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quarta-feira, setembro 30, 2009

Ella Fitzgerald: Hey Jude 1969 Montreux




Hey Jude
The Beatles
Composição: John Lennon / Paul McCartney

Hey, Jude, don't make it bad,
take a sad song and make it better
Remember, to let her into your heart,
then you can start, to make it better.
Hey, Jude, don't be afraid,
you were made to go out and get her,
the minute you let her under your skin,
then you begin to make it better.
And anytime you feel the pain,
Hey, Jude, refrain,
don't carry the world upon your shoulders.
For well you know that it's a fool,
who plays it cool,
by making his world a little colder.
Na na na na na na na na...
Hey, Jude, don't let me down,
you have found her now go and get her,
remember (Hey Jude) to let her into your heart,
then you can start to make it better.
So let it out and let it in,
Hey, Jude, begin,
you're waiting for someone to perform with.
And don't you know that is just you?
Hey, Jude, you'll do,
the movement you need is on your shoulder.
Na na na na na na na na...
Hey, Jude, don't make it bad,
take a sad song and make it better,
remember to let her under your skin,
then you'll begin to make it better (better, better, better,better, better, oh!)
Na, na na na na na, na na na, Hey Jude
Na, na na na na na, na na na, Hey Jude

terça-feira, setembro 29, 2009

Síndrome da alienação parental, o que é isso? Maria Berenice Dias,

Síndrome da alienação parental, o que é isso?
Elaborado em 07.2006.

Maria Berenice Dias
desembargadora do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, vice-presidente nacional do Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM)

Certamente todos que se dedicam ao estudo dos conflitos familiares e da violência no âmbito das relações interpessoais já se depararam com um fenômeno que não é novo, mas que vem sendo identificado por mais de um nome. Uns chamam de "síndrome de alienação parental"; outros, de "implantação de falsas memórias".
Este tema começa a despertar a atenção, pois é prática que vem sendo denunciada de forma recorrente. Sua origem está ligada à intensificação das estruturas de convivência familiar, o que fez surgir, em conseqüência, maior aproximação dos pais com os filhos. Assim, quando da separação dos genitores, passou a haver entre eles uma disputa pela guarda dos filhos, algo impensável até algum tempo atrás. Antes, a naturalização da função materna levava a que os filhos ficassem sob a guarda da mãe. Ao pai restava somente o direito de visitas em dias predeterminados, normalmente em fins-de-semana alternados.
Como encontros impostos de modo tarifado não alimentam o estreitamento dos vínculos afetivos, a tendência é o arrefecimento da cumplicidade que só a convivência traz. Afrouxando-se os elos de afetividade, ocorre o distanciamento, tornando as visitas rarefeitas. Com isso, os encontros acabam protocolares: uma obrigação para o pai e, muitas vezes, um suplício para os filhos.
Agora, porém, se está vivendo uma outra era. Mudou o conceito de família. O primado da afetividade na identificação das estruturas familiares levou à valoração do que se chama filiação afetiva. Graças ao tratamento interdisciplinar que vem recebendo o Direito de Família, passou-se a emprestar maior atenção às questões de ordem psíquica, permitindo o reconhecimento da presença de dano afetivo pela ausência de convívio paterno-filial. A evolução dos costumes, que levou a mulher para fora do lar, convocou o homem a participar das tarefas domésticas e a assumir o cuidado com a prole. Assim, quando da separação, o pai passou a reivindicar a guarda da prole, o estabelecimento da guarda conjunta, a flexibilização de horários e a intensificação das visitas.
No entanto, muitas vezes a ruptura da vida conjugal gera na mãe sentimento de abandono, de rejeição, de traição, surgindo uma tendência vingativa muito grande. Quando não consegue elaborar adequadamente o luto da separação, desencadeia um processo de destruição, de desmoralização, de descrédito do ex-cônjuge. Ao ver o interesse do pai em preservar a convivência com o filho, quer vingar-se, afastando este do genitor.
Para isso cria uma série de situações visando a dificultar ao máximo ou a impedir a visitação. Leva o filho a rejeitar o pai, a odiá-lo. A este processo o psiquiatra americano Richard Gardner nominou de "síndrome de alienação parental": programar uma criança para que odeie o genitor sem qualquer justificativa. Trata-se de verdadeira campanha para desmoralizar o genitor. O filho é utilizado como instrumento da agressividade direcionada ao parceiro. A mãe monitora o tempo do filho com o outro genitor e também os seus sentimentos para com ele.
A criança, que ama o seu genitor, é levada a afastar-se dele, que também a ama. Isso gera contradição de sentimentos e destruição do vínculo entre ambos. Restando órfão do genitor alienado, acaba identificando-se com o genitor patológico, passando a aceitar como verdadeiro tudo que lhe é informado.
O detentor da guarda, ao destruir a relação do filho com o outro, assume o controle total. Tornam-se unos, inseparáveis. O pai passa a ser considerado um invasor, um intruso a ser afastado a qualquer preço. Este conjunto de manobras confere prazer ao alienador em sua trajetória de promover a destruição do antigo parceiro.
Neste jogo de manipulações, todas as armas são utilizadas, inclusive a assertiva de ter sido o filho vítima de abuso sexual. A narrativa de um episódio durante o período de visitas que possa configurar indícios de tentativa de aproximação incestuosa é o que basta. Extrai-se deste fato, verdadeiro ou não, denúncia de incesto. O filho é convencido da existência de um fato e levado a repetir o que lhe é afirmado como tendo realmente acontecido. Nem sempre a criança consegue discernir que está sendo manipulada e acaba acreditando naquilo que lhes foi dito de forma insistente e repetida. Com o tempo, nem a mãe consegue distinguir a diferença entre verdade e mentira. A sua verdade passa a ser verdade para o filho, que vive com falsas personagens de uma falsa existência, implantando-se, assim, falsas memórias.
Esta notícia, comunicada a um pediatra ou a um advogado, desencadeia a pior situação com que pode um profissional defrontar-se. Aflitiva a situação de quem é informado sobre tal fato. De um lado, há o dever de tomar imediatamente uma atitude e, de outro, o receio de que, se a denúncia não for verdadeira, traumática será a situação em que a criança estará envolvida, pois ficará privada do convívio com o genitor que eventualmente não lhe causou qualquer mal e com quem mantém excelente convívio.
A tendência, de um modo geral, é imediatamente levar o fato ao Poder Judiciário, buscando a suspensão das visitas. Diante da gravidade da situação, acaba o juiz não encontrando outra saída senão a de suspender a visitação e determinar a realização de estudos sociais e psicológicos para aferir a veracidade do que lhe foi noticiado. Como esses procedimentos são demorados – aliás, fruto da responsabilidade dos profissionais envolvidos –, durante todo este período cessa a convivência do pai com o filho. Nem é preciso declinar as seqüelas que a abrupta cessação das visitas pode trazer, bem como os constrangimentos que as inúmeras entrevistas e testes a que é submetida a vítima na busca da identificação da verdade.
No máximo, são estabelecidas visitas de forma monitorada, na companhia de terceiros, ou no recinto do fórum, lugar que não pode ser mais inadequado. E tudo em nome da preservação da criança. Como a intenção da mãe é fazer cessar a convivência, os encontros são boicotados, sendo utilizado todo o tipo de artifícios para que não se concretizem as visitas.
O mais doloroso – e ocorre quase sempre – é que o resultado da série de avaliações, testes e entrevistas que se sucedem durante anos acaba não sendo conclusivo. Mais uma vez depara-se o juiz diante de um dilema: manter ou não as visitas, autorizar somente visitas acompanhadas ou extinguir o poder familiar; enfim, manter o vínculo de filiação ou condenar o filho à condição de órfão de pai vivo cujo único crime eventualmente pode ter sido amar demais o filho e querer tê-lo em sua companhia. Talvez, se ele não tivesse manifestado o interesse em estreitar os vínculos de convívio, não estivesse sujeito à falsa imputação da prática de crime que não cometeu.
Diante da dificuldade de identificação da existência ou não dos episódios denunciados, mister que o juiz tome cautelas redobradas.
Não há outra saída senão buscar identificar a presença de outros sintomas que permitam reconhecer que se está frente à síndrome da alienação parental e que a denúncia do abuso foi levada a efeito por espírito de vingança, como instrumento para acabar com o relacionamento do filho com o genitor. Para isso, é indispensável não só a participação de psicólogos, psiquiatras e assistentes sociais, com seus laudos, estudos e testes, mas também que o juiz se capacite para poder distinguir o sentimento de ódio exacerbado que leva ao desejo de vingança a ponto de programar o filho para reproduzir falsas denúncias com o só intuito de afastá-lo do genitor.
Em face da imediata suspensão das visitas ou determinação do monitoramento dos encontros, o sentimento do guardião é de que saiu vitorioso, conseguiu o seu intento: rompeu o vínculo de convívio. Nem atenta ao mal que ocasionou ao filho, aos danos psíquicos que lhe infringiu.
É preciso ter presente que esta também é uma forma de abuso que põe em risco a saúde emocional de uma criança. Ela acaba passando por uma crise de lealdade, pois a lealdade para com um dos pais implica deslealdade para com o outro, o que gera um sentimento de culpa quando, na fase adulta, constatar que foi cúmplice de uma grande injustiça.
A estas questões devem todos estar mais atentos. Não mais cabe ficar silente diante destas maquiavélicas estratégias que vêm ganhando popularidade e que estão crescendo de forma alarmante.
A falsa denúncia de abuso sexual não pode merecer o beneplácito da Justiça, que, em nome da proteção integral, de forma muitas vezes precipitada ou sem atentar ao que realmente possa ter acontecido, vem rompendo vínculo de convivência tão indispensável ao desenvolvimento saudável e integral de crianças em desenvolvimento.
Flagrada a presença da síndrome da alienação parental, é indispensável a responsabilização do genitor que age desta forma por ser sabedor da dificuldade de aferir a veracidade dos fatos e usa o filho com finalidade vingativa. Mister que sinta que há o risco, por exemplo, de perda da guarda, caso reste evidenciada a falsidade da denúncia levada a efeito. Sem haver punição a posturas que comprometem o sadio desenvolvimento do filho e colocam em risco seu equilíbrio emocional, certamente continuará aumentando esta onda de denúncias levadas a efeito de forma irresponsável.

http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=8690

O FALECIDO MATTIA PASCAL. Pirandello

O FALECIDO MATTIA PASCAL
Pirandello

"Cada objeto, em nós, costuma transformar-se consoante as imagens que evoca e agrupa, por assim dizer, em torno de si. Certamente, de um objeto podemos gostar também em si mesmo, pela diversidade das sensações agradáveis que suscita em nós numa percepção harmoniosa; mas, com bem maior freqüência, o prazer que um objeto nos proporciona não se encontra no objeto em si mesmo. A fantasia o embeleza, cingindo-o e quase que iluminando-o de imagens queridas. E, à nossa percepção, ele não mais se apresenta tal como é, mas como que animado pelas imagens que suscita em nós ou que os nossos hábitos lhe associam. No objeto, em suma, amamos o que nele pomos de nós mesmos, o acordo, a harmonia que estabelecemos entre ele e nós, a alma que ele adquire somente para nós e que é constituída das nossas lembranças."


"Seis Personagens à Procura de um Autor"

segunda-feira, setembro 28, 2009

Delacroix. Pintura.



Cântico dos Cânticos, 4

Cântico dos Cânticos, 4
1. Como és formosa, minha amada, como és formosa: teus olhos são como os das pombas através do teu véu; teus cabelos, como um rebanho de cabras que vêm descendo dos montes de Galaad;
2. teus dentes, como um rebanho de ovelhas tosquiadas que sobem do lavadouro: todas com filhotes gêmeos, nenhuma estéril entre elas.
3. Teus lábios são como uma fita escarlate e tua fala é doce; como a metade da romã, assim as tuas faces através do teu véu.
4. Teu pescoço é como a torre de Davi edificada com baluartes; dela pendem mil escudos, toda a armadura dos heróis.
5. Teus dois seios são como dois filhotes, gêmeos de uma gazela, pastando entre os lírios.
6. Enquanto não surge o dia e não fogem as sombras, vou ao monte da mirra e à colina do incenso.
7. És toda formosa, ó minha amada, e não há mancha em ti.
8. Vem do Líbano, minha esposa, vem do Líbano e entra; olha do cume do Amaná, dos cimos do Sanir e do Hermon, das cavernas dos leões e das montanhas dos leopardos.
9. Feriste meu coração, ó minha irmã e esposa, feriste meu coração com um só dos teus olhares, com uma só das jóias do teu colar!
10. Como são belos os teus amores, ó minha irmã e esposa, melhores, os teus amores, do que o vinho, e o odor dos teus perfumes supera todos os aromas.
11. Teus lábios, minha esposa, são favo que distila o mel; sob a tua língua há mel e leite, e o perfume de tuas vestes é como o perfume do Líbano.
12. És um jardim fechado, minha irmã e esposa, jardim fechado e fonte lacrada;
13. teus rebentos são um jardim de romãs com frutos excelentes, de alfena com nardo,
14. nardo e açafrão, canela e cinamomo, com todas as árvores de incenso, mirra e aloés, com todos os melhores bálsamos.
15. A fonte dos jardins é como um manancial de água corrente que flui do Líbano com ímpeto.
16. Desperta, vento do norte e vem, vento do sul: soprai no meu jardim, para que se difundam os seus aromas.

quarta-feira, setembro 23, 2009

terça-feira, setembro 22, 2009

A incredulidade de Tomé. Caravaggio


A incredulidade de Tomé. Caravaggio. Clique na imagem.

VERO. Charles Fonseca. Poesia

VERO
Charles Fonseca

Tu que és parte de mim partes
Do meu amor solidão
Eu tão teu tu contra-mão
Tu que és parte de mim artes

Do demo por Deus vãs voltas
Tu fazes em torno à luz
Funérea mortiça há cruz
Tu que és parte de mim gólgotas

Me fazes outras não quero
Tudo o mais é só mentira
Deste hades só tu me tiras
Tu que és parte de mim, vero.





segunda-feira, setembro 21, 2009

ELA CHEGOU. Onestaldo de Pennafort. Poesia.

ELA CHEGOU
Onestaldo de Pennafort

Ela chegou, chegou-se... E disse
Que tinha vindo para ser escrava.
E eu respondi-lhe que era uma tolice
Aquela frase que ela murmurava.

Lembrei-lhe a triste sorte de Belkiss...
E ela, sem dar ouvido ao que escutava,
Fechou os olhos... E num beijo disse
Que tinha vindo para ser escrava.

E eu, gesto de pura maluquice,
Ao vê-la assim tão cheia de meiguice,
Abri os braços para a que chegava,

Sem pressentir que, por desgraça minha,
Do meu destino ia ficar rainha
Quem tinha vindo para ser escrava.

GALINHA D’ANGOLA. Charles Fonseca. Poesia.

GALINHA D’ANGOLA
Charles Fonseca

Galinha ‘tou fraca’
Tu andas saudosa
Das terras de Angola.
Tu cantas, ‘tou fraca’.

'Tou fraca' encantas
Da terra galinhos
Pois que um sem carinho
Bicou-te em espancas.

Fantasmas espantas
De galo soturno.
Bateu-te ao escuro,
Por isso, desandas.

Os outros afastas,
Ainda o amas!
Só ele te encanta.
Tu cantas, ‘tou fraca’.

Então tu ficaste
Sozinha com a prole.
É duro, não é mole.
Tu choras, tou fraca.

Até tua prole
O galo malvado
Tirou do teu lado,
Por isso tu choras.

‘Tou fraca’ tu cantas,
Tu queres carinho
De galo terninho.
Tu choras, ‘tou fraca’.

‘Tou fraca’, agora,
Irmãs te amparam.
Esquece esse galo,
Galinha de Angola!

Fabiana Cozza interpreta Canto de Ossanha

Cântico dos Cânticos, 3 Rei Salomão

Cântico dos Cânticos, 3
Rei Salomão

1. Em meu leito, durante a noite, procurei o amado de minha alma. Procurei-o, e não o encontrei.
2. Vou, pois, levantar-me e percorrer a cidade, pelas ruas e pelas praças, procurando o amado de minha alma. Procurei-o, e não o encontrei.
3. Encontraram-me os guardas, que faziam a ronda pela cidade: “Acaso vistes, vós, o amado de minha alma?”
4. Pouco depois de ter passado por eles, encontrei, afinal, o amado de minha alma. Segurei-o e não o soltarei, até que o introduza na casa de minha mãe, no aposento daquela que me concebeu.
5. Eu vos conjuro, mulheres de Jerusalém, pelas corças e gazelas dos campos, que não desperteis nem façais acordar a amada, até que ela o queira.
6. Que é isto que sobe pelo deserto como leve coluna de fumaça, exalando incenso e mirra e toda espécie de pó aromático?
7. — É a liteira de Salomão! Rodeiam-no sessenta guerreiros dentre os mais valentes de Israel,
8. todos armados de espada e muito treinados para a guerra, cada um levando a espada sobre a coxa por causa dos temores noturnos.
9. O rei Salomão mandou fazer para si um palanquim de madeira do Líbano:
10. as colunas, mandou fazê-las de prata; o espaldar, de ouro e o assento, de púrpura; no seu interior, um estrado de ébano. Mulheres de Jerusalém,
11. saí para ver, mulheres de Sião, o rei Salomão com seu diadema: assim o coroou sua mãe no dia do seu casamento, dia da alegria do seu coração.

Beethoven Violin Concerto (3rd mt) Zukerman, Mehta at the UN, 1982


Você chora ante uma bela música?

QUERES FLORES? Castro Alves. Poesia.

QUERES FLORES?
Castro Alves

Queres cantos?
Como hei de dar-tos se prantos
Só tenho no peito meu?
Queres luzes e harmonias?...
Debalde... só agonias
Meu alaúde gemeu...

Donzela! Fora loucura
Pedir ao tufão doçura,
Ao morto alegre canção,
Buscar a flor dos quiosques
Entre os ciprestes, os bosques
Que ensombram funéreo chão.

Porém escuta um conselho...
Pede a Veneza um espelho...
Mira o teu rosto... e verás
Um desses quadros tão belos
Que — homens não sabem fazê-los,
Que — dous assim Deus não faz.

Na tua boca formosa
Verás uma linda rosa
Meio fechada a sorrir,
E, como gotas nitentes,
As pérolas de teus dentes
No seio da flor luzir.

O perfume do Oriente
— Quando rezas inocente —
Se embala nos lábios teus.
E no teu seio, se treme,
Tens a Poesia, se geme,
Tens a harmonia dos Céus.

Queres ver o Paraíso?
Descerra os lábios... Um riso
Vem-nos o Éden mostrar...
Canta!... E aos hinos sagrados
Verás no Céu debruçados
Os astros pra te escutar.

Tens a noite nas madeixas
Onde a brisa em temas queixas
Geme... morre de languor.
São mais que os astros — brilhantes
Os teus olhos fascinantes,
— Lindas estrofes de amor...

E ainda pedes-me um canto?!...
Quebra a lira o Bardo santo
Ao ver um sorriso teu...
Rasga a tela Rafael...
Fídias estala o cinzel...
Deus treme de amor no Céu.

domingo, setembro 20, 2009

O papel de refletir sobre o conjunto do espírito humano. Sérgio Telles.

O papel de refletir sobre o conjunto do espírito humano.

O exame da cultura e da civilização tornou-se uma das linhas de força da psicanálise, que prossegue dedicada a essa frente.

Sérgio Telles

A inquietante e dolorosa vacilação humana entre o Bem e o Mal, a razão e a irracionalidade - enigma sobre o qual há séculos se debruçavam a filosofia e as religiões - foi entendida por Freud como decorrente da divisão estrutural do psiquismo em diversas instâncias, cujo funcionamento percebeu ser regido por um conflito permanente entre forças opostas.

Foi com as histéricas que Freud descobriu a dimensão inconsciente do psiquismo, mas logo a reconheceu nos demais quadros psicopatológicos e no funcionamento mental dos ditos "normais". É quando passa a fazer o levantamento desta forma de funcionamento psíquico que escapa totalmente à consciência e à lógica racional e que usa uma linguagem cifrada, até então incompreensível a ponto de lhe ser negado qualquer sentido. Daí a necessidade de interpretá-la ao se manifestar em sintomas, sonhos, atos falhos, fantasias e desejos.

Freud constata que o inconsciente pode ser detectado em toda e qualquer manifestação do psiquismo humano, desde os mais simples e rudimentares até as mais complexas produções culturais, como a arte, a religião, a filosofia.

Por isso mesmo, desde o início, Freud estabeleceu que a psicanálise não se restringe a seu aspecto terapêutico e procurou aproximá-la dos demais domínios do espírito.

É grande o número de textos que Freud dedicou a assuntos artísticos e culturais, como Delírios e Sonhos na Gradiva de W. Jensen (1907), Leonardo da Vinci e Uma Lembrança de Sua Infância (1910), O Moisés de Michelangelo (1914) e Moisés e o Monoteísmo (1939). Essa linha de trabalho culminou com obras magistrais nas quais estuda a gênese da lei (Totem e Tabu, 1913), a questão da psicologia das massas e da liderança (Psicologia de Grupo e a Análise do Ego, 1921), a religião (O Futuro de Uma Ilusão, 1927) e a própria civilização (O Mal-Estar na Civilização, 1930).

O pensamento "sociológico" e "cultural" de Freud - que, durante certo tempo e por vários motivos foi relegado a um segundo plano - recebeu uma grande revitalização a partir dos trabalhos de Jacques Derrida. Ele convoca os psicanalistas a retomarem seu posto na polis, a participarem - como Freud o fez - mais intensamente dos debates que envolvem as grandes questões da atualidade. Confirma Derrida o que já é sabido desde o aparecimento dos primeiros trabalhos de Freud - que o mundo é hostil à psicanálise e a ela oferece grande resistência. Mas - continua Derrida - é necessário reconhecer que a psicanálise, por sua vez, também "resiste" ao mundo, e - o que é mais grave - resiste a si mesma, recusando-se a continuar expandindo o campo de saber criado por Freud.

Derrida lamenta a ausência da psicanálise no enfrentamento com questões nas quais sua contribuição é imprescindível, como nos campos da ética, da política e do jurídico.

O Mal-Estar na Civilização é o texto magnífico onde Freud analisa os impasses decorrentes do fato de o homem ter saído da natureza e ingressado no campo da cultura. Ali ele afirma ser necessário conter os desejos agressivos e sexuais para tornar possível a vida em comum. Como conciliar isso com o objetivo terapêutico maior da psicanálise que propõe justamente combater a repressão e tornar conscientes os conteúdos agressivos e sexuais que ela afastava da consciência? Essa aparente contradição se desfaz quando lembramos que a superação da repressão e a integração no psiquismo dos conteúdos até então reprimidos não deve ser confundida com a realização concreta destes desejos na realidade. O levantar da repressão dá ao sujeito um maior conhecimento sobre si mesmo, fortalece seu ego e faz com que ele deixe de atribuir à outra pessoa (via projeção) desejos e fantasias que são de sua própria lavra. Cabe ao sujeito, agora de posse de seus desejos antes reprimidos, avaliar a adequação e a oportunidade de pô-los em prática ou reconhecer que tem de renunciá-los de uma vez por todas. Isso implica o reconhecimento da lei e a aceitação de limites, um abandono do narcisismo onipotente infantil e uma aceitação do princípio da realidade.

O fato de Freud considerar a civilização como valioso apanágio da humanidade a ser protegido contra a barbárie sempre à espreita não impede que a psicanálise exerça sobre ela uma crítica sistemática, o que a coloca numa posição muitas vezes contrária ao consenso geral, despertando resistências e hostilidades.

No tempos iniciais, Freud e a psicanálise se opunham à hipocrisia com a que a sociedade tratava a sexualidade, reprimindo-a maciçamente, fazendo-a manifestar-se no corpo contorcido, paralisado, convulsivo da histérica.

A psicanálise ajudou a mudar este panorama e o que vemos hoje em dia é o oposto do que ocorria no tempo de Freud.

Ao contrário da censura, da repressão e do impedimento superegoico contra a sexualidade, prevalece agora a imposição do gozo ininterrupto, a ordem é gozar. É exigido de todos uma vida sexual intensa e variada, sendo discriminados aqueles que não cumprem com tal imperativo. A sexualidade se exibe às escâncaras nos meios de comunicação, que ininterruptamente confundem o público e o privado.

Enquanto os anseios eróticos eram vigiados e reprimidos na era vitoriana, agora o mercado está atento a todo e qualquer desejo para transformá-lo num objeto de consumo, oferecido pela enganosa publicidade como o passaporte para a felicidade instantânea.

O que aconteceu? Teriam desaparecido os impedimentos e a repressão? É claro que não. A psicanálise entende que a repressão se desloca para outras áreas, por exemplo, impedindo a manifestação da genuína intimidade afetiva.

Ao apontar as falácias da sociedade do consumo, o vazio decorrente do narcisismo desenfreado, a negação da falta e da incompletude, a liberdade equivocada que leva às fobias e ataques de pânico, a psicanálise, mais uma vez. está na contramão.

No próprio campo terapêutico, o espírito do tempo volta a ficar contra a psicanálise. Ela é desmerecida como algo ultrapassado pela neurociência (que reduz o funcionamento mental ao equilíbrio dos neurotransmissores cerebrais) e pelo cognitivismo (teoria psicológica herdeira do behaviorismo, baseada em processos cognitivos conscientes, que ignora - consequentemente - o Inconsciente freudiano, e tenta aproximar o funcionamento da mente ao processamento de dados por um computador).

Neste contexto, é reconfortante que um pensador do calibre de Derrida tenha reafirmado a radical novidade do inconsciente freudiano, que continua descentrando e desafiando o saber humano baseado no cogito, na razão, na consciência.

* Sérgio Telles é psicanalista e escritor, autor de Visita às Casas de Freud e Outras Viagens (Casa do Psicólogo), entre outros

PSICANÁLISE

'Psicanálise é a medicina da alma do nosso século'

Especialistas refletem sobre a obra do pensador, 70 anos após a sua morte; leia aqui entrevista com Elizabeth Roudinesco

Andrei Netto, correspondente em Paris
PARIS - Poucos intelectuais traduziram tão bem sua época como Sigmund Freud fez com o século 20. Em sua obra, estão expressas as bases de conceitos tão poderosos e, ao mesmo tempo, tão legíveis, que se tornaram parte do cotidiano com a velocidade característica de sua época. É o caso do inconsciente - um conceito já elaborado nos séculos 18 e 19 por autores como Leibniz e Edward von Hartmann. Reinterpretada por Freud, a ideia de que o que falamos pode ter significados ocultos que fogem à esfera da consciência e, portanto, ao nosso domínio, é hoje reconhecível por todos.

Resumir seu pensamento a esse conceito, porém, é limitar uma obra enérgica e influente, alerta Elisabeth Roudinesco. Psicanalista, historiadora, docente, escritora, discípula de Jacques Lacan, amiga de Jacques Derrida, Elisabeth é, aos 64 anos recém-feitos, um dos pensadores vivos mais importantes de sua área, a psicanálise - um dos legados de Freud à humanidade. Segundo a intelectual marxista, o médico neurologista convertido em gênio está por trás, de uma forma ou de outra, de todas as formas de emancipações vividas pela sociedade do século 20, das quais o feminismo e a liberação sexual são só dois exemplos evidentes.

Além de suas atividades acadêmicas, que a levam a viajar o mundo todo, Elisabeth, uma das intelectuais mais respeitadas da França, se mantém hiperativa como escritora. E no centro de seus interesses está Freud. Ele explicaria a efervescência da autora, que lançará dois novos livros - Histoire de la Psychanalyse en France (La Pochotèque) e Retour à la Question Juive (Albin Michel) - nos próximos dias.
Previsto para outubro, Em Defesa da Psicanálise (Jorge Zahar, 248 págs.) é o seu próximo lançamento no Brasil. Nessa obra, estão reunidos entrevistas e ensaios da autora inéditos no País. Organizados pelo psicanalista Marco Antonio Coutinho Jorge, os textos são de épocas diversas e abordam temas polêmicos: a falta de participação dos psicanalistas na vida pública, a homossexualidade, o antissemitismo e a ciência, além das conexões da psicanálise com a medicina e a filosofia. No livro, a resposta da autora para os que falam da morte da psicanálise é direta: "Que ilusão!"

Em 23 de setembro de 1939, Freud morria em Londres. Às vésperas do aniversário de 70 anos de seu desaparecimento, o Estado pediu ajuda a Elisabeth para esmiuçar a herança de um mestre. Em seu apartamento, em um quartier pequeno-burguês de Paris, na quarta-feira, foram registradas mais de duas horas de entrevista exclusiva. A seguir, sua síntese.

Estamos a 70 anos da morte de Freud. O que ainda é tão representativo em sua obra? Por que ele é uma referência para a própria humanidade?
Ele é o único a ter teorizado, assim como seus herdeiros, o que chamamos de inconsciente. Não falo do subconsciente nem do inconsciente dos psicólogos. Eu me refiro ao inconsciente, que pode ser traduzido pela noção de que, quando alguém fala, não sabe o que diz. Há milhões de exemplos concretos, como o ministro do Interior da França (Brice Hortefeux), que fez declarações racistas na semana passada. Conscientemente, ele não é racista. Inconscientemente, sim. Mas julgamos alguém por seu inconsciente? Sim, se ele é ministro. Mas, via de regra, não podemos enviar alguém aos tribunais por seu inconsciente. Podemos dizer: "Comporte-se!" Muitas pessoas são inconscientemente racistas e antissemitas. Quando não há lei, esses sentimentos se exprimem.

Está no inconsciente? É inexorável?
É inexorável. Freud dizia, com razão, que a única maneira de impedir o crime é a lei, a civilização. No fim do século 19, havia pessoas e governos pública e oficialmente racistas. Não era proibido.

Permita-me retomar a questão: por que Freud ficou marcado como o homem que sintetiza o século 20?
Porque ele aportou algo de novo. Ele estava no prolongamento da filosofia do sujeito. Ele trouxe explicações que a filosofia havia pensado, mas ele lhes deu um assento teórico. E isso não me surpreende. Além disso, Freud permite compreender os dois totalitarismos do século 20: o nazismo, sobre o qual pensou e anteviu melhor do que qualquer outro, e o comunismo, que não teve nada a ver com sua ideia original, com o marxismo. Os dois, aliás, são diferentes: o nazismo se inscreveu desde seu início, sabia-se o que esperar; o comunismo caminhou para o lado errado. Mesmo assim, Freud viu que ele não funcionaria. É verdade que ele era conservador, assim como muitos de seus herdeiros. Mas há muitos freud-marxistas, muitos freudianos de esquerda - que são os meus preferidos, aliás. Nessa época, psicanálise era uma teoria da regeneração do homem, da emancipação. Quatro coisas nasceram ao mesmo tempo: o sionismo, o último movimento de emancipação dos judeus; a psicanálise, que é a emancipação do inconsciente; o socialismo, a emancipação social; e o feminismo, a emancipação da mulher. Era um grande movimento. O século 20, como anteviu Freud, foi o triunfo do contrário - o que pode ser resumido no nazismo. Freud afirmou que o triunfo do contrário já estava lá, entre nós, naquela época. E disse ainda: "Atenção, eu sou a favor da emancipação, mas o homem é habitado pelo contrário disso." Eu creio que ele foi o único a dizê-lo. É um dos motivos pelos quais é o Homem do Século 20. Por outro lado, ele jamais abandonou a ideia do progresso. Freud foi um homem progressista. Contra Schopenhauer, contra os grandes conservadores de seu tempo, contra os que eram inteiramente pessimistas em relação ao progresso, acusando-o de não servir para nada, Freud disse: "Sim, ele serve." Foi por isso que eu o chamei, depois de Adorno e outros, como a "luz sombria", marcada pelo iluminismo, mas sem muitas ilusões. Esse vínculo, o fato de ter pensado a relação entre as duas coisas, o levou a pensar ao mesmo tempo que o pior e o melhor podem acontecer com o homem. Ele nunca foi antiprogressista, ao contrário do que se diz. Por tudo o que mencionei, ele está no centro dos dias de hoje. Você não pode pensar o sionismo, o feminismo, a liberação das mulheres, a transformação da família, sem passar por Freud em determinado momento.

Se Freud é o homem do século 20, qual é o seu lugar no século 21?
É o mesmo. A maioria dos psicanalistas tornou-se conservadora. Não 100%, mas a maioria é conservadora. Por quê? É uma de minhas grandes interrogações. Eu não o sou, e no Brasil eles são menos. Diria até que são menos na América Latina. Mas eles são conservadores por diversas razões. Os lacanianos não deveriam sê-lo, já que Lacan relançou o pensamento da rebelião, da contestação. A Internacional Freudiana tornou-se conservadora porque caiu na repetição do dogma. Eles não se renovaram, tornaram-se um movimento dogmático, centrado sobre a clínica e não sobre a reflexão a respeito da sociedade e do indivíduo. Além disso, cometeram o erro de dialogar demais com as ciências duras, ao crer que o debate sobre o cérebro e os neurônios era essencial. Sempre afirmei que esse debate não era essencial, porque o cérebro e os neurônios não precisam de psicanálise. Não há muito o que fazer com isso, senão dar medicamentos. Mas se a psicanálise se ocupa apenas disso, afastando-se das moeurs (expressão francesa para costumes), ela se torna conservadora, familiarista. Os psicanalistas se desinteressaram dos assuntos sociais. Foi assim que se tornaram conservadores.

Por que a psicanálise brasileira é menos conservadora?
A América Latina, e sobretudo o Brasil, é uma sociedade que espelha a Europa. Os psicanalistas brasileiros são ecléticos. Em alguns momentos são culturalistas, e nos chateiam com a sua brasilidade - não esqueça que houve na França a francilidade e na Alemanha a germanidade. Mas, fora isso, eles, como espelho da Europa, importaram conhecimento. Ao importar, misturaram-no. E o ecletismo dos brasileiros - mais do que dos argentinos, que são menos ecléticos - se formou pegando um pouquinho de Freud, um pouquinho de Lacan e por aí foi. Isso funciona porque questiona o dogmatismo. Eles desconstruíram, para empregar a expressão de Derrida, o dogma europeu.

Voltemos a Freud. Ele não avançou em dois domínios: as crianças e os psicóticos. Por quê?
Sim, ele avançou sobre o tema da infância. Ele nos deu a base da análise da infância. O que se pode dizer é que sua corrente não triunfou no mundo psicanalítico quando se fala em infância, e sim a de Melanie Klein. Nisso, estou completamente de acordo com você. Foi ela quem fundou a psicanálise da infância. No entanto, tudo isso é psicanálise. Ela engloba todas as correntes. Sobre os psicóticos, você tem razão. Freud não acreditava que seria possível analisar os psicóticos. Muito cedo, quando ele compreendeu que essa era a "Terra Prometida" - bem antes da aparição dos medicamentos -, quando ele percebeu que quase todos os seus discípulos eram psiquiatras e trabalhavam com a psicose, ele se desinteressou, embora não tenha desestimulado ninguém. É verdade que é um domínio muito problemático. A análise se faz para os neuróticos. A "cura" analítica funciona muito para os neuróticos, porque, como eles não se curam, se acomodam. E, como transformamos a neurose de fracasso em neurose de sucesso, a cura funciona. A psicanálise torna mais inteligente, mais corajoso, mais apto na sociedade. A psicanálise funciona muito bem. Entretanto, é verdade que não curamos bem a psicose, embora tenhamos nos desenvolvido muito nesse tema também. Os loucos hoje buscam na psicanálise um complemento, já que os psiquiatras só querem saber de medicamentos. Se não há a psicanálise, o paciente vira um legume, um morto em vida.

No início, com Freud, a psicanálise era um processo breve, rápido. Hoje, é o contrário, estende-se por anos, décadas às vezes. O que mudou?
Era rápido porque Freud fazia seis sessões por semana de uma hora. Era intensivo. Há também o fato de que estendemos a análise para domínios não previstos de início, o que a tornou mais difícil. Mudou-se a modalidade da cura, também. Há pessoas que precisam falar sempre, ao longo de sua vida. Mas é verdade que Freud ficaria chocado hoje. Duas vezes por semana, durante 10 anos? Não! Para Freud, era de seis meses a um ano, todos os dias, por uma hora. Quando não era possível, como Marie Bonaparte, tudo bem. Ela ficou 14 anos em análise.

Freud esforçou-se muito para dar à psicanálise o status de ciência, mas ela sempre esteve na alça de mira de cientificistas ortodoxos. Como a psicanálise responde a essas críticas? E por que ela deve ser considerada uma ciência?
Freud oscilou, hesitou muito entre o status de ciência, no sentido de ciência dura - ele queria no fundo que a psicanálise fosse uma "neurologia da alma" - e um outro status, que ele não chamava filosofia, mas ainda assim estava do lado da especulação, da literatura e da filosofia. Ele renunciou completamente e muito cedo ao status de ciência dura, porque se deu conta de que não se tratava de uma ciência no sentido que se conhece. Logo, é preciso inscrever a psicanálise no registro das ciências humanas. É uma ciência, no sentido da racionalidade, mas não no mesmo sentido da biologia e da neurologia. Freud se dividia entre as duas concepções. Não estamos mais no tempo do darwinismo, e a biologia é reconhecida como uma ciência, uma ciência da natureza. A psicanálise não o é de modo algum. Não tem metodologia, resultados ou a positividade das ciências duras. É uma ciência mais próxima das Humanas, como a Antropologia, a Sociologia, a História. Mas mesmo essa concepção, a de parte das ciências humanas, já foi contestada.

O pensamento de Freud é íntegro e poderoso ainda hoje? Sua força criativa ainda é existe?
Sem dúvida. Creio que vamos assistir a um grande retorno a dois pensadores, inclusive: Marx e Freud. Não ao comunismo e à psicanálise, mas a Marx e Freud. Autores como Marx, Freud, Nietzsche e toda a filosofia da rebelião se tornaram malditos nos últimos 20, 30 anos, quando caímos em um estado de neoconservadorismo. A crise econômica, em especial como a que se passou nos Estados Unidos, vai desempenhar um papel considerável. Vamos voltar ao pensamento da rebelião.

Como as ideias de Freud retornarão? Com que aplicação?
Retornarão com as de Marx. Mas não sei como serão aplicadas. O que está voltando com muita força é a ideia de que temos um inconsciente, de que o desejo é capital. A psicanálise, bem pensada, permite compreender a moeurs, o inconsciente, o desejo e a sexualidade de uma forma inteligente. É uma teoria do desejo, afinal.

A senhora vê conceitos de Freud confirmados pelos progressos da ciência ou por novas tecnologias?
Não. Os progressos da ciência são os progressos da ciência. Nenhum dos conceitos de Freud é confirmado pela biologia. São dois domínios diferentes. A psicanálise é a medicina da alma. É especial.

Assim como a psiquiatria, em sua origem?
Hoje não há mais psiquiatria. E, logo, nos damos conta de que existem cada vez mais loucos. Porque são usados apenas medicamentos, ela não funciona mais. É útil, mas não resolve. É muito interessante o que se passou na psiquiatria. Biologizaram-na. Até então, era um equivalente da psicanálise. Era uma medicina da alma. Mas a deslocaram para a biologia. Curamos a loucura? Não. Acalmamos os loucos? Sim. Vivemos um recuo de 50 anos com a psiquiatria "biologizada".

A obra de Freud é marcada por sua didática, sua clareza. E esse não me parece ser o caso dos pensadores da psicanálise contemporânea. De onde vem esse problema de comunicação?
Esse problema é enorme. Os psicanalistas escrevem em clichês. Mesmo que Lacan seja um autor difícil de ler, não se trata de um clichê. Além disso, mesmo que os seguidores de Lacan escrevam em secto, os freudianos também o fazem. Freud era um autor claro, o que influenciou todo o movimento psicanalítico. Hoje, quando leio psicanalistas freudianos norte-americanos ou ingleses fico impressionada com os clichês que estão presentes. É um símbolo muito grave de encerramento sectário. Quando os intelectuais se fecham em torno de si mesmos, eles falam a linguagem de uma tribo. No interior, a tribo se compreende. Eu sempre compreendi a tribo, mas não posso escrever como ela. Não sei fazer. Sou muito clara. Às vezes os antropólogos e sociólogos que queriam se divertir me perguntavam se eu, como psicanalista, não me sentia como o antropólogo que chega à Melanésia e que deve decifrar a linguagem da tribo. É uma alegoria exata. Eu decifro facilmente essa linguagem. Mas para você, que a lê, não deve ser fácil. A psicanálise é mais afetada pelos clichês que a filosofia, por exemplo.

O meu ponto é: se o problema da clareza da comunicação existe, o que torna a psicanálise tão popular em todo o mundo?
Ela é popular em todo o mundo, mas o é de uma forma inconveniente. Por exemplo, ela é popular em muitos países, infelizmente, pela forma da psicologia interpretativa dos chefes de Estado. Eu recuso todos os pedidos de entrevista sobre as fantasias dos chefes de Estado. Mas isso a TV adora, sob a forma da psicologia. Todos os antifreudianos, todos os que não gostam da psicanálise, dirão que ela está em todo lugar. Sim, os psicanalistas estão em todo lugar, mas sob que formas! É ridículo!

http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,psicanalise-e-a-medicina-da-alma-do-nosso-seculo,437434,0.htm

quinta-feira, setembro 17, 2009

O ADEUS DE TERESA. Castro Alves. Poesia.

O ADEUS DE TERESA
Castro Alves

A vez primeira que eu fitei Teresa,
Como as plantas que arrasta a correnteza,
A valsa nos levou nos giros seus...
E amamos juntos... E depois na sala
Adeus eu disse-lhe a tremer coa fala...

E ela, corando, murmurou-me: adeus.

Uma noite... entreabriu-se um reposteiro...
E da alcova saía um cavaleiro
Inda beijando uma mulher sem véus...
Era eu... Era a pálida Teresa!
Adeus lhe disse conservando-a presa...

E ela entre beijos murmurou-me: adeus!

Passaram tempos... séclos de delírio
Prazeres divinais... gozos do Empíreo...
. . . Mas um dia volvi aos lares meus.
Partindo eu disse -- Voltarei!... descansa!...
Ela, chorando mais que uma criança,

Ela em soluços murmurou-me: adeus!

Quando voltei... era o palácio em festa!...
E a voz dEla e de um homem lá na orquestra
Preenchiam de amor o azul dos céus.
Entrei! . . . Ela me olhou branca . . . surpresa!
Foi a última vez que eu vi Teresa!...

E ela arquejando murmurou-me: adeus!

Munch. Pintura


Munch.

quarta-feira, setembro 16, 2009

Algo hicimos mal. Oscar Arias. Política

"ALGO HICIMOS MAL"

Palavras do Presidente Oscar Arias da Costa Rica na Cúpula das Américas em Trinidad e Tobago, 18 de abril de 2009
"Tenho a impressão de que cada vez que os países caribenhos e latino-americanos se reúnem com o presidente dos Estados Unidos da América, é para pedir-lhe coisas ou para reclamar coisas.
Quase sempre, é para culpar os Estados Unidos de nossos males passados, presentes e futuros. Não creio que isso seja de todo justo.
Não podemos esquecer que a América Latina teve universidades antes de que os Estados Unidos criassem Harvard e William & Mary, que são as primeiras universidades desse país.
Não podemos esquecer que nesse continente, como no mundo inteiro, pelo menos até 1750 todos os americanos eram mais ou menos iguais: todos eram pobres.

Ao aparecer a Revolução Industrial na Inglaterra, outros países sobem nesse vagão: Alemanha, França, Estados Unidos, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e aqui a Revolução Industrial passou pela América Latina como um cometa, e não nos demos conta.
Certamente perdemos a oportunidade. Há também uma diferença muito grande. Lendo a história da América Latina, comparada com a história dos Estados Unidos, compreende-se que a América Latina não teve um John Winthrop espanhol, nem português, que viesse com a Bíblia em sua mão disposto a construir uma Cidade sobre uma Colina, uma cidade que brilhasse, como foi a pretensão dos peregrinos que chegaram aos Estados Unidos. Faz 50 anos, o México era mais rico que Portugal. Em 1950, um país como o Brasil tinha uma renda per capita mais elevada que o da Coréia do Sul.
Faz 60 anos, Honduras tinha mais riqueza per capita que Cingapura, e hoje Cingapura em questão de 35 a 40 anos é um país com $40.000 de renda anual por habitante. Bem, algo nós fizemos mal, os latino-americanos. Que fizemos errado? Nem posso enumerar todas as coisas que fizemos mal. Para começar, temos uma escolaridade de 7 anos. Essa é a escolaridade média da América Latina e não é o caso da maioria dos países asiáticos.
Certamente não é o caso de países como Estados Unidos e Canadá, com a melhor educação do mundo, similar a dos europeus. De cada 10 estudantes que ingressam no nível secundário na América Latina, em alguns países, só um termina esse nível secundário.
Há países que têm uma mortalidade infantil de 50 crianças por cada mil, quando a média nos países asiáticos mais avançados é de 8, 9 ou 10. Nós temos países onde a carga tributária é de 12% do produto interno bruto e não é responsabilidade de ninguém, exceto nossa, que não cobremos dinheiro das pessoas mais ricas dos nossos países. Ninguém tem a culpa disso, a não ser nós mesmos.
Em 1950, cada cidadão norte-americano era quatro vezes mais rico que um cidadão latino-americano. Hoje em dia, um cidadão norte-americano é 10, 15 ou 20 vezes mais rico que um latino-americano. Isso não é culpa dos Estados Unidos, é culpa nossa.
No meu pronunciamento desta manhã, me referi a um fato que para mim é grotesco e que somente demonstra que o sistema de valores do século XX, que parece ser o que estamos pondo em prática também no século XXI, é um sistema de valores equivocado. Porque não pode ser que o mundo rico dedique 100.000 milhões de dólares para aliviar a pobreza dos 80% da população do mundo "num planeta que tem 2.500 milhões de seres humanos com uma renda de $2 por dia" e que gaste 13 vezes mais ($1.300.000. 000.000) em armas e soldados. *Como disse esta manhã, não pode ser que a América Latina gaste $50.000*
milhões em armas e soldados. Eu me pergunto: quem é o nosso inimigo? Nosso inimigo, presidente Correa, desta desigualdade que o Sr. aponta com muita razão, é a falta de educação; é o analfabetismo; é que não gastamos na saúde de nosso povo; que não criamos a infra-estruturar necessária, os caminhos, as estradas, os portos, os aeroportos; que não estamos dedicando os
recursos necessários para deter a degradação do meio ambiente; é a desigualdade que temos que nos envergonhar realmente; é produto, entre muitas outras coisas, certamente, de que não estamos educando nossos filhos e nossas filhas. Vá alguém a uma universidade latino-americana e parece no entanto que estamos nos sessenta, setenta ou oitenta. Parece que nos esquecemos de que em 9 de novembro de 1989 aconteceu algo de muito importante, ao cair o Muro de Berlim, e que o mundo mudou.
Temos que aceitar que este é um mundo diferente, e nisso francamente penso que os acadêmicos, que toda gente pensante, que todos os economistas, que todos os historiadores, quase concordam que o século XXI é um século dos asiáticos não dos latino-americanos. E eu, lamentavelmente, concordo com eles.
Porque enquanto nós continuamos discutindo sobre ideologias, continuamos discutindo sobre todos os "ismos" (qual é o melhor? capitalismo, socialismo, comunismo, liberalismo, neoliberalismo, social cristianismo. ..) os asiáticos encontraram um "ismo" muito realista para o século XXI e o final do século XX, que é o *pragmatismo* . Para só citar um exemplo, recordemos que quando Deng Xiaoping visitou Cingapura e a Coréia do Sul, depois de ter-se dado conta de que seus próprios vizinhos estavam enriquecendo de uma maneira muito acelerada, regressou a Pequim e disse aos velhos camaradas maoístas que o haviam acompanhado na Grande Marcha: "Bem, a verdade, queridos camaradas, é que a mim não importa se o gato é branco ou negro, só o que me interessa é que cace ratos". E se Mao estivesse vivo, teria morrido de novo quando disse que "a verdade é que enriquecer é glorioso". E enquanto os chineses fazem isso, e desde 1979 até hoje crescem a 11%, 12% ou 13%, e tiraram 300 milhões de habitantes da pobreza, nós continuamos discutindo sobre ideologias que devíamos ter enterrado há muito tempo atrás.
A boa notícia é que isto Deng Xiaoping o conseguiu quando tinha 74 anos. Olhando em volta, queridos presidentes, não vejo ninguém que esteja perto dos 74 anos. Por isso só lhes peço que não esperemos completá-los para fazer as mudanças que temos que fazer.
Muito obrigado."

MÚSICA

Valsa das flores. Tchaikowsky

Quando as flores valsam. Tchaikowsky.

terça-feira, setembro 15, 2009

sábado, setembro 12, 2009

A FLOR DO MARACUJÁ.Catulo da Paixão Cearense. Poesia.

A FLOR DO MARACUJÁ
Catulo da Paixão Cearense

Encontrando-me com um sertanejo
Perto de um pé de maracujá
Eu lhe perguntei:
Diga-me caro sertanejo
Porque razão nasce roxa
A flor do maracujá?

Ah, pois então eu lhi conto
A estória que ouvi contá
A razão pro que nasci roxa
A flor do maracujá

Maracujá já foi branco
Eu posso inté lhe ajurá
Mais branco qui caridadi
Mais brando do que o luá

Quando a flor brotava nele
Lá pros cunfim do sertão
Maracujá parecia
Um ninho de argodão

Mais um dia, há muito tempo
Num meis que inté num mi alembro
Si foi maio, si foi junho
Si foi janero ou dezembro

Nosso sinhô Jesus Cristo
Foi condenado a morrer
Numa cruis crucificado
Longe daqui como o quê

Pregaro cristo a martelo
E ao vê tamanha crueza
A natureza inteirinha
Pois-se a chorá di tristeza

Chorava us campu
As foia, as ribera
Sabiá também chorava
Nos gaio a laranjera

E havia junto da cruis
Um pé de maracujá
Carregadinho de flor
Aos pé de nosso sinhô

I o sangue de Jesus Cristo
Sangui pisado de dô
Nus pé du maracujá
Tingia todas as flor

Eis aqui seu moço
A estoria que eu vi contá
A razão proque nasce roxa
A flor do maracujá.

1000 Mãos-Guanyin. Dança.


Há uma dança impressionante chamada das 1000 Mãos-Guanyin. Considerando-se a absoluta coordenação necessária, sua realização não deixa ser surpreendente, ainda mais se as dançarinas são surdas.

Sim, isto mesmo. Todas as 21 bailarinas são completamente surdas (sordas). Baseando-se somente nos sinais dos orientadores nos 4 cantos do cenário (você poderá vê-los atuando), estas extraordinárias bailarinas oferecem um grandioso espetáculo visual.

Sua primeira grande estréia internacional foi em Atenas, no encerramento dos Jogos Para-Olímpicos de 2004. Já viajaram para mais de 40 países.

A Primeira Bailarina, Tai Lihua, tem 29 anos é formada pelo Instituto de Belas Artes de Hubei.

O vídeo foi gravado em Pequim durante o Festival da Primavera deste ano.

Lamento. Pixinguinha. Música.


Zimbo Trio, Danilo Brito - Lamento, Pixinguinha
Certo dia, Ernesto Nazareth convidou o Pixinguinha para vê-lo tocar na sala de espera do cine Odeon. Ao tentar entrar para ver o amigo tocar, Pixinguinha foi barrado na porta por ser negro. Voltou para casa muito aborrecido, triste e com esse sentimento compôs o chorinho "Lamento".

SER MOÇA E BELA SER. Raimundo Correia. Poesia.

SER MOÇA E BELA SER
Raimundo Correia

Ser moça e bela ser, por que é que lhe não basta?
Porque tudo o que tem de fresco e virgem gasta
E destrói? Porque atrás de uma vaga esperança
Fátua, aérea e fugaz, frenética se lança
A voar, a voar?...

Também a borboleta,
Mal rompe a ninfa, o estojo abrindo, ávida e inquieta,
As antenas agita, ensaia o vôo, adeja;
O finíssimo pó das asas espaneja;
Pouco habituada à luz, a luz logo a embriaga;
Bóia do sol na morna e rutilante vaga;

Em grandes doses bebe o azul; tonta, espairece
No éter; voa em redor, vai e vem; sobe e desce;
Torna a subir e torna a descer; e ora gira
Contra as correntes do ar, ora, incauta, se atira
Contra o tojo e os sarcais; nas puas lancinantes

Em pedaços faz logo às asas cintilantes;
Da tênue escama de ouro os resquícios mesquinhos
Presos lhe vão ficando à ponta dos espinhos;
Uma porção de si deixa por onde passa,
E, enquanto há vida ainda, esvoaça, esvoaça,

Como um leve papel solto à mercê do vento;
Pousa aqui, voa além, até vir o momento
Em que de todo, enfim, se rasga e dilacera.
ó borboleta, pára! ó mocidade, espera!

quinta-feira, setembro 10, 2009

As mamas túrgidas. A erótica cósmica.


As mamas túrgidas. A erótica cósmica. Clique na foto para ampliar.

quarta-feira, setembro 09, 2009

Abba Novák. Pintura.



SAUDADE. Raimundo Correia. Poesia.

SAUDADE
Raimundo Correia

Aqui outrora retumbaram hinos;
Muito coche real nestas calçadas
E nestas praças, hoje abandonadas,
Rodou por entre os ouropéis mais finos...

Arcos de flores, fachos purpurinos,
Trons festivais, bandeiras desfraldadas,
Girândolas, clarins, atropeladas
Legiões de povo, bimbalhar de sinos...

Tudo passou! Mas dessas arcarias
Negras, e desses torreões medonhos,
Alguém se assenta sobre as lájeas frias;

E em torno os olhos úmidos, tristonhos,
Espraia, e chora, como Jeremias,
Sobre a Jerusalém de tantos sonhos!...

terça-feira, setembro 08, 2009

Laranjeiras, Sergipe.


Laranjeiras Sergipe 06.09.2009 016, upload feito originalmente por Charles Fonseca.

Laranjeiras, Sergipe. Clique na foto.

segunda-feira, setembro 07, 2009

Hipertensão dos mais velhos. Drauzio Varella. Medicina

Hipertensão dos mais velhos.
Sofre de pressão alta pelo menos a metade dos que chegaram aos 50 anos. Dessa idade em diante, a prevalência não para de crescer, não apenas no Brasil, mas em todos os países e na maioria das raças e dos grupos étnicos.
À medida que os valores da pressão ultrapassam aqueles atualmente considerados ideais (até 11,5 por 7,5), cresce de forma linear a probabilidade de ocorrer derrame cerebral, doença cardíaca isquêmica, insuficiência cardíaca, morte por doença cardiovascular e até de morrer por outras causas.
Por exemplo, nos 347.978 homens acompanhados no estudo americano “Multiple Risk Factor Intervention Trial” o risco de óbito por infarto do miocárdio daqueles com pressão máxima (sistólica) superior a 18 cm, comparado ao dos apresentavam máxima de até 12 cm, foi 15 vezes maior.
Esse crescimento do risco provocado pela hipertensão tem sido documentado em todas as faixas etárias. Ele, no entanto, parece tornar-se menos acentuado com o passar dos anos. Uma metanálise de estudos que somaram 1 milhão de participantes, mostrou que hipertensos de 50 a 59 anos, com pressão máxima acima de 18 cm, apresentam risco 16 vezes maior de morrer de derrame cerebral. E que acima dos 80 anos, esse risco cai para três.
Dados como esses se prestam a interpretações contraditórias porque acima dos 80 anos é significativo o número de acidentes vasculares cerebrais mesmo na população com pressão normal.
Para aumentar a confusão, um levantamento retrospectivo encontrou dados sugestivos de que, depois dos 80 anos, manter níveis de pressão máxima abaixo de 14 cm, estaria associado ao aumento da mortalidade.
Em junho de 2008, o The New England Journal of Medicine publicou os resultados de um estudo muito aguardado pela comunidade médica: o HYVET (The Hypertension in the Very Elderly Trial).
Nele, foram sorteados ao acaso para receber medicação anti-hipertensiva ou comprimidos inertes de placebo, 3.845 pacientes distribuídos em 195 centros médicos de diversos países europeus (Inglaterra, Romênia, França, Bulgária, Bélgica, Rússia), China, Austrália e Tunísia.
Para ser admitido, era preciso ter mais de 80 anos e apresentar pressão máxima acima de 16 cm. A idade dos participantes variou entre 80 e 105 anos (média 83,6); cerca de 60% eram do sexo feminino.
No grupo que recebeu tratamento, os níveis da pressão máxima caíram em média 3 cm, e os da mínima, 1,3 cm. Curiosamente, como costuma ocorrer em estudos semelhantes, no grupo-placebo os níveis de pressão também caíram, porém menos: a máxima diminuiu em média 1,4 e a mínima 0,7 cm.
Depois de um ano e oito meses de acompanhamento médio, ficou demonstrado que aqueles tratados com medicamentos contra a hipertensão apresentaram redução de 30% dos índices de derrame cerebral fatais ou não; redução de 39% na probabilidade de morrer de derrame; redução de 23% do número de mortes por doenças cardiovasculares; redução de 21% do número de mortes por causas gerais; e redução de 64% da incidência de insuficiência cardíaca.
O comitê independente encarregado da análise estatística dos resultados decidiu interromper o estudo depois de um ano e oito meses de seguimento médio, por julgar antiético prossegui-lo sem oferecer tratamento anti-hipertensivo para todos os que recebiam placebo.
Os autores sugerem que, nos hipertensos com mais de 80 anos, obter níveis máximos de 15cm x 8cm através do tratamento medicamentoso é um objetivo razoável, uma vez que no HYVET esse alvo foi atingido em 50% dos participantes tratados. Não há dados para assegurar que reduções abaixo desses níveis sejam ainda mais benéficas.
A hipertensão arterial é o agravo crônico mais prevalente entre as mulheres e os homens mais velhos. Ela é capaz de piorar a qualidade e encurtar a duração da vida em todas as faixas etárias. Os resultados do HYVET deixam claro que nunca é tarde demais para começar a tratá-la.
http://www.drauziovarella.com.br/artigos/hiper.asp

domingo, setembro 06, 2009

Laranjeiras. Sergipe.


Laranjeiras Sergipe 06.09.2009 072, upload feito originalmente por Charles Fonseca.


AO CÉU. Charles Fonseca. Poesia

AO CÉU
Charles Fonseca

Oh saudade do sonho impossível!
Oh versos que retratam o inverso do amor sublime!
Arrasa-me o peito ter por norte o racional.
Mas antes estar no deserto buscando oásis
Que ser sugado e cuspido ao final.

Oh musa irreal do meu desejo,
Oh ser imprudente, leviano e cruel!
Cavaste em meu peito cova funda
Dela suspiros d’alma sobem ao céu.

Alcibíades discutindo com Péricles.

Alcibíades discutindo com Péricles.
Palestra registrada por Xenofonte.

"- Que vem a ser lei?" indaga Alcibiades.
"- A expressão da vontade do povo", responde Péricles.
"- Mas que é o que determina esse povo? O bem, ou o mal?" replica-lhe o sobrinho.
"- Certo que o bem, mancebo.
"- Mas, sendo uma oligarquia quem mande, isto é, um diminuto número de homens, serão, ainda assim, respeitáveis as leis?
"- Sem dúvida.
"- Mas, se a disposição vier de um tirano? Se ocorrer violência, ou ilegalidade? Se o poderoso coagir o fraco? Cumprirá, todavia, obedecer"?
Péricles hesita; mas acaba admitindo:
"- Creio que sim.
"- Mas então", insiste Alcibíades, "o tirano, que constrange os cidadãos a lhe acatarem os caprichos, não será, esse sim, o inimigo das leis?
"- Sim; vejo agora que errei em chamar leis às ordens de um tirano, costumado a mandar, sem persuadir.
"- Mas, quando um diminuto número de cidadãos impõe seus arbítrios à multidão, daremos, ou não, a isso o nome de violência?
Parece-me a mim", concede Péricles, cada vez mais vacilante, "que, em caso tal, é de violência que se trata, não de lei".
Admitido isso, já Alcibíades triunfa:
"- Logo, quando a multidão, governando, obrigar os ricos, sem consenso destes, não será, também, violência, e não lei?"

sexta-feira, setembro 04, 2009

quinta-feira, setembro 03, 2009

SONETO DA SAUDADE João José de Melo Franco

SONETO DA SAUDADE
João José de Melo Franco

Quando morrer, quero estar contigo.
Saudade sentirei só do outro lado,
Onde te esperarei com o mais puro trigo
Para fazer um pão, macio e bem sovado.

Quando morrer, vou querer dizer, e digo,
Que saudade sentirei porque fui amado.
Comi do pão que reparti contigo;
te serei faminto nesse meu novo estado.

Em eterna manhã, na celeste padaria,
Com Jorge e Benedito, a nova irmandade,
Prepararemos com divinal poesia
A fôrma de assar nossa saudade.

E quando chegares, estarei à mesa,
com um pão de amor. Tenha certeza!