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segunda-feira, março 31, 2008


Duas jovens entre flores. Odilon Redon.

sexta-feira, março 28, 2008


Ressurreição de Cristo. Rafael.
DE REPENTE
Vinícius de Morais

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

segunda-feira, março 24, 2008


Andrea Pozzo.
VENTO NO LITORAL
Renato Russo

"Dos nossos planos é que tenho mais saudade, quando olhávamos juntos na mesma direção. Aonde está você agora além de aqui, dentro de mim? Agimos certo sem querer, foi só o tempo que errou, vai ser dificil sem você porque você está comigo o tempo todo e quando vejo o mar existe algo que diz: - a vida continua e se entregar é uma bobagem. Já que você não está aqui, o que posso fazer é cuidar de mim, quero ser feliz ao menos. Lembra que o plano era ficarmos bem?"

sexta-feira, março 21, 2008


Outono. Nicolas Poussin.
LUBRICIDADE
Cruz e Souza

Quisera ser a serpe venenosa
Que dá-te medo e dá-te pesadelos
Para envolverem, ó Flor maravilhosa,
Nos flavos turbilhões dos teus cabelos.

Quisera ser a serpe veludosa
Para, enroscada em múltiplos novelos,
Saltar-te aos seios de fluidez cheirosa
E babujá-los e depois mordê-los...

Talvez que o sangue impuro e flamejante
Do teu lânguido corpo de bacante,
Da langue ondulação de águas do Reno

Estranhamente se purificasse...
Pois que um veneno de áspide vorace
Deve ser morto com igual veneno...

segunda-feira, março 17, 2008

Maria Ludovika di Borbone. Pontormo.


Maria Ludovika di Borbone. Pontormo.

Carta a um amigo. Charles Fonseca

CARTA A UM AMIGO
Estou feliz em saber que você está ao nosso lado e que podemos contar com gestos de amor tais como dizer “o sorriso de meu filho” e “o amor de minha mulher que por muito tempo pretendo ter”. Quantos não podem exclamar o que a você foi dado, o privilégio de se exprimir desse seu modo ao mundo! Que em vida perderam esses dons ou lhes foram arrancados! Que navegam ao porto que lhe é remanso e se tornam náufragos! Talvez seu evento relatado sirva para você re-significar quanto valor há na comunicação intersubjetiva cuja riqueza os objetos não trazem. Talvez ao agressor tenha faltado essas benesses que independem do dinheiro mas de um lar em que a mãe aponta ao filho o pai, provedor e símbolo da justa lei. De um pai ou mãe que não tiveram a infância feliz e que deixou suas marcas não devidamente trabalhadas e superadas e cujos filhos lhes são vítimas. Em que faltou o beijo e o abraço mútuo e cuja perspectiva como pais é o asilo dos esquecidos! Sua família é o seu porto seguro. Da sua dor aflorou o poeta.
Abraços,
Charles Fonseca

sexta-feira, março 14, 2008


Hércules e a hidra. Antonio Pollaiolo.
RESISTINDO À PSICANÁLISE
“Se os senhores refletirem também que o paciente transforma todos os eventos casuais, ocorrentes durante a análise, em interferências no tratamento; que ele utiliza, como motivos para afrouxar seus esforços, todo acontecimento perturbador externo à análise, todo comentário feito por uma pessoa ou autoridade, em seu ambiente, hostil à psicanálise, toda doença orgânica eventual ou tudo aquilo que complica sua neurose, e até mesmo, na verdade, toda melhora em seu estado - se considerarem tudo isto, terão obtido uma imagem aproximada, embora ainda incompleta, das formas e dos métodos da resistência; e a luta contra esta resistência faz parte de toda análise”. Freud.

terça-feira, março 11, 2008


Vista de minha janela. Camille Pissarro.
PARA O MEU PERDÃO
Adelmar Tavares

Eu que proclamo odiar-te, eu que proclamo
querer-te mal, com fúria e com rancor,
mal sabes tu como, em segredo, te amo
o vulto pensativo e sofredor.

Quem vê o fel que em cólera derramo,
no ódio que punge, desesperador,
mal sabe que, se a sós me encontro, chamo
por teu amor, com o mais profundo amor...

Mal sabe que, se acaso, novamente,
buscasses o calor do velho ninho
de onde um capricho te fizera ausente,

eu, esquecendo a tua ingratidão,
juncaria de rosas o caminho
em que voltasses para o meu perdão...

sexta-feira, março 07, 2008


Pisanello.
A TAREFA DA PSICANÁLISE
“A tarefa do tratamento psicanalítico pode ser expressa nesta fórmula: sua tarefa consiste em tornar consciente tudo o que é patogenicamente inconsciente... sua tarefa consiste em preencher as lacunas da memória do paciente, em remover as amnésias. O que corresponderia à mesma coisa” Freud.

terça-feira, março 04, 2008


Ponte Santo Angelo. Piranesi.

PINGO D'AGUARDENTE. Charles Fonseca. Charles Fonseca. Poesia.

PINGO D'AGUARDENTE
Charles Fonseca.

Pinga pinga no melaço
Pingo gostoso ardente
Nas minhas costas dormentes
De tanto azougue apanhado.

Pinga também em minha face,
De tanto apanhar eu choro,
Pinga em minha boca, imploro,
Pingo do céu, sem disfarce.

Pingos de minha face
Dos meus olhos afloram,
Pingos prateados que choram,
Ah, se à Africa voltasse!

domingo, março 02, 2008


A Madonna e Criança com São João Criança. Pinturicchio.
TEMPOS DE GUERRA E DE MORTE
“A guerra despojou o mundo de sua beleza. Ela destruiu não apenas a beleza das paisagens e das obras de arte que encontrou pelo caminho, mas também nosso orgulho pelas realizações da cultura, nosso respeito por tantos pensadores e artistas, nossa esperança no fim das diferenças entre os povos e as raças. A guerra maculou a altiva imparcialidade de nossa ciência, ela mostrou nossa vida instintiva em toda a sua nudez, ela liberou os maus espíritos que existem em nós. Ela tornou nosso país pequeno e o resto do mundo distante. Ela nos despojou das inúmeras coisas que amamos e revelou a fragilidade de tantas outras que julgávamos sólidas.”. Freud.