terça-feira, outubro 30, 2007
Escreva para o meu e-mail: silvafonseca@gmail.com
EU CANTAREI TEU AMOR TÃO DOCEMENTE
Luís Vaz de Camões
Eu cantarei de amor tão docemente,
Por uns têrmos em si tão concertados,
Que dois mil acidentes namorados
Faça sentir ao peito que não sente.
Farei que amor a todos avivente,
Pintando mil segredos delicados,
Brandas iras, suspiros magoados,
Temerosa ousadia e pena ausente.
Também, Senhora, do desprezo honesto
De vossa vista branda e rigorosa,
Contentar-me- ei dizendo a menor parte.
Porém, para cantar de vosso gesto
A composição alta e milagrosa,
Aqui falta saber, engenho e arte.
Luís Vaz de Camões
Eu cantarei de amor tão docemente,
Por uns têrmos em si tão concertados,
Que dois mil acidentes namorados
Faça sentir ao peito que não sente.
Farei que amor a todos avivente,
Pintando mil segredos delicados,
Brandas iras, suspiros magoados,
Temerosa ousadia e pena ausente.
Também, Senhora, do desprezo honesto
De vossa vista branda e rigorosa,
Contentar-me- ei dizendo a menor parte.
Porém, para cantar de vosso gesto
A composição alta e milagrosa,
Aqui falta saber, engenho e arte.
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quinta-feira, outubro 25, 2007
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A IMAGINAÇÃO CRIADORA
"Quando a pessoa é insatisfeita com o mundo real e possui aquilo que chamamos dotes artísticos, pode transformar suas fantasias não em sintomas, mas em criações artísticas, fugindo, assim, da "neurosis" e voltar a encontrar por esse caminho indireto, a relação com a realidade." Freud.
"Quando a pessoa é insatisfeita com o mundo real e possui aquilo que chamamos dotes artísticos, pode transformar suas fantasias não em sintomas, mas em criações artísticas, fugindo, assim, da "neurosis" e voltar a encontrar por esse caminho indireto, a relação com a realidade." Freud.
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terça-feira, outubro 23, 2007
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INTIMIDADE
Antero de Quental
Quando, sorrindo, vais passando, e toda
Essa gente te mira cobiçosa,
És bela - e se te não comparo à rosa,
É que a rosa, bem vês, passou de moda...
Anda-me às vezes a cabeca à roda,
Atrás de ti também, flor caprichosa!
Nem pode haver, na multidão ruidosa,
Coisa mais linda, mais absurda e doida.
Mas é na intimidade e no segredo,
Quando tu coras e sorris a medo,
Que me apraz ver-te e que te adoro, flor!
E não te quero nunca tanto (ouve isto)
Como quando por ti, por mim, por Cristo,
Juras - mentindo - que me tens amor...
Antero de Quental
Quando, sorrindo, vais passando, e toda
Essa gente te mira cobiçosa,
És bela - e se te não comparo à rosa,
É que a rosa, bem vês, passou de moda...
Anda-me às vezes a cabeca à roda,
Atrás de ti também, flor caprichosa!
Nem pode haver, na multidão ruidosa,
Coisa mais linda, mais absurda e doida.
Mas é na intimidade e no segredo,
Quando tu coras e sorris a medo,
Que me apraz ver-te e que te adoro, flor!
E não te quero nunca tanto (ouve isto)
Como quando por ti, por mim, por Cristo,
Juras - mentindo - que me tens amor...
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sexta-feira, outubro 19, 2007
Harmonia em vermelho. Matisse.
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O MORCEGO
Augusto dos Anjos.
Meia-noite. Ao meu quarto me recolho.
Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede:
Na bruta ardência orgânica da sede,
Morde-me a goela ígneo e escaldante molho.
"Vou mandar levantar outra parede..."
- Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho
E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho,
Circularmente sobre a minha rede!
Pego de um pau. Esforços faço. Chego
A tocá-lo. Minh'alma se concentra.
Que ventre produziu tão feio parto?!
A Consciência Humana é este morcego!
Por mais que a gente faça, á noite, ele entra
Imperceptivelmente em nosso quarto!
Augusto dos Anjos.
Meia-noite. Ao meu quarto me recolho.
Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede:
Na bruta ardência orgânica da sede,
Morde-me a goela ígneo e escaldante molho.
"Vou mandar levantar outra parede..."
- Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho
E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho,
Circularmente sobre a minha rede!
Pego de um pau. Esforços faço. Chego
A tocá-lo. Minh'alma se concentra.
Que ventre produziu tão feio parto?!
A Consciência Humana é este morcego!
Por mais que a gente faça, á noite, ele entra
Imperceptivelmente em nosso quarto!
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terça-feira, outubro 16, 2007
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A VIDA PASSA E EM PASSAR CONSISTE
Florisvaldo Mattos
Logo, fecho o caixão e fecho o tempo
das almas arbitrárias que vivi.
Amante e amado fui e conheci
a dor que é de meu tempo passatempo.
Rebenta, alma insensata, o teu passado
e vai por outras dores comezinhas;
segue por tua senda, a que caminhas,
rio em que tua margem é o outro lado.
Estás ausente em ti para o meu gesto,
simples estado neutro de passar,
de olhar, sentir e perceber funesto
o súbito negar da primavera,
mais que breve e raro, cumprimentar
o prazer de passar que a vida era.
Florisvaldo Mattos
Logo, fecho o caixão e fecho o tempo
das almas arbitrárias que vivi.
Amante e amado fui e conheci
a dor que é de meu tempo passatempo.
Rebenta, alma insensata, o teu passado
e vai por outras dores comezinhas;
segue por tua senda, a que caminhas,
rio em que tua margem é o outro lado.
Estás ausente em ti para o meu gesto,
simples estado neutro de passar,
de olhar, sentir e perceber funesto
o súbito negar da primavera,
mais que breve e raro, cumprimentar
o prazer de passar que a vida era.
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sexta-feira, outubro 12, 2007
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quinta-feira, outubro 11, 2007
Como escolho os meus amigos Oscar Wilde
COMO ESCOLHO OS MEUS AMIGOS
Oscar Wilde
Escolho os meus amigos não pela pele ou por outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero o meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.
Quero-os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho os meus amigos pela cara lavada e pela alma exposta.
Não quero só o ombro ou o colo, quero também a sua maior alegria.
Amigo que não ri conosco não sabe sofrer conosco.
Os meus amigos são todos assim: metade disparate, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade a sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos, nem chatos
Quero-os metade infância e outra metade velhice.
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois vendo-os loucos e santos, tolos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a normalidade é uma ilusão imbecil e estéril.
Oscar Wilde
Escolho os meus amigos não pela pele ou por outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero o meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.
Quero-os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho os meus amigos pela cara lavada e pela alma exposta.
Não quero só o ombro ou o colo, quero também a sua maior alegria.
Amigo que não ri conosco não sabe sofrer conosco.
Os meus amigos são todos assim: metade disparate, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade a sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos, nem chatos
Quero-os metade infância e outra metade velhice.
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois vendo-os loucos e santos, tolos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a normalidade é uma ilusão imbecil e estéril.
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terça-feira, outubro 09, 2007
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A lista. Oswaldo Montenegro
A LISTA
Osvaldo Montenegro
Faça uma lista de grandes amigos,
De quem você via há dez anos atrás.
Quantos você ainda vê todo dia,
Quantos você já nem encontra mais.
Faça uma lista dos sonhos que tinha, quantos você desistiu de sonhar?...
Quantos amores, jurados pra sempre - quantos você conseguiu preservar?
Onde você ainda se reconhece? - na foto passada, ou no espelho de agora?
Hoje e do jeito que achou que seria?
Quantos amigos você jogou fora.
Quantos mistérios que você sondava,
Quantos você conseguiu entender?...
Quantos segredos que você guardava
E que hoje são bobos - ninguém quer saber.
Quantas mentiras você condenava
E quantas você teve que cometer?
Quantos defeitos sanados com o tempo,
E que eram o melhor que havia em você!...
Quantas canções que você nem cantava
Hoje assovia, pra sobreviver.
Quantas pessoas que você amava...
Hoje acredita que amam você?...
Osvaldo Montenegro
Faça uma lista de grandes amigos,
De quem você via há dez anos atrás.
Quantos você ainda vê todo dia,
Quantos você já nem encontra mais.
Faça uma lista dos sonhos que tinha, quantos você desistiu de sonhar?...
Quantos amores, jurados pra sempre - quantos você conseguiu preservar?
Onde você ainda se reconhece? - na foto passada, ou no espelho de agora?
Hoje e do jeito que achou que seria?
Quantos amigos você jogou fora.
Quantos mistérios que você sondava,
Quantos você conseguiu entender?...
Quantos segredos que você guardava
E que hoje são bobos - ninguém quer saber.
Quantas mentiras você condenava
E quantas você teve que cometer?
Quantos defeitos sanados com o tempo,
E que eram o melhor que havia em você!...
Quantas canções que você nem cantava
Hoje assovia, pra sobreviver.
Quantas pessoas que você amava...
Hoje acredita que amam você?...
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Poesia
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sexta-feira, outubro 05, 2007
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Flor do asfalto. Guilherme de Almeida. Poesia
FLOR DO ASFALTO
Guilherme de Almeida
Flor do asfalto, encantada flor de seda,
sugestão de um crepúsculo de outono,
de uma folha que cai, tonta de sono,
riscando a solidão de uma alameda...
Trazes nos olhos a melancolia
das longas perspectivas paralelas,
das avenidas outonais, daquelas
ruas cheias de folhas amarelas
sob um silêncio de tapeçaria...
Em tua voz nervosa tumultua
essa voz de folhagens desbotadas,
quando choram ao longo das calçadas,
simétricas, iguais e abandonadas,
as árvores tristíssimas da rua!
Flor da cidade, em teu perfume existe
Qualquer coisa que lembra folhas mortas,
sombras de pôr de sol, árvores tortas,
pela rua calada em que recortas
tua silhueta extravagante e triste...
Flor de volúpia, flor de mocidade,
teu vulto, penetrante como um gume,
passa e, passando, como que resume
no olhar, na voz, no gesto e no perfume,
a vida singular desta cidade!
Guilherme de Almeida
Flor do asfalto, encantada flor de seda,
sugestão de um crepúsculo de outono,
de uma folha que cai, tonta de sono,
riscando a solidão de uma alameda...
Trazes nos olhos a melancolia
das longas perspectivas paralelas,
das avenidas outonais, daquelas
ruas cheias de folhas amarelas
sob um silêncio de tapeçaria...
Em tua voz nervosa tumultua
essa voz de folhagens desbotadas,
quando choram ao longo das calçadas,
simétricas, iguais e abandonadas,
as árvores tristíssimas da rua!
Flor da cidade, em teu perfume existe
Qualquer coisa que lembra folhas mortas,
sombras de pôr de sol, árvores tortas,
pela rua calada em que recortas
tua silhueta extravagante e triste...
Flor de volúpia, flor de mocidade,
teu vulto, penetrante como um gume,
passa e, passando, como que resume
no olhar, na voz, no gesto e no perfume,
a vida singular desta cidade!
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terça-feira, outubro 02, 2007
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