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sexta-feira, dezembro 28, 2007


Italia e Germania. Overbeck.
O OUTRO NA OUTRA

"Possuímos, segundo parece, certa dose de capacidade para o amor – que denominamos libido – que nas etapas iniciais do desenvolvimento é dirigido no sentido de nosso próprio ego. Depois, embora ainda numa época muito inicial, essa libido é desviada do ego para os objetos, que são assim, num certo sentido, levados para nosso ego. Se os objetos forem destruídos, ou se ficarem perdidos para nós, nossa capacidade para o amor (nossa libido) será mais uma vez liberada e poderá então substituí-los por outros objetos ou retornar temporariamente ao ego. Mas permanece um mistério para nós o motivo pelo qual esse desligamento da libido de seus objetos deve constituir um processo tão penoso, até agora não fomos capazes de formular qualquer hipótese para explicá-lo. Vemos apenas que a libido se apega a seus objetos e não renuncia àqueles que se perderam, mesmo quando um substituto se acha bem à mão. Assim é o luto." Freud.

terça-feira, dezembro 25, 2007

POEMA DE NATAL
Vinicius de Moraes

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos –
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.

Assim será a nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos –
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.

Não há muito que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez, de amor
Uma prece por quem se vai –
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.

Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte –
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.

sexta-feira, dezembro 21, 2007


Anne-Henriette de França tocando viola da gamba. Nattier.
O DESEJO VIVO DE MATAR

“O que chamamos de nosso ‘inconsciente’ – as camadas mais profundas de nossas mentes, compostas de impulsos instintuais – desconhece tudo o que é negativo e toda e qualquer negação; nele as contradições coincidem.”... O medo da morte, que nos domina com mais freqüência do que pensamos, é, por outro lado, secundário e, via de regra, o resultado de um sentimento de culpa. ”... “Nosso inconsciente não executa o ato de matar; ele simplesmente o pensa e o deseja.” Freud.

terça-feira, dezembro 18, 2007


A Virgem do Rosário. Murillo.
POEMA DOS OLHOS DA AMADA
Vinícius de Moraes

Oh minha amada, que olhos os teus
São cais noturnos cheios de adeus
São docas mansas trilhando luzes
Que brilham longe, longe nos breus
Oh minha amada, que olhos os teus
Quanto mistério nos olhos teus
Quantos saveiros, quantos navios
Quantos naufrágios, nos olhos teus
Oh minha amada de olhos ateus
Quem dera um dia quisesse Deus
Eu visse um dia o olhar mendigo
Da poesia nos olhos teus.

sexta-feira, dezembro 14, 2007


Wiege. Berthe Morisot.
A MORTE DA MORTE

“Só mais tarde as religiões conseguiram representar essa vida futura como a mais desejável, a única verdadeiramente válida, a reduzir a vida que termina com a morte a uma mera preparação. Depois disso, passou a ser apenas coerente estender a vida para trás até o passado, elaborar a noção de existências pretéritas, da transmigração das almas e da reencarnação, tudo com a finalidade de despojar a morte do seu significado de término da vida. Assim, a origem da negação da morte que descrevemos como “atitude convencional e cultural”, remonta aos tempos mais antigos”. Freud.

terça-feira, dezembro 11, 2007


A esfinge vencedora. Moreaux.

DESPETALANDO. Charles Fonseca. Poesia.

DESPETALANDO
Charles Fonseca

Quanto tempo não fui pai
Tantos filhos que não tive
Afetos que não obtive
Minha vida se esvai

Como a névoa da manhã
Pós a treva como o orvalho
Despetala flor do galho
Adormece a sorte vã

De esperar ao sol poente
Já em prata pêlos cãs
Acorda a esperança chã
De filhos ter novamente

Agora porém como netos
Meus quem sabe adotivos
Vão-se as paixões pelos idos
Vêm-me amores tão ternos!



sexta-feira, dezembro 07, 2007


Nascer do sol. Monet.
QUANDO DORME A MORAL

“Desde que aprendemos interpretar os sonhos, inclusive os mais absurdos e confusos, sabemos que sempre que vamos dormir nos despojamos de nossa moralidade arduamente conquistada como se fosse uma peça de vestuário, tornando a envergá-la na manhã seguinte.”.

terça-feira, dezembro 04, 2007


A crucificação. Lorenzo Monaco.

DO FUNDO DO POÇO. Charles Fonseca. Poesia.

DO FUNDO DO POÇO
Charles Fonseca

Quando a vida foi ao fundo
Do poço ficou ao léu
Nada em volta só o céu
A ver só tantos mundos!

Tão imundo então só viu
Alguém a lhe dar a mão
No orbe só sim - não, não,
Tal qual lua lhe sorriu

Ela a musa tão linda
Enluarada tão pura
Ele em abjeta natura
Subiu de novo alma limpa

Não mais da vida o labéu
Nem mais na vida algo vil
Tão perto por ela viu
De novo o amor por seu céu.