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sábado, dezembro 27, 2008

O desejo não apreendido. Freud.

“A primeira dessas assertivas impopulares feita pela psicanálise declara que os processos mentais são, em si mesmos, inconscientes e que de toda a vida mental apenas determinados atos e partes isoladas são conscientes. Os senhores sabem que, pelo contrário, temos o hábito de identificar o que é psíquico do que é consciente. Consideramos a consciência, sem mais nem menos, como a característica que define o psíquico, e a psicologia como o estudo dos conteúdos da consciência. Na verdade, parece-nos tão natural os igualar dessa forma, que qualquer contestação à idéia nos atinge como evento absurdo. A psicanálise, porém, não pode evitar o surgimento dessa contradição; não pode aceitar a identidade do consciente com o mental. Ela define o que é mental, enquanto processos como o sentir, o pensar, o querer, e é obrigada a sustentar que existe o pensar inconsciente e o desejar não apreendido.” Freud.

segunda-feira, dezembro 22, 2008

A falta de justiça. Ruy Barbosa. Prosa.

VERGONHA
"A falta de justiça, Srs. Senadores, é o grande mal da nossa terra, o mal dos males, a origem de todas as nossas infelicidades, a fonte de todo nosso descrédito, é a miséria suprema desta pobre nação.

A sua grande vergonha diante do estrangeiro, é aquilo que nos afasta os homens, os auxílios, os capitais.

A injustiça, Senhores, desanima o trabalho, a honestidade, o bem; cresta em flor os espíritos dos moços, semeia no coração das gerações que vêm nascendo a semente da podridão, habitua os homens a não acreditar senão na estrela, na fortuna, no acaso, na loteria da sorte, promove a desonestidade, promove a venalidade, promove a relaxação, insufla a cortesania, a baixeza, sob todas as suas formas.

De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto." Ruy Barbosa.

domingo, dezembro 14, 2008

REALIDADE. Djanira Silva. Poesia.

REALIDADE
Djanira Silva

Livros, sapatos, roupas espalhadas
Da porta da cozinha até o portão
Sobre as camas toalhas encharcadas
Marcas de pés molhados, pelo chão

Todas as salas são desarrumadas
A mãe impaciente ralha, em vão
Crianças correm rindo às gargalhadas
Sem darem ouvidos à reclamação

Passado o tempo a casa se esvazia
E a mãe sente saudade a cada dia
Daquela antiga desarrumação

Convive com a dor da realidade
Nas cadeiras vazias a saudade
Casa arrumada pela solidão.

segunda-feira, dezembro 08, 2008

A ÁGUIA E A GALINHA. Leonardo Boff. Prosa.

A ÁGUIA E A GALINHA
Leonardo Boff

Era uma vez um camponês que foi a floresta vizinha apanhar um pássaro para mantê-lo em sua casa. Conseguiu pegar um filhote de águia. Coloco-o no galinheiro junto com as galinhas. Comia milho e ração própria para galinhas. Embora a águia fosse o rei/rainha de todos os pássaros. Depois de cinco anos, este homem recebeu em sua casa a visita de um naturalista. Enquanto passeavam pelo jardim, disse o naturalista:
- Esse pássaro aí não é galinha. É uma águia.
- De fato – disse o camponês. É águia. Mas eu criei como galinha.
Ela não é mas uma águia. Transformou-se em galinha como as outras, apesar das asas de quase três metros de extensão.
- Não – retrucou o naturalista. Ela é e será sempre uma águia. Pois tem um coração de águia. Este coração a fará um dia voar ás alturas. - Não, não – insistiu o camponês. Ela virou galinha e jamais voará como águia. Então decidiram fazer uma prova. O naturalista tomou a águia, ergueu-a bem alto e desafiando-a disse: - já que você de fato é uma águia, já que você pertence ao céu e não a terra, então abra suas asas e voe! A águia pousou sobre o braço estendido do naturalista. Olhava distraidamente ao redor. Viu as galinhas lá embaixo, ciscando grãos. E pulou para junto delas. O camponês comentou:
- Eu lhe disse, ela virou uma simples galinha!
- Não – tornou a insistir o naturalista. Ela é uma águia.
E uma águia será sempre uma águia. Vamos experimentar novamente amanhã.
No dia seguinte, o naturalista subiu com a águia no teto da casa. Sussurrou-lhe:
- Águia, já que você é uma águia, abra as suas asas e voe!
Mas quando a águia viu lá embaixo as galinhas, ciscando o chão, pulou e foi para junto delas.
O camponês sorriu e voltou à carga:
- Eu lhe havia dito, ela virou galinha!
- Não – respondeu firmemente o naturalista. Ela é águia, possuirá sempre um coração de águia. Vamos experimentar ainda uma ultima vez. Amanhã a farei voar.
No dia seguinte, o naturalista e o camponês levantaram bem cedo. Pegaram a águia, levaram para fora da cidade, longe das casas dos homens, no alto de uma montanha. O sol nascente dourava os picos das montanhas. O naturalista ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe:
- Águia, já que você é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, abra suas asas e voe!
A águia olhou ao redor. Tremia como se experimentasse nova vida. Mas não voou. Então o naturalista segurou-a firmemente, bem na direção do sol, para que seus olhos pudessem encher-se da claridade solar e da vastidão do horizonte.
Nesse momento, ela abriu suas potentes asas, grasnou com o típico kau-kau das águias e ergue-se, soberana, sobre si mesma. E começou a voar, a voar para o alto, a voar cada vez mais para o alto. Voou... voou... até confundir-se com o azul do firmamento...

E Aggrey terminou conclamando:

- Irmãos e irmãs, meus compatriotas! Nós fomos criados à imagem e semelhança de Deus! Mas houve pessoas que nos fizeram pensar como galinhas. E muitos de nós ainda acham que somos efetivamente galinhas. Mas nós somos águias. Por isso, companheiros e companheiras, abramos as asas e voemos . Voemos como as águias. Jamais nos contentemos com os grãos que nos jogarem aos pés para ciscar.



( Co-autor: James Aggrey - Natural de GAMA, pequeno pais da África Ocidental.
Político que defendia a liberdade

terça-feira, dezembro 02, 2008

O ACARAJÉ DE CRISTO. Tasso Franco.

O ACARAJÉ DE CRISTO
Tasso Franco

O Dia das Baianas do Acarajé foi comemorado em Salvador na última semana de novembro com missa na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, samba-de-roda no Pelô e na Praça da Cruz Caída, chopinho e muito entusiasmo. Dois são os motivos principais: a baiana típica (não necessariamente só a vendedora do acarajé, mas também ela, e, sobretudo ela) é o símbolo da Bahia, e de certa forma do Brasil, por ser Salvador a cidade mãe; e o acarajé, a bola de fogo de Xangô, está relacionado com o ofício das baianas, patrimônio cultural do Brasil por acolhimento do Iphan.
As baianas convivem numa boa com os baianos do acarajé, homens que se dedicam ao tabuleiro, alguns dos quais, até se parecem com baianas, salvo porque não usam saias rodadas e batons. No mais, são as encarnações das próprias baianas e se dão bem no ofício e no uso do changrim (sandália de couro branco lavrado), trancelim (colar), torços e adereços, além de produzirem e mercarem bons produtos, entre eles, o acarajé, o abará e o bolinho de estudante.
Agora, se você quiser comprar uma briga com uma baiana autêntica diga que seu acarajé é do Senhor ou de Cristo, numa referência a evangélicas que estão colocando tabuleiros em vários pontos da cidade do Salvador, descaracte-rizando a figura típica da baiana e seus ornamentos e a essência, a tradição do acarajé. Trata-se de produto originário do candomblé, culto que embora ainda mantém suas relações com a Igreja Católica está tão distante dos crentes, como o diabo da cruz.
Acarajé é uma palavras composta da língua iorubá acará, akárà (bola de fogo) e je, jè (comer) e sua origem está explicada por um mito nas relações de Xangô (Sàngó) e suas esposas Iansã (Yásan), Oxum (Òsùn) e Obà. Conta-nos José Roberto Gaudenzi no livro “Orixá (Òrìsá) Uma História” que Iansã foi à casa de Ifá buscar um preparado para seu marido. Ifá entregou o encantamento e recomendou que dissesse a Xangô para comê-lo e ir falar ao povo.
Desconfiada, Iansã decidiu provar a porção, pois, se fosse veneno nada aconteceria ao seu amado. Esperou o efeito e nada aconteceu. Iansã então seguiu viagem e entregou a encomenda a Xangô com as observações de Ifá. Quando Xangô começou a falar de sua boca saíram labaredas de fogo e o povo passou a saudá-lo. Desesperara, Iansã acudiu o marido e começou a gritar Kawô Kabiesilé. Neste momento, as labaredas também saíram da boca de Iansã, quando o fogo, diante de força imbatível começou a saudá-los: Obà nlá Òyó até babá Inà (grande rei de Oyó, rei de pai do fogo).
O fogo é a grande arma de Xangô, o senhor da riqueza. É inimigo da mentira, o Orixá da Justiça. Daí para os ritos do candomblé quem vai nos contar com precisão e riqueza de detalhes é o professor Vivaldo da Costa Lima que está trabalhando um livro a ser editado pela Editora Corrupio, sobre a bola de fogo de Xangô e comida ritual para Iansã, o acarajé.
Recentemente, na série Ó Pai Ó, na TV, a diretora Monique Gardenberg, que tem mãe baiana e pai polonês, e nasceu na cidade da Bahia embora tenha sido criada em Santos, SP, produziu um dos capítulos com sinalizações da “guerra das baianas” autênticas x crentes, a evangélica retratada na dona da pensão onde a galera protagonista da série divide espaços, e a negra baiana que faz ponto no pé da Ladeira do Pelô, iniciando-se na curva do Taboão.
Na série, o diálogo é um retrato fiel da Bahia, como diria Riachão, do que acontece na vida real. A disputa de espaços, a ingerência de pessoas que não têm nada a ver com o culto do candomblé, as quais, por necessidade financeira e/ou incentivo do neopentecostalismo entraram na disputa pra valer. O acarajé é feito com feijão fradinho e, embora seja comercializado em locais profanos, ainda é considerado um alimento sagrado para o povo-de-santo e pela maioria das baianas.
Em Salvador, dados da Associação das Baianas do Acarajé, estima-se que existem entre 2.500 a 4.000 pontos de baianas do acarajé, entre os afiliados à Associação e os clandestinos ou mesmo tabuleiros de pessoas mais pobres que atuam nos bairros mais distantes do centro. Há, ainda, uma ilusão de que toda baiana de acarajé é rica. Nada, trata-se de uma minoria da minoria.
Mas, no geral, representam uma força de trabalho importante para a cidade e assume, na maioria dos casos, a família matrifocal, onde quem manda na casa é a mulher porque paga as contas, roda a baiana e a colher de pau.
E olhe que colher de pau de baiana parece uma “Fanta” de soldado da PM. Brinque com uma colherada dessas e a força de Xangô.


http://www.tribunadabahia.com.br/

sábado, novembro 29, 2008

FALO. Charles Fonseca. Poesia

FALO
Charles Fonseca

É com ele que me acho
Sem ele desapareço
Profundezas que mereço
Projeções com ele encaixo

Mas só no imaginário
Não ouso jamais dize-lo
A natureza por zelo
Clama a mim tão perdulário

Em não dizer com o falo
Em não falar tanto o medo
Por dizendo não mais tê-lo
E se o tendo mudo calo.


sexta-feira, novembro 28, 2008

Ninho. Fotografia.



A lacuna. Freud

“Esta é a lacuna que a psicanálise procura preencher. Procura dar à psiquiatria a base psicológica de que esta carece. Espera descobrir o terreno comum em cuja base se torne compreensível a conseqüência do distúrbio físico e mental. Com esse objetivo em vista, a psicanálise deve manter-se livre de toda hipótese que lhe é estranha, seja de tipo anatômico, químico ou fisiológico, e deve operar inteiramente com idéias auxiliares puramente psicológicas.” Freud.

O grupo de Laocoon no Museu do Vaticano.



quinta-feira, novembro 27, 2008

Loira prateada. Charles Fonseca. Poesia

LOIRA PRATEADA
Charles Fonseca

Ah, se estivesses aos 50 da tua natividade ou eu aos 40 da minha!
Gravitaria em torno de ti em doce elipse.
Nem me fundiria em teu esplendor
Nem erraria pelo espaço sem fim...

segunda-feira, novembro 24, 2008

quinta-feira, novembro 20, 2008

MARTÍRIO. Junqueira Freire. Poesica.

MARTÍRIO
Junqueira Freire

Beijar-te a fronte linda
Beijar-te o aspecto altivo
Beijar-te a tez morena
Beijar-te o rir lascivo

Beijar o ar que aspiras
Beijar o pó que pisas
Beijar a voz que soltas
Beijar a luz que visas

Sentir teus modos frios,
Sentir tua apatia,
Sentir até répúdio,
Sentir essa ironia,

Sentir que me resguardas,
Sentir que me arreceias,
Sentir que me repugnas,
Sentir que até me odeias,

Eis a descrença e a crença,
Eis o absinto e a flor,
Eis o amor e o ódio,
Eis o prazer e a dor!

Eis o estertor de morte,
Eis o martírio eterno,
Eis o ranger dos dentes,
Eis o penar do inferno!

Exekias. Ajax.



sexta-feira, novembro 14, 2008

MINHA CANTIGA
Zilma Ferreira Pinto

No castelo do Destino
Dividi-me por igual.

Ficaram duas meninas
No meio de um roseiral.
Uma bordando a ouro,
Outra o mais fino metal.

Uma transpôs a soleira
Que era a porta pra o mar.
Tomou o barco da vida,
Partiu sem querer sonhar.

A outra subiu à torre
Que ia dar nas estrelas
No barco da meia-lua
Foi para a mais longe delas...

Um dia encontro as meninas
Bem longe do roseiral
Nelas havia a tristeza
Dividida por igual.

Nenhuma bordava a ouro,
Nem o mais fino metal.

Fui escolher! Não sabia
Com qual das duas ficar!?
Castelos já não havia
E a torre para sonhar.

Sem manto bordado a ouro;
Sem palmatória de rei!
Ai! Minhas pobres meninas
Qual de vós escolherei?!

Eufronio. Pintura.



Miriam Makeba - Chove Chuva

quarta-feira, novembro 05, 2008

POR QUE CHORO E SORRIO? Charles Fonseca.

POR QUE CHORO E SORRIO?
Charles Fonseca

De que sorrio afinal
Por que choro se rio
Se no amor o desvario
Certo é meu bem não meu mal?

E se choro por que inda
Após tanto amor em volta
Não me basta se a revolta
De mais amor quero ainda?

E se não voltar nem por ódio
Ao fácil ninho o perdão
Por não pedido então
Haverá em mim opróbrio?

Se não houver mais nem falso
Sorriso ou lágrima furta
Fica no ar cheiro de murta,
Jasmim, dela, o seu regaço.


Clique:https://charlesfonseca.blogspot.com

Durer Albrecht.
Mulheres na arte.

sábado, novembro 01, 2008

A meu pai doente. Augusto dos Anjos. Poesia

Augusto dos Anjos

Para onde fores, Pai, para onde fores,
Irei também, trilhando as mesmas ruas...
Tu, para amenizar as dores tuas,
Eu, para amenizar as minhas dores!

Que cousa triste! O campo tão sem flores,
E eu tão sem crença e as árvores tão nuas
E tu, gemendo, e o horror de nossas duas
Mágoas crescendo e se fazendo horrores!

Magoaram-te, meu Pai?! Que mão sombria,
Indiferente aos mil tormentos teus
De assim magoar-te sem pesar havia?!

— Seria a mão de Deus?! Mas Deus enfim
É bom, é justo, e sendo justo, Deus,
Deus não havia de magoar-te assim!

Duccio di Buoninsegna.
"Travessia", Milton Nascimento.

segunda-feira, outubro 27, 2008

AMAR É MAR REVOLTO

AMAR É MAR REVOLTO
Charles Fonseca

Em mares nunca dantes navegados
Revoltos eles tão misteriosos
O navegante aporta em promontórios
Barco à busca lanterna de afogados

Levanta a vela à viração primeira
Ultima em seu peito a esperança
Aflora aos olhos lágrima que dança
Há sede em sua alma derradeira

De novo estufa velas mar revolto
Pobre viajor de ilusões vive
Só desejo o céu por diatribe
Encolhe velas, foge o ar, ´stá morto.





domingo, outubro 26, 2008

Em 2008 foi assim. Fotografia



SANTA MARIA DOS ANJOS
Augusto de Lima

Santa Maria dos Anjos
da capelinha florida,
onde floresce o perdão,
dobrando o sino, convida
os descontentes da vida
a vir chorar na oração.

Santa Maria dos Anjos,
fonte de graças mais puras,
foco do eterno esplendor,
oferece às criaturas,
conforto nas amarguras,
prêmios de glória na dor.

Santa Maria dos Anjos!
lá no recinto se ouvia,
um coro de anjos cantar...
Cantavam: “Santa Maria...”
enquanto Francisco via
aberto o céu sobre o altar.

Santa Maria dos Anjos
a capelinha plantara
em terra santa e feliz.
Foi nela que a loura seara
da cabeleira de Clara
colheu Francisco de Assis.

Santa Maria dos Anjos
fez do seu templo um abrigo,
do seu jardim um trigal;
trigal do divino trigo;
que afasta o eterno castigo
e leva à vida imortal.

Santa Maria dos Anjos,
Mãe de Deus, Nossa Senhora,
da Porciúncula alma e luz;
sê do poeta implora
dos pecadores, agora
e na hora da morte. Amém.

Gerrit Dou.
Paganini_Caprice_no_24

quinta-feira, outubro 23, 2008

DEIXA O OLHAR DO MUNDO
Olavo Bilac

Deixa que o olhar do mundo enfim devasse
Teu grande amor que é teu maior segredo!
Que terias perdido, se, mais cedo,
Todo o afeto que sentes se mostrasse?
Basta de enganos!
Mostra-me sem medo
Aos homens, afrontando-os face a face:
Quero que os homens todos, quando eu passe,
Invejosos, apontem-me com o dedo.
Olha: não posso mais!
Ando tão cheio
Deste amor, que minh'alma se consome
De te exaltar aos olhos do universo...
Ouço em tudo teu nome, em tudo o leio:
E, fatigado de calar teu nome,
Quase o revelo no final de um verso.

Donatello.
“Maravilha”, Elis Regina.

terça-feira, outubro 21, 2008

sábado, outubro 18, 2008

CALMA E SILÊNCIO
Georg Trakl

Pastores enterraram o sol na floresta nua.
Um pescador puxou a lua
Do lago gelado em áspera rede.

No cristal azul
Mora o pálido Homem, o rosto apoiado nas suas estrelas;
Ou curva a cabeça em sono purpúreo.

Mas sempre comove o vôo negro dos pássaros
Ao observador, santidade de flores azuis.
O silêncio próximo pensa no esquecido, anjos apagados.

De novo a fronte anoitece em pedra lunar;
Um rapaz irradiante
Surge a irmã em outono e negra decomposição.

El Greco.
“O quereres”, Maria Bethania.

quarta-feira, outubro 15, 2008

RELIGIÃO: POLÍTICA
Ítalo Camargo

E se eu beber do pecado em teu cálice
Culpe-me por tua hipocrisia,
Não sucumbirei aos mandatos de cale-se
Seguirei como Deus de heresia.

Se um dia faminto, eu ter de seus manás,
Não te esqueças dos mil versos de afronta,
Pois aquele que tu alimentarás
Enreda-te se um poema ele apronta.

Tua falsidade me joga em sanha,
Fundastes a religião paliativa
Baseada em teus atos de barganha

E no Culto Santo da voz altiva.
Tua revolta é só demagogia,
Afinal, quem mantém a burguesia?

Le Douanier.
Pavarotti, Una furtiva lagrima, Donizetti.

terça-feira, outubro 07, 2008

REBROTOS. Charles Fonseca. Poesia.

REBROTOS
Charles Fonseca

Ah, dama de olhares vagos
Tu não viste o meu de choro
Meu sorriso sumidouro
De emoções veladas pagos

Erros de mim e de ti
Mentiras tão costumeiras
Agora flechas certeiras
Cupido setou-me a rir

Sorrio de novo alvores
Antes eu só desalentos
Morrem espinhos tormentos
Brotam em mim novos amores.


Derain. Pintura.



“Manhã de Carnaval”, Luís Bonfá e Antônio Maria.

“Manhã de Carnaval”, Luís Bonfá e Antônio Maria.

segunda-feira, outubro 06, 2008

AS SEM RAZÕES DO AMOR
Carlos Drumond de Andrade

Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.
Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no elipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

Visitação, Denis.
"O novo mundo", Sinfonia, Dvorak.

domingo, outubro 05, 2008

SEDUÇÃO
Adélia Prado

A poesia me pega com sua roda dentada,
me força a escutar imóvel
o seu discurso esdrúxulo.
Me abraça detrás do muro, levanta
a saia pra eu ver, amorosa e doida.
Acontece a má coisa, eu lhe digo,
também sou filho de Deus,
me deixa desesperar.
Ela responde passando
a língua quente em meu pescoço,
fala pau pra me acalmar,
fala pedra, geometria,
se descuida e fica meiga,
aproveito pra me safar.
Eu corro ela corre mais,
eu grito ela grita mais,
sete demônios mais forte.
Me pega a ponta do pé
e vem até na cabeça,
fazendo sulcos profundos.
É de ferro a roda dentada dela.

Delacroix.
Clique na imagem para ampliar.
“Estrada do Sol”, Gal Costa e Elis Regina.

sábado, outubro 04, 2008

O POETA-OPERÁRIO
Maiakóvski

Grita-se ao poeta:
'Queria te ver numa fábrica!
O quê? Versos? Pura bobagem.
Para trabalhar não tens coragem'.
Talvez
ninguém como nós
ponha tanto coração
no trabalho.
Eu sou uma fábrica.
E se chaminés
me faltam
talvez
sem chaminés
seja preciso
ainda mais coragem.
Sei.
Frases vazias não agradam.
Quando serrais madeira
é para fazer lenha.
E nós que somos
senão entalhadores a esculpir
a tora da cabeça humana?
Certamente que a pesca
é coisa respeitável.
Atira-se a rede e quem sabe?
Pega-se um esturjão!
Mas o trabalho do poeta
é muito mais difícil.
Pescamos gente viva e não peixes.
Penoso é trabalhar nos altos-fornos
onde se tempera o ferro em brasa.
Mas pode alguém
acusar-nos de ociosos?
Nós polimos as almas
com a lixa do verso.
Quem vale mais:
o poeta ou o técnico
que produz comodidades?
Ambos!
(...)

Degas.
Nureyev & Fonteyn Romeo&Juliet

sexta-feira, outubro 03, 2008

CANÇÃO DE VER
Manoel de Barros
1ª parte -


Por viver muitos anos dentro do mato
moda ave
O menino pegou um olhar de pássaro -
Contraiu visão fontana.
Por forma que ele enxergava as coisas
por igual
como os pássaros enxergam.
As coisas todas inominadas.
Água não era ainda a palavra água.
Pedra não era ainda a palavra pedra.
E tal.
As palavras eram livres de gramáticas e
podiam ficar em qualquer posição.
Por forma que o menino podia inaugurar.
Podia dar às pedras costumes de flor.
Podia dar ao canto formato de sol.
E, se quisesse caber em uma abelha, era
só abrir a palavra abelha e entrar dentro
dela.
Como se fosse infância da língua.

Hooch.
“Preta Pretinha” , Novos Baianos.

quinta-feira, outubro 02, 2008

O HAVER
Vinicius de Moraes

Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura
essa intimidade perfeita com o silêncio.
Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo.
Perdoai: eles não têm culpa de ter nascido.
Resta esse antigo respeito pela noite
esse falar baixo
essa mão que tateia antes de ter
esse medo de ferir tocando
essa forte mão de homem
cheia de mansidão para com tudo que existe.
Resta essa imobilidade
essa economia de gestos
essa inércia cada vez maior diante do infinito
essa gagueira infantil de quem quer balbuciar o inexprimível
essa irredutível recusa à poesia não vivida.
Resta essa comunhão com os sons
esse sentimento da matéria em repouso
essa angústia da simultaneidade do tempo
essa lenta decomposição poética
em busca de uma só vida
de uma só morte
um só Vinícius.
Resta esse coração queimando
como um círio numa catedral em ruínas
essa tristeza diante do cotidiano
ou essa súbita alegria ao ouvir na madrugada
passos que se perdem sem memória.
Resta essa vontade de chorar diante da beleza
essa cólera cega em face da injustiça e do mal-entendido
essa imensa piedade de si mesmo
essa imensa piedade de sua inútil poesia
de sua força inútil.
Resta esse sentimento da infância subitamente desentranhado
de pequenos absurdos
essa tola capacidade de rir à toa
esse ridículo desejo de ser útil
e essa coragem de comprometer-se sem necessidade.
Resta essa distração, essa disponibilidade,
essa vagueza de quem sabe que tudo já foi,
como será e virá a ser.
E ao mesmo tempo esse desejo de servir
essa contemporaneidade com o amanhã
dos que não tem ontem nem hoje.
Resta essa faculdade incoercível de sonhar,
de transfigurar a realidade
dentro dessa incapacidade de aceitá-la tal como é
e essa visão ampla dos acontecimentos
e essa impressionante e desnecessária presciência
e essa memória anterior de mundos inexistentes
e esse heroísmo estático
e essa pequenina luz indecifrável
a que às vezes os poetas tomam por esperança.
Resta essa obstinação em não fugir do labirinto
na busca desesperada de alguma porta
quem sabe inexistente
e essa coragem indizível diante do grande medo
e ao mesmo tempo esse terrível medo de renascer
dentro da treva.
Resta esse desejo de sentir-se igual a todos
de refletir-se em olhares sem curiosidade, sem história.
Resta essa pobreza intrínseca, esse orgulho,
essa vaidade de não querer ser príncipe senão do seu reino.
Resta essa fidelidade à mulher e ao seu tormento
esse abandono sem remissão à sua voragem insaciável.
Resta esse eterno morrer na cruz de seus braços
e esse eterno ressuscitar para ser recrucificado.
Resta esse diálogo cotidiano com a morte
esse fascínio pelo momento a vir, quando, emocionada,
ela virá me abrir a porta como uma velha amante
sem saber que é a minha mais nova namorada.

A intervenção da sabina. J-L David.
"Carioca", dançam Fred Astaire e Ginger (1.933).

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quarta-feira, outubro 01, 2008

O SONHO DOS RATOS
Rubem Alves

Era uma vez um bando de ratos que vivia no buraco do assoalho de uma casa velha. Havia ratos de todos os tipos: grandes e pequenos, pretos e brancos, velhos e jovens, fortes e fracos, da roça e da cidade. Mas ninguém ligava para as diferenças, porque todos estavam irmanados em torno de um sonho comum: um queijo enorme, amarelo, cheiroso, bem pertinho dos seus narizes. Comer o queijo seria a suprema felicidade... Bem pertinho é modo de dizer. Na verdade, o queijo estava imensamente longe, porque entre ele e os ratos estava um gato... O gato era malvado, tinha dentes afiados e não dormia nunca. Por vezes fingia dormir. Mas bastava que um ratinho mais corajoso se aventurasse para fora do buraco para que o gato desse um pulo e... era uma vez um ratinho!! Os ratos odiavam o gato. Quanto mais o odiavam, mais irmãos se sentiam. O ódio a um inimigo comum os tornava cúmplices de um mesmo desejo: queriam que o gato morresse ou sonhavam com um cachorro... Como nada pudessem fazer, reuniram-se para conversar. Faziam discursos, denunciavam o comportamento do gato (não se sabe bem para quem), e chegaram mesmo a escrever livros com a crítica filosófica dos gatos. Diziam que um dia chegaria em que os gatos seriam abolidos e todos seriam iguais. "Quando se estabelecer a ditadura dos ratos", diziam os camundongos, "então todos serão felizes"... - O queijo é grande o bastante para todos, dizia um. - Socializaremos o queijo, dizia outro. Todos batiam palmas e cantavam as mesmas canções. Era comovente ver tanta fraternidade. Como seria bonito quando o gato morresse! Sonhavam... Nos seus sonhos comiam o queijo. E, quanto mais o comiam, mais ele crescia. Porque esta é uma das propriedades dos queijos sonhados: não diminuem; crescem sempre. E marchavam juntos, rabos entrelaçados, gritando: “Ao queijo, já!"... Sem que ninguém pudesse explicar como, o fato é que, ao acordarem, numa bela manhã, o gato tinha sumido. O queijo continuava lá, mais belo do que nunca. Bastaria dar uns poucos passos para fora do buraco. Olharam cuidadosamente ao redor. Aquilo poderia ser um truque do gato. Mas não era. O gato havia desaparecido mesmo. Chegara o dia glorioso, e dos ratos surgiu um brado retumbante de alegria. Todos se lançaram ao queijo, irmanados numa fome comum. E foi então que a transformação aconteceu. Bastou a primeira mordida. Compreenderam, repentinamente, que os queijos de verdade são diferentes dos queijos sonhados. Quando comidos, em vez de crescer, diminuem. Assim, quanto maior o número dos ratos a comer o queijo, menor o naco para cada um. Os ratos começaram a olhar uns para os outros como se fossem inimigos. Olharam, cada um para a boca dos outros, para ver quanto do queijo haviam comido. E os olhares se enfureceram. Arreganharam os dentes. Esqueceram-se do gato. Eram seus próprios inimigos. A briga começou. Os mais fortes expulsaram os mais fracos a dentadas. E, ato contínuo, começaram a brigar entre si. Alguns ameaçaram chamar o gato, alegando que só assim se restabeleceria a ordem. O projeto de socialização do queijo foi aprovado nos seguintes termos: "Qualquer pedaço de queijo poderá ser tomado dos seus proprietários para ser dado aos ratos magros, desde que este pedaço tenha sido abandonado pelo dono". Mas como rato algum jamais abandonou um queijo, os ratos magros foram condenados a ficar esperando... Os ratinhos magros, de dentro do buraco escuro, não podiam compreender o que havia acontecido. O mais inexplicável era a transformação que se operara no focinho dos ratos fortes, agora donos do queijo. Tinham todo o jeito do gato, o olhar malvado, os dentes à mostra. Os ratos magros nem mais conseguiam perceber a diferença entre o gato de antes e os ratos de agora.

E compreenderam, então, que não havia diferença alguma. Pois todo rato que fica dono do queijo vira gato.

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“Carmen” fantasia para flauta e piano, Bizet.

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terça-feira, setembro 30, 2008

SALMO 24
Rei Daví.
1. Do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam.
2. Porque ele a fundou sobre os mares, e a firmou sobre os rios.
3. Quem subirá ao monte do Senhor, ou quem estará no seu lugar santo ?
4. Aquele que é limpo de mãos e puro de coração, que não entrega a sua alma à vaidade, nem jura enganosamente.
5. Este receberá a bênção do Senhor e a justiça do Deus da sua salvação.
6. Esta é a geração daqueles que buscam, daqueles que buscam a tua face, ó Deus de Jacó.
7. Levantai, ó portas , as vossas cabeças; levantai-vos, ó entradas eternas, e entrará no Rei da Glória.
8. Quem é este Rei da Glória? O Senhor forte e poderoso, o Senhor poderoso na guerra.
9. Levantai, ó portas, as vossas cabeças, levantai-vos, ó entradas eternas, e entrará o Rei da Glória.
10. Quem é este Rei da Glória? O Senhor dos Exércitos; ele é o Rei da Glória.

A madona e a criança. Crivelli.
"Desafinado", João Gilberto e Tom Jobim.

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segunda-feira, setembro 29, 2008

Adão e Eva. Cranach. Pintura


Cranach.
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“Epitáfio”, Titãs.

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domingo, setembro 28, 2008

MUSEON
João Ribeiro
(Fragmento)

Este vaso quem fez, por certo fê-lo
Folhas de acanto e parras imitando.
É de ver-se a asa fosca o setestrelo
De saboroso cacho alevantando.

Que desejo viria de sorvê-lo
Os gomos todos um a um sugando,
Quando, contam, dos pássaros o bando
Do céu descia prestes a bebê-lo.

Examina este vaso. N'um momento
Crê-se vê-lo a voar, o movimento
D'asa soltando, como aéreo ninho ...

Será verdade que este vaso voa
Ou porventura à mente me atordoa
Seu capitoso odor de antigo vinho?
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Courbet.
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“Tarde em Itapuã”, Vinicius de Moraes e Toquinho.

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sábado, setembro 27, 2008

POEMA EM LINHA RETA
Fernando Pessoa

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.


E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.


Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...


Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,


Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?


Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?


Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

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Martin Luther King, Jr.'s last speech

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sexta-feira, setembro 26, 2008

AVE MARIA. Charles Fonseca. Poesia.

AVE MARIA
Charles Fonseca

Encolheste o amor primeiro
Por último tão sumido
Distante qual um vagido
Esgarçou-se por dinheiro

O teu sorriso brejeiro
Que breve de mim se foi
Dói-me na alma que oi
Geme por ti derradeiro

Ai se tu soubesses quanto
Perdemos a dois por três
A vida por entre prantos

Tu de novo voltarias
Mais no quarto que só terço
Rezar mais ave-marias.






Corot.
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“Sabor a mi”, Trio los Panchos.

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quinta-feira, setembro 25, 2008

ADEUS, MEUS SONHOS!
Álvares de Azevedo

Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro!
Não levo da existência uma saudade!
E tanta vida que meu peito enchia
Morreu na minha triste mocidade!

Misérrimo! Votei meus pobres dias
À sina doida de um amor sem fruto,
E minh'alma na treva agora dorme
Como um olhar que a morte envolve em luto.

Que me resta, meu Deus? Morra comigo
A estrela de meus cândidos amores,
Já não vejo no meu peito morto
Um punhado sequer de murchas flores!

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Constable.
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"Nunca Mais" Dorival Caymmi.

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quarta-feira, setembro 24, 2008

A QUADRILHA
Carlos D. de Andrade

João amava Tereza que amava Raimundo
Que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
Que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos,
Tereza para o convento,
Raimundo morreu de desastre,
Maria ficou para tia
Joaquim suicidou-se
E Lili casou com J. Pinto Fernandes
Que até então não tinha entrado na história.
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Clouet.
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“Inacabada”, Schubert.Artur Rubinstein.

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terça-feira, setembro 23, 2008

0.L.
Emilio de Menezes

De carne mole e pele bambalhona,
ante a própria figura se extasia.
Como oliveira - ele não dá azeitona,
sendo lima - parece melancia.

Atravancando a porta que ambiciona,
não deixa entrar, nem entra. É uma mania!
Dão-lhe, por isso, a alcunha brincalhona
de pára-vento da diplomacia.

Não existe exemplar, na atualidade,
de corpo tal e de ambição tamanha,
nem para intriga igual habilidade.

Eis, em resumo, essa figura estranha:
tem mil léguas quadradas de vaidade
por milímetro cúbico de banha.

Cimabue.
“Chega de Saudade”, Joao Gilberto e Antonio Carlos Jobim.

segunda-feira, setembro 22, 2008

VELHO TEMA II
Vicente de Carvalho

Eu cantarei de amor tão fortemente
Com tal celeuma e com tamanhos brados
Que afinal teus ouvidos, dominados,
Hão de à força escutar quanto eu sustente.

Quero que meu amor se te apresente
- Não andrajoso e mendigando agrados,
Mas tal como é: risonho e sem cuidados,
Muito de altivo, um tanto de insolente.

Nem ele mais a desejar se atreve
Do que merece: eu te amo, o meu desejo
Apenas cobra um bem que se me deve.

Clamo, e não gemo; avanço, e não rastejo;
E vou de olhos enxutos e alma leve
À galharda conquista do te beijo.

Cassat.
Ennio Morricone - Gabriel's Oboe from "The Mission"

domingo, setembro 21, 2008

COMO SE EU FOSSE UM CANTADOR
Aureo Mello
(XXXV)

O homem ou crê ou fica louco. A vida
É mistério, tão bárbaro e medonho,
Que o sujeito ou se pendura no sonho
Ou numa áspera corda bem comprida.

Que venha a fé, mesmo estando vestida
De estranhos balandraus ou que tristonho
Seja o rosto de Paulo, ou Possidônio,
Expressando uma lágrima contida.

Um momento há que faz rendermos loa
Àquilo que nos céus finge que voa
Ou ao da besta urrar no abismo fundo.

Tem de haver algo que não crer na morte
Nos faça e acreditar que um poder forte
Fará de amor o amálgama do mundo.

A expulsão do paraiso. Masaccio.
“Noturno” Op. 9 No. 2, Chopin.

sexta-feira, setembro 19, 2008

BACIA DAS ALMAS. Charles Fonseca. Poesia.

BACIA DAS ALMAS
Charles Fonseca

Há uma dor que me vai n’alma
Dia e noite noite e dia
Sobrenada na bacia
Das almas ela acoitada

Tenho a minha na espera
De outras que estão apenadas
Entre outras são coitadas
Carentes de amor quem dera,

Por elas minha vida se alongue
Sem elas esta se encurta
Oscila a vela se estufa
Ou murcha em cais se esconde.






Pontorno.
“Quero que vá tudo pra o inferno”, Roberto Carlos.
O HOMEM FELIZ
autor desconhecido

Certa vez um rei adoeceu gravemente e à medida que o tempo passava seu estado piorava. Os médicos tentaram de tudo, mas nada parecia funcionar. Estavam a ponto de perder a esperança quando a velha criada falou:
- Eu sei uma forma de salvar o rei. Se vocês puderem encontrar um homem feliz, tirar-lhe a camisa e vesti-la no rei, ele se recuperará.
Ao ouvir tal afirmativa, o rei enviou seus mensageiros a todos os cantos do reino a procura de um homem feliz.
Eles cavalgaram por todos os lugares e não encontraram um homem feliz. Ninguém estava satisfeito; todos tinham uma queixa a fazer.
"Aquele alfaiate estúpido fez as calças muito curtas! Ouviram um homem rico dizer."
"A comida está péssima, este cozinheiro não consegue fazer nada direito!" - Outro reclamava.
"O que há de errado com os nossos filhos? Resmungava um pai insatisfeito."
"O teto está vazando!"
"A situação financeira está péssima"
"Será que o Rei não pode dar um jeito nessa situação?"
Essas e outras tantas queixas eram o que os mensageiros do rei ouviram por onde passaram. Se um homem era rico, não tinha o bastante; se não era rico, era culpa de alguém.
Se era saudável, havia uma sogra indesejável em sua vida.
Se tinha uma boa sogra, a gripe o estava infelicitando.
Enfim, naquele reino todos tinham algo do que reclamar.
O rei já tinha perdido a esperança de ficar bom, quando numa noite, seu filho cavalgava pelos campos e, ao passar perto de uma cabana ouviu alguém dizer:
"Obrigado Senhor! Concluí meu trabalho diário e ajudei meu semelhante. Comi meu alimento, e agora posso deitar-me e dormir em paz. O que mais poderia desejar, Senhor?"
O príncipe exultou de felicidade por ter, finalmente, encontrado um homem feliz. Retornou e mandou que seus homens fossem até lá e levassem a camisa do homem ao rei e lhe pagassem o quanto pedisse.
Mas quando os mensageiros do rei entraram na cabana para despir a camisa do homem feliz, descobriram que ele era tão pobre que sequer possuía uma camisa.

Rosalba Carriera;
Suite 1, Bach.

quinta-feira, setembro 18, 2008

FORMOSA
Maciel Monteiro

Formosa, qual pincel em tela fina
debuxar jamais pôde ou nunca ousara;
formosa, qual jamais desabrochara
na primavera a rosa purpurina;

formosa, qual se a própria mão divina
lhe alinhara o contorno e a forma rara;
formosa, qual jamais no céu brilhara
astro gentil, estrela peregrina;

formosa, qual se a natureza e a arte,
dando as mãos em seus dons, em seus lavores,
jamais soube imitar no todo ou parte;

mulher celeste, oh! anjo de primores,
quem pode ver-te, sem querer amar-te?
Quem pode amar-te, sem morrer de amores?!

Carracci.
"Não me diga adeus", Elizeth Cardoso e Elza Soares.

quarta-feira, setembro 17, 2008

MORS - AMOR
Antero de Quental

Esse negro corcel, cujas passadas
Escuto em sonhos, quando a sombra desce,
E, passando a galope, me aparece
Da noite nas fantásticas estradas,

Donde vem ele? Que regiões sagradas
E terríveis cruzou, que assim parece
Tenebroso e sublime, e lhe estremece
Não sei que horror nas crinas agitadas?

Um cavaleiro de expressão potente,
Formidável, mas plácido, no porte,
Vestido de armadura reluzente,

Cavalga a fera estranha sem temor:
E o corcel negro diz: "Eu sou a morte!"
Responde o cavaleiro: "Eu sou o Amor!"

Carpaccio.

”Só louco”, Gal e Caymmi. Música

”Só louco”, Gal e Caymmi.

terça-feira, setembro 16, 2008

ANIMA. Charles Fonseca. Poesia.

ANIMA
Charles Fonseca

Tenho inquietudes secretas,
Certezas, também, não tão certas.
Tenho saudades do futuro,
Desejo de outros sabores
Dores, de antigos amores.




Ceia em Emaús. Caravaggio. Igreja. Cristianismo. Pintura



Dominguinhos, Sivuca, Oswaldinho e Luiz Gonzaga

segunda-feira, setembro 15, 2008

Meus oito anos. Casimiro de Abreu. Poesia

MEUS OITO ANOS
Casimiro de Abreu

Oh! Que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras,
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!

Como são belos os dias
Do despontar da existência!
- Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é - lago sereno,
O céu - um manto azulado,
O mundo - um sonho dourado,
A vida - um hino d'amor!

Que auroras, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d'estrelas,
A terra de aromas cheia,
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!

Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!

Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberta o peito,
- Pés descalços, braços nus -
Correndo pelas campinas
À roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis !

Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo,
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!

.....................................................................................

Oh ! Que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras,
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!

Cupido dormindo. Battistello.

domingo, setembro 14, 2008

Passeio socrático. Frei Beto. Prosa

PASSEIO SOCRÁTICO
Frei Beto (durante palestra)

Ao visitar em agosto a admirável obra social de Carlinhos Brown, no Candeal, em Salvador, ouvi-o contar que na infância, vivida ali na pobreza, ele não conheceu a fome. Havia sempre um pouco de farinha, feijão, frutas e hortaliças. 'Quem trouxe a fome foi a geladeira', disse.O eletrodoméstico impôs à família a necessidade do supérfluo: refrigerantes, sorvetes etc. A economia de mercado, centrada no lucro e não nos direitos da população, nos submete ao consumo de símbolos. O valor simbólico da mercadoria figura acima de sua utilidade. Assim, a fome a que se refere Carlinhos Brown é inelutavelmente insaciável.É próprio do humano - e nisso também nos diferenciamos dos animais - manipular o alimento que ingere. A refeição exige preparo, criatividade, e a cozinha é laboratório culinário, como a mesa é missa, no sentido litúrgico.A ingestão de alimentos por um gato ou cachorro é um atavismo desprovido de arte. Entre humanos, comer exige um mínimo de cerimônia: sentar à mesa coberta pela toalha, usar talheres, apresentar os pratos com esmero e, sobretudo, desfrutar da companhia de outros comensais. Trata-se de um ritual que possui rubricas indeléveis. Parece-me desumano comer de pé ou sozinho, retirando o alimento diretamente da panela.Marx já havia se dado conta do peso da geladeira. Nos 'Manuscritos econômicos e filosóficos' (1844), ele constata que 'o valor que cada um possui aos olhos do outro é o valor de seus respectivos bens. Portanto, em si o homem não tem valor para nós'. O capitalismo de tal modo desumaniza que já não somos apenas consumidores, somos também consumidos. As mercadorias que me revestem e os bens simbólicos que me cercam é que determinam meu valor social. Desprovido ou despojado deles, perco o valor, condenado ao mundo ignaro da pobreza e à cultura da exclusão.Para o povo maori da Nova Zelândia cada coisa, e não apenas as pessoas, tem alma. Em comunidades tradicionais de África também se encontra essa interação matéria-espírito. Ora, se dizem a nós que um aborígene cultua uma árvore ou pedra, um totem ou ave, com certeza faremos um olhar de desdém. Mas quantos de nós não cultuam o próprio carro, um determinado vinho guardado na adega, uma jóia?Assim como um objeto se associa a seu dono nas comunidades tribais, na sociedade de consumo o mesmo ocorre sob a sofisticada égide da grife. Não se compra um vestido, compra-se um Gaultier; não se adquire um carro, e sim uma Ferrari; não se bebe um vinho, mas um Château Margaux. A roupa pode ser a mais horrorosa possível, porém se traz a assinatura de um famoso estilista a gata borralheira transforma-se em Cinderela...Somos consumidos pelas mercadorias na medida em que essa cultura neoliberal nos faz acreditar que delas emana uma energia que nos cobre como uma bendita unção, a de que pertencemos ao mundo dos eleitos, dos ricos, do poder. Pois a avassaladora indústria do consumismo imprime aos objetos uma aura, um espírito, que nos transfigura quando neles tocamos. E se somos privados desse privilégio, o sentimento de exclusão causa frustração, depressão, infelicidade.
Não importa que a pessoa seja imbecil. Revestida de objetos cobiçados, é alçada ao altar dos incensados pela inveja alheia. Ela se torna também objeto, confundida com seus apetrechos e tudo mais que carrega nela, mas não é ela: bens, cifrões, cargos etc.Comércio deriva de 'com mercê', com troca. Hoje as relações de consumo são desprovidas de troca, impessoais, não mais mediatizadas pelas pessoas. Outrora, a quitanda, o boteco, a mercearia, criavam vínculos entre o vendedor e o comprador, e também constituíam o espaço das relações de vizinhança, como ainda ocorre na feira. Agora o supermercado suprime a presença humana. Lá está a gôndola abarrotada de produtos sedutoramente embalados. Ali, a frustração da falta de convívio é compensada pelo consumo supérfluo. 'Nada poderia ser maior que a sedução' - diz Jean Baudrillard - 'nem mesmo a ordem que a destrói.' E a sedução ganha seu supremo canal na compra pela Internet. Sem sair da cadeira o consumidor faz chegar à sua casa todos os produtos que deseja.
Vou com freqüência a livrarias de shoppings. Ao passar diante das lojas e contemplar os veneráveis objetos de consumo, vendedores se acercam indagando se necessito algo. 'Não, obrigado. Estou apenas fazendo um passeio socrático', respondo. Olham-me intrigados. Então explico: Sócrates era um filósofo grego que viveu séculos antes de Cristo. Também gostava de passear pelas ruas comerciais de Atenas. E, assediado por vendedores como vocês, respondia: 'Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz'.

Que acha?
"I Am Easily Assimilated", Christa Ludwig.

sábado, setembro 13, 2008

Luz dolorosa. Cruz e Souza. Poesia

LUZ DOLOROSA
Cruz e Souza

Fulgem da luz os viáticos serenos,
Brancas extrema-unções dos hostiários:
As estrelas dos límpidos sacrários
A nívea lua sobre a paz dos fenos.

Há prelúdios e cânticos e trenos
Tristes, nos ares ermos, solitários...
E nos brilhos da luz, vagos e vários,
Há dor, há luto, há convulsões, venenos...

Estranhas sensações maravilhosas
Percorrem pelos cálices das rosas,
Sensações sepulcrais de larvas frias...

Como que ocultas áspides flexíveis
Mordem da Luz os germens invisíveis
Com o tóxico das cóleras sombrias...



O grande canal. Canaletto.
Cálice, Maria Bethania.

sexta-feira, setembro 12, 2008

Contrição. Bastos Tigre. Poesia

CONTRIÇÃO
Bastos Tigre

Não sei a quanto mal dei eu motivo,
Danos que fiz e prantos que causei;
Mas se homem sou e, se entre os homens vivo,
Vivo do erro sujeito à humana lei.

Soberbo fui, querendo ser altivo?
Quis ser justo e o inocente castiguei?
Fui, servindo à maldade, ao bem, nocivo?
- Vivo e vivi. É tudo quanto sei.

Quem há que os rumos do destino mude?
Dependesse de mim, fora eu feliz
Na divina volúpia da virtude.

Não me castigarás, sereno juiz,
Pelo bem que não fiz porque não pude,
Nem pelo mal que sem querer eu fiz.

Basilica de São Marcos. Veronese.
“Rosa de Hiroshima”, Ney Matogrosso.

quinta-feira, setembro 11, 2008

BREVE. Charles Fonseca. Poesia.

BREVE
Charles Fonseca

Oh meus amados, busco olhar os teus
Olhares perdidos tão sem sentido
Dos meus carinhos ouvir de novo
Novos vagidos nos teus renovos
Filhos nascidos em vós sorrisos
Não dêem olvidos aos versos meus.

Oh meus amados filhos, por Deus
Gerados fostes num tempo alegre
Que voltem breve a mim cansado
De tanto amar-vos vida tão breve
Tanta a saudade não quero ir-me
Sem teus abraços, faltando um adeus.



Almoço na casa de Levi. Veronese.
“Sampa”, Caetano Veloso.

quarta-feira, setembro 10, 2008

A SERENATA
Adélia Prado

Uma noite de lua pálida e gerânios
ele viria com boca e mãos incríveis
tocar flauta no jardim.
Estou no começo do meu desespero
e só vejo dois caminhos:
ou viro doida ou santa.
Eu que rejeito e exprobo
o que não for natal como sangue e veias
descubro que estou chorando todo dia,
os cabelos entristecidos,
a pele assaltada de indecisão.
Quando ele vier, porque é certo que vem,
de que modo vou chegar ao balcão sem juventude?
A lua, os gerânios e ele serão os mesmos
- só a mulher entre as coisas envelhece.
De que modo vou abrir a janela, se não for doida?
Como a fecharei, se não for santa?

Rosa. Gustave Caillebotte.
“Abertura em Dó Maior, op.124”, Beethoven.

terça-feira, setembro 09, 2008

IMPOTENTE. Charles Fonseca. Poesia.

IMPOTENTE
Charles Fonseca

Confesso sou impotente
Pra deixar de amar mulheres
Quão belas, baixo escaleres
Aporto nelas somente

Esposa, filha, enteada,
Sobrinhas demais amigas
Ai, tantas são causam intrigas
À minh’alma entrecostada.