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terça-feira, agosto 07, 2007

NOSTALGIAS

José Dias Egipto

Perguntas-me pelas nossas árvores,
pelos soutos, pelas alamedas
que atravessávamos no Outubro
quando a geometria das cores da natureza
desenhavam tapetes afogueados
que se abriam em folhas abrasadas e macias
que pisávamos num restolhar de espumas,
colorindo os nossos gestos e carinhos
naquele amor que nos cheiros da terra se consome,
fazendo-nos jovens ébrios do Outono
plasmados nos muros e nos caminhos...

Perguntas-me pelas praças da nossa cidade,
pelas pedras irmãs das calçadas e ladeiras
que soletramos, uma a uma, vezes sem conta,
nos dias claros, tangíveis de palavras límpidas,
como a água que salpicava das fontes,
que foram nossas cúmplices em lutas
por sonhos nunca realizados,
em gritos suados e êxtases passageiros,
que lhes davam o sentido único e inteiro
de serem efectivamente praças
para que nós fossemos integralmente verdadeiros. ..

Perguntas-me pelo mar da nossa mocidade,
pela aragem fria que esculpia o nosso rosto,
pelas mãos que se davam em passeios
assinalados na areia antes da espuma,
do cheiro forte a peixe e a sargaço
que selava para sempre aquele abraço
que fervia pelos poros nas vazantes
deixando escorrer o sal de cada dia
numa espera constante de um barco
que nos levasse a marear, apenas pela vontade de partir
em busca das terras prenhes da nossa fantasia...

Perguntas-me pela alma do Homem
que vimos vibrar em tantas circunstâncias
que parecia emergir à nossa frente,
depois de tanto e longo sofrimento,
para um futuro que se queria perto e radiante
de forma absoluta, quiçá definitivamente,
onde todos pudessem ser pássaros e veleiros
porque o vento da história estava domado
e tínhamos conquistado as asas e as velas suficientes
para o gozar, saborear, saber guiar
e transformar o tempo inteiro...

Perguntas-me tanta coisa, meu amor,
com tanta doçura e veemência,
com olhos rasos do sal que enaltecemos,
que eu, pronto a suster tanto pavor,
te direi varrendo de vez a nostalgia
que para todas as perguntas
há sempre uma resposta
e que não são os olhos que te cegam a visão,
são os velhos medos do Restelo
que te ensombram neste dia,
pois a amarra dos teus sonhos não se romperá
agora na velhice,
a tua barca terá o porto que a espere
e que de novo te seduza,
juro,
porque eu serei barqueiro nesse Letes derradeiro
e veremos os panos do passado, avivados,
nas velas do futuro...

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