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terça-feira, julho 31, 2012

Deu zebra

Zoológico de Berlim, na Alemanha, apresentou nesta terça-feira (31) filhote de zebra.:imagem 5

Deus e o diabo na terra do sol. Glauber Rocha

Debussy - "Clair de Lune"

O Supremo

Clique: http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/politica-cia/noblat-julgamento-do-mensalao-nao-mostrara-o-pt-que-temos-porque-esse-ja-se-sabe-qual-e-mas-o-supremo-tribunal-que-temos/

O ministro Dias Toffoli não pode participar do julgamento do mensalão

Cliquehttp://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/politica-cia/o-ministro-dias-toffoli-nao-pode-participar-do-julgamento-do-mensalao-se-ele-proprio-nao-se-declarar-impedido-o-procurador-geral-da-republica-tem-obrigacao-de-pedir-seu-afastamento-aos-demais-minist/

História da Arte 11 - Art Nouveau

Édipo. Freud.

“Édipo, filho de Laio, Rei de Tebas, e de Jocasta, foi enjeitado quando criança porque o oráculo advertira Laio de que a criança ainda por nascer seria o assassino de sue pai. A criança foi salva e cresceu como príncipe numa corte estrangeira, até que, em dúvida quanto à sua origem, também ele interrogou o oráculo e foi alertado para evitar sua cidade, já que estava predestinado a assassinar seu pai e receber sua mãe em casamento. Na estrada que o levava para longe do local que ele acreditava seu lar, encontrou-se com o Rei Laio e o matou numa súbita rixa. Em seguida dirigiu-se a Tebas e decifrou o enigma apresentado pela Esfinge que lhe barrara o caminho. Por gratidão, os tebanos fizeram-no rei e lhe deram sua mãe Jocasta em casamento. Ele reinou por muito tempo com paz e honra, e aquela que, sem que ele o soubesse, era sua mãe, deu-lhe dois filhos e duas filhas. Por fim, então irrompeu uma peste e os tebanos mais uma vez consultaram o oráculo. É nesse ponto que se inicia a tragédia de Sófocles. Os mensageiros trazem de volta a resposta de que a peste cessará quando o assassino de Laio tiver sido expulso do país.

Mas onde está ele agora? Onde se há de ler agora
O desbotado registro dessa culpa de outrora?

(...) Estarrecido ante o ato abominável que inadvertidamente perpetrara, Édipo cega a si próprio e abandona o lar. A predição do oráculo fora cumprida.

É destino de todos nós, talvez, dirigir nosso primeiro impulso sexual para nossa mãe, e nosso primeiro ódio e primeiro desejo assassino, para nosso pai.” Freud.

História da Arte - Arte Pré-Histórica

185. Quem diz «Creio» afirma: «dou a minha adesão àquilo em que nós cremos». A comunhão na fé tem necessidade duma linguagem comum da fé, normativa para todos e a todos unindo na mesma confissão de fé.
Catecismo

Maravilhas Divinas

Edmundo, o Céptico. Cecília Meireles

Edmundo, o Céptico
Cecília Meireles


Naquele tempo, nós não sabiamos o que fosse cepticismo. Mas Edmundo era céptico. As pessoas aborreciam-se e chamavam-no de teimoso. Era uma grande injustiça e uma definição errada.

Ele queria quebrar com os dentes os caroços de ameixa, para chupar um melzinho que há lá dentro. As pessoas diziam-lhe que os caroços eram mais duros que os seus dentes. Ele quebrou os dentes com a verificação. Mas verificou. E nós todos aprendemos à sua custa. (O cepticismo também tem o seu valor!)

Disseram-lhe que, mergulhando de cabeça na pipa d'água do quintal, podia morrer afogado. Não se assustou com a idéia da morte: queria saber é se lhe diziam a verdade. E só não morreu porque o jardineiro andava perto.

Na lição de catecismo, quando lhe disseram que os sábios desprezam os bens deste mundo, ele perguntou lá do fundo da sala: "E o rei Salomão?" Foi preciso a professora fazer uma conferência sobre o assunto; e ele não saiu convencido. Dizia: "Só vendo." E em certas ocasiões, depois de lhe mostrarem tudo o que queria ver, ainda duvidava. "Talvez eu não tenha visto direito. Eles sempre atrapalham." (Eles eram os adultos.)

Edmundo foi aluno muito difícil. Até os colegas perdiam a paciência com as suas dúvidas. Alguém devia ter tentado enganá-lo, um dia, para que ele assim desconfiasse de tudo e de todos. Mas de si, não; pois foi a primeira pessoa que me disse estar a ponto de inventar o moto contínuo, invenção que naquele tempo andava muito em moda, mais ou menos como, hoje, as aventuras espaciais.

Edmundo estava sempre em guarda contra os adultos: eram os nossos permanentes adversários. Só diziam mentiras. Tinham a força ao seu dispor (representada por várias formas de agressão, da palmada ao quarto escuro, passando por várias etapas muito variadas). Edmundo reconhecia a sua inutilidade de lutar; mas tinha o brio de não se deixar vencer facilmente.

Numa festa de aniversário, apareceu, entre números de piano e canto (ah! delícias dos saraus de outrora!), apareceu um mágico com a sua cartola, o seu lenço, bigodes retorcidos e flor na lapela. Nenhum de nós se importaria muito com a verdade: era tão engraçado ver saírem cinqüenta fitas de dentro de uma só... e o copo d'água ficar cheio de vinho...

Edmundo resistiu um pouco. Depois, achou que todos estávamos ficando bobos demais. Disse: "Eu não acredito!" Foi mexer no arsenal do mágico e não pudemos ver mais as moedas entrarem por um ouvido e saírem pelo outro, nem da cartola vazia debandar um pombo voando... (Edmundo estragava tudo. Edmundo não admitia a mentira. Edmundo morreu cedo. E quem sabe, meu Deus, com que verdades?)

Desafinado - Gal Costa

Luc Faydherbe, The Fall of Christ under the Cross

Meu neto

MEU NETO
Jorge Medauar

Ergo-te em meus cansados braços,
que tanto labutaram nesta vida.
e sinto que me aflora aos olhos baços
a gota de uma lágrima furtiva.

Bem sei que por misteriosos laços
minha vida na tua está contida.
E quando me descubro nos teus traços ,
quero que tudo em mim renasça e viva.

Mas sei que vou partir, quando amanheces.
É fatal que se cumpra a lei da vida.
Enquanto digo adeus, vives e cresces.

Assim, pouco me importa esta partida,
se em meu lugar tu ficas, permaneces
para que em teu sorriso eu sobreviva.

Amada minha

AMADA MINHA
Charles Fonseca

Beijo-te a mão, minha amada,
A tua dá-me, vem, te quero,
Pura, terna, em paz te espero,
Dou-te minha mão, é madrugada.

Já é manhã, a treva é finda,
Vem, amada, foi-se a alva,
Quero teu corpo, tua é minh’alma,
Volta a noite, quero-te ainda.

segunda-feira, julho 30, 2012

Caetano Veloso, Gilberto Gil, Ivete Sangalo - O Meu Amor

Ele é poeta

ELE É POETA


É noite. A chuva chora na calçada
como se fosse a mágoa recalcada
que subisse do peito dos humanos
e retumbasse em lágrimas na terra. 

Minha mãe chora, 
chora os desenganos de um filho 
que é poeta e desgraçado.
“Meu Deus! Onde andará ele agora?
Erra pela cidade úmida e deserta, 
como um boêmio despreocupado”.

E, recostada à janela aberta,
minha mãe espia a rua e espera:
“Hoje por certo virá mais cedo.
Faz tanto frio, sinto tanto medo...”
E, fatigada com uma dor no coração,
pensa em Deus e faz uma triste oração:
“Oh, Jesus, pastor divino,
tem misericórdia de mim, Senhor!
Traze o meu filho, o meu pobre filho
que erra pela cidade sem fim".

Um vulto! Talvez seja ele... mas... não, não é.
E já desponta cálido o sol.
Meus olhos fatigados de vigília não descansarão jamais.
Mas tenho fé. Amanhã eu lhe direi raivosa, assim:
“Você é a ovelha má desta família. 
Não é mais meu!”
Mas... ai que vida de abrolhos!
Não posso dizer assim. Ele é tão bom, tão delicado, 
que se eu disser em tom zangado, 
encontrarei nele o mesmo sorriso de menino
e uma lágrima boiando-lhe nos olhos.
Coitado de meu filho, arte abjeta, 
pobre do meu filho, ele é poeta!


(autor desconhecido)

Malignidade

001. Vinicius de Moraes

001
Vinicius de Moraes

Hoje eu acordei possuído da maior ternura por Otto Lara Resente. Otto tem sido para mim, ao longo de vinte anos de convívio, um amigo exemplar: desses que a pessoa não sabe bem o que fez para merecer. Mais habituado a dar que receber, Otto usualmente se omite no convívio, recorrendo à facilidade verbal, ao gênio que tem para a frase cunhada como uma espécie de cortina- de- palavras protetora de seu amor, que pratica à socapa, com malícia e disfarce bem mineiros.
Mas que é um grande amoroso, disto não haja dúvida. E daí o segredo da imantação que exerce sobre seus amigos, que acabam todos escravizados à sua escravidão. Eu dificilmente posso passar mais de dois dias sem lhe telefonar. Quando estou no estrangeiro, é das ausências que mais me pesam. Quantas vezes já não me disse, a perambular triste e sozinho pelos lugares mais esdrúxulos, o que não daria para ouvir, súbito, a meu lado, o seu passo curto e apressado e suas palavras bem escandidas; ou o refrão que em geral canta, com afetação gutural, quando me vê e que passa a persegui-lo horas a fio:

Professor de Ciências Naturais
É o Vinicius de Moares!

Há amigos a quem querer bem se vai tornando, à medida, um sacrifício, de tal modo eles "bagunçam o nosso coreto", como se, diz por aí. Amigos que impõem a própria desarmonia, violentam a nossa intimidade, nos agridem quando bebem e estão sempre a nos pedir prestações de contas. São os tais que a gente gostaria de fazer "virar fada" quando se entra numa boate, porque o mínimo que pode acontecer é se brigar com a mesa ao lado. Eles têm o dom de provocar o assunto mais explosivo para o nosso convidado, ou assumem o direito de achar que as moças que estão conosco adoram ouvir palavrões ou ser manuseadas. E quando já chatearam ao máximo, partem ofendidos, sem pagar a conta, depois de nos fazer ver que estamos ficando "muito importantes" ou "não somos mais o mesmo".
Outros, pelo contrário, como Otto parecem estar sempre esticando uma mãozinha disfarçada para nos ajudar a carregar a nossa cruz. São seres de bons fluidos, que, quando a gente encontra, o dia melhora. Eles têm o dom da palavra certa no momento certo, e mesmo que tomem o maior dos pileques jamais se tornarão motivo de desarmonia. Sabem respeitar ao máximo a liberdade alheia, a verdade alheia e a mulher alheia. E não é outra a razão pela qual Otto Lara Resende tem tantos "deslumbrados", dos quais o mais conhecido é sem dúvida seu maior "promotor", o teatrólogo Nelson Rodrigues.
Eu, às vezes, conhecendo-lhe os horários, sigo-o em pensamento pela cidade - de casa para a Procuradoria, da Procuradoria para o jornal, do jornal para casa onde entra tarde e cansado. Como numa panorâmica tirada do alto, vejo-o atravessar a avenida Rio Branco, acompanhado de um ou outro amigo jornalista, a discutir editoriais em função do momento político: um homem sempre por dentro de todos os assuntos graças à confiança que desfruta entre os poderosos e da qual nunca tira proveito próprio. Lá vai ele em seu passinho ligeiro, uma figura meio gauche na qual os ternos não assentam bem, as calças perdem rapidamente o vinco e as pontas do colarinho viram. Usa o olhar baixo, preso ao bico dos sapatos e não gosta de demorá-lo demasiado sobre o de seu interlocutor: mas não, como em seu conterrâneo Carlos Drummond de Andrade, por tristeza, orgulho e alheamento ao que na vida é porosidade e comunicação - e que conferem à poesia do grande itabirano a sua singular dignidade; antes por medo de pôr-se a gritar de repente que já não agüenta de tanto amar os outros e não sabe como dar o seu amor, que transforma em serviços prestados: um empreguinho aqui; uma intervenção junto a um banco ali; um pronunciamento bem escrito para um líder de letras canhestras; uma visita oportuna a um casal amigo em vias de rompimento; uma paciência inesgotável para as confissões e explicações de temperamento dos que andam perdidos nos labirintos da personalidade. Otto chega ao auge o que para mim é motivo de maior admiração e inveja - de levar, mesmo sem interesse, ao futebol no Maracanã, em pleno verão carioca, seus filhos André e Bruno: feito para mim só comparável à travessia do Kon-Tiki.
Otimo marido, ótimo filho, ótimo pai, ótimo amigo, ótimo profissional, ótimo tudo - que mais dizer dessa no entanto misteriosíssima figura chamada Otto Lara Resende, ou melhor, o agente 001? Em fase de "cigarra", como agora, nunca ninguém poderá dizer tê-lo visto cantar sebe alheia. Mas ninguém tampouco poderá jamais saber o que está realmente planejando. Influindo no problema da sucessão presidencial? Bem possível. Nos destinos da ONU? Quase certo. O que vai fazer, por exemplo, quando, em meio à conversa mais animada, ausenta-se subitamente e volta meia hora depois, de cara esperta? O que fabrica no banheiro, onde passa a maior parte do seu dia?
Estará ele em vias de descobrir o filtro da eterna amizade?

Só um pouquinho

SÓ UM POUQUINHO
Charles Fonseca

É doce ver a face de Deus
Disse o pai em desalento
Ao ver-se só, ao relento,
Quase a dizer adeus.

É doce ver teu rosto
Pensei comigo, emoção,
Ter-te por pai, uma bênção,
Ver-te partir, um desgosto.

Fica mais, só um pouquinho,
É cedo, eterno é o além,
Teus filhos choram também,
Choram por ti todos cinco.

Frase do dia

Quero olhar nos olhos de cada um de vocês e assegurar: não houve o uso de recursos públicos.
Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT e réu no mensalão, em discurso em diretório do PT em São Paulo

domingo, julho 29, 2012

Canon Pachelbel

Como receber visitas?

‘Conversation piece’
Luis Fernando Veríssimo

Esses americanos... Lá existe o que eles chamam de conversation piece, que vem a ser qualquer coisa que sirva para começar uma conversa. Digamos que você vai receber na sua casa uma pessoa com a qual não tem nenhuma intimidade, afinidade e, principalmente, assunto.

Para que a visita não transcorra em constrangedor silêncio, você coloca em cima da mesa de centro alguma coisa — um livro, uma escultura, uma cabeça mumificada — que despertará a curiosidade do visitante, que indagará a respeito e lhe permitirá dissertar sobre o seu significado e sua história.

Com sorte, e com um conversation piece bem escolhido, a conversa sobre este tópico único pode durar a visita
inteira e dispensar a busca de outros assuntos.

— Esse fuzil...

— Fabricação japonesa. Comprei quando eu estava pensando em me tornar um serial killer. Depois, comecei com as aulas de sapateado e fui para outro caminho, mas o arsenal ficou. Tenho o porão cheio de armas, se você quiser vê-las depois...

— Sim, sim. Gostaria. Você parece ter tido uma vida muito interessante.

— Tive. Tudo começou quando mamãe me colocou na máquina de lavar roupas por engano, junto com minhas fraldas, e só me retirou no fim do ciclo.

Não deixa de ser admirável e lamentável ao mesmo tempo uma sociedade tão prática que prevê o embaraço social e inventa maneiras de evitá-lo e precisa de acessórios para começar uma conversa.

Reparem a bagunça

Desenho Aquarela do Brasil

A cada segundo

Clique: http://www.desviometro.com.br/

Julio Iglesias - Me Esqueci de Viver

Frase do dia

[O mensalão] foi o mais atrevido e escandaloso esquema de corrupção e de desvio de dinheiro público flagrado no Brasil.
Roberto Gurgel, Procurador Geral da República

A Felicidade

Ataidinho

ATAIDINHO
Charles Fonseca 

Há tanto tempo, a meio caminho,
Havia um pilar, sustinha a ponte,
O meu irmão nela bateu, arfante,
Na ponte morreu Ataidinho.

Morreu, foi-se meu solidário irmão,
Ainda vive em mim sua lembrança.
Qual passarinho, foi-se a esperança
De ainda tê-lo estendendo a mão.

Era um tico-tico rasteirinho
Alegre, o amavam seus irmãos.
O nome herdou do pai, desolação,
Resta só saudade, choro baixinho.

sábado, julho 28, 2012

Angelou

Ficheiro:Agelou26.jpg

Caetano Veloso, Gilberto Gil, Ivete Sangalo - Você É Linda

Credo.

CREDO
SÍMBOLO DOS APÓSTOLOS (58)
CREDO DE NICEIA–CONSTANTINOPLA (59)



Creio em Deus, Pai todo-poderoso,
Criador do Céu e da Terra;

Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso,
Criador do Céu e da Terra,
de todas as coisas visíveis e invisíveis.

e em Jesus Cristo, seu único Filho,
nosso Senhor,

Creio em um só Senhor, Jesus Cristo,
Filho Unigénito de Deus,
nascido do Pai antes de todos os séculos:
Deus de Deus, luz da luz,
Deus verdadeiro de Deus verdadeiro;
gerado, não criado, consubstancial ao Pai.
Por Ele todas as coisas foram feitas.
E por nós, homens, e para nossa salvação
desceu dos Céus.

que foi concebido pelo poder
do Espírito Santo;
nasceu da Virgem Maria;

E encarnou pelo Espírito Santo,
no seio da Virgem Maria,
e Se fez homem.

padeceu sob Pôncio Pilatos,
foi crucificado, morto e sepultado;
desceu à mansão dos mortos;
ressuscitou ao terceiro dia;
subiu aos Céus;
está sentado à direita de Deus Pai
todo-poderoso, de onde há-de vir a julgar
os vivos e os mortos.

Também por nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos;
padeceu e foi sepultado.

Ressuscitou ao terceiro dia,
conforme as Escrituras;
e subiu aos Céus, onde está sentado
à direita do Pai.
De novo há-de vir em sua glória,
para julgar os vivos e os mortos;
e o seu Reino não terá fim.

Creio no Espírito Santo;

Creio no Espírito Santo,
Senhor que dá a vida,
e procede do Pai e do Filho;
e com o Pai e o Filho é adorado
e glorificado:
Ele que falou pelos profetas.

na santa Igreja Católica;
na comunhão dos Santos;

Creio na Igreja una, santa,
católica e apostólica.

na remissão dos pecados;
na ressurreição da carne;
na vida eterna.
Amen

Professo um só Batismo
para remissão dos pecados.
E espero a ressurreição dos mortos,
e a vida do mundo que há-de vir.
Amen.

Catecismo

Pier Paolo Olivieri, Adoração dos Magos

O caixão fantástico. Augusto dos Anjos.

O CAIXÃO FANTÁSTICO
Augusto dos Anjos 

Célere ia o caixão, e, nele, inclusas,
Cinzas, caixas cranianas, cartilagens
Oriundas, como os sonhos dos selvagens,
De aberratórias abstrações abstrusas!

Nesse caixão iam, talvez as Musas,
Talvez meu Pai! Hoffmânnicas visagens
Enchiam meu encéfalo de imagens
As mais contraditórias e confusas!

A energia monística do Mundo,
À meia-noite, penetrava fundo
No meu fenomenal cérebro cheio...

Era tarde! Fazia multo frio.
Na rua apenas o caixão sombrio
Ia continuando o seu passeio!

Cabelos Brancos. Silvio Caldas

Delicado. Nelson Rodrigues

Delicado
Nelson Rodrigues


Primeiro, o casal teve sete filhas! O pai, que se chamava Macário, coçava a cabeça, numa exclamação única e consternada:

— Papagaio!

Era um santo e obstinado homem. Sua utopia de namorado fora um simples e exíguo casal de filhos, um de cada sexo. Veio a primeira menina, mais outra, uma terceira, uma quarta e outro qualquer teria desistido, considerado que a vida encareceu muito. Mas seu Macário incluía entre seus defeitos o de ser teimoso. Na quinta filha, pessoas sensatas aconselharam: "Entrega os pontos, que é mais negócio!". Seu Macário respirou fundo:

— Não, nunca! Nunca! Eu não sossego enquanto não tiver um filho homem!

Por sorte, casara-se com uma mulher; d. Flávia, que era, acima de tudo, mãe. Sua gravidez transcorria docemente, sem enjôos, desejos, tranqüila, quase eufórica. Quanto ao parto propriamente, era outro fenômeno estranhíssimo. Punha os filhos no mundo sem um gemido, sem uma careta. O marido sofria mais. Digo "sofria mais" porque o acometia, nessas ocasiões, uma dor de dente apocalíptica, de origem emocional. O caso dava o que pensar, pois Macário tinha na boca uma chapa dupla. Quando nasceu a sétima filha, o marido arrancou de si um suspiro em profundidade; e anunciou:

— Minha mulher, agora nós vamos fazer a última tentativa!

NOVO PARTO

No dia que d. Flávia ia ter o oitavo filho, os nervos de seu Macário estavam em pandarecos. Veio, chamada às pressas, a parteira, que era uma senhora de cento e trinta quilos, baixinha e patusca. A parteira espiou-a com uma experiência de mil e setecentos partos e concluiu: "Não é pra já!". Ao que, mais do que depressa, replicou seu Macário:

— Meus dentes estão doendo!

E, de fato, o grande termômetro, em qualquer parto da esposa, era a sua dentadura. A parteira duvidou, mas, daí a cinco minutos, foi chamada outra vez. Houve um incidente de última hora. É que a digna profissional já não sabia onde estava a luva. Procura daqui, dali, e não acha. Com uma tremenda dor de dentes postiços, seu Macário teve de passar-lhe um sabão:

— Pra que luvas, carambolas? Mania de luvas!

EUSEBIOZINHO

Assim nasceu o Eusebiozinho, no parto mais indolor que se possa imaginar. Uma prima solteirona veio perguntar, sôfrega: "Levou algum ponto?". Ralharam:

— Sossega o periquito!

O fato é que seu Macário atingira, em cheio, o seu ideal de pai. Nascido o filho e passada a dor da chapa dupla, o homem gemeu: "Tenho um filho homem. Agora posso morrer!". E, de fato, quarenta e oito horas depois, estava almoçando, quando desaba com a cabeça no prato. Um derrame fulminante antes da sobremesa. Para d. Flávia foi um desgosto pavoroso. Chorou, bateu com a cabeça nas paredes, teve que ser subjugada. E, na realidade, só sossegava na hora de dar o peito. Então, assoava-se e dizia à pessoa mais próximo:

— Traz o Eusebiozinho que é hora de mamar!

FLOR DE RAPAZ

Eusebiozinho criou-se agarrado às saias da mãe, das irmãs, das tias, das vizinhas. Desde criança, só gostava de companhias femininas. Qualquer homem infundia-lhe terror. De resto, a mãe e as irmãs o segregavam dos outros meninos. Recomendavam: "Brinca só com meninas, ouviu? Menino diz nomes feios!". O fato é que, num lar que era uma bastilha de mulheres, ele atingiu os dezesseis anos sem ter jamais proferido um nome feio, ou tentado um cigarro. Não se podia desejar maior doçura de modos, idéias, sentimentos. Era adorado em casa, inclusive pelas criadas. As irmãs não se casavam, porque deveres matrimoniais viriam afastá-las do rapaz. E tudo continuaria assim, no melhor dos mundos se, de repente, não acontecesse um imprevisto. Um tio do rapaz vem visitar a família e pergunta:

— Você tem namorada?
— Não.
— Nem teve?
— Nem tive.

Foi o bastante. O velho quase pôs a casa abaixo. Assombrou aquelas mulheres transidas com os vaticínios mais funestos: "Vocês estão querendo ver a caveira do rapaz?". Virou-se para d. Flávia:

— Isso é um crime, ouviu?, é um crime o que vocês estão fazendo com esse rapaz! Vem cá, Eusébio, vem cá! Implacável, submeteu o sobrinho a uma exibição. Apontava:

— Isso é jeito de homem, é? Esse rapaz tem que casar, rápido!

PROBLEMA MATRIMONIAL

Quando o tio despediu-se, o pânico estava espalhado na família. Mãe e filhas se entreolharam: "É mesmo, é mesmo! Nós temos sido muito egoístas! Nós não pensamos no Eusebiozinho!". Quanto ao rapaz, tremia num canto. Ressentido ainda com a franqueza bestial do tio, bufou:

— Está muito bem assim!

A verdade é que já o apavorava a perspectiva de qualquer mudança numa vida tão doce. Mas a mãe chorou, replicou: "Não, meu filho. Seu tio tem razão. Você precisa casar, sim". Atônito, Eusebiozinho olha em torno. Mas não encontrou apoio. Então, espavorido, ele pergunta:

— Casar pra quê? Por quê? E vocês? — Interpela as irmãs: — Por que vocês não se casaram?

A resposta foi vaga, insatisfatória:

— Mulher é outra coisa. Diferente.

A NAMORADA

Houve, então, uma conspiração quase internacional de mulheres. Mãe, irmãs, tias, vizinhas desandaram a procurar uma namorada para o Eusebiozinho. Entre várias pequenas possíveis, acabaram descobrindo uma. E o patético é que o principal interessado não foi ouvido, nem cheirado. Um belo dia, é apresentado a Iracema. Uma menina de dezessete anos, mas que tinha umas cadeiras de mulher casada. Cheia de corpo, um olhar rutilante, lábios grossos, ela produziu, inicialmente, uma sensação de terror no rapaz. Tinha uns modos desenvoltos que o esmagavam.

E começou o idílio mais estranho de que há memória. Numa sala ampla da Tijuca, os dois namoravam. Mas jamais os dois ficaram sozinhos. De dez a quinze mulheres formavam a seleta e ávida assistência do romance. Eusebiozinho, estatelado numa inibição mortal e materialmente incapaz de segurar na mão de Iracema. Esta, por sua vez, era outra constrangida. Quem deu remédio à situação, ainda uma vez, foi o inconveniente e destemperado tio. Viu o pessoal feminino controlando o namoro. Explodiu: "Vocês acham que alguém pode namorar com uma assistência de Fla-Flu? Vamos deixar os dois sozinhos, ora bolas!". Ocorreu, então, o seguinte: sozinha com o namorado, Iracema atirou-lhe um beijo no pescoço. O desgraçado crispou-se, eletrizado:

— Não faz assim que eu sinto cócegas!

O VESTIDO DE NOIVA

Começaram os preparativos para o casamento. Um dia, Iracema apareceu, frenética, desfraldando uma revista. Descobrira uma coisa espetacular e quase esfregou aquilo na cara do Eusebiozinho: "Não é bacana esse modelo?". A reação do rapaz foi surpreendente.

Se Iracema gostara do figurino, ele muito mais. Tomou-se de fanatismo pela gravura:

— Que beleza, meu Deus! Que maravilha!

Houve, aliás, unanimidade feroz. Todos aprovaram o modelo que fascinava Iracema. Então, a mãe e as irmãs do rapaz resolveram dar aquele vestido à pequena. E mais, resolveram elas mesmas confeccionar. Compraram metros e metros de fazenda. Com um encanto, um élan tremendo, começaram a fazer o vestido. Cada qual se dedicava à sua tarefa como se cosesse para si mesma. Ninguém ali, no entanto, parecia tão interessado quanto Eusebiozinho. Sentava-se, ao lado da mãe e das irmãs, num deslumbramento: "Mas como é bonito! Como é lindo!". E seu enlevo era tanto que uma vizinha, muito sem cerimônia, brincou:

— Parece até que é Eusebiozinho que vai vestir esse negócio!

0 LADRÃO

Uns quatro dias antes do casamento, o vestido estava pronto. Meditativo, Eusebiozinho suspirava: "A coisa mais bonita do mundo é uma noiva!". Muito bem. Passa-se mais um dia. E, súbito, há naquela casa o alarme: "Desapareceu o vestido da noiva!". Foi um tumulto de mulheres. Puseram a casa de pernas para o ar, e nada. Era óbvia a conclusão: alguém roubou! E como faltavam poucos dias para o casamento sugeriram à desesperada Iracema: "O golpe é casar sem vestido de noiva!". Para quê? Ela se insultou:

— Casar sem vestido de noiva, uma pinóia! Pois sim!

Chamaram até a polícia. O mistério era a verdade, alucinante: Quem poderia ter interesse num vestido de noiva? Todas as investigações resultaram inúteis. E só descobriram o ladrão quando dois dias depois, pela manhã, d. Flávia acorda e dá com aquele vulto branco, suspenso no corredor. Vestido de noiva, com véu e grinalda — enforcara-se Eusebiozinho, deixando o seguinte e doloroso bilhete: "Quero ser enterrado assim".

Calazans Neto

MADREPÉROLA. Charles Fonseca

MADREPÉROLA
Charles Fonseca.

Entre a onda e o rochedo
Por fora é só uma ostra.
Dura, pétrea como as outras,
O seu núcleo é só brilho.

Entre a onda e o rochedo,
Maré alta, fundo ao mar, 
Maré baixa, ao luar
A beijá-la em segredo.

sexta-feira, julho 27, 2012

Vangelis - Chariots of Fire

"É só uma gripe"...

O PARADIGMA DO TRATAMENTO DA GRIPE

Há séculos a população mundial é assolada pelo vírus influenza. No século XX passamos por várias pandemias, com milhões de mortes. Progressivamente, a gripe acabou sendo banalizada e sua potencial gravidade não adequadamente valorizada.

Em 2009, com o surgimento de um novo subtipo com potencial pandêmico, o Influenza A (H1N1), a gripe tornou-se um assunto com grande importância novamente. Mas a cultura geral ainda é de que gripe não se trata, que não é doença com potencial de gravidade. Porém, estima-se 500.000 óbitos por gripe no planeta a cada ano.

Com o aumento do conhecimento e surgimento de novas tecnologias, hoje o enfrentamento da gripe é baseado em três pilares:

Redução da transmissão do vírus com as medidas de etiqueta da tosse e lavagem das mãos, com consequente redução de circulação viral.
Proteção das faixas mais vulneráveis para doença grave com vacina (pacientes portadores de doenças crônicas devem ser encaminhados pelo médico com receituário indicando a vacina às unidades de saúde municipais).
Tratamento precoce com o antiviral específico dos casos graves ou com fatores de risco para doença grave.
As equipes de saúde precisam estar alerta para identificar rapidamente os pacientes com síndrome gripal – SG – (febre, tosse e dor de garganta, podendo estar acompanhados de cefaleia, mialgia, artralgia e sintomas catarrais), medicando prontamente com oseltamivir os portadores de fatores de risco (menores de 2 anos, gestantes em qualquer idade gestacional, adultos com 60 anos ou mais, portadores de doenças crônicas, população indígenas). A critério do médico examinador outros pacientes podem ser tratados. Lembramos que a melhor ação da medicação ocorre nas primeiras 48 horas de doença, fato que reforça a necessidade de avaliação e tratamento precoce. Também fica a critério médico a solicitação de exames para portadores de SG: radiografia de tórax para identificação precoce de alterações pulmonares, oximetria/gasometria, hemograma para triagem de complicações infecciosas, LDH como marcador de lesão pulmonar e CPK como marcador de doença grave.

Todos os pacientes com SG e que apresentarem sinais de gravidade, sobretudo dispneia, hipoxemia ou alterações radiográficas pulmonares, requerem atenção redobrada, com início imediato de oseltamivir, realização de exames complementares para definição da conduta, encaminhamento para unidade com suporte adequado e medidas de vigilância epidemiológica (coleta de secreção nasofaríngea para determinação de agente etiológico e notificação do caso internado de Síndrome Respiratória Aguda Grave – SRAG – definida como febre, tosse e dispneia).

Com tais medidas há uma redução importante na progressão para doença grave e consequentemente redução nos óbitos.

Reforçamos que:

O tratamento deve ser iniciado na suspeita clínica.
O início do tratamento deve ocorrer independentemente de solicitação ou resultado de exames e notificação.
É fundamental garantir medidas de suporte ao doente.
Deve-se avaliar a necessidade de tratamento para infecções bacterianas secundárias.
GRIPE É GRAVE E TEM TRATAMENTO!
A Diretoria de Vigilância Epidemiológica de Santa Catarina mantém em seu site www.dive.sc.gov.br links para os protocolos de conduta e demais informações pertinentes.
Fábio Gaudenzi de Faria

CREMESC 10.944

Médico Infectologista e Diretor de Vigilância Epidemiológica SES/SC

A cruz. Cidade do Salvador da Bahia.

Chegando a gosto

Modinha. Cecília Meireles.

Modinha
Cecília Meireles

Tuas palavras antigas
Deixei-as todas, deixei-as
Junto com as minhas cantigas,
Desenhadas nas areias.

Tantos sóis e tantas luas
Brilharam sobre essas linhas,
Das cantigas - que eram tuas-
Das palavras - que eram minhas!

O mar, de língua sonora,
Sabe o presente e o passado.
Canta o que é meu, vai-se embora:
Que o resto é pouco e apagado.

Rembrandt: Festa de Belsazar (1635) - National Gallery, Londres

Filosofia. Ascenso Ferreira

Filosofia
Ascenso Ferreira



Hora de comer — comer!

Hora de dormir — dormir!

Hora de vadiar — vadiar!

Hora de trabalhar?

— Pernas pro ar que ninguém é de ferro!

Miloš - Suite española, Op.47, No.5 Asturias (Live beim Club of Classics...

Na cruz

NA CRUZ 
Charles Fonseca

Bradava um de um lado
O outro em agonia
Clamava, ao centro pedia
Perdão, Salvador, me salva!

De um lado o ódio espumava,
Do outro humilde pedia
Centro do amor, alumia
O meu coração, me salva

De todo o mal que minh’alma
Fez também retribuía,
Tu que és o centro da vida
Perdão, Salvador, me salva!

O dia já se findava
Só, sobre si toda a dor,
Disse-lhe o Salvador
Só, meu amor te salva!

quinta-feira, julho 26, 2012

O Encouraçado Bismarck: 60 Anos Depois

Um amigo em talas. Graciliano Ramos

Um amigo em talas
Graciliano Ramos


O meu antigo companheiro de pensão Amadeu Amaral Júnior, um homem louro e fornido, tinha costumes singulares que espantavam os outros hóspedes.

Para falar com propriedade, aquilo não era exatamente pensão, mas isto não tem importância: com um pouco de esforço podíamos admitir que estávamos numa pensão de gente bem comportada. Bocejávamos em demasia, contávamos as pessoas que subiam ou desciam um morro próximo, dormíamos cedo e recebíamos com regularidade a visita do gerente do estabelecimento, o major Nunes, ótima criatura que deixou o cargo por lhe faltar o espírito do negócio.

Amadeu Amaral Júnior vestia-se com sobriedade: usava uma cueca preta e calçava medonhos tamancos barulhentos. Fora isso, o que tinha em cima do corpo era a barba, economicamente desenvolvida, uma barba enorme. Parecia um troglodita. Alimentava-se mal, espichava-se na cama, roncava o dia inteiro e passava as noites acordado, passeando, agitando o soalho, o que provocava a indignação dos outros pensionistas. Quando se cansava, sentava-se a uma grande mesa ao fundo da sala e escrevia o resto da noite. Leu um tratado de psicologia e trocou-o em miúdo, isto é, reduziu-o a artigos, uns quarenta ou cinqüenta, que projetou meter nas revistas e nos jornais e com o produto vestir-se, habitar uma casa diferente daquela e pagar ao barbeiro.

Mudamo-nos, separamo-nos, perdemo-nos de vista. Creio que os artigos de psicologia não foram publicados, pois há tempo li este anúncio num semanário: "Intelectual desempregado. Amadeu Amaral Júnior, em estado de desemprego, aceita esmolas, donativos, roupa velha, pão dormido. Também aceita trabalho”.

O anúncio não produziu nenhum efeito, é o que meses depois, nos declara Amadeu Amaral Júnior: "Minha situação continua preta. Reitero o apelo às almas bem formadas: dêem de comer a quem tem fome, uma fome atávica, milenária. Dêem-me trabalho." E, catalogando as suas habilidades: "Escrevo poesias, crônicas, contos (policiais, psicológicos, de aventura, de terror, de mistério), novelas, discursos, conferências. Sei inglês, francês, italiano, espanhol e um bocado de alemão. Dêem-me trabalho pelo amor de Deus ou do diabo."

De literato brasileiro não conheço página mais sincera e razoável que essa. Ao ler o pedido de roupa velha e pão duro, fiquei meio escandalizado, mas refletindo, confessei publicamente que o meu velho companheiro procedia com acerto. E agora, completamente solidário com ele, admiro a exposição que nos faz das suas aptidões e lamento que não as utilizem.

É evidente que Amadeu Amaral Júnior conhece bem o nosso mercado literário e apregoa as mercadorias mais próprias para o consumo: discursos, contos policiais, de aventura, de terror e de mistério. Julgo que vive sem ocupação por não haver falado antes nisso.

O meio cento de artigos redigidos naquelas noites de insônia encalhou certamente na redação, preterido pelas novelas de arrepiar cabelos. Indignado, Amadeu Amaral Júnior oferece de novo os seus préstimos ao editor, afirmando que também sabe compor histórias policiais, de aventura, de terror e de mistério, que arrancam lágrimas e se vendem regularmente.

A maneira como pede trabalho, pelo amor de Deus ou do diabo, revela que o escritor está impaciente e talvez não escrupulize em pôr a sua pena a serviço de qualquer dessas duas entidades, o que não admira, pois Amadeu é jornalista.

Muita gente se espanta com o procedimento desse amigo. Não sei por quê. Os fabricantes anunciam os seus produtos e os sujeitos desempregados costumam, desde que há jornais, dizer neles para que servem. Por que apenas o articulista, precisamente o indivíduo capaz de arrumar umas linhas com decência, deve calar-se e roer chifres?

Eu por mim acho que Amadeu Amaral Júnior andou muito bem. Todos os jornalistas necessitados deviam seguir o exemplo dele. O anúncio, pois não. E, em duros casos, a propaganda oral, numa esquina, aos gritos. Exatamente como quem vende pomada para calos.

Mensaleiros serão julgados. O STF, não!

Klee: Ad Marginen (1930) - Kunstmuseum, Basel

A destruição do caráter. Freud.

“A destruição do caráter civilizado pelos impulsos instintivos libertados da repressão é um desfecho temido mas absolutamente impossível. É que este temor não leva em conta o que a nossa experiência nos ensinou com toda segurança: que o poder mental e somático de um desejo, desde que se baldou a respectiva repressão, se manifesta com muito mais força quando inconsciente do que quando consciente; indo para a consciência, só se pode enfraquecer. O desejo inconsciente escapa a qualquer influência, é independente das tendências contrárias, ao passo que o consciente é atalhado por tudo quando, igualmente consciente, se lhe opuser. O tratamento psicanalítico coloca-se assim como o melhor substituto da repressão fracassada, justamente em prol das aspirações mais altas e valiosas da civilização.” Freud.

Hiram Powers - Proserpine

Frase do dia

Delúbio não tomava decisões. Era o executor das decisões da Executiva nacional do PT.
Arnaldo Malheiros Filho, advogado de Delúbio Soares, réu do mensalão, rejeitando a tese de que seu cliente é o único culpado no escândalo.

Apaixonadamente

APAIXONADAMENTE
Charles Fonseca

Quando a ti chegarem filhos
Como os que a outros vieram
Tão carentes ao desamparo
E tão fortes se fizeram
Que ancestrais os esperem
Que não os ponham em trilhos

Que os mostrem antiquários
Daqueles que te foram novos
Campanários que bimbalhem
De alegria fogosos
Que da vida os afastem
Das chaves dos claviculários

Com que fechastes as portas
Das janelas tirem trancas
Que circulem como os ventos
Pelas margens das barrancas
Dos rios que cata-ventos
Girem que movam comportas

Daquelas que prendem as águas
Que alagam os ribeirinhos
Que afugentam os bichos
De pêlo os cordeirinhos
Que te amem sem ter nichos
Que prendem teus pais, sem mágoas.