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terça-feira, janeiro 31, 2012

JÁ.

JÁ?
Charles Fonseca

Agora vou me deitar
dormir, mas com que sonhar
com o real por aqui
com imago e sorrir
símbolo pra disfarçar
ou de tudo um pouco e já?

É em AM ou FM?

XXII - Nas situações clínicas irreversíveis e terminais, o médico evitará a realização de procedimentos diagnósticos e terapêuticos desnecessários e propiciará aos pacientes sob sua atenção todos os cuidados paliativos apropriados.

Que tal o prefeito?

The Beatles- She Loves You (1963 Live)

Aqui há afeto mútuo


Aqui há afeto mútuo, upload feito originalmente por Charles Fonseca.

Tem a ver com você?

Despedida
Rubem Braga

E no meio dessa confusão alguém partiu sem se despedir; foi triste. Se houvesse uma despedida talvez fosse mais triste, talvez tenha sido melhor assim, uma separação como às vezes acontece em um baile de carnaval — uma pessoa se perda da outra, procura-a por um instante e depois adere a qualquer cordão. É melhor para os amantes pensar que a última vez que se encontraram se amaram muito — depois apenas aconteceu que não se encontraram mais. Eles não se despediram, a vida é que os despediu, cada um para seu lado — sem glória nem humilhação.

Creio que será permitido guardar uma leve tristeza, e também uma lembrança boa; que não será proibido confessar que às vezes se tem saudades; nem será odioso dizer que a separação ao mesmo tempo nos traz um inexplicável sentimento de alívio, e de sossego; e um indefinível remorso; e um recôndito despeito.

E que houve momentos perfeitos que passaram, mas não se perderam, porque ficaram em nossa vida; que a lembrança deles nos faz sentir maior a nossa solidão; mas que essa solidão ficou menos infeliz: que importa que uma estrela já esteja morta se ela ainda brilha no fundo de nossa noite e de nosso confuso sonho?

Talvez não mereçamos imaginar que haverá outros verões; se eles vierem, nós os receberemos obedientes como as cigarras e as paineiras — com flores e cantos. O inverno — te lembras — nos maltratou; não havia flores, não havia mar, e fomos sacudidos de um lado para outro como dois bonecos na mão de um titeriteiro inábil.

Ah, talvez valesse a pena dizer que houve um telefonema que não pôde haver; entretanto, é possível que não adiantasse nada. Para que explicações? Esqueçamos as pequenas coisas mortificantes; o silêncio torna tudo menos penoso; lembremos apenas as coisas douradas e digamos apenas a pequena palavra: adeus.

A pequena palavra que se alonga como um canto de cigarra perdido numa tarde de domingo.

BAUGIN, Lubin
(b. ca. 1610, Pithiviers, d. 1663, Paris)
http://www.wga.hu/index1.html

A culpa morreu solteira.

Barcelona. Espanha.


Barcelona - Cornet i Mas 011 d, upload feito originalmente por Arnim Schulz.

Público do blog no mês

CONFISSÃO. Miguel Reale. Poesia

CONFISSÃO
Miguel Reale

Nunca fui homem de uma nota só
embrenhado num único problema
esmiuçando-o com minúcia e teima
até chegar a reduzi-lo a pó.

Disperso como o povo brasileiro
amo a integralidade dos assuntos,
o horizonte tomado em seu conjunto
e não um caso em si ou corriqueiro.

Quando é voga perder-se em pormenores
parecerá um mal essa tendência
a realçar os máximos valores,
mas me prefiro assim, enamorado
do sentido mais alto da existência,
iludido de ser um ser alado.

Mulher sentada. Pablo Picasso.

OS VIVOS MORTOS. Charles Fonseca. Poesia

OS VIVOS MORTOS
Charles Fonseca

Naquela tarde distante 
Foi-se mais um em silêncio 
Sem dar adeus com um lenço
A vivas faces semblantes

Umas a chorar às outras
Outras chorando por si
Mais umas sorrindo em si
Tantas em vozes roucas

É que ali foi-se um puro
De coração aos pedaços
A sair deste regaço
Do mundo dos vivos duros

De corações abjetos
Inflados peito orgulhos
Murchos amores discretos
Sobre suas almas monturos.

segunda-feira, janeiro 30, 2012

Você ainda duvida?

R$ 6,4 mi em doações do CNJ a tribunais desapareceram
Folha.com

Uma investigação do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) descobriu que em torno de R$ 6,4 milhões em bens doados pelo órgão a tribunais estaduais desapareceram.
Relatório inédito do órgão, a que a Folha teve acesso, revela que as cortes regionais não sabem explicar onde foram parar 5.426 equipamentos, entre computadores, notebooks, impressoras e estabilizadores, entregues pelo CNJ para aumentar a eficiência do Judiciário.
A auditoria mostra ainda que os tribunais mantêm parados R$ 2,3 milhões em bens repassados. Esse material foi considerado "ocioso" pelo conselho na apuração, encerrada no dia 18 de novembro.

Clara Nunes. Canto das três raças.


Rapariga. Francois Boucher.

Um pouco de ternura. Baptista-Bastos



Baptista-Bastos


Nos olhos dela habitava a bondade. Um doce sorriso embalava-lhe os lábios, e a face transparecia a tranquilidade interior de quem não fora punida pelo despeito nem agredida pelo ressentimento. Era ainda nova: vivia na linha de sombra que tenuemente divide a idade das pessoas, entre maduras e velhas. De onde viera? Que idade tinha? Ninguém sabia. Por vezes, pintava os lábios murchos. Por vezes, exibia largos decotes e mangas cavadas, eis o traço lascivo dos seios, eis os braços roliços, opulentos e sensuais. Era alta, quase imponente; porém, quando subia a rua íngreme, parecia alada, os pés quase não tocavam no chão.

Aparecera no bairro e logo se organizara uma aura de mistério em sua volta. Apesar da estatura, mantinha-se discreta e reservada, pouco falava com os vizinhos. Havia dias em que cantava; cantava alto velhas canções de amor. Nas tardes de sábado, os homens reuniam-se no clube, jogavam ao loto e à sueca e, ocasionalmente, embebedavam-se.

Ela residia num pequeno apartamento, mesmo por cima do clube. Gostava de se colocar à varanda, e os homens fitavam-na, gulosos, ávidos e sôfregos. Fingia não os ver. As mulheres remoíam raivas e amuos. Ela observava o horizonte, lá, onde o Tejo forma uma laçada, e permanecia assim: abstracta, atenta e exposta. Mas gostava que a apreciassem, e divertia-se com o ciúme das outras. Às vezes dançava ao som de uma pequena telefonia. Dançava como se estivesse a dançar com o mundo, ou, quem sabe?, a pensar em alguém que amara.

As geografias sentimentais são mais ou menos favoráveis: o bairro era bom e valia tudo o que de ele se dissesse; o resto era mau, e tudo o que de pior se dissesse nunca seria excessivo. Começaram as intrigas, as suposições pérfidas, as calúnias evasivas. Não lhe perdoavam a beleza, a dignidade da postura, a pequena viração de altivez que dela se desprendia.

Suspeitaram de tudo: que era prostituta, que vivia às custas de um proprietário de imóveis, que fazia números de nu em cabarés rascas. Chegou-lhe aos ouvidos a natureza insidiosa desses boatos. Não lhes atribuiu a menor importância, o que ainda mais arreliou as outras.

Saía de casa logo pela manhã, regressava tarde, ocasionalmente ausentava-se pela noite. Acumulavam-se as suspeições. Até que, certo dia, deixou de aparecer. O falatório aumentou. Coisas medonhas foram ditas, como se de verdades se tratassem. Correu o tempo; uma semana passou, outra, e outra ainda. Para onde fora? Que seria feito dela? E se ele não regressasse, não pudesse regressar ou não quisesse regressar?

Depois, houve quem a visse. Era numa tarde em que a chuva, lamentosa, caía forte. Desapareceu no cotovelo da rua, quem a viu acelerou o passo para descortinar aonde ela ia. Entrou num prédio alto e antigo, de azulejos, e ao perseguidor assaltou a ideia de que a vizinha misteriosa talvez fosse mulher-a-dias. Este indivíduo tivera, em tempos, a veleidade de se relacionar com ela; porém, fora rejeitado com uma frase breve e ríspida. Era o ressentimento que o incitara àquela infausta perseguição.

Horas e horas decorreram. A chuva deixara de cair, o homem encostara-se a uma árvore, sem abandonar a vigilância ao prédio. Até que, finalmente, ela reapareceu. Olhou em derredor e, rapidamente, aproximou-se da árvore onde o outro se ocultava. Atrapalhou-se, o homem. E ela disse:

— Quer saber o que eu faço, não é?

— Bom…bom — Não sabia o que responder.

— Olhe: vendo ternura.

E desandou. Agora, uma brisa mansa, um vento acariciador, um pio de ave, e o silêncio. Era assim: todos os dias, ou quase, ela visitava casas de gente idosa, e recebia escassos euros para lhes ler jornais, revistas ou livros de histórias cordatas com finais felizes. Simplesmente um pouco de ternura.

Voltou à rua para se despedir da rua e ignorar as pessoas. As pessoas juntaram-se, viram-na subir o calçadão, puxar pelas pernas para escalar a escadaria enorme. Durante algum tempo pensaram nela. Nunca ninguém soube o seu nome, nem se foi feliz na vida.

Anos depois, um modesto cronista contou-a numa crónica humilde.


(mantida a grafia original)

O carvoeiro e o fabricante de lã. Esopo.

O CARVOEIRO E O FABRICANTE DE LÃ

Um carvoeiro soube que um fabricante de lã tinha se estabelecido não longe da casa em que ele morava e estava trabalhando. Foi até lá e o convidou para morarem juntos: dividindo o mesmo teto, ficariam mais próximos e gastariam muito menos. Mas o fabricante de lã respondeu: "Não dá para mim, pois o que eu lavar, tu sujarás de fuligem".

Impossível juntar coisas diferentes demais.

Esopo

Evangelho
Mc:5,1-20;

1.Passaram à outra margem do lago, ao território dos gerasenos.
2.Assim que saíram da barca, um homem possesso do espírito imundo saiu do cemitério
3.onde tinha seu refúgio e veio-lhe ao encontro. Não podiam atá-lo nem com cadeia, mesmo nos sepulcros,
4.pois tinha sido ligado muitas vezes com grilhões e cadeias, mas os despedaçara e ninguém o podia subjugar.
5.Sempre, dia e noite, andava pelos sepulcros e nos montes, gritando e ferindo-se com pedras.
6.Vendo Jesus de longe, correu e prostrou-se diante dele, gritando em alta voz:
7.Que queres de mim, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Conjuro-te por Deus, que não me atormentes.
8.É que Jesus lhe dizia: Espírito imundo, sai deste homem!
9.Perguntou-lhe Jesus: Qual é o teu nome? Respondeu-lhe: Legião é o meu nome, porque somos muitos.
10.E pediam-lhe com instância que não os lançasse fora daquela região.
11.Ora, uma grande manada de porcos andava pastando ali junto do monte.
12.E os espíritos suplicavam-lhe: Manda-nos para os porcos, para entrarmos neles.
13.Jesus lhos permitiu. Então os espíritos imundos, tendo saído, entraram nos porcos; e a manada, de uns dois mil, precipitou-se no mar, afogando-se.
14.Fugiram os pastores e narraram o fato na cidade e pelos arredores. Então saíram a ver o que tinha acontecido.
15.Aproximaram-se de Jesus e viram o possesso assentado, coberto com seu manto e calmo, ele que tinha sido possuído pela Legião. E o pânico apoderou-se deles.
16.As testemunhas do fato contaram-lhes como havia acontecido isso ao endemoninhado, e o caso dos porcos.
17.Começaram então a rogar-lhe que se retirasse da sua região.
18.Quando ele subia para a barca, veio o que tinha sido possesso e pediu-lhe permissão de acompanhá-lo.
19.Jesus não o admitiu, mas disse-lhe: Vai para casa, para junto dos teus e anuncia-lhes tudo o que o Senhor fez por ti, e como se compadeceu de ti.
20.Foi-se ele e começou a publicar, na Decápole, tudo o que Jesus lhe havia feito. E todos se admiravam.

"A apressada pergunta, vagarosa resposta."

“O rapto de Perséfone”, Christoph Schwartz

A FLOR DO MARACUJÁ
Fagundes Varela

Pelas rosas, pelos lírios,
Pelas abelhas, sinhá,
Pelas notas mais chorosas
Do canto do Sabiá,

Pelo cálice de angústias
Da flor do maracujá !
Pelo jasmim, pelo goivo,
Pelo agreste manacá,

Pelas gotas de sereno
Nas folhas do gravatá,
Pela coroa de espinhos
Da flor do maracujá.

Pelas tranças da mãe-d'água
Que junto da fonte está,
Pelos colibris que brincam
Nas alvas plumas do ubá,

Pelos cravos desenhados
Na flor do maracujá.
Pelas azuis borboletas
Que descem do Panamá,

Pelos tesouros ocultos
Nas minas do Sincorá,
Pelas chagas roxeadas
Da flor do maracujá !

Pelo mar, pelo deserto,
Pelas montanhas, sinhá !
Pelas florestas imensas
Que falam de Jeová !

Pela lança ensangüentado
Da flor do maracujá !
Por tudo que o céu revela !
Por tudo que a terra dá

Eu te juro que minh'alma
De tua alma escrava está !!..
Guarda contigo este emblema
Da flor do maracujá !

Não se enojem teus ouvidos
De tantas rimas em - a -
Mas ouve meus juramentos,
Meus cantos ouve, sinhá!

Te peço pelos mistérios
Da flor do maracujá!

FLORILÉGIO. Charles Fonseca. Poesia

FLORILÉGIO
Charles Fonseca

São seis flores à mesa
Umas cheias de esperas
Outras plenas de sonhos
Umas em primavera
Outras já pleno outono
Rainhas entre princesas

Sobre a mesa há seis flores
Contidas no mesmo jarro
Só que em seis douram beleza
De cinco só restam talos
Ante duas que à mesa
Do peito florescem amores.

"Do meu telescópio, eu via Deus caminhar! A maravilhosa disposição e harmonia do universo só pode ter tido origem segundo o plano de um Ser que tudo sabe e tudo pode. Isto fica sendo a minha última e mais elevada descoberta.” Sir. Isaac Newton

domingo, janeiro 29, 2012

Freud

Elis Regina - "Preciso Aprender A Ser Só"

XXI - No processo de tomada de decisões profissionais, de acordo com seus ditames de consciência e as previsões legais, o médico aceitará as escolhas de seus pacientes, relativas aos procedimentos diagnósticos e terapêuticos por eles expressos, desde que adequadas ao caso e cientificamente reconhecidas.

Santo Antonio de Lisboa. Floripa.


Santo Antonio de Lisboa, upload feito originalmente por Charles Fonseca.

Não recomendo

O tocador de alaude. Caravaggio.

Elegia lírica. Vinicius de Moraes.

Elegia Lírica

Vinicius de Moraes


(...)

A minha namorada é tão bonita, tem olhos como besourinhos do céu

Tem olhos como estrelinhas que estão sempre balbuciando aos passarinhos...

É tão bonita! tem um cabelo fino, um corpo menino e um andar pequenino

E é a minha namorada... vai e vem como uma patativa, de repente morre de amor

Tem fala de S e dá a impressão que está entrando por uma nuvem adentro...

Meu Deus, eu queria brincar com ela, fazer comidinha, jogar nai-ou-nentes

Rir e num átimo dar um beijo nela e sair correndo

E ficar de longe espiando-lhe a zanga, meio vexado, meio sem saber o que faça...

A minha namorada é muito culta, sabe aritmética, geografia, história, contraponto

E se eu lhe perguntar qual a cor mais bonita ela não dirá que é a roxa porém brique.

Ela faz coleção de cactos, acorda cedo vai para o trabalho

E nunca se esquece que é a menininha do poeta.

Se eu lhe perguntar: Meu anjo, quer ir à Europa? ela diz: Quero se mamãe for!

Se eu lhe perguntar: Meu anjo, quer casar comigo? Ela diz... — não, ela não acredita.

É doce! gosta muito de mim e sabe dizer sem lágrimas:

Vou sentir tantas saudades quando você for...

É uma nossa senhorazinha, é uma cigana, é uma coisa

Que me faz chorar na rua, dançar no quarto, ter vontade de me matar e de ser presidente da república.

É boba, ela! tudo faz, tudo sabe, é linda, ó anjo de Domremy!

Dêem-lhe uma espada, constrói um reino ; dêem-lhe uma agulha, faz um crochê

Dêem-lhe um teclado, faz uma aurora, dêem-lhe razão, faz uma briga...!

E do pobre ser que Deus lhe deu, eu, filho pródigo, poeta cheio de erros

Ela fez um eterno perdido...

A cavalo dado não se olha os dentes

Janela. Barcelona. Espanha.


Barcelona - Diputació 139 c, upload feito originalmente por Arnim Schulz.

O CÉTICO E O LÚCIDO ...

No ventre de uma mulher grávida estavam dois bebês. O primeiro pergunta ao outro:

- Você acredita na vida após o nascimento?

- Certamente. Algo tem de haver após o nascimento. Talvez estejamos aqui principalmente porque nós precisamos nos preparar para o que seremos mais tarde.

- Bobagem, não há vida após o nascimento. Como verdadeiramente seria essa vida?

- Eu não sei exatamente, mas certamente haverá mais luz do que aqui. Talvez caminhemos com nossos próprios pés e comeremos com a boca.

- Isso é um absurdo! Caminhar é impossível. E comer com a boca? É totalmente ridículo! O cordão umbilical nos alimenta. Eu digo somente uma coisa: A vida após o nascimento está excluída - o cordão umbilical é muito curto.

- Na verdade, certamente há algo. Talvez seja apenas um pouco diferente do que estamos habituados a ter aqui.

- Mas ninguém nunca voltou de lá, depois do nascimento. O parto apenas encerra a vida. E afinal de contas, a vida é nada mais do que a angústia prolongada na escuridão.

- Bem, eu não sei exatamente como será depois do nascimento, mas com certeza veremos a mamãe e ela cuidará de nós.

- Mamãe? Você acredita na mamãe? E onde ela supostamente está?

- Onde? Em tudo à nossa volta! Nela e através dela nós vivemos. Sem ela tudo isso não existiria.

- Eu não acredito! Eu nunca vi nenhuma mamãe, por isso é claro que não existe nenhuma.

- Bem, mas às vezes quando estamos em silêncio, você pode ouvi-la cantando, ou sente, como ela afaga nosso mundo. Saiba, eu penso que só então a vida real nos espera e agora apenas estamos nos preparando para ela...

(autor desconhecido)

Tamboretes


Tamboretes, upload feito originalmente por Charles Fonseca.

Viva a Bahia! Bahia. Religião

Fábula. Esopo.


OS PESCADORES E O ATUM

Alguns homens foram à pesca e, apesar de todos os longos e terríveis esforços, não conseguiram pescar nada. Estavam sentados, desenimados, em sua barca, quando um atum, sem querer, pulou dentro, correndo de um pescador. Eles o capturaram, levaram-no para casa e o venderam.

Assim, muitas vezes, o acaso nos dá o que com nosso trabalho não conseguimos.

Esopo
BOUDEWIJNS, Adriaen Frans
(b. 1644, Bruxelles, d. 1711, Bruxelles)

Poema antigo

AVÓS
Charles Fonseca

Vem tu filha da tragédia 
A mim pai da ilusão
Dá-me a mim a tua mão
Quer sem farsa ou comédia

Atinja-nos só o drama
Humano do bem querer
Do amor até o mais ver
Té que o ser a nós que ama

Em ti gere então o novo
Por amor em ti um filho
Que o neto seja filho
Filho te seja renovo

Que a minha amada avó
Do teu filho esteja à mão
Que avô eu seja então
Desse ser não fique eu só

A balouçar ventania
A esperar o céu na terra
A mim ser avô se encerra
Do teu filho a alegria.
Evangelho
Mc:1,21-28;


21.Dirigiram-se para Cafarnaum. E já no dia de sábado, Jesus entrou na sinagoga e pôs-se a ensinar.
22.Maravilhavam-se da sua doutrina, porque os ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas.
23.Ora, na sinagoga deles achava-se um homem possesso de um espírito imundo, que gritou:
24."Que tens tu conosco, Jesus de Nazaré? Vieste perder-nos? Sei quem és: o Santo de Deus!
25.Mas Jesus intimou-o, dizendo: "Cala-te, sai deste homem!"
26.O espírito imundo agitou-o violentamente e, dando um grande grito, saiu.
27.Ficaram todos tão admirados, que perguntavam uns aos outros: "Que é isto? Eis um ensinamento novo, e feito com autoridade; além disso, ele manda até nos espíritos imundos e lhe obedecem!"


Doce e bárbaro.

sábado, janeiro 28, 2012

SPOK FREVO - Passo de anjo - Ao Vivo

Charlie Chaplin Tempos Modernos - Legendado Portugues

Não me cabe conceber nenhuma necessidade tão importante durante a infância de uma pessoa que a necessidade de sentir-se protegido por um pai. Sigmund Freud

Quanta coisa pra contar!


Quanta coisa pra contar!, upload feito originalmente por Charles Fonseca.

Veranico de Janeiro

Veranico de Janeiro


Amanheceu diferente, céu lavado das chuvas, férias. Ardendo o corpo, umidade baixa, depois da tristeza. Nada faria com que ela desistisse de amá-lo menos. Como um vírus o sentimento foi se apossando, em crescente. Seus afazeres ficaram secundários, livrou-se de velhas algemas. Sentia cócegas no sorriso. Mas após quatro dias de tórax em flor, choveu. Ela então se precipitou e virou as costas. Contudo, a paixão é sempre invariável. Já havia brotado raízes nos seus idos.


JB Alencastro

Wilson Simonal. Meu limão meu limoeiro. Música

Daniel Estulin - O GOVERNO, SA e uma visão do teu futuro...

História da Igreja Católica

História da Igreja Católica

14. Os apologistas

"De diversas formas, pois, os Padres do Oriente e do Ocidente entraram em relação com as escolas filosóficas. Isto não significa que tenham identificado o conteúdo da sua mensagem com os sistemas a que faziam referência. A pergunta de Tertuliano: ‘Que têm em comum Atenas e Jerusalém? Ou, a Academia e a Igreja?’, é um sintoma claro da consciência crítica com que os pensadores cristãos encararam, desde as origens, o problema da relação entre a fé e a filosofia, vendo-o globalmente, tanto nos seus aspectos positivos como nas suas limitações" (Fides et Ratio, n. 41).

Durante o século II um considerável número de gentios com sólida formação intelectual ingressou na Igreja. O fato de terem aderido ao Evangelho os obrigava ao confronto com a filosofia gentílica. Para defenderem a fé dos ataques dos perseguidores, e também dos detratores, muitos escreveram obras inteiras de apologética, ficando por isto conhecidos como Apologistas.

Entre os ataques ao cristianismo promovidos por intelectuais, podemos citar o discurso do retor Frontão de Cirta, preceptor de Marco Aurélio, Luciano de Samósata e Celso (com sua obra polêmica: Alethès lógos, c. de 178). Entre as acusações contra os cristãos, as mais comuns são a de ateísmo, assassinato ritual de crianças e traição ao imperador.

O grafitto do Palatino nos mostra um asno crucificado com algumas inscrições. Um certo Alexamenos, jovem cristão, é ridicularizado pelo companheiro de estudo: "Alexamenos adora o seu Deus". Em resposta escreve ao lado do insulto a frase: "Alexamenos fiel".

Diante da cultura pagã a Igreja assumiria duas posições: uma de oposição e rejeição (com Taciano, Teófilo ou Tertuliano, por exemplo), e outra de aproveitamento, assimilação dos seus aspectos positivos (Justino e outros pensadores cristãos, principalmente do mundo grego). A influência de filósofos gregos, principalmente Platão, sobre os Padres da Igreja é marcante.

Entre os apologistas, citamos Quadrato, Aristão, Milcíades, Apolinário, Melitão, Aristides de Atenas e Justino. Também merecem destaque Taciano, Atenágoras de Atenas, Teófilo de Antioquia, Hérmias e a epístola a Diogneto.

Quadrato foi discípulo dos apóstolos. Apresentou uma apologia ao imperador Adriano, em 123/124 (ou em 129?). Aristão de Pela defendeu o cristianismo contra os ataques dos judeus redigindo o Diálogo entre Jasão e Papisco sobre Cristo. Milcíades, retor originário da Ásia Menor, escreveu várias apologias contra os gregos e os judeus. Apolinário, bispo de Hierápolis, compôs quatro apologias. Melitão, bispo de Sardes, enviou uma defesa da fé cristã ao imperador Marco Aurélio.

Aristides de Atenas, um filósofo, redigiu sua Súplica em favor da religião cristã para o imperador Adriano.

De todos os apologistas aquele que merece mais destaque, com certeza, é Justino. Martirizado pelo ano 165, era filho de uma família greco-pagã de Flavia Neapolis, antiga Siquém, na Palestina. Familiarizado com muitas correntes filosóficas, não encontrou nenhuma que lhe desse todas as respostas que procurava. Sua mente e seu coração só encontraram a resposta na fé cristã.

Conservamos de suas obras duas Apologias contra os gentios e o Diálogo com o judeu Trifão.

A teoria das sementes do Verbo que ele formulou estabeleceu uma ponte entre a filosofia antiga e o cristianismo. Em seus escritos encontram-se valiosas informações sobre o batismo e a celebração litúrgica. Justino chega a esboçar uma formulação do dogma da transubstanciação. "De fato, não tomamos essas coisas como pão comum ou bebida ordinária, mas da maneira como Jesus Cristo, nosso Salvador, feito carne por força do Verbo de Deus, teve carne e sangue por nossa salvação, assim nos ensinou que, por virtude da oração ao Verbo que procede de Deus, o alimento sobre o qual foi dita a ação de graças - alimento com o qual, por transformação, se nutrem nosso sangue e nossa carne - é a carne e o sangue daquele mesmo Jesus encarnado". Também é relevante o paralelo que ele faz entre Maria e Eva, semelhante ao paralelo paulino entre Cristo e Adão.

Taciano foi discípulo de Justino. Depois do martírio do seu mestre, deixou Roma e voltou para o Oriente, sua região de origem. Acabou aderindo à seita dos encratitas, pregando a abstinência do matrimônio, do vinho e da carne. Seguindo Epifânio, substituiu o vinho pela água na eucaristia. Escreveu várias apologias.

Atenágoras de Atenas supera Justino em sua linguagem, estilo e ritmo. É mais tolerante do que Taciano no que se refere à filosofia e cultura gregas. Fez uma "Súplica em favor dos cristãos", dirigida, cerca de 177, a Marco Aurélio e Cômodo. Testemunha a fé da Igreja na Trindade antes do concílio de Nicéia: os cristãos adoram o Pai, o Filho e o Espírito Santo e veneram os anjos.

Teófilo de Antioquia, bispo desta cidade, escreveu três livros A Autólico, depois de 180. É o primeiro a empregar o termo triás para falar de Deus.

A carta a Diogneto foi redigida na segunda metade do século II, de acordo com a maioria dos estudiosos. Um certo Diogneto teria feito a um cristão três perguntas: 1) Qual a religião dos cristãos e por que eles rejeitam o judaísmo e o paganismo? 2) O que é a caridade para com o próximo? 3) Por que a religião cristã apareceu tão tarde na história do mundo?

XX - A natureza personalíssima da atuação profissional do médico não caracteriza relação de consumo.

Propaganda antiga


Queixa. Caetano Veloso.

Queixa
Caetano Veloso

Um amor assim delicado
Você pega e despreza
Não devia ter despertado
Ajoelha e não reza
Dessa cousa que mete medo
Pela sua grandeza
Não sou o único culpado
Disso eu tenho a certeza

Princesa, surpresa, você me arrasou
Serpente, nem sente que me envenenou
Senhora, e agora me diga onde eu vou
Senhora, serpente, princesa

Um amor assim violento
Quando torna-se mágoa
É o avesso de um sentimento
Oceano sem água,
Onda, desejos de vingança
Nessa desnatureza
Bate forte sem esperança
Contra a sua dureza

Princesa, surpresa, você me arrasou
Serpente, nem sente que me envenenou
Senhora, e agora me diga onde eu vou
Senhora, serpente, princesa

Um amor assim delicado
Nem um homem daria
Talvez tenha sido pecado
Apostar na alegria
Você pensa que eu tenho tudo
E vazio me deixa
Mas Deus não quer que eu fique mudo
E eu te grito essa queixa

Princesa, surpresa, você me arrasou
Serpente, nem sente que me envenenou
Senhora, e agora me diga onde eu vou

"A ambição cerra o coração"

Stjepan Hauser - Hungarian Rhapsody Op. 68 (Concert for Japan)

A mulher e as criadas. Esopo.

A MULHER E AS CRIADAS

Uma viúva que trabalhava arduamente tinha por hábito acordar suas jovens criadas com o canto do galo para a lida. Cansadas de tanto trabalhar sem trégua, as criadas resolveram matar o galo: achavam que a razão de toda sua desgraça era ele, que acordava a senhora antes do dia nascer. Qual nada! Morto o galo, o destino delas piorou ainda mais: pois a senhora, sem o galo e, conseqüentemente, sem seu relógio, as convocava ainda mais cedo.

Muito freqüentemente nossas desgraças são o fruto de nossas próprias resoluções.

Esopo
ABRAÇO
Charles Fonseca

Não existe o pai da horda
resta só o vir e ver
uma imagem um novo ser
um alguém só beira à porta

ou quem sabe à janela
novo lar um novo espaço
no jardim uma flor um abraço
quero dar-lhe, onde ela?

Lady Godiva. John Collier

Evangelho
Mc:4,35-41;


35.À tarde daquele dia, disse-lhes: Passemos para o outro lado.
36.Deixando o povo, levaram-no consigo na barca, assim como ele estava. Outras embarcações o escoltavam.
37.Nisto surgiu uma grande tormenta e lançava as ondas dentro da barca, de modo que ela já se enchia de água.
38.Jesus achava-se na popa, dormindo sobre um travesseiro. Eles acordaram-no e disseram-lhe: Mestre, não te importa que pereçamos?
39.E ele, despertando, repreendeu o vento e disse ao mar: Silêncio! Cala-te! E cessou o vento e seguiu-se grande bonança.
40.Ele disse-lhes: Como sois medrosos! Ainda não tendes fé?
41.Eles ficaram penetrados de grande temor e cochichavam entre si: Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?


Cantiga para não morrer

CANTIGA PARA NÃO MORRER
Ferreira Gullar

Quando você for se embora
moça branca como a neve,
me leve.

Se acaso você não possa
me carregar pela mão,
menina branca de neve,
me leve no coração.

Se no coração não possa
por acaso me levar,
moça de sonho e de neve,
me leve no seu lembrar.

E se aí também não possa
por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento,
menina branca de neve,
me leve no esquecimento.”

tantas coisas pela metade
tantos projetos nem começados
na certeza de que tudo tem o seu tempo
que em breve será o momento

tanta falta que ela me faz

“ As pessoas não morrem, ficam encantadas”. Guimarães Rosa

O vermelho e o negro. Sambaqui. Floripa.


O vermelho e o negro 3, upload feito originalmente por Charles Fonseca.

"A grandeza de uma profissão é talvez, antes de tudo, unir os homens; só há um luxo verdadeiro: o das relações humanas. Trabalhando só pelos bens materiais construimos nós mesmos nossa prisão. Encerramo-nos lá dentro, com nossa moeda de cinza que não pode ser trocada por coisa alguma que valha a pena viver". Antoine de Saint-Exupèry

Oração ao Deus desconhecido - Friedrich Nietzsche

Poema antigo

MORRO DE SÃO PAULO
Charles Fonseca

Morro de São Paulo de amar
De cheiros de ais eu morro
Ventos assobios e choro
Saudades eu quero voltar

A amar ao mar, eu quero
Quebrar-me qual quebra a onda
Na praia num faz de conta
Que morro de novo, eu quebro.

Maravilhas Divinas. Igreja. Cristianismo

sexta-feira, janeiro 27, 2012

"É muito fácil viver fazendo-se de tonto. Se o tivesse sabido antes, ter-me-ia declarado idiota desde a minha juventude, e poderia ser que, por esta altura, até fosse mais inteligente. Porém, quis ter engenho demasiado depressa, e eis-me aqui agora, feito um imbecil". Fiodor Dostoievski (1821-1881)

A origem das dores nas costas

Recentemente o presidente da Câmara dos Deputados recebeu várias queixas de Deputados com problemas sérios na coluna e, após uma pesquisa detalhada sobre quais os motivos, o médico do posto médico da Câmara dos Deputados descobriu que o problema era o colchão nos apartamentos funcionais dos senhores deputados, que não estavam na posição adequada!


Avara pescaria à vara

O Jovem Pescador

Desde cedo o pai ia ao rio. Um dia, o garoto foi junto. Sol quente na moleira, o fio de nylon embaraçava, o anzol enganchou nas suas meias, mas nada disso o abalou. Ele gostava. Em menos de uma hora aprendeu a lançar longe a isca. Neste dia mesmo, já sabia travar o molinete. Lutava com o peixe. Fisgou boas iscas. Paizão orgulhoso. Nenhuma reclamação, até colocação criativa do apoio – entre as pernas – o menino fez sem ninguém ensinar. Viagem perfeita. Na volta, ao abastecer no posto, uma mulher formosa desfilou a frente de ambos.

- Que peixão, einh, pai?

Silenciosamente ele sorriu. O DNA do pescador estava demonstrado tanto no manejo da vara quanto no apreciar de um belo exemplar.

JB Alencastro

Stand Up Paddle na Lagoa da Conceição. Floripa.


Albertine Disparue. Fernando Sabino.

Albertine Disparue
Fernando Sabino


Chamava-se Albertina, mas era a própria Nega Fulô: pretinha, retorcida, encabulada. No primeiro dia me perguntou o que eu queria para o jantar:

— Qualquer coisa — respondi.

Lançou-me um olhar patético e desencorajado. Resolvi dar-lhe algumas instruções: mostrei-lhe as coisas na cozinha, dei-lhe dinheiro para as compras, pedi que tomasse nota de tudo que gastasse.

— Você sabe escrever?

— Sei sim senhor — balbuciou ela.

— Veja se tem um lápis aí na gaveta.

— Não tem não senhor.

— Como não tem? Pus um lápis aí agora mesmo!

Ela abaixou a cabeça, levou um dedo à boca, ficou pensando.

— O que é lapisai? — perguntou finalmente.

Resolvi que já era tarde para esperar que ela fizesse o jantar. Comeria fora naquela noite.

— Amanhã você começa — conclui. — Hoje não precisa fazer nada.

Então ela se trancou no quarto e só apareceu no dia seguinte. No dia seguinte não havia água nem para lavar o rosto.

— O homem lá da porta veio aqui avisar que ia faltar — disse ela, olhando-me interrogativamente.

— Por que você não encheu a banheira, as panelas, tudo isso aí?

— Era para encher?

— Era.

— Uê...

Não houve café, nem almoço e nem jantar. Saí para comer qualquer coisa, depois de lavar-me com água mineral. Antes chamei Albertina, ela veio lá de sua toca espreguiçando:

— Eu tava dormindo... — e deu uma risadinha.

— Escute uma coisa, preste bem atenção — preveni: — Eles abrem a água às sete da manhã, às sete e meia tornam a fechar. Você fica atenta e aproveita para encher a banheira, enche tudo, para não acontecer o que aconteceu hoje.

Ela me olhou espantada:

— O que aconteceu hoje?

Era mesmo de encher. Quando cheguei já passava de meia-noite, ouvi barulho na área.

— É você, Albertina?

— É sim senhor...

— Por que você não vai dormir?

— Vou encher a banheira...

— A esta hora?!

— Quantas horas?

— Uma da manhã.

— Só? — espantou-se ela. – Está custando a passar...

*

— O senhor quer que eu arrume seu quarto?

— Quero.

— Tá.

Quarto arrumado, Albertina se detém no meio da sala, vira o rosto para o outro lado, toda encabulada, quando fala comigo:

— Posso varrer a sala?

— Pode.

— Tá.

Antes que ela vá buscar a vassoura, chamo-a:

— Albertina!

Ela espera, assim de costas, o dedo correndo devagar no friso da porta.

— Não seria melhor você primeiro fazer café?

— Tá.

Depois era o telefone:

— Telefonou um moço aí dizendo que é para o senhor ir num lugar aí buscar não sei o quê.

— Como é o nome?

— Um nome esquisito...

— Quando telefonarem você pede o nome.

— Tá.

— Albertina!

— Senhor?

— Hoje vai haver almoço?

— Se for possível.

— Tá.

Fazia o almoço. No primeiro dia lhe sugeri que fizesse pastéis, só para experimentar. Durante três dias só comi pastéis.

— Se o senhor quiser que eu pare eu paro.

— Faz outra coisa.

— Tá.

Fez empadas. Depois fez um bolo. Depois fez um pudim. Depois fez um despacho na cozinha.

— Que bobagem é essa aí, Albertina?

— Não é nada não senhor — disse ela.

— Tá — disse eu.

E ela levou para seu quarto umas coisas, papel queimado, uma vela, sei lá o quê. O telefone tocava.

— Atende aí, Albertina.

— É para o senhor.

— Pergunte o nome.

— Ó.

— O quê?

— Disse que chama Ó.

Era o Otto. Aproveitei-me e lhe perguntei se não queria me convidar para jantar em sua casa.

*

Finalmente o dia da bebedeira. Me apareceu bêbada feito um gambá; agarrando-me pelo braço:

— Doutor, doutor... A moça aí da vizinha disse que eu tou beba, mas é mentira, eu não bebi nada... O senhor não acredita nela não, tá cum ciúme de nóis!

Olhei para ela, estupefato. Mal se sustinha sobre as pernas e começou a chorar.

— Vá para o seu quarto — ordenei, esticando o braço dramaticamente. — Amanhã nós conversamos.

Ela nem fez caso. Senti-me ridículo como um general de pijama, com aquela pretinha dependurada no meu braço, a chorar.

— Me larga! — gritei, empurrando-a. Tive logo em seguida de ampará-la para que não caísse: — Amanhã você arruma suas coisas e vai embora.

— Deixa eu ficar... Não bebi nada, juro!

Na cozinha havia duas garrafas de cachaça vazias, três de cerveja. Eu lhe havia ordenado que nunca deixasse faltar três garrafas de cerveja na geladeira. Ela me obedecia à risca: bebia as três, comprava outras três.

Tranquei a porta da cozinha, deixando-a nos seus domínios. Mais tarde soube que invadira os apartamentos vizinhos fazendo cenas. No dia seguinte ajustamos as contas. Ela, já sóbria, mal ousava me olhar.

— Deixa eu ficar — pediu ainda, num sussurro. — Juro que não faço mais.

Tive pena:

— Não é por nada não, é que não vou precisar mais de empregada, vou viajar, passar muito tempo fora.

Ela ergueu os olhos:

— Nenhuma empregada?

— Nenhuma.

— Então tá.

Agarrou sua trouxa, despediu-se e foi-se embora.

Sobremesa?

Clique: http://economia.estadao.com.br/noticias/neg%C3%B3cios,vale-recebe-titulo-de-pior-empresa-do-mundo,100790,0.htm

Sambaqui. Floripa.


Sambaqui 3, upload feito originalmente por Charles Fonseca.

O lobo e a garça. Esopo.

O LOBO E A GARÇA

Um lobo que engolira um osso corria pelo campo procurando quem o salvasse. Ao encontrar uma garça, disse: - Por favor, tira-me esse osso da garganta e te recompensarei. A garça enfiou a cabeça na goela do lobo e retirou o osso. Depois ela reclamou a recompensa prometida. O lobo então respondeu: Já não te basta ter tirado tua cabeça sã e salva da boca de um lobo?

O reconhecimento do homem mau se limita a não causar um novo mal a quem lhe fez o bem.

Esopo
BATTEM, Gerrit van
(b. ca. 1636, Rotterdam, d. 1684, Rotterdam)