sábado, maio 31, 2008
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O QUE OCULTA O FACEBOOK? Charles Fonseca. Prosa
O QUE OCULTA O FACEBOOK?
Charles Fonseca
No orkut você pode ter uma ideia realizada da fragmentação do ser em objetos da paixão de ser visto. É uma vertente libidinal, por assim dizer... Também tem seu pólo oposto de ser um meio dos sujeitos se aproximarem tão objetos que são ou se fazem passar para sobreviver especialmente na metrópole onde o olho a olho é tão fugidio. Também é um meio de praticar um sutil voyeurismo quando a realidade é por demais árida. Ruim com ele, pior sem ele. O que podemos através dele é lançar pontes sobre abismos pois o coração humano é um poço profundo onde se escondem nos seus desvãos os ais e anelos mais escondidos. A falta é a condição humana e seu fio condutor é o desejo.
Charles Fonseca
No orkut você pode ter uma ideia realizada da fragmentação do ser em objetos da paixão de ser visto. É uma vertente libidinal, por assim dizer... Também tem seu pólo oposto de ser um meio dos sujeitos se aproximarem tão objetos que são ou se fazem passar para sobreviver especialmente na metrópole onde o olho a olho é tão fugidio. Também é um meio de praticar um sutil voyeurismo quando a realidade é por demais árida. Ruim com ele, pior sem ele. O que podemos através dele é lançar pontes sobre abismos pois o coração humano é um poço profundo onde se escondem nos seus desvãos os ais e anelos mais escondidos. A falta é a condição humana e seu fio condutor é o desejo.
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sexta-feira, maio 30, 2008
Ave Maria, Pavarotti.
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Quão belos são os teus pés. Rei Salomão
QUÃO BELOS SÃO OS TEUS PÉS
Rei Salomão
Quão belos são os teus pés
nas sandálias que trazes, ó filha de príncipe!
As colunas das tuas pernas são como anéis
trabalhados por mãos de artista.
o teu umbigo é uma taça arredondada,
que nunca está desprovida de vinho.
O teu ventre é como um monte de trigo
cercado de lírios.
Os teus dois seios são como dois filhinhos
gêmeos duma gazela.
O teu pescoço é como uma torre de marfim.
Os teus olhos são como as piscinas de Hesebon,
que estão situadas junto da porta de Bat-Rabim.
O teu nariz é como a torre do Líbano,
que olha para Damasco.
A tua cabeça levanta-se como o monte Carmelo;
os cabelos da tua cabeça são como a púrpura
um rei ficou preso às suas madeixas.
Quão formosa e encantadora és,
meu amor, minhas delícias!
A tua figura é semelhante a uma palmeira.
Eu disse. Subirei à palmeira,
e colherei os seus frutos.
Os teus seios serão, para mim, como cachos de uvas,
e o perfume da tua boca como o das maçãs.
(trecho da Bíblia, Velho Testamento)
Rei Salomão
Quão belos são os teus pés
nas sandálias que trazes, ó filha de príncipe!
As colunas das tuas pernas são como anéis
trabalhados por mãos de artista.
o teu umbigo é uma taça arredondada,
que nunca está desprovida de vinho.
O teu ventre é como um monte de trigo
cercado de lírios.
Os teus dois seios são como dois filhinhos
gêmeos duma gazela.
O teu pescoço é como uma torre de marfim.
Os teus olhos são como as piscinas de Hesebon,
que estão situadas junto da porta de Bat-Rabim.
O teu nariz é como a torre do Líbano,
que olha para Damasco.
A tua cabeça levanta-se como o monte Carmelo;
os cabelos da tua cabeça são como a púrpura
um rei ficou preso às suas madeixas.
Quão formosa e encantadora és,
meu amor, minhas delícias!
A tua figura é semelhante a uma palmeira.
Eu disse. Subirei à palmeira,
e colherei os seus frutos.
Os teus seios serão, para mim, como cachos de uvas,
e o perfume da tua boca como o das maçãs.
(trecho da Bíblia, Velho Testamento)
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terça-feira, maio 27, 2008
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Canção do exílio. Gonçalves Dias. Poesia
CANÇÃO DO EXÍLIO
Gonçalves Dias
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o sabiá.
Gonçalves Dias
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o sabiá.
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segunda-feira, maio 26, 2008
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O divã de Sócrates. Psicanálise
O DIVÃ DE SÓCRATES
“Esse processo de livre associação, no sentido de verbalização do próprio pensamento aleatório, é realmente um fenômeno dos mais extraordinários e com uma longa historia. Algo semelhante foi usado, segundo parece, pelos gregos, a julgar pela amostra registrada na comédia de Aristófanes, As Nuvens. Eles até usaram um divã! A historia conta que Estrepsíades, um lavrador estúpido, desonesto e mal casado, vai a Atenas consultar Sócrates sobre como poderia fraudar com êxito os seus credores. Sócrates ordena-lhe que se deite e expresse verbalmente suas livres associações, o que ele tenta fazer, apesar dos percevejos na cama e outras interrupções, enquanto Sócrates vai apontando incoerências e inferências. Assim, a comédia satiriza os ensinamentos de Sócrates.” (MENNINGER e HOLZMAN, Teoria e Técnica Psicanalítica, 2ª edição, p. 50, Zahar editores, 1982).
“Esse processo de livre associação, no sentido de verbalização do próprio pensamento aleatório, é realmente um fenômeno dos mais extraordinários e com uma longa historia. Algo semelhante foi usado, segundo parece, pelos gregos, a julgar pela amostra registrada na comédia de Aristófanes, As Nuvens. Eles até usaram um divã! A historia conta que Estrepsíades, um lavrador estúpido, desonesto e mal casado, vai a Atenas consultar Sócrates sobre como poderia fraudar com êxito os seus credores. Sócrates ordena-lhe que se deite e expresse verbalmente suas livres associações, o que ele tenta fazer, apesar dos percevejos na cama e outras interrupções, enquanto Sócrates vai apontando incoerências e inferências. Assim, a comédia satiriza os ensinamentos de Sócrates.” (MENNINGER e HOLZMAN, Teoria e Técnica Psicanalítica, 2ª edição, p. 50, Zahar editores, 1982).
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sábado, maio 24, 2008
Meu pai ao fim da jornada. Fotografia
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FARFALHAS. Charles Fonseca. Poesia
FARFALHAS
Charles Fonseca
Por trás as densas trevas
Acima toda a luz
Nos braços de Jesus
Assim ele o espera
A frente um andador
Oh dor que agora sente
De ir sem os seus entes
Com estes fica o amor
De uns expresso em falas
De outros só silentes
Que podem entrementes
Aragem ser farfalhas.
Charles Fonseca
Por trás as densas trevas
Acima toda a luz
Nos braços de Jesus
Assim ele o espera
A frente um andador
Oh dor que agora sente
De ir sem os seus entes
Com estes fica o amor
De uns expresso em falas
De outros só silentes
Que podem entrementes
Aragem ser farfalhas.
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sexta-feira, maio 23, 2008
As litanias de Satã. Charles Baudelaire. Poesia
AS LITANIAS DE SATÃ
Charles Baudelaire
Ó tu, o Anjo mais belo e também o mais culto,
Deus que a sorte traiu e privou do seu culto,
Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!
Ó Príncipe do exílio a quem alguém fez mal,
E que, vencido, sempre te ergues mais brutal,
Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!
Tu que vês tudo, ó rei das coisas subterrâneas,
Charlatão familiar das humanas insânias,
Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!
Tu que, mesmo ao leproso, ao paria infame, ao réu
Ensinas pelo amor às delícias do Céu,
Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!
Tu que da morte, tua velha e forte amante,
Engendraste a Esperança, - a louca fascinante!
Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!
Tu que dás ao proscrito esse alto e calmo olhar
Que faz ao pé da forca o povo desvairar,
Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!
Tu que sabes onde é que em terras invejosas
O Deus ciumento esconde as pedras preciosas.
Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!
Tu cuja larga mão oculta os precipícios,
Ao sonâmbulo a errar na orla dos edifícios,
Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!
Tu que, magicamente, abrandas como mel
Os velhos ossos do ébrio moído num tropel,
Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!
Tu, que ao homem que é fraco e sofre deste o alvitre
De poder misturar ao enxofre o salitre,
Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!
Tu que pões tua marca, ó cúmplice sutil,
Sobre a fronte do Creso implacável e vil,
Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!
Tu que, abrindo a alma e o olhar das raparigas a ambos
Dás o culto da chaga e o amor pelos molambos,
Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!
Do exilado bordão, lanterna do inventor,
Confessor do enforcado e do conspirador,
Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!
Pai adotivo que és dos que, furioso, o Mestre
O deus Padre, expulsou do paraíso terrestre
Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!
Charles Baudelaire
Ó tu, o Anjo mais belo e também o mais culto,
Deus que a sorte traiu e privou do seu culto,
Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!
Ó Príncipe do exílio a quem alguém fez mal,
E que, vencido, sempre te ergues mais brutal,
Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!
Tu que vês tudo, ó rei das coisas subterrâneas,
Charlatão familiar das humanas insânias,
Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!
Tu que, mesmo ao leproso, ao paria infame, ao réu
Ensinas pelo amor às delícias do Céu,
Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!
Tu que da morte, tua velha e forte amante,
Engendraste a Esperança, - a louca fascinante!
Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!
Tu que dás ao proscrito esse alto e calmo olhar
Que faz ao pé da forca o povo desvairar,
Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!
Tu que sabes onde é que em terras invejosas
O Deus ciumento esconde as pedras preciosas.
Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!
Tu cuja larga mão oculta os precipícios,
Ao sonâmbulo a errar na orla dos edifícios,
Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!
Tu que, magicamente, abrandas como mel
Os velhos ossos do ébrio moído num tropel,
Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!
Tu, que ao homem que é fraco e sofre deste o alvitre
De poder misturar ao enxofre o salitre,
Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!
Tu que pões tua marca, ó cúmplice sutil,
Sobre a fronte do Creso implacável e vil,
Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!
Tu que, abrindo a alma e o olhar das raparigas a ambos
Dás o culto da chaga e o amor pelos molambos,
Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!
Do exilado bordão, lanterna do inventor,
Confessor do enforcado e do conspirador,
Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!
Pai adotivo que és dos que, furioso, o Mestre
O deus Padre, expulsou do paraíso terrestre
Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!
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quinta-feira, maio 22, 2008
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BASICAMENTE VOCÊ É UM CRIMINOSO
“Putnam, discípulo americano de Freud, era um pastor queimando em escrúpulos, e tinha vindo para expôr para ele seu tormento, todas as ofensas que ele tinha cometido, e que atormentavam ele com obsessões morais. Após ter ouvido ele expressar sua vileza, Freud disse: “Basicamente, você é um criminoso.” Isso era, em suma, fazer com que a conclusão implícita do discurso de Putnam viesse à tona e, dessa maneira, dar um fim a todo aquele blá blá blá. Vendo a palavra evadida que organizava toda sua queixa e, esclarecendo, mostrando seu significante mestre desmascarado desse modo, conduziu Putnam indubitavelmente, a reexaminar sua situação mental.” J. A. Miller.
“Putnam, discípulo americano de Freud, era um pastor queimando em escrúpulos, e tinha vindo para expôr para ele seu tormento, todas as ofensas que ele tinha cometido, e que atormentavam ele com obsessões morais. Após ter ouvido ele expressar sua vileza, Freud disse: “Basicamente, você é um criminoso.” Isso era, em suma, fazer com que a conclusão implícita do discurso de Putnam viesse à tona e, dessa maneira, dar um fim a todo aquele blá blá blá. Vendo a palavra evadida que organizava toda sua queixa e, esclarecendo, mostrando seu significante mestre desmascarado desse modo, conduziu Putnam indubitavelmente, a reexaminar sua situação mental.” J. A. Miller.
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domingo, maio 18, 2008
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A CASADA INFIEL
García Lorca
Levei-a comigo ao rio,
pensando que era donzela,
porém já tinha marido.
Foi na noite de Santiago
e quase por compromisso.
Os lampiões se apagaram
e acenderam-se os grilos..
Já nas últimas esquinas
toquei seus peitos dormidos,
que pra mim logo se abriram
como ramos de jacintos.
A goma de sua anágua
soava nos meus ouvidos,
como uma peça de seda
rasgada por dez punhais.
Sem luz de prata nas copas
têm as árvores crescido,
e um horizonte de cães
ladrava longe do rio.
*
Já passadas as amoras,
os juncos e os espinhos,
sob sua mata de pêlos
fiz um fojo sobre o limo.
Eu tirei minha gravata.
Ela tirou seu vestido.
Eu o cinto com o revólver.
E ela seus espartilhos.
Nem nardos nem caracóis
têm uma cútis tão fina,
nem os cristais ao luar
relumbram com tanto brilho.
Suas coxas me escapavam
como peixes surpreendidos.,
metade cheias de lume,
metade cheias de frio.
Percorri naquela noite
o mais belo dos caminhos,
montado em poltra de nácar
sem rédeas e sem estribos.
Por homem que sou, não digo
as coisas que ela me disse.
A luz do entendimento
faz que eu seja comedido.
Suja de beijos e areia,
me fui com ela do rio.
Contra os ares se batiam
brancas espadas de lírios.
Me portei como quem sou.
Como um gitano legítimo.
Dei-lhe cesta de costura
feita de liso palhiço,
e não quis enamorar-me
porque ela, tendo marido,
me disse que era solteira
quando eu a levava ao rio.
García Lorca
Levei-a comigo ao rio,
pensando que era donzela,
porém já tinha marido.
Foi na noite de Santiago
e quase por compromisso.
Os lampiões se apagaram
e acenderam-se os grilos..
Já nas últimas esquinas
toquei seus peitos dormidos,
que pra mim logo se abriram
como ramos de jacintos.
A goma de sua anágua
soava nos meus ouvidos,
como uma peça de seda
rasgada por dez punhais.
Sem luz de prata nas copas
têm as árvores crescido,
e um horizonte de cães
ladrava longe do rio.
*
Já passadas as amoras,
os juncos e os espinhos,
sob sua mata de pêlos
fiz um fojo sobre o limo.
Eu tirei minha gravata.
Ela tirou seu vestido.
Eu o cinto com o revólver.
E ela seus espartilhos.
Nem nardos nem caracóis
têm uma cútis tão fina,
nem os cristais ao luar
relumbram com tanto brilho.
Suas coxas me escapavam
como peixes surpreendidos.,
metade cheias de lume,
metade cheias de frio.
Percorri naquela noite
o mais belo dos caminhos,
montado em poltra de nácar
sem rédeas e sem estribos.
Por homem que sou, não digo
as coisas que ela me disse.
A luz do entendimento
faz que eu seja comedido.
Suja de beijos e areia,
me fui com ela do rio.
Contra os ares se batiam
brancas espadas de lírios.
Me portei como quem sou.
Como um gitano legítimo.
Dei-lhe cesta de costura
feita de liso palhiço,
e não quis enamorar-me
porque ela, tendo marido,
me disse que era solteira
quando eu a levava ao rio.
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sábado, maio 17, 2008
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A GRALHA VAIDOSA.
ESOPO
Júpiter deu a notícia de que pretendia escolher um rei para os pássaros e marcou uma data para que todos eles comparecessem diante de seu trono.
O mais bonito seria declarado rei. Querendo arrumar-se o melhor possível, os pássaros foram tomar banho e alisar as penas às margens de um arroio.
A gralha também estava lá no meio dos outros, só que tinha certeza de que nunca ia ser escolhida, porque suas penas eram muito feias.
"Vamos ter que dar um jeito" - pensou ela.
Depois que os outros pássaros foram embora, muitas penas ficaram caídas pelo chão; a gralha recolheu as mais bonitas e prendeu em volta do corpo. O resultado foi deslumbrante: nenhum pássaro era mais vistoso que ela.
Quando o dia marcado chegou, os pássaros se reuniram diante do trono de Júpiter; Júpiter examinou todo mundo e escolheu a gralha para rei. Já ia fazer a declaração oficial quando todos os outros pássaros avançaram para o futuro rei e arrancaram suas penas falsas uma a uma, mostrando a gralha exatamente como ela era.
Moral da Estória:
Belas penas não fazem belos pássaros.
ESOPO
Júpiter deu a notícia de que pretendia escolher um rei para os pássaros e marcou uma data para que todos eles comparecessem diante de seu trono.
O mais bonito seria declarado rei. Querendo arrumar-se o melhor possível, os pássaros foram tomar banho e alisar as penas às margens de um arroio.
A gralha também estava lá no meio dos outros, só que tinha certeza de que nunca ia ser escolhida, porque suas penas eram muito feias.
"Vamos ter que dar um jeito" - pensou ela.
Depois que os outros pássaros foram embora, muitas penas ficaram caídas pelo chão; a gralha recolheu as mais bonitas e prendeu em volta do corpo. O resultado foi deslumbrante: nenhum pássaro era mais vistoso que ela.
Quando o dia marcado chegou, os pássaros se reuniram diante do trono de Júpiter; Júpiter examinou todo mundo e escolheu a gralha para rei. Já ia fazer a declaração oficial quando todos os outros pássaros avançaram para o futuro rei e arrancaram suas penas falsas uma a uma, mostrando a gralha exatamente como ela era.
Moral da Estória:
Belas penas não fazem belos pássaros.
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quarta-feira, maio 14, 2008
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POR QUE AMAMOS TANTO NOSSAS MÃES?
“Uma criança tem medo de um rosto estranho porque está habituada à vista de uma figura familiar e amada – basicamente a mãe. É seu desaparecimento e seu anelo pela sua mãe que se transformam em ansiedade – sua libido, de fato, que se tornou inaplicável, não podendo, assim, ser mantida em estado de suspensão, sendo descarregada sob a forma de ansiedade. E dificilmente pode tratar-se de uma casualidade o fato de, nessa situação que constitui o protótipo da ansiedade de crianças, ocorrer uma repetição do fator determinante do primeiro estado de ansiedade, durante o ato do nascimento – quer dizer, a separação da mãe.” Freud.
“Uma criança tem medo de um rosto estranho porque está habituada à vista de uma figura familiar e amada – basicamente a mãe. É seu desaparecimento e seu anelo pela sua mãe que se transformam em ansiedade – sua libido, de fato, que se tornou inaplicável, não podendo, assim, ser mantida em estado de suspensão, sendo descarregada sob a forma de ansiedade. E dificilmente pode tratar-se de uma casualidade o fato de, nessa situação que constitui o protótipo da ansiedade de crianças, ocorrer uma repetição do fator determinante do primeiro estado de ansiedade, durante o ato do nascimento – quer dizer, a separação da mãe.” Freud.
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FILOSOFIA DE CIRENA
Gilberto Amado
Alma sei que não tens, mas nem procuro
em ti, da alma a virtude ou sentimento.
Por que juntar o amor a um vão tormento?
Que importa o coração, se o seio é puro?
De anseios e ilusões vivo eu seguro,
ébrio, a sorrir no meu deslumbramento.
Vejo-te nua - basta ao meu contento;
beijo-te! todo mais não conjeturo.
Ó corpo alegre e claro! . . . Sê bendito,
pelo que tu me dás! Não troco o preço
do teu sabor esplêndido e esquisito,
por alma, por virtude ou outro encanto.
Tendo-te, tenho mais do que mereço.
Ó carne, como podes valer tanto!
Gilberto Amado
Alma sei que não tens, mas nem procuro
em ti, da alma a virtude ou sentimento.
Por que juntar o amor a um vão tormento?
Que importa o coração, se o seio é puro?
De anseios e ilusões vivo eu seguro,
ébrio, a sorrir no meu deslumbramento.
Vejo-te nua - basta ao meu contento;
beijo-te! todo mais não conjeturo.
Ó corpo alegre e claro! . . . Sê bendito,
pelo que tu me dás! Não troco o preço
do teu sabor esplêndido e esquisito,
por alma, por virtude ou outro encanto.
Tendo-te, tenho mais do que mereço.
Ó carne, como podes valer tanto!
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segunda-feira, maio 12, 2008
Meu pai ao fim da jornada.
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.....Meu pai ao fim da jornada.
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sexta-feira, maio 09, 2008
ELES SE FORAM. Charles Fonseca
ELES SE FORAM
Charles Fonseca
E ela em seu leito a fenecer
E eu a girar mundo aturdido.
E nós que ela gerou, de olhar perdido,
Sem mais poder até o adeus dizer.
Da vida que nos deu se despedia.
A morte em seu encalço e ela afundava
No sono eterno que a despertava
A estar com o Mestre amado, o seu guia.
Assim de nós se foi mãe Eroildes,
Órfãos ficamos nós com o sábio pai.
Dos filhos logo um lhe foi atrás,
De nome igual ao pai, foi-se Ataíde.
---
Fone: 48 8441 2797 TIM
Charles Fonseca
E ela em seu leito a fenecer
E eu a girar mundo aturdido.
E nós que ela gerou, de olhar perdido,
Sem mais poder até o adeus dizer.
Da vida que nos deu se despedia.
A morte em seu encalço e ela afundava
No sono eterno que a despertava
A estar com o Mestre amado, o seu guia.
Assim de nós se foi mãe Eroildes,
Órfãos ficamos nós com o sábio pai.
Dos filhos logo um lhe foi atrás,
De nome igual ao pai, foi-se Ataíde.
---
Fone: 48 8441 2797 TIM
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terça-feira, maio 06, 2008
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O PÁSSARO CATIVO
Olavo Bilac
Armas, num galho de árvore, o alçapão;
E, em breve, uma avezinha descuidada,
Batendo as asas cai na escravidão.
Dás-lhe então, por esplêndida morada,
A gaiola dourada;
Dás-lhe alpiste, e água fresca, e ovos, e tudo:
Por que é que, tendo tudo, há-de ficar
O passarinho mudo,
Arrepiado e triste, sem cantar?
É que, criança, os pássaros não falam.
Só gorjeando a sua dor exalam,
Sem que os homens os possam entender;
Se os pássaros falassem,
Talvez os teus ouvidos escutassem
Este cativo pássaro dizer:
"Não quero o teu alpiste!
Gosto mais do alimento que procuro
Na mata livre em que a voar me viste;
Tenho água fresca num recanto escuro
Da selva em que nasci;
Da mata entre os verdores,
Tenho frutos e flores,
Sem precisar de ti!
Não quero a tua esplêndida gaiola!
Pois nenhuma riqueza me consola
De haver perdido aquilo que perdi . . .
Prefiro o ninho humilde, construído
De folhas secas, plácido, e escondido
Entre os galhos das árvores amigas . . .
Solta-me ao vento e ao sol!
Com que direito à escravidão me obrigas?
Quero saudar as pompas do arrebol!
Quero, ao cair da tarde,
Entoar minhas tristíssimas cantigas!
Por que me prendes? Solta-me, covarde!
Deus me deu por gaiola a imensidade:
Não me roubes a minha liberdade . . .
Quero voar! voar! . . ."
Estas cousas o pássaro diria,
Se pudesse falar.
E a tua alma, criança, tremeria,
Vendo tanta aflição:
E a tua mão, tremendo, lhe abriria
A porta da prisão . . .
Olavo Bilac
Armas, num galho de árvore, o alçapão;
E, em breve, uma avezinha descuidada,
Batendo as asas cai na escravidão.
Dás-lhe então, por esplêndida morada,
A gaiola dourada;
Dás-lhe alpiste, e água fresca, e ovos, e tudo:
Por que é que, tendo tudo, há-de ficar
O passarinho mudo,
Arrepiado e triste, sem cantar?
É que, criança, os pássaros não falam.
Só gorjeando a sua dor exalam,
Sem que os homens os possam entender;
Se os pássaros falassem,
Talvez os teus ouvidos escutassem
Este cativo pássaro dizer:
"Não quero o teu alpiste!
Gosto mais do alimento que procuro
Na mata livre em que a voar me viste;
Tenho água fresca num recanto escuro
Da selva em que nasci;
Da mata entre os verdores,
Tenho frutos e flores,
Sem precisar de ti!
Não quero a tua esplêndida gaiola!
Pois nenhuma riqueza me consola
De haver perdido aquilo que perdi . . .
Prefiro o ninho humilde, construído
De folhas secas, plácido, e escondido
Entre os galhos das árvores amigas . . .
Solta-me ao vento e ao sol!
Com que direito à escravidão me obrigas?
Quero saudar as pompas do arrebol!
Quero, ao cair da tarde,
Entoar minhas tristíssimas cantigas!
Por que me prendes? Solta-me, covarde!
Deus me deu por gaiola a imensidade:
Não me roubes a minha liberdade . . .
Quero voar! voar! . . ."
Estas cousas o pássaro diria,
Se pudesse falar.
E a tua alma, criança, tremeria,
Vendo tanta aflição:
E a tua mão, tremendo, lhe abriria
A porta da prisão . . .
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segunda-feira, maio 05, 2008
Rubens. São Jorge e o dragão. Pintura
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O ESCORPIÃO E O SAPO
"Era uma vez um escorpião desejoso de praticar o bem. Como não era bem visto pela comunidade local, resolveu ir viver do outro lado do rio. Lá, poderia exercitar seu altruísmo sem desconfianças.
Mas ele não sabia nadar e precisava atravessar de uma margem para a outra. E sua espécie ainda não havia acumulado o conhecimento náutico suficiente para construir um barco viável para fazer a travessia.
Então resolve pedir carona nas costas de um sapo. Vai lá conversar com ele para expor seu pleito.
O sapo o ouve atentamente. Pensa que o escorpião o está confundindo com um burro e declara:
- Senhor escorpião, não posso dar-lhe carona em minhas costas porque durante a travessia o senhor vai me ferroar.
O escorpião, leitor assíduo de Aristóteles e de São Tomás de Aquino, replica imediatamente e diz:
- Senhor sapo, eu jamais o ferroaria na travessia, pois ao fazê-lo, o senhor afundaria e eu morreria afogado.
Realmente, sapo não é burro mas é batráquio.
Pois não é que o sapo acatou o arrazoado do escorpião, reviu sua opinião e resolveu dar a carona!
Porém, em dado momento da travessia, o sapo sentir penetrar profundamente o agulhão em sua carne sapal.
E, já se debatendo, ainda teve tempo de perplexamente perguntar ao escorpião:
- Mas por que?
E, antes da submersão, ouviu a seguinte resposta escorpiônica:
- É algo acima de mim, fora de meu controle, é de minha natureza!"
(autor desconhecido)
"Era uma vez um escorpião desejoso de praticar o bem. Como não era bem visto pela comunidade local, resolveu ir viver do outro lado do rio. Lá, poderia exercitar seu altruísmo sem desconfianças.
Mas ele não sabia nadar e precisava atravessar de uma margem para a outra. E sua espécie ainda não havia acumulado o conhecimento náutico suficiente para construir um barco viável para fazer a travessia.
Então resolve pedir carona nas costas de um sapo. Vai lá conversar com ele para expor seu pleito.
O sapo o ouve atentamente. Pensa que o escorpião o está confundindo com um burro e declara:
- Senhor escorpião, não posso dar-lhe carona em minhas costas porque durante a travessia o senhor vai me ferroar.
O escorpião, leitor assíduo de Aristóteles e de São Tomás de Aquino, replica imediatamente e diz:
- Senhor sapo, eu jamais o ferroaria na travessia, pois ao fazê-lo, o senhor afundaria e eu morreria afogado.
Realmente, sapo não é burro mas é batráquio.
Pois não é que o sapo acatou o arrazoado do escorpião, reviu sua opinião e resolveu dar a carona!
Porém, em dado momento da travessia, o sapo sentir penetrar profundamente o agulhão em sua carne sapal.
E, já se debatendo, ainda teve tempo de perplexamente perguntar ao escorpião:
- Mas por que?
E, antes da submersão, ouviu a seguinte resposta escorpiônica:
- É algo acima de mim, fora de meu controle, é de minha natureza!"
(autor desconhecido)
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sábado, maio 03, 2008
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SONETO
Amadeu Amaral
Tudo isto há de passar, de certo, muito em breve...
Branca névoa sutil, ir-se-á quando o sol nasça;
branco sonho de amor, passará, como passa
ondas em fúria uma garça de neve.
Passará dentro em pouco, imitando a fumaça
que se evola e se esvai nas curvas que descreve.
Fumaça de ilusão, força é que o vento a leve,
força é que o vento a leve, e disperse, e desfaça.
Que importa! Uma ilusão que nos alegra e afaga
há de ser sempre assim, no mar bravo da vida,
como a espuma que fulge e morre sobre a vaga.
Esta me há de fugir esta que hoje me inflama!
E antes vê-la fugir como uma luz perdida
que possuí-la na mão como um pouco de lama . . .
Amadeu Amaral
Tudo isto há de passar, de certo, muito em breve...
Branca névoa sutil, ir-se-á quando o sol nasça;
branco sonho de amor, passará, como passa
ondas em fúria uma garça de neve.
Passará dentro em pouco, imitando a fumaça
que se evola e se esvai nas curvas que descreve.
Fumaça de ilusão, força é que o vento a leve,
força é que o vento a leve, e disperse, e desfaça.
Que importa! Uma ilusão que nos alegra e afaga
há de ser sempre assim, no mar bravo da vida,
como a espuma que fulge e morre sobre a vaga.
Esta me há de fugir esta que hoje me inflama!
E antes vê-la fugir como uma luz perdida
que possuí-la na mão como um pouco de lama . . .
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