ROSEIRAS DOLOROSAS
José Antonio Jacob
Estou sozinho em meu jardim sem cores,
E ainda que eu tenha mágoas, bem guardadas,
Cuido dessas roseiras desmaiadas
Que em meu canteiro nunca abriram flores.
Tais quais receosas almas delicadas
Elas se encolhem, sobre seus temores,
E abortam seus rebentos nas ramadas
Enquanto vão morrendo em suas dores...
Quantas almas, que por serem assim,
Como essas tristes plantas no jardim,
Calam-se, a olhar o nada, tão descrentes...
Feito as minhas roseiras dolorosas
Que só olham para a vida, indiferentes,
E não me dão espinhos e nem rosas.
quarta-feira, maio 30, 2007
Roseira dolorosas. José Antonio Jacob
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segunda-feira, maio 28, 2007
A primavera. Sandro Botticelli.
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EPITÁFIO. Charles Fonseca. Poesia.
EPITÁFIO
Charles Fonseca
Este mundo é mesmo um palco.
Pois não é que em certa noite
Se encontraram, lado a lado,
Mulher a pedir, sorridente,
Quero ouvir "Seguindo em frente"
Enquanto outra expectante
Só, mortiça, a ver navios,
Perdida, sem astrolábio,
Pedia com o olhar distante:
Pois pra mim quero que cante
Pro meu desvario "Epitáfio"?
Charles Fonseca
Este mundo é mesmo um palco.
Pois não é que em certa noite
Se encontraram, lado a lado,
Mulher a pedir, sorridente,
Quero ouvir "Seguindo em frente"
Enquanto outra expectante
Só, mortiça, a ver navios,
Perdida, sem astrolábio,
Pedia com o olhar distante:
Pois pra mim quero que cante
Pro meu desvario "Epitáfio"?
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domingo, maio 27, 2007
A tentação de Santo Antão. Hieronymus Bosch
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SONETO
Fagundes Varela
Desponta a estrela d'alva, a noite morre.
Pulam no mato alígeros cantores,
E doce a brisa no arraial das flores
Lânguidas queixas murmurando corre.
Volúvel tribo a solidão percorre
Das borboletas de brilhantes cores;
Soluça o arroio; diz a rola amores
Nas verdes balsas donde o orvalho escorre.
Tudo é luz e esplendor; tudo se esfuma
Às carícias da aurora, ao céu risonho,
Ao flóreo bafo que o sertão perfuma!
Porém minh'alma triste e sem um sonho
Repete olhando o prado, o rio, a espuma:
- Oh! mundo encantador, tu és medonho!
Fagundes Varela
Desponta a estrela d'alva, a noite morre.
Pulam no mato alígeros cantores,
E doce a brisa no arraial das flores
Lânguidas queixas murmurando corre.
Volúvel tribo a solidão percorre
Das borboletas de brilhantes cores;
Soluça o arroio; diz a rola amores
Nas verdes balsas donde o orvalho escorre.
Tudo é luz e esplendor; tudo se esfuma
Às carícias da aurora, ao céu risonho,
Ao flóreo bafo que o sertão perfuma!
Porém minh'alma triste e sem um sonho
Repete olhando o prado, o rio, a espuma:
- Oh! mundo encantador, tu és medonho!
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sábado, maio 26, 2007
Padre Antonio Vieira. Arnold van Westerhout.
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A oratória de Vieira.
«É a guerra aquele monstro que se sustenta das fazendas, do sangue, das vidas, e, quanto mais come e consome, tanto menos se farta. É a guerra aquela tempestade terrestre que leva os campos, as casas, as vilas, os castelos, as cidades, e talvez em um momento sorve os reinos e monarquias inteiras. É a guerra aquela calamidade composta de todas as calamidades em que não há mal nenhum que ou se não padeça, ou se não tema, nem bem que seja próprio e seguro: — o pai não tem seguro o filho; o rico não tem segura a fazenda; o pobre não tem seguro o seu suor; o nobre não tem segura a honra; o eclesiástico não tem segura a imunidade; o religioso não tem segura a sua cela; e até Deus, nos templos e nos sacrários, não está seguro.»
Padre António Vieira , s.XVII
Padre António Vieira , s.XVII
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sexta-feira, maio 25, 2007
Martha Bibesco. Giovanni Boldini
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A MEU PAI MORTO. Augusto dos Anjos. Poesia.
A MEU PAI MORTO
Augusto dos Anjos
Madrugada de Treze de janeiro.
Rezo, sonhando, o ofício da agonia.
Meu Pai nessa hora junto a mim morria
Sem um gemido, assim como um cordeiro!
E eu nem lhe ouvi o alento derradeiro!
Quando acordei, cuidei que ele dormia,
E disse à minha Mãe que me dizia:
«Acorda-o»! deixa-o, Mãe, dormir primeiro!
E saí para ver a Natureza!
Em tudo o mesmo abismo de beleza,
Nem uma névoa no estrelado véu...
Mas pareceu-me, entre as estrelas flóreas,
Como Elias, num carro azul de glórias,
Ver a alma de meu Pai subindo ao Céu!
Augusto dos Anjos
Madrugada de Treze de janeiro.
Rezo, sonhando, o ofício da agonia.
Meu Pai nessa hora junto a mim morria
Sem um gemido, assim como um cordeiro!
E eu nem lhe ouvi o alento derradeiro!
Quando acordei, cuidei que ele dormia,
E disse à minha Mãe que me dizia:
«Acorda-o»! deixa-o, Mãe, dormir primeiro!
E saí para ver a Natureza!
Em tudo o mesmo abismo de beleza,
Nem uma névoa no estrelado véu...
Mas pareceu-me, entre as estrelas flóreas,
Como Elias, num carro azul de glórias,
Ver a alma de meu Pai subindo ao Céu!
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quinta-feira, maio 24, 2007
Satã observando o amor de Adão e Eva. William Blake. Pintura
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Voz que se cala. Florbela Espanca. Poesia
VOZ QUE SE CALA
Florbela Espanca
Amo as pedras, os astros e o luar
Que beija as ervas do atalho escuro,
Amo as águas de anil e o doce olhar
Dos animais, divinamente puro.
Amo a hera que entende a voz do muro
E dos sapos, o brando tilintar
De cristais que se afagam devagar,
E da minha charneca o rosto duro.
Amo todos os sonhos que se calam
De corações que sentem e não falam,
Tudo o que é Infinito e pequenino!
Asa que nos protege a todos nós!
Soluço imenso, eterno, que é a voz
Do nosso grande e mísero Destino!...
Florbela Espanca
Amo as pedras, os astros e o luar
Que beija as ervas do atalho escuro,
Amo as águas de anil e o doce olhar
Dos animais, divinamente puro.
Amo a hera que entende a voz do muro
E dos sapos, o brando tilintar
De cristais que se afagam devagar,
E da minha charneca o rosto duro.
Amo todos os sonhos que se calam
De corações que sentem e não falam,
Tudo o que é Infinito e pequenino!
Asa que nos protege a todos nós!
Soluço imenso, eterno, que é a voz
Do nosso grande e mísero Destino!...
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quarta-feira, maio 23, 2007
Adoração do Deus menino. Pinturicchio.
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TERCEIRA SOMBRA: ESTER
Castro Alves
Vem! no teu peito cálido e brilhante
O nardo oriental melhor transpira!...
Enrola-te na longa cachemira,
Como as Judias moles do Levante.
Alva a clâmide aos ventos — roçagante...
Túmido o lábio, onde o saltério gira...
Ó musa de Israel! pega da lira...
Canta os martírios de teu povo errante!
Mas não... brisa da pátria além revoa,
E, ao delamber-lhe o braço de alabastro,
Falou-lhe de partir... e parte... e voa...
Qual nas algas marinhas desce um astro...
Linda Ester! teu perfil se esvai... s'escoa...
Só me resta um perfume... um canto... um rastro...
Castro Alves
Vem! no teu peito cálido e brilhante
O nardo oriental melhor transpira!...
Enrola-te na longa cachemira,
Como as Judias moles do Levante.
Alva a clâmide aos ventos — roçagante...
Túmido o lábio, onde o saltério gira...
Ó musa de Israel! pega da lira...
Canta os martírios de teu povo errante!
Mas não... brisa da pátria além revoa,
E, ao delamber-lhe o braço de alabastro,
Falou-lhe de partir... e parte... e voa...
Qual nas algas marinhas desce um astro...
Linda Ester! teu perfil se esvai... s'escoa...
Só me resta um perfume... um canto... um rastro...
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terça-feira, maio 22, 2007
Pintura de Nicolaes Berchem
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POEMA DE FINADOS
Manuel Bandeira
Amanhã que é dia dos mortos
Vai ao cemitério. Vai
E procura entre as sepulturas
A sepultura de meu pai.
Leva três rosas bem bonitas.
Ajoelha e reza uma oração.
Não pelo pai, mas pelo filho:
O filho tem mais precisão.
O que resta de mim na vida
É a amargura do que sofri.
Pois nada quero, nada espero,
E em verdade estou morto ali.
Manuel Bandeira
Amanhã que é dia dos mortos
Vai ao cemitério. Vai
E procura entre as sepulturas
A sepultura de meu pai.
Leva três rosas bem bonitas.
Ajoelha e reza uma oração.
Não pelo pai, mas pelo filho:
O filho tem mais precisão.
O que resta de mim na vida
É a amargura do que sofri.
Pois nada quero, nada espero,
E em verdade estou morto ali.
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segunda-feira, maio 21, 2007
Procissão dos Reis Magos. Benozzo Gozzoli.
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VISÕES DA NOITE
Fagundes Varela
Vem despontando a aurora, a noite morre,
Desperta a mata virgem seus cantores,
Medroso o vento no arraial das flores
Mil beijos furta e suspirando corre.
Estende a névoa o manto e o val percorre,
Cruzam-se as borboletas de mil cores,
E as mansas rolas choram seus amores
Nas verdes balsas onde o orvalho escorre.
E pouco a pouco se esvaece a bruma,
Tudo se alegra à luz do céu risonho
E ao flóreo bafo que o sertão perfuma.
Porém minh'alma triste e sem um sonho
Murmura olhando o prado, o rio, a espuma:
Como isto é pobre, insípido, enfadonho!
Fagundes Varela
Vem despontando a aurora, a noite morre,
Desperta a mata virgem seus cantores,
Medroso o vento no arraial das flores
Mil beijos furta e suspirando corre.
Estende a névoa o manto e o val percorre,
Cruzam-se as borboletas de mil cores,
E as mansas rolas choram seus amores
Nas verdes balsas onde o orvalho escorre.
E pouco a pouco se esvaece a bruma,
Tudo se alegra à luz do céu risonho
E ao flóreo bafo que o sertão perfuma.
Porém minh'alma triste e sem um sonho
Murmura olhando o prado, o rio, a espuma:
Como isto é pobre, insípido, enfadonho!
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domingo, maio 20, 2007
Retrato de uma mulher. Marie Guilhelmine-Benoist
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O beijo de Jesus. José Antonio Jacob. Poesia
O BEIJO DE JESUS
José Antonio Jacob.
Eu era criança, mas já percebia,
O pouco pão que havia em nossa mesa
E a aparência acanhada da pobreza
Que tinha a nossa casa tão vazia.
De noite, antes do sono, uma certeza:
A minha mãe rezava a Ave-Maria!
E ao terminar a prece eu sempre via
No seu olhar uma esperança acesa.
E após a reza desligava a luz,
Beijava o crucifixo e a fé era tanta
Que adormecia perto de Jesus.
Depois que ela dormia (isso que encanta)
Nosso Senhor descia ali da cruz
Para beijar a sua face santa.
José Antonio Jacob.
Eu era criança, mas já percebia,
O pouco pão que havia em nossa mesa
E a aparência acanhada da pobreza
Que tinha a nossa casa tão vazia.
De noite, antes do sono, uma certeza:
A minha mãe rezava a Ave-Maria!
E ao terminar a prece eu sempre via
No seu olhar uma esperança acesa.
E após a reza desligava a luz,
Beijava o crucifixo e a fé era tanta
Que adormecia perto de Jesus.
Depois que ela dormia (isso que encanta)
Nosso Senhor descia ali da cruz
Para beijar a sua face santa.
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sábado, maio 19, 2007
Céu estrelado. Van Gogh. Pintura
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VERSOS LOUCOS. Charles Fonseca. Poesia.
VERSOS LOUCOS
Charles Fonseca
Quando as razões se te forem
Quando a fé te for distinta
Quando reles forem tintas
Nas fachadas que te doiram
Então quando em humildade
O desamor for reverso
Não farei mais estes versos
Terás minha a caridade
De não mais por ti carpir
De por ti não mais saudade
De deixar-te por herdade
Minha ausência, vou partir.
Charles Fonseca
Quando as razões se te forem
Quando a fé te for distinta
Quando reles forem tintas
Nas fachadas que te doiram
Então quando em humildade
O desamor for reverso
Não farei mais estes versos
Terás minha a caridade
De não mais por ti carpir
De por ti não mais saudade
De deixar-te por herdade
Minha ausência, vou partir.
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sexta-feira, maio 18, 2007
Flora. Ticiano.
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quinta-feira, maio 17, 2007
Cena urbana. Bernardo Belotto.
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VANDALISMO
Augusto dos Anjos
Meu coração tem catedrais imensas,
Templos de priscas e longínquas datas,
Onde um nume de amor, em serenatas,
Canta a aleluia virginal das crenças.
Na ogiva fúlgida e nas colunatas
Vertem lustrais irradiações intensas
Cintilações de lâmpadas suspensas
E as ametistas e os florões e as pratas.
Com os velhos Templários medievais
Entrei um dia nessas catedrais
E nesses templos claros e risonhos.
E erguendo os gládios e brandindo as hastas,
No desespero dos iconoclastas
Quebrei a imagem dos meus próprios sonhos!
Augusto dos Anjos
Meu coração tem catedrais imensas,
Templos de priscas e longínquas datas,
Onde um nume de amor, em serenatas,
Canta a aleluia virginal das crenças.
Na ogiva fúlgida e nas colunatas
Vertem lustrais irradiações intensas
Cintilações de lâmpadas suspensas
E as ametistas e os florões e as pratas.
Com os velhos Templários medievais
Entrei um dia nessas catedrais
E nesses templos claros e risonhos.
E erguendo os gládios e brandindo as hastas,
No desespero dos iconoclastas
Quebrei a imagem dos meus próprios sonhos!
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quarta-feira, maio 16, 2007
A forja de Vulcano. Diego Velasquez. Pintura
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“Existe um gênero de esquecimento que se caracteriza pela dificuldade em despertar a memória, mesmo quando há um apelo externo poderoso, como se alguma resistência interna lutasse contra seu ressurgimento. Em psicopatologia, essa espécie de esquecimento recebeu o nome de ‘repressão’ (...) É verdade que o reprimido, via de regra, não emerge à lembrança sem maiores dificuldades, mas conserva uma capacidade de ação efetiva e, sob a influência de algum evento externo, pode vir a ter conseqüências psíquicas que podem ser consideradas como produtos da modificação da lembrança esquecida e como derivados dela, e que, se não forem vistas por esse prisma, permanecerão incompreensíveis.” Freud.
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Pietá. Bellini.
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TU ÉS COMO ÁGUA MANSINHA. Charles Fonseca. Poesia.
TU ÉS COMO ÁGUA MANSINHA
Charles Fonseca
Tu és como água mansinha
Que corres beirando o mato
Querendo ser rio és riacho
E acho que voltas chuvinha.
Quando chegares aos mares
Após seres caudalosa
Desprezastes minhas rosas,
As origens, teus amares.
Quando tu voltares chuva
Talvez só fino orvalho
Quem sabe sob este carvalho
Que te deu sombra vetusta
Encontres só as lembranças
Do que se foi, não mais volta,
Enquanto aqui abro a porta
Do coração às esperanças.
Charles Fonseca
Tu és como água mansinha
Que corres beirando o mato
Querendo ser rio és riacho
E acho que voltas chuvinha.
Quando chegares aos mares
Após seres caudalosa
Desprezastes minhas rosas,
As origens, teus amares.
Quando tu voltares chuva
Talvez só fino orvalho
Quem sabe sob este carvalho
Que te deu sombra vetusta
Encontres só as lembranças
Do que se foi, não mais volta,
Enquanto aqui abro a porta
Do coração às esperanças.
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terça-feira, maio 15, 2007
A Última Comunhão e Martirio de San Denis, por Henri Bellechose, 1416
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OFICINA IRRITADA
Carlos Drummond de Andrade
Eu quero compor um soneto duro
como poeta algum ousara escrever.
Eu quero pintar um soneto escuro,
seco, abafado, difícil de ler.
Quero que meu soneto, no futuro,
não desperte em ninguém nenhum prazer.
E que, no seu maligno ar imaturo,
ao mesmo tempo saiba ser, não ser.
Esse meu verbo antipático e impuro
há de pungir, há de fazer sofrer,
tendão de Vênus sob o pedicuro.
Ninguém o lembrará: tiro no muro,
cão mijando no caos, enquanto Arcturo,
claro enigma, se deixa surpreender.
Carlos Drummond de Andrade
Eu quero compor um soneto duro
como poeta algum ousara escrever.
Eu quero pintar um soneto escuro,
seco, abafado, difícil de ler.
Quero que meu soneto, no futuro,
não desperte em ninguém nenhum prazer.
E que, no seu maligno ar imaturo,
ao mesmo tempo saiba ser, não ser.
Esse meu verbo antipático e impuro
há de pungir, há de fazer sofrer,
tendão de Vênus sob o pedicuro.
Ninguém o lembrará: tiro no muro,
cão mijando no caos, enquanto Arcturo,
claro enigma, se deixa surpreender.
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segunda-feira, maio 14, 2007
Pintura de Fréderic Brazille.
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VELHAS ÁRVORES
Olabo Bilac
Olha estas velhas árvores, — mais belas,
Do que as árvores mais moças, mais amigas,
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas . . .
O homem, a fera e o inseto à sombra delas
Vivem livres de fomes e fadigas;
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E alegria das aves tagarelas . . .
Não choremos jamais a mocidade!
Envelheçamos rindo! envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem,
Na glória da alegria e da bondade
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!
Olabo Bilac
Olha estas velhas árvores, — mais belas,
Do que as árvores mais moças, mais amigas,
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas . . .
O homem, a fera e o inseto à sombra delas
Vivem livres de fomes e fadigas;
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E alegria das aves tagarelas . . .
Não choremos jamais a mocidade!
Envelheçamos rindo! envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem,
Na glória da alegria e da bondade
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!
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domingo, maio 13, 2007
São Cosme e São Damião. Batistello.
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OS BEIJOS QUE NÃO TE DEI. Charles Fonseca. Poesia.
OS BEIJOS QUE NÃO TE DEI
Charles Fonseca
Os beijos, oh mãe, que não te dei em vida
São beijos contidos, parados no ar,
Contigo levaste os mesmos pro lar
Celeste, na alma, teu corpo em partida.
Os beijos, mãe, que não me deste, sortidos,
Dos tantos que tu me deste correndo,
São meus, os tenho em minha alma vivendo
Dias no aquém, no além os quero colhidos.
Charles Fonseca
Os beijos, oh mãe, que não te dei em vida
São beijos contidos, parados no ar,
Contigo levaste os mesmos pro lar
Celeste, na alma, teu corpo em partida.
Os beijos, mãe, que não me deste, sortidos,
Dos tantos que tu me deste correndo,
São meus, os tenho em minha alma vivendo
Dias no aquém, no além os quero colhidos.
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.....OS BEIJOS QUE NÃO TE DEI,
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Charles Fonseca
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sábado, maio 12, 2007
Suzana e os velhos. Guercino.
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ITACARÉ. Charles Fonseca. Poesia.
ITACARÉ
Charles Fonseca
Volte sempre a Itacaré
Dizia a nina morena
A mim a minha pequena
Que pena que não dá pé
Ficar pra sempre aqui
Pra ver as ondas do mar
No ir e vir do luar
"Por nós, fiquemos aqui!"
Pós tanto caminho ínvio
Oh que saudades que tenho
Dos mimos franzo meu cenho
Não tenho mais o carinho
Da nina estripulia
Do doce olhar do meu nino
De mim pra eles arrimo
Em nós, quanta alegria!
Agora restam histórias
Deste passado em que brotam
Por sob capa afloram
Visões, saudades, memórias...
Charles Fonseca
Volte sempre a Itacaré
Dizia a nina morena
A mim a minha pequena
Que pena que não dá pé
Ficar pra sempre aqui
Pra ver as ondas do mar
No ir e vir do luar
"Por nós, fiquemos aqui!"
Pós tanto caminho ínvio
Oh que saudades que tenho
Dos mimos franzo meu cenho
Não tenho mais o carinho
Da nina estripulia
Do doce olhar do meu nino
De mim pra eles arrimo
Em nós, quanta alegria!
Agora restam histórias
Deste passado em que brotam
Por sob capa afloram
Visões, saudades, memórias...
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sexta-feira, maio 11, 2007
Estudo de corpo humano. Francis Bacon.
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BELEZA
Menotti Del Picchia
A beleza das coisas te devasta
como o sol que fascina mas te cega.
Delas contudo a luminosa entrega
nunca se dá, melhor, nunca te basta.
E a imensa paz que para além te arrasta
quanto mais se te esquiva ou te renega...
Paz tão do alto e paz dessa macega
que nos campos esplende à luz mais casta.
A beleza te fere e todavia
afaga, uma emoção (sempre a primeira e nunca
repetida) que conduz
o teu deslumbramento para um dia
à noite misturado, na clareira
em que te sentes noite em plena luz.
Menotti Del Picchia
A beleza das coisas te devasta
como o sol que fascina mas te cega.
Delas contudo a luminosa entrega
nunca se dá, melhor, nunca te basta.
E a imensa paz que para além te arrasta
quanto mais se te esquiva ou te renega...
Paz tão do alto e paz dessa macega
que nos campos esplende à luz mais casta.
A beleza te fere e todavia
afaga, uma emoção (sempre a primeira e nunca
repetida) que conduz
o teu deslumbramento para um dia
à noite misturado, na clareira
em que te sentes noite em plena luz.
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quinta-feira, maio 10, 2007
Baciccia.
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“Mas como dois elementos permanecem na investigação sexual infantil – os mesmos pontos, aliás, em que a organização sexual infantil ainda está atrasada -, os esforços do pequeno investigador são geralmente infrutíferos, e acabam numa renúncia que não raro deixa como seqüela um prejuízo permanente para a pulsão do saber. A investigação sexual desses primeiros anos da infância é sempre feita na solidão; significa um primeiro passo para a orientação autônoma no mundo e estabelece um intenso alheiamento da criança frente às pessoas do seu meio que antes gozavam de sua total confiança.” Freud.
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quarta-feira, maio 09, 2007
RETORNO
Carlos Drummond de Andrade
Meu ser em mim palpita como fora
do chumbo da atmosfera constritora.
Meu ser palpita em mim tal qual se fora
a mesma hora de abril, tornada agora.
Que face antiga já se não descora
lendo a efígie do corvo na da aurora?
Que aura mansa e feliz dança e redoura
meu existir, de morte imorredoura?
Sou eu nos meus vinte aons de lavoura
de sucos agressivos, que elabora
uma alquimia severa, a cada hora.
Sou eu ardendo em mim, sou eu embora
não me conheça mais na minha flora
que, fauna, me devora quanto é pura.
Carlos Drummond de Andrade
Meu ser em mim palpita como fora
do chumbo da atmosfera constritora.
Meu ser palpita em mim tal qual se fora
a mesma hora de abril, tornada agora.
Que face antiga já se não descora
lendo a efígie do corvo na da aurora?
Que aura mansa e feliz dança e redoura
meu existir, de morte imorredoura?
Sou eu nos meus vinte aons de lavoura
de sucos agressivos, que elabora
uma alquimia severa, a cada hora.
Sou eu ardendo em mim, sou eu embora
não me conheça mais na minha flora
que, fauna, me devora quanto é pura.
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Crucificação. Antonello da Messina.
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“Desde as Confissões de Jean Jacques Rousseaux, a estimulação dolorosa das nádegas tem sido reconhecida por todos os educadores como uma das raízes erógenas da pulsão passiva da crueldade (masoquismo). Disso eles concluíram com acerto que o castigo corporal, que quase sempre incide nessa parte do corpo, deve ser evitado em todas as crianças cuja libido, através de exigências posteriores da educação cultural, possa ser forçada para vias colaterais.” Freud.
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terça-feira, maio 08, 2007
Apresentação no templo. Fra Angelico.
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FOI-SE APÓS FOICE. Charles Fonseca. Poesia.
FOI-SE APÓS FOICE
Charles Fonseca
Quando voltar o teu amor
Ao que de ti ficou tão pobre
Quando voltares a ser nobre
A superares toda a dor
Inda haverá por sobre a terra
Quem o afeto desprezou
Quem na saudade te amou
E que pra ti no além já era?
Charles Fonseca
Quando voltar o teu amor
Ao que de ti ficou tão pobre
Quando voltares a ser nobre
A superares toda a dor
Inda haverá por sobre a terra
Quem o afeto desprezou
Quem na saudade te amou
E que pra ti no além já era?
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Charles Fonseca. ....Poesia
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segunda-feira, maio 07, 2007
Davi. Andrea del Castagno.
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Homossexualismo. Freud. Psicanálise
“Em todos os casos investigados, constatamos que os futuros invertidos atravessaram, nos primeiros anos de sua infância, uma fase muito intensa, embora muito breve, de fixação na mulher (em geral, a mãe), após cuja superação identificaram-se com a mulher e tomaram a si mesmos como objeto sexual, ou seja, a partir do narcisismo buscaram homens jovens e parecidos com sua própria pessoa, a quem eles devem amar tal como a mãe os amou.” Freud.
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domingo, maio 06, 2007
A piedade. Andrea del Sarto.
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MALDIÇÃO
Olavo Bilac
Se por vinte anos, nesta furna escura,
Deixei dormir a minha maldição,
- Hoje, velha e cansada da amargura,
Minha alma se abrirá como um vulcão.
E, em torrentes de cólera e loucura,
Sobre a tua cabeça ferverão
Vinte anos de silêncio e de tortura,
Vinte anos de agonia e solidão...
Maldita sejas pelo ideal perdido!
Pelo mal que fizeste sem querer!
Pelo amor que morreu sem ter nascido!
Pelas horas vividas sem prazer!
Pela tristeza do que eu tenho sido!
Pelo esplendor do que eu deixei de ser!
Olavo Bilac
Se por vinte anos, nesta furna escura,
Deixei dormir a minha maldição,
- Hoje, velha e cansada da amargura,
Minha alma se abrirá como um vulcão.
E, em torrentes de cólera e loucura,
Sobre a tua cabeça ferverão
Vinte anos de silêncio e de tortura,
Vinte anos de agonia e solidão...
Maldita sejas pelo ideal perdido!
Pelo mal que fizeste sem querer!
Pelo amor que morreu sem ter nascido!
Pelas horas vividas sem prazer!
Pela tristeza do que eu tenho sido!
Pelo esplendor do que eu deixei de ser!
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Crucificação. Altichierio da Zevio.
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“O sonho não é um propósito que se representa como executado, mas um desejo que se representa como realizado e precisamente, além disso, um desejo proveniente da vida infantil”.
“Estou pronto a admitir que há toda uma classe de sonhos cuja instigação provém principalmente, ou até de maneira exclusiva, dos restos da vida diurna.” Freud.
“Estou pronto a admitir que há toda uma classe de sonhos cuja instigação provém principalmente, ou até de maneira exclusiva, dos restos da vida diurna.” Freud.
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sábado, maio 05, 2007
Batalha entre Alexandre e Dario. Albrecht Altdorfer
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VELHO TEMA I
Vicente de Carvalho
Só a leve esperança, em toda a vida,
Disfarça a pena de viver, mais nada;
Nem é mais a existência, resumida,
Que uma grande esperança malograda.
O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
É uma hora feliz, sempre adiada
E que não chega nunca em toda a vida.
Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos,
Existe, sim: mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos.
Vicente de Carvalho
Só a leve esperança, em toda a vida,
Disfarça a pena de viver, mais nada;
Nem é mais a existência, resumida,
Que uma grande esperança malograda.
O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
É uma hora feliz, sempre adiada
E que não chega nunca em toda a vida.
Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos,
Existe, sim: mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos.
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sexta-feira, maio 04, 2007
A sauna. Lawrwnce Alma-Tadema.
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“Chamo de atos sintomáticos as funções que as pessoas executam, como se costuma dizer, de maneira automática e inconsciente, sem reparar nelas, como que brincando, querendo negar-lhes qualquer significação e, se inquiridas, explicando-as como indiferentes e casuais. A observação mais cuidadosa, porém, mostra que tais ações, das quais a consciência nada sabe ou nada quer saber, expressam pensamentos e impulsos inconscientes, sendo, portanto, valiosas e instrutivas enquanto manifestações permitidas do inconsciente”.
“Quem tem olhos para ver e ouvidos para ouvir fica convencido que os mortais não conseguem guardar nenhum segredo. Aqueles cujos lábios calam denunciam-se com as pontas dos dedos; a denúncia lhes sai por todos os poros. Por isso, a tarefa de tornar consciente o que há de mais secreto no anímico é perfeitamente exeqüível.” Freud.
“Quem tem olhos para ver e ouvidos para ouvir fica convencido que os mortais não conseguem guardar nenhum segredo. Aqueles cujos lábios calam denunciam-se com as pontas dos dedos; a denúncia lhes sai por todos os poros. Por isso, a tarefa de tornar consciente o que há de mais secreto no anímico é perfeitamente exeqüível.” Freud.
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quarta-feira, maio 02, 2007
QUARENTA ANOS
Mário de Andrade
A vida é pra mim, está se vendo,
Uma felicidade sem repouso;
Eu nem sei mais se gozo, pois que o gozo
Só pode ser medido em se sofrendo.
Bem sei que tudo é engano, mas sabendo
Disso, persisto em me enganar... Eu ouso
Dizer que a vida foi o bem precioso
Que eu adorei. Foi meu pecado... Horrendo
Seria, agora que a velhice avança,
Que me sinto completo e além da sorte,
Me agarrar a esta vida fementida.
Vou fazer do meu fim minha esperança,
Oh sono, vem!... Que eu quero amar a morte
Com o mesmo engano com que amei a vida.
Mário de Andrade
A vida é pra mim, está se vendo,
Uma felicidade sem repouso;
Eu nem sei mais se gozo, pois que o gozo
Só pode ser medido em se sofrendo.
Bem sei que tudo é engano, mas sabendo
Disso, persisto em me enganar... Eu ouso
Dizer que a vida foi o bem precioso
Que eu adorei. Foi meu pecado... Horrendo
Seria, agora que a velhice avança,
Que me sinto completo e além da sorte,
Me agarrar a esta vida fementida.
Vou fazer do meu fim minha esperança,
Oh sono, vem!... Que eu quero amar a morte
Com o mesmo engano com que amei a vida.
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Mulher ao espelho. Tiziano.
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HISTÓRIA ANTIGA
Raul de Leôni
No meu grande otimismo de inocente,
Eu nunca soube por que foi... um dia,
Ela me olhou indiferentemente,
Perguntei-lhe por que era... Não sabia...
Desde então, transformou-se de repente
A nossa intimidade correntia
Em saudações de simples cortesia
E a vida foi andando para frente...
Nunca mais nos falamos... vai distante...
Mas, quando a vejo, há sempre um vago instante
Em que seu mudo olhar no meu repousa,
E eu sinto, sem no entanto compreendê-la,
Que ela tenta dizer-me qualquer cousa,
Mas que é tarde demais para dizê-la...
Raul de Leôni
No meu grande otimismo de inocente,
Eu nunca soube por que foi... um dia,
Ela me olhou indiferentemente,
Perguntei-lhe por que era... Não sabia...
Desde então, transformou-se de repente
A nossa intimidade correntia
Em saudações de simples cortesia
E a vida foi andando para frente...
Nunca mais nos falamos... vai distante...
Mas, quando a vejo, há sempre um vago instante
Em que seu mudo olhar no meu repousa,
E eu sinto, sem no entanto compreendê-la,
Que ela tenta dizer-me qualquer cousa,
Mas que é tarde demais para dizê-la...
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terça-feira, maio 01, 2007
Almoço na relva. Claude Monet.
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UMA DIDÁTICA DA INVENÇÃO
Manoel de Barros
Para entrar em estado de árvore é preciso
partir de um torpor animal de lagarto às
3 horas da tarde, no mês de agosto.
Em 2 anos a inércia e o mato vão crescer
em nossa boca.
Sofreremos alguma decomposição lírica até
o mato sair na voz.
Hoje eu desenho o cheiro das árvores.
Manoel de Barros
Para entrar em estado de árvore é preciso
partir de um torpor animal de lagarto às
3 horas da tarde, no mês de agosto.
Em 2 anos a inércia e o mato vão crescer
em nossa boca.
Sofreremos alguma decomposição lírica até
o mato sair na voz.
Hoje eu desenho o cheiro das árvores.
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