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sexta-feira, fevereiro 29, 2008


Anjo. Pietro da Cortona.
TEMEI, PENHAS...
Claudio Manoel da Costa

Destes penhascos fez a natureza
O berço em que nasci: oh! quem cuidara
Que entre penhas tão duras se criara
Uma alma terna, um peito sem dureza!

Amor, que vence os tigres, por empresa
Tomou logo render-me; ele declara
Contra meu coração guerra tão rara
Que não me foi bastante a fortaleza.

Por mais que eu mesmo conhecesse o dano
A que dava ocasião minha brandura,
Nunca pude fugir ao cego engano;

Vós que ostentais a condição mais dura,
Temei, penhas, temei: que Amor tirano
Onde há mais resistência mais se apura.

terça-feira, fevereiro 26, 2008


Andromeda resgatada por Perseu. Piero de Cosimo.

Psicanálise e psiquiatria. Freud

PSICANÁLISE E PSIQUIATRIA

“Essa é a lacuna que a psicanálise procura preencher. Procura dar à psiquiatria a base psicológica de que esta carece. Espera descobrir o terreno comum de cuja base se torne compreensível a conseqüência do distúrbio físico e mental. Com esse objetivo em vista, a psicanálise deve manter-se livre de toda hipótese que lhe é estranha, seja de tipo anatômico, químico ou fisiológico, e deve operar inteiramente com idéias auxiliares puramente psicológicas; e precisamente por essa razão temo que lhes parecerá estranha de início.” Freud.

sexta-feira, fevereiro 22, 2008


Ressurreição. Piero della Francesca.

OS VIVOS MORTOS. Charles Fonseca

OS VIVOS MORTOS
Charles Fonseca

Naquela tarde distante
Foi-se mais um em silêncio
Sem dar adeus com um lenço
A vivas faces semblantes

Umas a chorar às outras
Outras chorando por si
Mais umas sorrindo em si
Tantas em vozes roucas

É que ali foi-se um puro
De coração aos pedaços
A sair deste regaço
Do mundo dos vivos duros

De corações abjetos
Inflados peito orgulhos
Murchos amores discretos
Cobrem sua alma monturos

De mágoas silenciadas
Ao autor acenam falsos
Atores nus e descalços
Capas, farrapos, mortalhas.

terça-feira, fevereiro 19, 2008


Composição. Pablo Picasso.
ROMANCE FAMILIAR
“Quando a criança discerne [...] a diferença, no que se refere à sexualidade, entre o pai e a mãe, quando percebe que pater semper incertus ( o pai é sempre incerto) e a mãe é certíssima, o romance familiar sofre uma restrição particular: limita-se [...] a colocar em bem alto pedestal o pai, sem duvidar mais do fato, doravante irrevogável, de que o filho descende da mãe." Freud.

sexta-feira, fevereiro 15, 2008


Retrato Franz Pforr.
ESPELHO
Charles Fonseca

Quando a amada foi embora
A outra me olhou à espreita
Disse-me o que te estreita
O peito então nesta hora?

É a saudade que fica
No meu peito a toda hora
Quero que vá sendo agora
Quero que fique e me agita

Este amar que é a mim mesmo
Que é o desejo de outra
Vez abraçar a garota
A mim de novo, oh espelho!

AO ESPELHO. Charles Fonseca

AO ESPELHO
Charles Fonseca

Quando a amada foi embora
A outra me olhou à espreita
Disse-me o que te estreita
O peito então nesta hora?

É a saudade que fica
No meu peito a toda hora
Quero que vá sendo agora
Quero que fique e me agita

Este amar que é a mim mesmo
Que é o desejo de outra
Vez abraçar a garota
A nós de novo, oh espelho!

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Celular: (71) 8791 8345 E-mail: silvafonseca2002@yahoo.com.br
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terça-feira, fevereiro 12, 2008

A entrega das chaves a São Pedro. Perugino.
O OLHAR DA FILHA
“Conforme aprendemos pelo trabalho psicanalítico as mulheres se consideram como tendo sido prejudicadas na infância, como tendo sido imerecidamente privadas de algo e injustamente tratadas; e a amargura de tantas filhas contra suas mães provém, em última análise, da censura contra estas por as terem trazido ao mundo como mulheres e não como homens”. Freud.

sábado, fevereiro 09, 2008


Madona com longo percoço. Parmigianino.
O CAIXÃO FANTÁSTICO
Augusto dos Anjos

Célere ia o caixão, e, nele, inclusas,
Cinzas, caixas cranianas, cartilagens
Oriundas, como os sonhos dos selvagens,
De aberratórias abstrações abstrusas!

Nesse caixão iam, talvez as musas,
Talvez meu pai! Hoffmânnicas visagens
Enchiam meu encéfalo de imagens
As mais contraditórias e confusas!

A energia monística do mundo,
À meia-noite, penetrava fundo
No meu fenomenal cérebro cheio...

Era tarde! Fazia multo frio.
Na rua apenas o caixão sombrio
Ia continuando o seu passeio!

segunda-feira, fevereiro 04, 2008


Rosas e jasmins. Renoir.
CLARA
Casimiro de Abreu

Não sabes, Clara, que pena
eu teria se — morena
tu fosses em vez de clara!
Talvez... quem sabe... não digo...
mas refletindo comigo
talvez nem tanto te amara!

A tua cor é mimosa,
brilha mais da face a rosa
tem mais graça a boca breve.
O teu sorriso é delírio...
És alva da cor do lírio,
és clara da cor da neve!

A morena é predileta,
mas a clara é do poeta:
assim se pintam arcanjos.
Qualquer, encantos encerra,
mas a morena é da terra
enquanto a clara é dos anjos!

Mulher morena é ardente:
prende o amante demente
nos fios do seu cabelo;
— A clara é sempre mais fria,
mas dá-me licença um dia
que eu vou arder no teu gelo!

A cor morena é bonita,
mas nada, nada te imita
nem mesmo sequer de leve.
— O teu sorriso é delírio...
És alva da cor do lírio,
és clara da cor da neve!

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