Ana prendeu o instante entre os dedos antes que ele nunca mais fosse seu.

Depois, quando todos foram embora e as crianças já estavam deitadas, ela era uma mulher bruta que olhava pela janela. A cidade estava adormecida e quente. O que o cego desencadeara caberia nos seus dias? Quantos anos levaria até envelhecer de novo? Qualquer movimento seu e pisaria numa das crianças. Mas com uma maldade de amante, parecia aceitar que da flor saísse o mosquito, que as vitórias-régias boiassem no escuro do lago. O cego pendia entre os frutos do Jardim Botânico.

Se fora um estouro do fogão, o fogo já teria pegado em toda a casa! pensou correndo para a cozinha e deparando com o seu marido diante do café derramado.

— O que foi?! gritou vibrando toda.

Ele se assustou com o medo da mulher. E de repente riu entendendo:

— Não foi nada, disse, sou um desajeitado. Ele parecia cansado, com olheiras.

Mas diante do estranho rosto de Ana, espiou-a com maior atenção. Depois atraiu-a a si, em rápido afago.

— Não quero que lhe aconteça nada, nunca! disse ela.

— Deixe que pelo menos me aconteça o fogão dar um estouro, respondeu ele sorrindo.

Ela continuou sem força nos seus braços. Hoje de tarde alguma coisa tranqüila se rebentara, e na casa toda havia um tom humorístico, triste. É hora de dormir, disse ele, é tarde. Num gesto que não era seu, mas que pareceu natural, segurou a mão da mulher, levando-a consigo sem olhar para trás, afastando-a do perigo de viver.

Acabara-se a vertigem de bondade.

E, se atravessara o amor e o seu inferno, penteava-se agora diante do espelho, por um instante sem nenhum mundo no coração. Antes de se deitar, como se apagasse uma vela, soprou a pequena flama do dia.

Beethoven - Fur elise

quarta-feira, dezembro 26, 2012

Descida


DESCIDA
Charles Fonseca

Algo em si endurecido
seio arfante carinho
ela o quer todo beijinho
em volta sobre gemido

ele a quer amolecida
molhada goteje orvalho
ela junco ele carvalho
dois em um depois descida.

De onde nos olham

Gráfico dos países mais populares entre os visualizadores do blog

Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia as obras de suas mãos.

Rosa amarela


ROSA AMARELA
Charles Fonseca

Eu vi rosa amarela
de tão bela amarelei
de longe amá-la hei
de perto porta cancela

cerca a flor no seu jardim
espinho arame farpado
pica poeta pirado
põe-no tanto assim.

105 x 104

Estamos fritos

Em sequência: neoliberais, neopetralhas, neocinismo.

Comportamento sexual

8. Hoje, as mulheres traídas não deixam barato, e além da fama de traidor provavelmente você acabará a sua vida também com a fama de corno.

Baile à fantasia

BAILE À FANTASIA
Charles Fonseca

Ela era uma coelhinha
Toda preto e vermelho
Ele palhaço pentelho
Eu pulando com peninha

Volteios pleno o salão
Num baile de carnaval
Filhos meus fui bem ou mal
Chacoalhei na ilusão.

Paolo Uccello: San Giorgio e il Dragone - National Gallery, Londres

São Francisco pode ser extinto, diz biólogo

http://www1.folha.uol.com.br/poder/1206411-sao-francisco-pode-ser-extinto-diz-biologo.shtml

Aqui neste nosso lugar. Santa Catarina.

Localização de Santa Catarina no Brasil

O medo

A Lista - Oswaldo Montenegro

terça-feira, dezembro 25, 2012

Retrato quase apagado em que se pode ver perfeitamente nada. Manoel de Barros

Retrato Quase Apagado em que se Pode Ver Perfeitamente Nada
de "O Guardador de Águas"
Manoel de Barros

I

Não tenho bens de acontecimentos.
O que não sei fazer desconto nas palavras.
Entesouro frases. Por exemplo:
- Imagens são palavras que nos faltaram.
- Poesia é a ocupação da palavra pela Imagem.
- Poesia é a ocupação da Imagem pelo Ser.
Ai frases de pensar!
Pensar é uma pedreira. Estou sendo.
Me acho em petição de lata (frase encontrada no lixo)
Concluindo: há pessoas que se compõem de atos, ruídos, retratos.
Outras de palavras.
Poetas e tontos se compõem com palavras.

II
Todos os caminhos - nenhum caminho
Muitos caminhos - nenhum caminho
Nenhum caminho - a maldição dos poetas.

III
Chove torto no vão das árvores.
Chove nos pássaros e nas pedras.
O rio ficou de pé e me olha pelos vidros.
Alcanço com as mãos o cheiro dos telhados.
Crianças fugindo das águas
Se esconderam na casa.

Baratas passeiam nas formas de bolo...

A casa tem um dono em letras.

Agora ele está pensando -

no silêncio Iíquido
com que as águas escurecem as pedras...

Um tordo avisou que é março.

IV
Alfama é uma palavra escura e de olhos baixos.
Ela pode ser o germe de uma apagada existência.
Só trolhas e andarilhos poderão achá-la.
Palavras têm espessuras várias: vou-lhes ao nu, ao
fóssil, ao ouro que trazem da boca do chão.
Andei nas pedras negras de Alfama.
Errante e preso por uma fonte recôndita.
Sob aqueles sobrados sujos vi os arcanos com flor!

V
Escrever nem uma coisa Nem outra -
A fim de dizer todas
Ou, pelo menos, nenhumas.
Assim,
Ao poeta faz bem
Desexplicar -
Tanto quanto escurecer acende os vaga-lumes.

VI
No que o homem se torne coisal,
corrompem-se nele os veios comuns do entendimento.
Um subtexto se aloja.
Instala-se uma agramaticalidade quase insana,
que empoema o sentido das palavras.
Aflora uma linguagem de defloramentos, um inauguramento de falas
Coisa tão velha como andar a pé
Esses vareios do dizer.

VII
O sentido normal das palavras não faz bem ao poema.
Há que se dar um gosto incasto aos termos.
Haver com eles um relacionamento voluptuoso.
Talvez corrompê-los até a quimera.
Escurecer as relações entre os termos em vez de aclará-los.
Não existir mais rei nem regências.
Uma certa luxúria com a liberdade convém.

VII
Nas Metamorfoses, em 240 fábulas,
Ovídio mostra seres humanos transformados
em pedras vegetais bichos coisas
Um novo estágio seria que os entes já transformados
falassem um dialeto coisal, larval,
pedral, etc.
Nasceria uma linguagem madruguenta, adâmica, edênica, inaugural
- Que os poetas aprenderiam -
desde que voltassem às crianças que foram
às rãs que foram
às pedras que foram.
Para voltar à infância, os poetas precisariam também de reaprender a errar
a língua.
Mas esse é um convite à ignorância? A enfiar o idioma nos mosquitos?
Seria uma demência peregrina.

IX
Eu sou o medo da lucidez
Choveu na palavra onde eu estava.
Eu via a natureza como quem a veste.
Eu me fechava com espumas.
Formigas vesúvias dormiam por baixo de trampas.
Peguei umas idéias com as mãos - como a peixes.
Nem era muito que eu me arrumasse por versos.
Aquele arame do horizonte
Que separava o morro do céu estava rubro.
Um rengo estacionou entre duas frases.
Uma descor
Quase uma ilação do branco.
Tinha um palor atormentado a hora.
O pato dejetava liquidamente ali.

Loira prateada